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3. METODOLOGIA

3.1. D ELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

3.1.1. O Marco Normativo Universitário

As normas pelas quais uma instituição se rege são as que deverão dizer o que é cada coisa dentro dela, quem é cada qual em relação à função que desempenha dentro do sistema, que direitos e deveres possui cada um dos seus integrantes, que processos são desenvolvidos

dentro dela, como e quando devem ser feitos, quais os fins e quais os meios para serem realizados.

As normas às quais nós nos referimos estão escritas em diversos documentos organizados de maneira hierárquica. Toda instituição de Ensino Superior, embora seja autônoma para decidir as especificidades normativas que regem seu funcionamento, deve prestar atenção em outras normas estabelecidas por órgãos educativos que estão acima dela, abrangentes do conjunto de insituições de Ensino Superior que operam em todo o país.

Por sua vez, essas normas específicas do Ensino Superior, a serem cumpridas por qualquer instituição desse tipo no território nacional, estão submetidas às leis gerais de educação, específicas da Educação Infantil, do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, da Educação Profissional, Superior, Especial, a Distância, etc., como apresentamos no esquema seguinte, referente ao MNU brasileiro:

Figura4: organização do MNU brasileiro.

Fonte: o próprio autor.

Nem todos os países possuem uma lei geral para todos os níveis educacionais e, abaixo dela, outra específica para o Ensino Superior; por exemplo, no topo da pirâmide do sistema educativo brasileiro, estão situadas as Diretrizes Curriculares da Educação, Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 e o Plano Nacional de Educação, Lei 10.172 de 9 de janeiro de 2001. O Artigo 1º das Diretrizes diz o seguinte: “Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias” (REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, Lei Nº 9.394, Art. 1º, § 1º).

Marco normativo universitário

Constituição Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988

Legislação do MEC

Leis, Leis Complementares, Decretos-Lei, Decretos, Editais, Instruções Normativas SRF, Medidas Provisórias, Pareceres CNE/CES, Parecer CNE/CP,

Portarias, Portarias Interministeriais, Portarias Normativas, Resoluções CNE/CES, Resoluções

CNE/CP e Resoluções CNS Legislação das

Universidades

Estatuto, Regimentos, PPI, Portarias, Resoluções

Abaixo dessa Lei, não existe outra exclusiva do Ensino Superior, mas isso não quer dizer que esse nível esteja desprovido de normativa específica. No caso do Brasil, as normas reguladoras do Ensino Superior estão estabelecidas em vários tipos de documentos normativos: Leis, Leis Complementares, Decretos-Lei, Decretos, Editais, Instruções Normativas SRF, Medidas Provisórias, Pareceres CNE/CES, Parecer CNE/CP, Portarias, Portarias Interministeriais, Portarias Normativas, Resoluções CNE/CES, Resoluções CNE/CP e Resoluções CNS.

Portanto, as Universidades brasileiras têm autonomia para serem administradas da forma como seus órgãos considerarem oportuno, desde que sua normativa não contradiga o que está escrito no texto da Lei de Diretrizes Curriculares do Ensino, o Plano Nacional de Educação e os outros documentos normativos específicos do Ensino Superior supraditos.

Porém, há países nos quais existe uma lei específica do Ensino Superior entre a lei geral de educação e a normativa legal de cada uma das Universidades. Na Argentina, por exemplo, a Ley 26.206-Ley de Educação Nacional, publicada em 2006, estabelece o seguinte:

La presente ley regula el ejercicio del derecho de enseñar y aprender consagrado por el artículo 14 de la Constitución Nacional y los tratados internacionales incorporados a ella, conforme con las atribuciones conferidas al Honorable Congreso de la Nación en el artículo 75, incisos 17, 18 y 19, y de acuerdo con los principios que allí se establecen y los que en esta ley se determinan92 (REPÚBLICA ARGENTINA, Ley 26.206, Art. 1º).

Avançando na leitura do documento, vemos que, referindo-se especificamente ao Ensino Superior, remete a uma outra Lei abrangente deste nível específico da educação, a Ley de Educación Superior Nº 24.521:

La Educación Superior será regulada por la Ley de Educación Superior Nº 24.521, la Ley de Educación Técnico Profesional N° 26.058 y por las disposiciones de la presente ley en lo que respecta a los Institutos de Educación Superior93(REPÚBLICA ARGENTINA, Ley 26.206, Art, 35º). O Artigo 1º desta Lei define sua abrangência:

Están comprendidas dentro de la presente ley las instituciones de formación superior, sean universitarias o no universitarias, nacionales, provinciales o

92

A presente Lei regula o exercício do direito de ensinar e aprender consagrado pelo Artigo 14º da Constituição Nacional e os tratados internacionais incorporados a ela, conforme as atribuições conferidas ao honorável Congresso da Nação no Artigo 75º, parágrafos 17, 18 e 19, de acordo com os princípios lá estabelecidos e os determinados nesta Lei (tradução nossa).

93

O Ensino Superior regular-se-á pela Lei de Ensino Superior Nº 24.521, a Lei de Ensino Técnico-Profissioinal Nº 26.058 e pelas disposições da presente Lei no relativo aos Institutos de Ensino Superior (tradução nossa).

municipales, tanto estatales como privadas, todas las cuales forman parte del Sistema Educativo Nacional regulado por la ley 24.19594 (REPÚBLICA ARGENTINA, Ley, 24.521, Art. 1º).

Partindo, pois, da base de que existem normas gerais para todo sistema educativo, seja brasileiro ou estrangeiro, uma instituição de Ensino Superior na hora de se constituir e, depois, ao longo da sua existência, deve organizar-se e reger-se segundo as normas estabelecidas pelos seus fundadores e mantidas e/ou alteradas depois pelos representantes dos órgãos superiores. Estas normas referidas estão plasmadas nos documentos que conformam seu marco normativo: o Estatuto, o Projeto Pedagógico Institucional, o Regimento Geral e, eventualmente, os diferentes regimentos que abranjam cada um dos órgãos e comunidades da Universidade: o regimento do corpo docente, administrativo, discente, dos cursos de graduação, etc.

Estes documentos citados, referidos exclusivamente a uma instituição de Ensino Superior determinada, estão organizados, por sua vez, de maneira hierárquica, como acontecia no caso dos documentos relativos aos níveis educacionais correspondentes a um país determinado.

Assim, o documento normativo situado no topo da pirâmide normativa institucional é o Estatuto. Nele estão definidas cada uma das pessoas, órgãos, estruturas e funções da Universidade. Esse documento confere à Universidade existência jurídica, dá a Universidade consciência de si própria, especificado na sua data e lugar de criação, sua natureza e acatamento ao marco normativo do Estado ao qual pertence:

A Universidade Estadual de Londrina, criada pelo Decreto no 18.110, de 28 de janeiro de 1970, com sede e foro na cidade de Londrina, Estado do Paraná, entidade de direito público, titular das prerrogativas de autonomia estabelecidas no artigo 207 da Constituição da República Federativa do Brasil e no artigo 180 da Constituição do Estado do Paraná, goza de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e reger-se-á por este Estatuto, pelo seu Regimento Geral e pelas Resoluções de seus Conselhos, obedecidas as Legislações Estadual e Federal (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, Estatuto, Art. 1°). O seguinte documento normativo no âmbito da Universidade é o Projeto Pedagógico Instucional. Se o Estatuto respondia a pergunta “o que é a Universidade”, o PPI responde a pergunta “para que a Universidade”, focando principalmente a face acadêmica em uma

94Estão incluídas dentro da presente Lei as instituições de Ensino Superior, sejam universitárias ou não

universitárias, nacionais, provinciais ou municipais, tanto as públicas quanto as privadas que fazem parte do Sistema de Ensino Nacional, regulado pela Lei 24.195 (tradução nossa).

abrangência cronológica determinada, pois um projeto pedagógico pode e deve mudar para se adaptar aos tempos atuais e também para os futuros:

O PPI é, portanto, o documento que norteia as ações da Universidade em todas as suas instâncias, além de definir suas relações com o espaço exterior. A natureza política do Projeto Pedagógico Institucional garante, de um lado, a não neutralidade deste documento e, por outro, o compromisso com a educação (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, Projeto Pedagógico Institucional 2010-2015, p. 14).

Já o Regimento Geral estabelece as normas pelas quais a Universidade deve estar organizada, tanto no relativo às pessoas físicas quanto aos órgãos, assim como aos processos que se derivam das relações entre eles. Sem o regimento, a Universidade estaria desgovernada, cada pessoa ou órgão faria as coisas do jeito que quisessem e, enquanto não divergisse do estabelecido no Estatuto e Projeto Pedagógico Institucional, seria legal. O Regimento Geral, pois, responde a pergunta “como deve ser feito”:

O presente Regimento Geral da Universidade Estadual de Londrina − entidade de direito público, sem fins lucrativos, no cumprimento de suas finalidades, estabelecidas no artigo 3 de seu Estatuto, disciplina os aspectos de organização e funcionamento comuns aos seus vários órgãos e serviços (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, Regimento Geral, Art. 1°).

Estatuto, Projeto Pedagógico Institucional e Regimento Geral, são, pois, os três documentos básicos que conformam o marco normativo da Universidade. Qualquer adição, modificação, alteração, etc., a ser feita neles após reunião do órgão competente para este fim, está recolhida em outro tipo de documento, a Resolução, destinado a testemunhar por escrito as modificações decididas em reunião ordinária ou extraordinária pelos membros representantes dos órgãos competentes.

O conjunto de documentos que fazem parte do marco normativo de uma Universidade devem estar em consonância uns com os outros, de maneira que as normas e recomendações incluídas no Regimento ou no Projeto Pedagógico Institucional não podem contradizer o indicado no Estatuto e vice-versa.

Como acontecia no caso das leis abrangentes da educação, nem todos os países seguem o mesmo esquema estabelecido no Brasil. Há países em que não existe um Estatuto próprio de uma Universidade específica e sim um Estatuto Orgânico, abrangente de todas as Universidades do país. Tal é o caso da Bolívia, por exemplo:

La Universidad Pública Boliviana es un sistema de educación superior constituido por las Universidades Públicas Autónomas e iguales en jerarquía: San Francisco Xavier de Chuquisaca, San Andrés de La Paz, San Simón de Cochabamba, Tomas Frías de Potosí, Técnica de Oruro, Gabriel René Moreno de Santa Cruz, Juan Misael Saracho de Tarija, José Ballivián del Beni, Nacional Siglo XX de Llallagua y Amazónica de Pando95 (UNIVERSIDAD MAYOR DE SAN ANDRÉS, Estatuto Orgánico de la Universidad Boliviana, Art. 1°).

Os documentos referidos, como a maioria dos documentos normativos, estão organizados em artigos, seguindo uma ordem numérica ordinal ascendente e estão precedidos por uma breve introdução referente à natureza do documento, aos seus fins, ao lugar e à data da reunião em que foram aprovados; por sua vez, em cada um dos artigos se faz menção a um ou vários conceitos a serem definidos e estes conceitos podem se referir a pessoas, documentos, objetos, ações, etc.