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INFORMAÇÃO N SOLICITAÇÃO DE ATENÇÃO N

4.2 O LUGAR DO RAG NO PERIÓDICO CIENTÍFICO E NO ARTIGO ACADÊMICO: SIGNIFICADOS DA COMPOSIÇÃO

4.2.2 Presença de texto verbal escrito

Analisamos a presença de texto verbal escrito tendo por base as Instruções para autores, as respostas aos questionários, estudo prévio (FLOREK, 2015) e a análise comparativa entre os RAGs de nossa amostra. Pela análise das Instruções para autores, concluímos que a presença ou restrição de texto verbal escrito junto ao RAG é normatizada pelas Editoras, como já esperávamos. A Elsevier não trata sobre o uso de texto verbal escrito em nenhuma Instrução dos periódicos científicos analisados, entretanto, indica que o RAG sumariza o artigo acadêmico pictoricamente. Desse modo, nenhum RAG de periódicos da Elsevier apresentam texto verbal escrito, exceto rótulos estritamente necessários.

Em nosso estudo de Mestrado, também analisamos exemplares de um periódico acadêmico dessa editora (10 RAGs do Journal of Controlled Release) e constatamos padrão semelhante. Apenas dois RAGs (20%) apresentavam uma oração curta antecedendo a imagem do RAG, externa ao enquadramento destinado ao RAG por linhas, porém circunscrita entre o título Graphical abstract e o visual. No entanto, nas amostras do Mestrado, o uso de rótulos e especialmente de legendas, era mais prevalente. Isso mostra que em termos de quantidade de texto verbal, a Elsevier vem investindo em limitá-lo ao máximo.

A ACS Publications não trata especificamente sobre texto verbal escrito, mas indica que o RAG “em consonância com o título” deve ser atrativo e que rótulos e símbolos devem ser legíveis. Em nossa amostra atual, nenhum periódico dessa editora apresenta texto verbal, exceto o estritamente necessário em termos de rótulos. No Mestrado, não analisamos essa editora.

As Instruções para autores dos periódicos da Royal Society of Chemistry fixam uma das características de seus RAGs: a necessidade de que o RAG contenha uma sentença (de até 20 palavras) para atrair a atenção. Sendo assim, os quatro RAGs dessa Editora que figuram em nossa amostra, apresentam uma pequena oração ou complexo oracional que figura abaixo do nome dos autores do artigo acadêmico e acima do visual. No estudo de Mestrado, investigamos 10 RAGs da Royal Society of Chemistry do periódico Energy and Environmental Science, o qual é novamente analisado no estudo atual. A presença de texto verbal mantém o mesmo padrão e ocupa ainda o mesmo espaço. A única mudança é quem nos RAGs da amostra de Mestrado, havia a possibilidade de fechar o RAG (collapse) no Sumário online e o título aparecia em cor azul escura.

A Wiley Online Library indica o envio de um texto de 300 a 450 caracteres (variando conforme o periódico) idealmente com um elemento gráfico, no intuito de chamar a atenção. Logo, os quatro RAGs dessa editora apresentam esse pequeno texto verbal. No Mestrado, estudamos 10 RAGs dessa mesma editora, inclusive um periódico que estudamos atualmente o Angewandte Chemie. Observamos que o padrão do bloco verbal continua exatamente o mesmo. Há uma pequena variação na cor do título, que passou de preto a verde água.

No estudo de Mestrado, também investigamos 10 RAGs do periódico Nature Chemical Biology (Editora Nature), os quais apresentavam uma oração ou um pequeno complexo oracional junto ao visual, muito semelhante ao que aparece atualmente nos RAGs da Wiley Online Library, com o único diferencial de que naqueles RAGs o texto aparecia abaixo do visual.

Nesse sentido, conseguimos de certa forma reconstruir um pouco da evolução do RAG, pois a Wiley Online Library, pioneira na prática do RAG em periódicos da Química (NATURE

CHEMISTRY, 2011), indica nas Instruções que analisamos que o texto verbal escrito precede o visual, visto que o primeiro é obrigatório e o segundo fortemente sugerido, muito embora a análise dos Sumários online da editora tenha mostrado que atualmente o destaque é dado ao RAG. Além disso, as Instruções para autores da Wiley desambiguam qualquer suspeita de que o texto que acompanha o RAG pudesse ser um resumo acadêmico, pois fica claro que o texto deve servir para atrair a atenção, não para sumarizar o artigo acadêmico.

Entretanto, é importante discutir que em alguns campos, o papel do resumo acadêmico escrito tradicional mostra uma tendência semelhante à desse pequeno texto escrito que acompanha os RAGs da Wiley Online Library, visando a atrair o leitor em geral, com textos que incluem “tanto mais conteúdo promocional quanto explicativo” sobre os efeitos do estudo, por exemplo, “e excluem informações técnicas como métodos” (AYERS, 2008, p. 39). Ainda assim, os periódicos científicos em questão, também apresentam um resumo acadêmico verbal escrito tradicional (SWALES, 2014), o que nos faz supor que o pequeno texto verbal escrito do RAG possa ser uma desespecialização do resumo verbal escrito, seguindo outras tendências já estudadas (HYLAND; JIANG, 2017), que revelam o emprego de linguagem mais informal na escrita acadêmica, com fins de aprimorar as relações interpessoais na ciência, principalmente no campo denominado Ciências Duras em oposição às Ciências Sociais.

A ACS Publications é uma editora restrita a publicações da Química e de áreas relacionadas, assim como a Royal Society of Chemistry, a qual publica 45 periódicos que abrangem Química e áreas conexas. Como já vimos, em Química os resultados normalmente são representações que mesclam símbolos e letras (LIU, 2009; BATEMAN, 2015). Assim, o pequeno texto verbal escrito exigido pela ACS Publications e a pequena frase exigida pela Royal Society of Chemistry podem ser uma forma de desespecializar o RAG e ampliar a audiência, provavelmente no mesmo sentido que discutimos sobre os periódicos da Wiley Online Library. Outra explicação seria que mostrar o tema do artigo acadêmico em “um relance” pode ser muito difícil por meio de uma única imagem ou por meio de equações químicas que demandam tempo de interpretação, então, como apontado por um dos editores que participaram de nosso estudo, “talvez uma frase seja suficiente para complementar o aspecto visual” e a “reação química estudada possa ser incluída na forma de equação (não visualmente, pois não poderia ser interpretados ‘de relance’) ”. Isso indica que devido às especificidades da área de Química e do contexto tecnológico e da era da agilidade da informação, a linguagem verbal escrita pode apresentar recursos mais eficientes para cumprir o propósito do RAG de atrair a atenção em um único olhar e atrair uma gama maior de leitores.

Como a Elsevier não trata sobre texto verbal escrito e salienta o caráter visual do RAG, isso pode indicar que a evolução do RAG o está conduzindo à uma configuração primordialmente visual e que o verbal só seria usado por questões de tradição ou de especificidades de certas áreas, tendo em vista, inclusive, a força da Elsevier no mercado editorial. Outro dado que corrobora isso é que em comparação com os RAGs estudados no Mestrado, os RAGs da amostra em análise diminuíram sensivelmente a quantidade de legendas e de rótulos verbais.

Os autores-leitores de RAGs foram convidados a indicar o grau de concordância ou discordância com algumas proposições sobre o uso de texto verbal escrito em RAGs (Tabela 6). A maioria dos autores-leitores (63%) compreende que o texto verbal escrito presente no RAG não é um resumo acadêmico, o que endossa os resultados da análise das Instruções para autores e indica que os autores-leitores compartilham uma representação canônica do resumo acadêmico verbal escrito (IMRD). Ainda assim, 18% indicam conceber esse texto verbal como um resumo acadêmico. 36% dos respondentes acreditam que o texto verbal escrito deve ser evitado em RAGs, enquanto os demais respondentes oscilam entre os níveis, outra demonstração de que não há padronização e de que, talvez, nunca venha a existir. Em contrapartida, 83% concordam com a assertiva de que o texto verbal deve ser usado o mínimo possível em RAGs. Há também uma tendência dos respondentes a concordarem com a limitação do uso de rótulos e descrições de imagens.

Tabela 6 – Uso de texto verbal escrito em RAGs conforme autores-leitores

Fonte: Elaborado pela autora

Em síntese, as respostas dos autores-leitores vão ao encontro dos resultados das Instruções para autores: i) o texto escrito em RAGs não equivale a um resumo acadêmico

Considerando a escala de 0 a 100%, quanto você concorda com as seguintes assertivas sobre o uso de certos recursos em resumos acadêmicos

gráficos (RAGs). 100% 75% 50% 25% 0% Não

sei Os resumos gráficos devem incluir um texto escrito que apresente as mesmas

informações dos resumos tradicionais da área (ou seja, Introdução; Método; Resultados; Discussão)

18% 0% 18% 0% 63% 0%

O texto escrito deve ser evitado em RAGs. 36% 18% 18% 9% 18% 0% O texto escrito deve ser utilizado o mínimo possível em RAGs. 83% 8% 0% 0% 8% 0% Rótulos e descrições de imagens devem ser evitadas tanto quanto possível. 16% 33% 16% 16% 8% 8%

canônico; ii) o texto escrito deve ser utilizado o mínimo possível em RAGs, limitando o uso para rótulos e descrições de imagens realmente indispensáveis; e iii) especificidades editoriais e de área têm implicação direta na quantidade de texto verbal escrito presente no RAG.

Os editores dos periódicos científicos também foram questionados sobre o uso de texto verbal escrito em RAGs (Tabela 7). A partir das respostas dos editores, temos um panorama sobre a quantidade de texto verbal escrito desejado em um RAG. A maioria dos editores (20%, na escala de 100%, e 40%, na escala de 75%) afirma que o texto verbal deve ser inexistente ou estritamente limitado ao necessário, o que corrobora os dados anteriormente expostos.

Tabela 7 – Uso de texto verbal escrito em RAGs conforme editores

Fonte: Elaborado pela autora

Também obtivemos informações sobre a relação que o texto verbal deveria estabelecer com o texto visual. Conforme os editores, o texto verbal, principalmente: i) descreve o texto visual, especificando partes que não são claras visualmente (80%, na escala de 100% a 75% de concordância), ou nos termos de Halliday e Matthiessen (2014), o texto verbal escrito: i) elabora o sentido do texto visual; ii) apresenta informações diferentes que não podem ser expressas visualmente (40%, na escala de 100%, e 40%, na escala de 50%); iii) ou intensifica o sentido do texto visual (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014). Esses resultados vão ao encontro do argumento de Lemke (1998; 2003) de que diferentes modos semióticos formam sentidos por combinação integrada, não por adição ou justaposição, o que leva à multiplicação do significado.

Considerando a escala de 0 a 100%, quanto você concorda com as seguintes assertivas sobre o uso de certos recursos em resumos

acadêmicos gráficos (RAGs). 100% 75% 50% 25% 0% Não

sei Para serem aceitos para publicação, os RAGs não devem apresentar

informações verbais ou apenas o que é estritamente necessário. 20% 40% 20% 0% 20% 0% Texto verbal adiciona um conteúdo / informação extra sem exceder o

limite de palavras. 20% 0% 20% 40% 0% 20%

Texto verbal descreve o texto visual, especificando partes que não são

claras visualmente. 20% 60% 0% 20% 0% 0%

Texto verbal se sobrepõe ao texto visual. 20% 0% 20% 40% 20% 0% Texto verbal traz informações diferentes que não podem ser expressas

Os RAGs de nossa amostra que incluem um texto verbal escrito nos Sumários online são oito no total (26,6%), quatro oriundos das editoras Wiley Online Library (#3 e # 4 – Química; #25 e #26 – Interdisciplinares) e quatro da Royal Society of Chemistry (#5 e #6 – Química; #21 e #22 – Interdisciplinares). Esse resultado já era esperado devido aos motivos editorias e às especificidades da área de Química e de áreas conexas, além disso, em comparação ao estudo desenvolvido no Mestrado, esses resultados confirmam a solidificação de um padrão editorial ao longo do tempo por parte das editoras em questão.

Na amostra do doutorado, todos os RAGs de Engenharia (33,3% - 10) e quatro Interdisciplinares (13,3%) são da Editora Elsevier e incluem linguagem verbal apenas nos rótulos (labels) de imagens e legendas de gráficos. Nenhum dos RAGs da ACS (26,6% - 8) apresenta texto verbal escrito. Interessantemente, dois deles são Interdisciplinares (#23 e # 24) e os demais (#1; #2; #7; #8; #9; e #10) são da Química. Isso vem ao encontro de nossos resultados sobre o esforço de padronização das editoras. Contudo, pelo fato de os periódicos da ACS serem especializados na área de Química e não apresentarem texto verbal escrito como vem se mostrando ser uma tendência em outros periódicos da área, fica claro que quando existe um público-alvo pontual, a presença de um texto verbal é irrelavante, o que revela que os processos de publicização e de recontextualização que viemos descrevendo não são homogêneos.

Outra constatação é de que os lugares e naturezas dos elementos verbais variam quando focamos os espaços ocupados pelo RAG. A partir de um comparativo com a análise que apresentamos na subseção anterior, obtivemos os resultados apresentados na Tabela 8.

Vejamos o caso dos periódicos da Royal Society of Chemistry. Nele, o texto verbal que esteve presente no Sumário online cede espaço para o resumo acadêmico na versão HTML. Pelos recursos de molduragem, fica claro que, na versão HTML, o RAG equivale a um resumo visual e o resumo acadêmico a um sumário verbal escrito, conforme tradicionalmente se conhece no contexto acadêmico. Fica claro que, no PDF, a predominância é do resumo acadêmico tradicional e que o RAG e o pequeno texto verbal que o acompanha não suplantam a existência de um resumo acadêmico (verbal escrito). Um dos editores que respondeu ao questionário, inclusive declarou: “Pessoalmente, não presto muita atenção ao RAG; o resumo textual é mais valioso, especialmente para pesquisas”. Isso pode revelar hábitos cristalizados de leitura, maior familiaridade à leitura em arquivos do tipo PDF (provavelmente impressos), um estágio de amadurecimento profissional que responde a outras exigências contextuais (p. ex., leitura detalhada, não em quantidade).

Tabela 8 – O lugar do texto verbal nos espaços ocupados pelo RAG

Sumário online HTML PDF

Elsevier

Nenhum texto verbal acompanha o texto visual

e sistema de links diferenciam o RAG do

resumo acadêmico

Molduragem separa

highlights, resumo

acadêmico e RAG (que aparece sem elementos

verbais)

Resumo acadêmico

Wiley Online Library

Pequeno texto verbal fica à direita do texto visual

Aparece o resumo acadêmico do artigo

Aparece o resumo acadêmico do artigo e o RAG (sem texto verbal) só

em artigos de destaque

ACS

Publications Não há texto verbal

RAG (acima), sem texto verbal e resumo acadêmico (abaixo), separados por molduras internas e enquadrados em

um todo por molduragem externa.

O RAG (sem texto verbal) aparece “aninhado” ao texto do resumo acadêmico Royal Society of Chemistry Há um pequeno texto verbal acima do texto

visual

Resumo acadêmico acima, separado por espaço em

branco do RAG (sem o texto verbal)

Resumo acadêmico

Fonte: Elaborado pela autora

O que podemos concluir é todas as editoras consideram o RAG predominantemente visual, pois quando colocado em contraste com o resumo acadêmico (como ocorre nas versões HTML em aguns casos) o pequeno texto verbal que às vezes acompanha o RAG no Sumário online desaparece. Essa constatação também nos leva a concluir que o único texto verbal que pode ser considerado como tendo alguma relação com o RAG são os rótulos e os pequenos textos ou sentenças verbais que figuram em alguns Sumários online por determinações editoriais. Mesmo em editoras como a ACS Publications em que o RAG aparece “aninhado” ao resumo acadêmico na versão PDF, parece existir uma clara distinção entre ambos. Uma análise intersemiótica nos permitiria obter constatações mais exatas sobre isso, no entanto, como não dispomos de tempo para essa análise, focamos de forma mais contundente no texto visual do RAG e, quando é o caso, no texto verbal que o acompanha nos Sumários online. De todo modo, esses resultados parecem indicar a necessidade de estudos futuros que analisem o RAG em contraste com o resumo acadêmico.

Sobre os elementos verbais em RAGs, voltaremos a tratar da questão na seção 4.4, quando apresentamos análise do conteúdo representado por tais elementos verbais. No momento, uma vez que a carga visual predomina em relação à carga verbal do RAG, consideramos importante lançar nosso olhar para a originalidade da(s) imagen(s) do RAG em

relação às imagens do artigo acadêmico, a fim de entendermos como os autores têm efetivado o RAG em um cenário que demanda habilidades de design visual e capacidade de decantar a informação mais valiosa do artigo acadêmico e apresentá-la de modo atraente.

4.2.3 Originalidade

Averiguamos a origem do RAG, para descortinar se o visual do RAG é: i) uma tentativa inédita de explicar o conteúdo do artigo; ii) uma (re)combinação de imagens do artigo acadêmico; ou iii) uma réplica de uma informação visual importante do artigo. Nesse sentido, primeiramente, investigamos elementos ricos em significação que nos possibilitaram chegar a algumas conclusões sobre a originalidade do RAG em relação às imagens do artigo acadêmico, conforme as Instruções para autores.

Três periódicos científicos da Química apresentam Instruções explícitas sobre esse ponto (Chemical Reviews, Journal of Physical Chemistry Letters e Organic Letters, todos da ACS Publications), exigindo autenticidade do RAG ou, tocando mais diretamente na questão da autoria e apresentação dos direitos de cópia de imagens anteriormente publicadas. Seis periódicos, da Editora Elsevier, mencionam que os “autores devem fornecer imagens que claramente representam o trabalho descrito no artigo”, o que não toca diretamente na questão da originalidade, mas da responsabilidade das imagens apresentadas como sendo dos autores (Ator de um processo material cuja Meta é imagens). A Meta, imagens, por sua vez é elaborada por uma oração encaixada relativa definidora (que claramente representam o trabalho descrito no artigo), o que nos leva a subentender que, sendo o ineditismo do artigo um dos critérios de submissão de manuscritos para os periódicos acadêmicos do grupo Elsevier, conforme é indicado em outras seções das Instruções, as imagens que compõem o RAG também devem ser inéditas, muito embora não possamos definir se podem ser imagens que compõem o artigo (como sugere a Wiley Online Library) ou devem ser totalmente inéditas, produzidas especialmente para o RAG (como demanda o periódico Organic Letters da ACS Publications).

Salvaguardados os detalhes sobre o total ineditismo ou não dos elementos visuais que compõem o RAG, notamos que a questão da autoria das imagens é um ponto relevante, porém controverso entre as editoras. Algumas delas (Chemical Reviews e Organic Letters – ACS Publications) salientam que o RAG deve ser produzido por um dos coautores do artigo, o que pode servir para coibir a inobservância às regras de autoria ou a possível comercialização de serviços de produção de RAGs. Em contrapartida, alguns periódicos (Applied Catalysis. B, Environmental, Acta Materialia, Scripta Materialia e Insect Biochemistry and Molecular

Biology) explicitam, como já mencionamos anteriormente, que a editora Elsevier oferece um serviço de ilustração para os autores de RAGs:

||| [α] Os autores podem fazer uso dos Serviços de Ilustração da Elsevier || [xβ] para garantir a melhor apresentação de suas imagens, || [+1] também de acordo com todos os requisitos técnicos. |||

Analisando o excerto acima de acordo com as categorias da GSF, encontramos três orações, sendo as duas primeiras conectadas hipotaxicamente, de modo que a segunda expande a primeira, intensificando-a quando mostra as circunstâncias em que os autores podem lançar mão dos serviços de ilustração. A terceira oração expande o sentido da segunda por meio de parataxe, adicionando mais um motivo para que os autores usem os serviços oferecidos. O emprego de um modalizador (podem) na primeira oração do período destaca os Serviços de Ilustração como uma opção e não uma obrigação, cuja decisão cabe aos autores, que são o Ator da primeira oração, um processo material (fazer uso). Os motivos para usar os Serviços de ilustração, no entanto, sugerem as vantagens dessa escolha: i) garantir melhor apresentação; ii) seguir os requisitos técnicos. O primeiro motivo subentende uma comparação (pelo uso de melhor) que transmite a mensagem de que os serviços técnicos são uma escolha mais eficiente se comparada à decisão de os próprios autores produzirem o RAG do artigo. O segundo motivo destaca a importância da observância dos requisitos técnicos para que o RAG seja aceito e, assim, oferece uma facilidade já que os autores podem considerar a etapa de produção do RAG um trabalho menos científico e, por isso, mais enfadonho, ou mesmo uma etapa supérflua. Vale destacar que os Serviços de Ilustração não são gratuitos, então, de certa forma, podemos analisar esse período como um modo de oferta/venda de um serviço da editora aos autores e também de demonstrar que o RAG requer um certo esforço em termos de tempo, de habilidades práticas para a efetivação da tarefa e de conhecimentos conceituais sobre o assunto.

Além disso, as respostas de alguns editores e autores-leitores chamam a atenção sobre os desafios enfrentados com relação à originalidade do RAG e ao uso de serviços de ilustradores científicos. Um dos editores que pesquisamos nos relatou o seguinte, quando questionado sobre o presente e o futuro do RAG:

[Referindo-se ao presente] Na maioria das vezes [o RAG é um] desastre. Poucos autores capturam a ideia do RAG. Poucos autores são capazes de abstrair a mensagem principal dos dados e apresentá-la em um esquema simples. A maioria é inabilidosa com computação gráfica e não consegue lidar com o formato. [Referindo-se ao futuro] Até que os autores (ou periódicos) não contratem artistas ou editores capazes de produzir design gráfico, a situação permanecerá como está. Os principais periódicos, provavelmente fazem isso, por isso eles são melhores.

Esse editor parece não ver outra solução a não ser a contratação de serviços