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4. PRINCÍPIOS TEÓRICOS APLICADOS

4.1. P RIMEIRA FASE : OS PRINCÍPIOS DA TGT

Em nossa opinião, a univocidade e a monorreferencialidade propostos por Wüster para sua TGT são justamente os princípios básicos que guiam qualquer conceito expressado em um documento normativo, seja universitário ou de quaisquer outros âmbitos, já que sua natureza visa estabelecer normas a serem cumpridas, legislar, organizar categorias, taxonomias, distinguir o que é permitido do que não, etc.

Portanto, acreditamos que não seria possível ou, ao menos, recomendável, que um conceito incluído em uma Lei, Decreto, Instrução Normativa, Estatuto, Regimento, etc., de um determinado país ou Universidade fosse polissêmico, pois isso acarretaria consequências negativas para sua aplicação, contrárias ao propósito para o qual o documento foi criado.

Assim, na primeira fase do trabalho, a da seleção dos termos, aplicamos os princípios básicos da TGT e organizamos os conceitos a partir de relações lógicas, tal como Wüster propõe como base de um bom trabalho terminológico.

4.1.1. Os Objetos Individuais

Do ponto de vista filosófico, segundo Wüster, não existem conceitos; os objetos passam a ser conceitos no momento em que o ser humano, por um processo cognitivo, reconhece-os como tais. Os conceitos adquirem nomes próprios e comuns quando o homem lhes confere uma denominação, um signo linguístico.

Caso o objeto seja único, ao distinguir-se do resto dos objetos similares por uma qualidade adicional positiva ou negativa, é denominado objeto individual definido (mestrado e mestrado acadêmico, por exemplo; se, pelo contrário, não se diferencia dos outros por nenhuma característica, denomina-se “objeto general indefinido” (no caso do MNU de Portugal, mestrado e segundo ciclo, por exemplo).

4.1.2. O Conceito de Conceito

Wüster observa uma diferença fundamental entre a Terminologia e a Linguística tradicional, fixando, desse jeito, um dos fundamentos daquela: a Terminologia parte do conceito em direção à denominação e não ao contrário:

“Para a identificação ou fixação de um conceito requer-se, necessariamente, uma denotação ou outra classe de signo; se partirmos ao invés (ou seja: do signo ao conceito) o conceito chamar-se-á o significado ou sentido do signo” (WÜSTER, 1979, p. 37). Dessa forma, a compreensão de um conceito é indispensável para sua definição e é, justamente, o conjunto das características de um conceito que nos proporciona a compreensão dele. Em Terminologia, a compreensão ocupa um lugar preponderante, pois faz possível a delimitação do conceito.

Isso permite os conceitos serem organizados posteriorimente em uma árvore conceitual, não a partir da sua denominação (signo), mas dos conceitos em que eles estão organizados. Assim, nós organizamos a nossa árvore conceitual a a partir do conceito expressado pelo termo educação superior e fomos, depois, estabelecendo os conceitos que dependiam dele, expressados por: organização acadêmica, instituição de Ensino Superior,

curso superior, qualificações universitárias e comunidade acadêmica. A partir desses cinco

deles e assim sucessivamente (curso superior, curso de pós-graduação, curso de pós-

graduação stricto sensu, mestrado, mestrado acadêmico, por exemplo).

4.1.3. A Extensão do Conceito.

Entende-se por extensão de um conceito “a totalidade de todos os conceitos subordinados que estão no mesmo nível de abstração” (FELBER, 1984, p. 69). Existem a extensão por semelhança e a extensão por composição.

Um exemplo de extensão por semelhança na área que nós estamos analisando seria:

atividades acadêmicas complementares são disciplina eletiva, disciplina especial, estágio curricular não obrigatório, etc.; por sua vez, um exemplo de extensão por composição seria:

o corpo docente está formado por professores integrantes de carreira e professores

contratados em caráter temporário.

4.1.4. Características de um Conceito:

As características de um conceito são individuais em cada objeto e são importantes para determinar a compreensão e a extensão dele, sua definição e sua relação com outros conceitos. As características em si mesmas também são conceitos. Elas podem ser intrínsecas (inerentes ao objeto), como o tamanho, a forma, cor, material, etc., ou extrínsecas (características de origem, destinação, utilidade, localização, etc).

Existem também características equivalentes, as quais são intercambiáveis (por exemplo: turno matutino, de manhã; vespertino/ de tarde; noturno/ à noite), mas a maioria não é equivalente (por exemplo: atividade pedagógica eletiva/ atividade pedagógica

obrigatória).

Por sua vez, Wüster divide estas características não equivalentes em dependentes e independentes:

Dependentes: refere-se às características que dependem da existência de uma característica genérica prévia. Por exemplo, ao classificar cursos superiores não faz sentido a característica lato sensu sem antes se dar a característica de pós-graduação. As características dependentes acham-se em diferentes níveis em uma série vertical de conceitos, formando uma sequência obrigatória.

Independentes: são aquelas características que podem se encontrar em qualquer nível dentro de uma série vertical, combináveis de forma arbitrária. Por exemplo, nota

média final é um conceito em que a característica média é independente de final e

pode ser classificada como nota média e nota final.

4.1.5. Relações entre Conceitos

Em Terminologia, os conceitos não são considerados elementos isolados; cada conceito individual faz parte integradora de um sistema conceitual que, por sua vez, repercute na sua ordenação, na estruturação de algum campo do conhecimento. Portanto, os conceitos estão relacionados entre si, sendo o estudo e a determinação das relações de grande importância para o trabalho terminológico, pois deles irá depender o grau de precisão, clareza e fiabilidade do resultado final do trabalho terminológico.

A classificação estabelecida por Wüster quanto às relações conceituais está resumida no Terminology Manual de Helmut Felber (1984, p. 120 – 121):

Quadro3: Relações conceituais estabelecidas na TGT por Wüster. 1. Relações lógicas.

2. Relações ontológicas. 2.1.Relações partitivas. 2.2.Relações de sucessão.

2.3. Relações de material – produto. 3. Relações de efeito. 3.1.Causalidade. 3.2.Instrumentação. 3.3.Descendência. 3.3.1. Descendência genealógica. 3.3.2. Descendência ontogenética.

3.3.3. Descendência entre etapas de substâncias. Fonte: Felber, (1984, p. 120-121).

De todas elas, nós aplicamos na primeira fase do trabalho as relações lógicas, como as mais relacionadas com a sua especificidade.

4.1.5.1. Relações lógicas

Baseia-se na similaridade existente entre conceitos, daí os nomes que também recebe: relação de semelhança, relação espécie – gênero ou relação de abstração. É estabelecida quando existem características comuns entre dois termos comparados entre si. Fala-se em quatro tipos: subordinação lógica, interseção lógica, coordenação lógica e relação lógica diagonal.

Subordinação lógica: o conceito subordinado (espécie) possui uma característica a mais do que o conceito imediatamente superior (gênero). Por exemplo: a) curso de

graduação e b) bacharelado. a está incluído en b e b é uma espécie do gênero a.

Interseção lógica: nem todas as características de dois objetos comparados são iguais, só existe uma identidade parcial: Por exemplo: a) bacharelado e b) mestrado. a e b possuem características comuns (curso superior).

Coordenação lógica: dois conceitos comparados possuem as mesmas características e cada um deles possui, por sua vez, uma característica a mais pertencente ao mesmo tipo de característica ou critério de ordenação; ou seja: os dois conceitos estão subordinados ao mesmo conceito genérico. Por exemplo: a) curso de pós-graduação; b) curso de pós-graduação stricto sensu e c) curso de pós-graduação lato sensu. Relação lógica diagonal: duas espécies de um gênero comum não estão relacionadas

nem por subordinação (relação vertical), nem por coordenação (relação horizontal). Sua relação é diagonal. Por exemplo: a) curso superior; b) curso de graduação e c)

doutorado.

União lógica de conceitos: dois conceitos combinados constituem um conceito novo. Se os dois conceitos estão unidos por coordenação, o conceito resultante manterá características provenientes de cada um deles. Por exemplo: a) nota média; b) nota

final e c) nota média final; se, ao contrário, não estão coordenados entre si, o novo

conceito perderá grande parte das suas características primitivas. Por exemplo: a)

Por sua vez, os conceitos coordenados ou não coordenados podem aparecer combinados das seguintes formas:

Determinação: o primeiro conceito constituinte (conceito dominante) determina o segundo, virando uma característica dele. O conceito resultante é uma espécie ou gênero do segundo conceito constituinte (conceito determinado). Por exemplo: a)

título; b) mestre e c) título de mestre (a determina b; c é uma espécie de b).

Conjunção: a compreensão (conjunto das características) dos dois conceitos constituintes está integrada no novo conceito. Por exemplo: a) hora; b) aula; c) hora-

aula.

Disjunção: a extensão dos conceitos constituintes está integrada no novo conceito. Ele é o conceito genérico imediato dos conceitos constituintes. Por exemplo: a) mestrado; b) doutorado e c) curso de pós-graduação stricto sensu.