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EXEMPLOS Camada base

3.1 SOBRE A PESQUISA EM LINGUÍSTICA APLICADA

A estratégia metodológica adotada em nosso trabalho, e que pretendemos relatar neste capítulo, emana da perspectiva teórica que nos orienta e da natureza de nosso objeto de investigação, conforme apresentamos na Revisão da Literatura. Pelo fato desta pesquisa em Linguística Aplicada se alinhar aos pressupostos teóricos da ACG, entendemos a linguagem como um sistema a ser estudado criticamente em termos de texto e de contexto. Em termos de texto, visto que o RAG se apresenta como um gênero multimodal, é importante que definamos estratégias investigativas para identificar as unidades formais e funcionais mínimas recorrentes dessa prática discursiva, tanto no que tange ao verbal quanto ao visual, tendo como meta entender como a materialidade linguística é organizada e como e quais atos de fala realiza. Em termos de contexto, investigamos motivações, definições, valores e funções atribuídas ao RAG em documentos normativos e no discurso de usuários do gênero (produtores e leitores de RAGs).

Para tanto, recursos úteis em termos de metodologia em Linguística Aplicada advém de “uma ampla gama de perspectivas de investigação que evoluíram ao longo de [mais de um] século de interesse acadêmico na aquisição e no uso da linguagem” (DAVIS, 1995, p. 427) e de considerações teóricas e filosóficas sobre a pesquisa em Ciências Sociais, em particular, nas áreas de Psicologia e de Educação (DÖRNYEI, 2007).

Esta tese configura um estudo de método misto/plural, visto que combina a abordagem dedutiva à indutiva e técnicas de averiguação de dados quali-quantitativa e etnográfica. Assim, pretendemos que a “linguagem” específica de cada método permita coletar as respostas almejadas por esta pesquisa na “realidade” investigada. Esse modo de abordagem vem sendo denominado triangulação (DENZIN; LINCOLN, 2005; FLICK, 2013; CRESWELL; PLANO CLARK, 2013, p. ex.). Sintetizando as variadas perspectivas sobre a abordagem, Zappelini e Feuerschütte (2015, p. 246-7) a definem como uma combinação de “diferentes métodos de coleta e de análise de dados, diferentes populações/sujeitos (ou amostras/objetos), diferentes

perspectivas teóricas e diferentes momentos no tempo, com o propósito de consolidar suas conclusões a respeito do fenômeno que está sendo investigado”.

A abordagem dedutiva visa a atingir conclusões que resultam da aplicação de premissas gerais. No estudo de gêneros discursivos, o uso da abordagem dedutiva permite que as categorias de análise sejam selecionadas a partir de estudos prévios (MARCUZZO, 2006). Conforme Dörnyei (2007), o emprego da abordagem dedutiva pode ser útil para o pesquisador em Linguística Aplicada em virtude de: i) exigir a definição a priori das categorias de análise, demandando a desambiguação de tais categorias e uma meticulosa preparação dos instrumentos de investigação para que, posteriormente, os resultados obtidos possam ser interpretados à luz dos conteúdos e limites definidos para cada categoria; ii) permitir mapear e quantificar as variáveis recorrentes em cada categoria de análise; iii) demandar a padronização dos procedimentos de investigação a fim de que eles se mantenham relativamente estáveis e objetivos; e iv) fazer generalizações sobre o objeto estudado, ainda que muitas dessas generalizações suscitem a investigação dos comportamentos sociais que resultam em tais regularidades.

A abordagem indutiva conduz a busca por informações sobre a ação humana a partir das considerações de seus próprios agentes (DAVIS, 1995) e a investigação “usa o texto como material empírico (em vez de números), parte da noção da construção social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos participantes, em suas práticas do dia a dia e em seu conhecimento cotidiano em relação à questão em estudo” (FLICK, 2009. p. 16). A abordagem indutiva orientada para a análise de gêneros discursivos possibilita que as categorias de análise surjam a partir da investigação de elementos ricos em significação, que são “características particulares de um texto ou um conjunto de textos que estão associados com as convenções de sentido e de significado no texto” (BARTON, 2002, p. 66). Os elementos ricos em significação são identificados pela recorrência e marcam a relação entre texto e contexto, sugerindo como o significado foi incorporado em um texto e como mantém relação com o contexto (BARTON, 2004).

Na contemporaneidade, as pesquisas qualitativas de cunho interpretativista têm se destacado na área de Linguística Aplicada (MOITA-LOPES, 1994; DAVIS, 1995; LEFFA, 2006; DÖRNYEI, 2007), uma vez que, segundo Davis (1995), os pesquisadores passaram a adotar uma visão que busca um entendimento integral dos fenômenos, considerando que o estudo do contexto sociocultural em que os processos linguísticos são efetivados é tão importante quanto o estudo dos próprios processos. A maneira como uma pesquisa interpretativista é conduzida, entretanto, pode variar conforme o objeto de estudo, o tempo

disponível para a pesquisa e a abrangência das questões principais que o pesquisador pretende responder (DAVIS, 1995; DÖRNYEI, 2007).

Para os fins deste estudo, uma perspectiva metodológica de base interpretativista que nos parece bastante propícia é a teoria baseada nos dados (Grounded Theory) (GLASER; STRAUSS, 1967; CHARMAZ, 2006) por oferecer orientações sobre como sistematizar o estudo de nossa realidade de pesquisa e por permitir a combinação de teorias e a inclusão, se necessário, de novas teorias a cada fase da investigação, sem implicar fundamentalmente na adoção de um modelo pré-definido, abrindo espaço para a proposição de novas teorias.

Com base nos potenciais de cada método disponível, passamos a descrever como estruturamos este estudo. Na seção 3.2, expomos e definimos o universo de análise desta pesquisa em termos de texto e de contexto. Na seção 3.3, relatamos os procedimentos de coleta e caracterizamos o corpus textual e contextual desta tese. Por fim, na seção 3.4, descrevemos os procedimentos e categorias de análise do corpus, propondo, inicialmente, a investigação textual e contextual isolada, para posteriormente investirmos em perspectivas de análise que inter-relacionem os níveis linguísticos que compõem o RAG e, finalmente, podermos cruzar os dados obtidos na análise textual com os dados obtidos na análise contextual.

3.2 MAPEANDO DADOS RELEVANTES: A DEFINIÇÃO DE UM UNIVERSO DE