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INFORMAÇÃO N SOLICITAÇÃO DE ATENÇÃO N

4.3 AS RELAÇÕES ENTRE O RAG E OS LEITORES: SIGNIFICADOS DA MODALIDADE

4.3.1 Natureza das imagens e graus de abstração

A natureza das imagens usadas em RAGs é uma característica marcante do gênero e que, assim como o layout, chamou a atenção em estudos anteriores (HULLMAN; BACH, 2018; YOON; CHUNG, 2017). Refere-se a graus de abstração, a partir de imagens que “se movem do ‘real’ empírico para a abstração teórica” (BEZEMER; KRESS, 2008, p. 180).

O surgimento do RAG tem sido associado à suposição de que eles “tornarão as publicações científicas mais acessíveis e compreensíveis para pesquisadores internos e externos, bem como para públicos leigos, como estudantes, jornalistas ou membros do público” (HULLMAN; BACH, 2018, p. 1). Os desenvolvimentos tecnológicos desempenham um papel central nesse processo, pois os RAGs estão disponíveis gratuitamente online em vários sites para todos que possuem uma conexão com a Internet. Portanto, considerando que imagens menos científicas têm sido usadas anteriormente como uma estratégia atraente, parece relevante analisar se os RAGs usam imagens mais naturalísticas / realísticas do que imagens abstratas para atrair um número maior de leitores.

Adaptando as categorias usadas por Hullman e Bach (2018) e Yoon e Chung (2017), encontramos cinco tipos de imagens nos RAGs, em ascendência de abstração: i) ilustração; ii) diagrama; iii) visualização de dados; iv) visualização científica; e v) notação simbólica. Um total de 38 exemplos desses tipos foram obtidos: em RAGs que apresentaram dois grupos focais do mesmo tipo, a imagem foi contada como uma (p. ex. visualização científica no EActaBiomater.E#11, Figura 20); se os RAGs mostrassem dois grupos de foco de tipos diferentes, cada grupo focal era contado separadamente, conforme o tipo de imagem que representava (p. ex., ilustração e visualização de dados no EQNanoLett.E# 24; visualização científica e visualização de dados no EQJ.Catal.E#29, na Tabela 9). Em RAGs cujos vários grupos focais formam um único diagrama, eles foram contados como uma instância desse tipo de imagem, que Yoon e Chung (2017) denominaram visualização composta (EQChemSusChemR#25, na Figura 20, em que fotografias – árvore, algas, combustível, carro, avião – visualização científica – imagem de microscópio de produtos químicos de base biológica, no canto superior esquerdo – e notação simbólica – esquema químico 3D no canto inferior esquerdo – realizam um processo único, a conversão catalítica heterogênea).

Figura 20 – Visualização científica (à esquerda) e Diagrama (à direita)

Fonte: Adaptado de Hendges e Florek (no prelo) – capítulo aceito para publicação pela editora John Benjamins

Nossos resultados mostram que imagens abstratas predominam (63,1%), mas imagens mais realísticas, na forma de ilustrações e diagramas incluindo ilustrações também desempenham um papel significativo em trazer um nível mais baixo de formalidade para o gênero (31,5%). As ilustrações podem ser desenhos e cartuns que se assemelham a “formas vernaculares de expressão muito próximas das aparências realísticas das coisas” (DIMOPOULOS; KOULAIDIS; SKLAVENITI, 2003, p. 191). Essas ilustrações, de alguma forma, replicam elementos ou ideias do mundo sensível, mas com um naturalismo mais baixo do que nas fotografias. Em nossa amostra, ilustrações menos proeminentes aparareceram como pequenas imagens mostrando (partes de) pessoas, glândulas, células e símbolos (por exemplo, gota de água – EQChemSusChemR#25 –, caveira, ímã e ossos cruzados – EQAppl.Catal.B- Environ.R#28). Tanto os RAGs de Revisão (28,5%) como os RAGs Experimentais (21,3%) usam ilustrações.

Apenas um RAG incluiu fotos dentro de um diagrama (EQChemSusChemR#25, na Figura 20), semelhante ao resultado encontrado por Hullman e Bach (2018), com uso raro de fotos em RAGs, mas uso expressivo de ilustrações como tipo predominante de imagem. Considerando que esses autores incluíram imagens de microscópio na categoria de fotos, é incerto se alguma foto real, como aquela tirada com uma câmera comum, estava presente naquela amostra. Em RAGs de Ciências Sociais, no entanto, Yoon e Chung (2017, p. 1375)

descobriram que as fotografias tradicionais de câmeras eram o terceiro tipo de imagem mais recorrente, após ilustrações.

Apesar das diferenças encontradas nos padrões de uso de fotografia em RAGs nos estudos anteriores e em nosso trabalho, provavelmente devido às diferentes culturas disciplinares investigadas, a recorrência considerável de ilustrações em RAGs pode estar ligada ao potencial do gênero em atrair uma audiência cada vez mais ampla (vide as Instruções para autores de Acta Biomateralia, Acta Materalia, Insect Biochemistry and Molecular Biology, Scripta Materialia, Powder Technology, Applied Catalysis B: Environmental, que indicavam “captar a atenção de um grande número de leitores online”, ou que o RAG “deve capturar o olhar e a curiosidade de um amplo espectro de leitores” – Chemical Reviews).

O tipo de imagem que é defendido pelos editores e estimulado pelas Instruções para autores em Química e Engenharias é a imagem científica que representa dados crus, obtidos por meio de aparelhos especiais e evita representações supérfluas. Segundo um dos editores, o RAG deve evitar “dados técnicos excessivos e texto [verbal escrito]. Deve ser visualmente atraente e criativo, idealmente com fotos ou ilustrações profissionais [...] e dar informações concretas sobre o que esperar no artigo”. Outro editor informa que “‘decorações’ diminuem o conteúdo e devem ser evitadas”, o RAG deve ser “uma versão simplificada ou adaptada de uma figura importante do artigo”.

Nas Instruções para autores, notadamente da ACS Publications e da Elsevier, encontram-se diretrizes, como: “tente reduzir ao máximo os elementos que causam distração e bagunça” (Acta Biomaterialia); “exemplos de conteúdo potencialmente inadequado são rostos sorridentes, desenhos animados, ditos coloquiais, slogans e assim por diante” (Chemical Reviews); “imagens do RAG devem ser intimamente ligadas à ciência no artigo, portanto, fotos de pessoas ou imagens não científicas, como personagens de desenhos animados e clip-art, não são aceitáveis” (Journal of Physical Chemistry Letters); “o RAG deve respeitar os padrões de uma publicação profissional e acadêmica. O periódico Organic Letters apresenta exemplos do que não incluir no RAG e que levam a perceber que o RAG deve ser uma publicidade do artigo, mas não de pessoas, empresas ou símbolos externos ao conteúdo da pesquisa:

O gráfico não deve incluir uma fotografia, desenho ou caricatura de qualquer pessoa, viva ou morta. Não inclua selos postais ou moeda de qualquer país ou itens com marca registrada (logotipos da empresa, imagens e produtos.

Os autores em sua maioria (81%) concordam que é melhor produzir uma imagem técnica para o RAG, mas que não apresente as mesmas informações de um resumo acadêmico

(66%). Nesse sentido, concluímos que a representação dos autores sobre os termos técnico, científico, publicação profissional e acadêmica tem relação com um real que tende à abstração teórica, o que corrobora estudos anteriores (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006; BEZEMER; KRESS, 2008, p. ex.). Como consequência, os RAGs em nossa amostra revelaram uma predominância de imagens abstratas na forma de gráficos e esquemas químicos.

Os diagramas foram o tipo de imagem predominante nos RAGs dos artigos acadêmicos de revisão (4 RAGs – 50%), mas a visualização de dados predominou em RAGs experimentais (10 RAGs – 28,9%). Os diagramas “empregam vários símbolos comuns e mapeamentos espaciais para expressar ideias, conceitos e processos” (HULLMAN; BACH, 2018, p. 12), “usando formas padronizadas, como linhas, quadrados, círculos, setas” (YOON; CHUNG, 2017, p. 1373). Visualização de dados são representações convencionalmente associadas à ciência que quantitativamente ou qualitativamente empacotam grandes amostras de dados, tais como gráficos, tabelas, mapas de calor (YOON; CHUNG, 2017; HULLMAN; BACH, 2018). Diagramas também foram encontrados como tipo dominante em RAGs das Ciências Sociais (YOON; CHUNG, 2017, p. 1375) e, em Hullman e Bach (2018, p. 12), foi o segundo tipo mais frequente de representação visual, após ilustrações.

Nós também descobrimos que os RAGs experimentais usam visualizações científicas (7 - 18,4%). Esse tipo de imagem científica “destina-se a representar fielmente objetos para permitir a exploração e análise de suas estruturas; por exemplo, tumores cerebrais ou dados funcionais de ressonância magnética” (HULLMAN; BACH, 2018, p. 11). Temos exemplos no RAG ActaBiomater.E#11 (Figura 20); EScri.Mater.E#18 (grupo focal à esquerda) e EQJ.Catal.E# 29 (grupo focal à esquerda), na Tabela 9.

Finalmente, seis RAGs (15,7%) usam tipos altamente codificados de imagens, chamados notação simbólica, que consistem em “códigos gráficos que empregam principalmente símbolos e composições de domínio específico” (HULLMAN; BACH, 2018), como esquemas químicos (QOrg.Lett.E#10 e EQEnergyEnviron.Sci.R#21, na Tabela 9) e fórmulas matemáticas (grupo focal à esquerda no EActaMater.T#13, Anexo A desta tese).

Apesar da predominância de imagens abstratas em nossa amostra, notamos que a formalidade foi frequentemente amenizada pelo uso da cor, o que vai ao encontro dos resultados prévios sobre a tendência dos RAGs de, em alguma, medida serem atrativos, mas sem perder a “cientificidade”. Na sequência, apresentamos resultados sobre as cores em RAGs.