• Nenhum resultado encontrado

3 O REGIME JURÍDICO DO PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO EM SEU

4.1 O Banco de Experiências e a Audiência do Plano Diretor

4.1.2 Bancos de Experiências no Paraná

4.1.2.4 Maringá: elaboração de Plano Diretor em região metropolitana (2002-2004)

No Município de Maringá é obrigatório o instrumento do PDP, nos termos definidos pelo EC/2001, por possuir número de habitantes superior a 20.000 e estar inserida em Região Metropolitana (Região Metropolitana de Maringá, desde 1998)376. A cidade, criada

oficialmente em 1951, com economia voltada principalmente na agricultura e agroindústria, nas primeiras décadas e, atualmente, com inclusão industrial decorrente da descentralização, neste setor, da cidade de São Paulo377.

O histórico do município aponta que ocorreram inúmeras gestões integradas da Região Metropolitana de Maringá com a Região Metropolitana de Londrina, de caráter de

373 LONDRINA. Lei Nº 10.637, de 29 de dezembro de 2008. Institui as diretrizes do Plano Diretor Participativo

do Município de Londrina - PDPML e dá outras providências. Disponível em: <http://www1.cml.pr.gov.br/cml/site/leidetalhe.xhtml?leicodigo=LE106372008>. Acesso em 19 dez. 2014.

374 LONDRINA. Prefeitura Municipal. Conferências. Disponível em: <http://www.londrina.pr.gov.br/index.ph

p?option=com_content&view=article&id=1003&Itemid=1022>. Acesso em: 20 dez. 2014.

375 Todos os dados utilizados para este item foram retirados da ficha padrão do Banco de Experiências do

Município de Maringá. BRASIL. Ministério das Cidades. Banco de Experiências de Planos Diretores Participativos. Maringá. Plano Diretor em regiões metropolitanas. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/ images/stories/ArquivosSNPU/ExperienciasEstados/Maringa_PlanoPR.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015.

376 Ibid. 377 Ibid.

desenvolvimento regional. O primeiro Plano Diretor foi elaborado em 1977, pela Secretaria de Planejamento do Governo do Paraná, denominado Plano Diretor do Eixo Londrina- Maringá e, posteriormente, adveio o projeto METRONAR – Metrópole Linear Norte do Paraná (projeto que possibilitou um referencial às administrações municipais).

A partir da década de 1990, a METROPLAN (Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento da Região de Maringá, Marialva, Sarandi e Paiçandu) foi responsável, também, pelo desenvolvimento integrado de planos específicos para cada munícipio participante do consórcio instituído. O Banco de Experiências de Maringá informa que o consórcio METRAPLAN continua existindo, porém de caráter formal, sem interesse das administrações locais de fazerem uso dele.

As descrições das experiências iniciaram em 2002, para planejamento de Plano Diretor, nos termos do EC/2001, abordam aspectos de diversas cidades, todas pertencentes à região metropolitana. A contratação da primeira consultoria ocorreu também em 2002, e realizou estudos novos a fim de adequar o PD nos termos do Estatuto da Cidade. Porém:

[..] alguns princípios fundamentais não foram cumpridos, como por exemplo, o

processo participativo de leitura, análise e proposições para a forma e conteúdo da produção do espaço. Em outras palavras, as propostas se resumiram a intenções

da equipe consultora e da administração da época. Outra questão relevante, não abordada pela equipe em 2002, foi a definição objetiva dos conceitos e critérios para aplicação da urbanização, edificação e utilização compulsória, bem como da tributação progressiva e desapropriação com títulos da dívida pública. Em resumo, os princípios e objetivos do Estatuto da Cidade não estava [sic] expressos neste plano de 2002, levando a Prefeitura Municipal a iniciar novo processo licitatório378. (sem

grifos no original)

A questão apresentada no relato toca em ponto fundamental fixado pelo Guia do Ministério das Cidades379: o envolvimento da população na leitura do contexto local e na

propositura de conteúdos a serem debatidos pelo projeto do PDP. De qualquer modo, o relatório explica que outra consultoria foi contratada, em 2003.

Realizou-se a formação da equipe municipal que, iniciou com a capacitação de gestores municipais, para contribuírem durante todo o processo de elaboração do PDP. A equipe recebeu curso de dois dias, segundo o relatório, para aprendizado de diversos temas que envolvem o PD. Em momento posterior, buscaram-se informações em diferentes Secretarias do Munícipio, para dar base ao projeto do Plano.

378 BRASIL, Maringá (2014).

Acerca dos debates públicos, o relatório aponta que em diversos momentos foi possível ouvir da população presente que não havia problema de moradia na cidade ou que o estado ambiental da cidade era resultado do “bem sucedido planejamento urbano”380. Em conclusão

a essas afirmações, o relatório afirma:

Isto demonstrava claramente a valorização que a população dá ao desenho diferenciado, marcado principalmente por parques, arborização e uma infraestrutura privilegiada, mas ocultava resultados perversos de um modo de produção

excludente, similar a qualquer outra metrópole. Neste momento, os dados

metropolitanos serviram para desmistificar o “sucesso” do planejamento, sem desvalorizar o desenho e os ganhos ambientais resultantes dos primeiros planos da cidade. Durante os debates foi essencial construir a crítica ao modo de produção da cidade sem perder de vista os valores identificados como patrimônio da cidade. Esta contradição foi justamente o eixo condutor da reflexão sobre as diferenças de acesso e usufruto deste patrimônio, em outras palavras, reconhecendo tais valores, quem se

apropria concretamente destes espaços?381 (sem grifos no original)

Além desse debate, referente à participação, o relatório faz menção da inclusão de mais dois membros representantes, para compor o Conselho da Cidade, das cidades limítrofe (Sarandi e Paiçandu), para firmar a ideia de trabalhar o planejamento no aspecto metropolitano.

As informações de participação, de fato, são bem limitadas, uma vez que o PD estava em fase de avaliação pela nova gestão, isto é, não tinha sido aprovado, no momento de conclusão do banco de experiências da cidade. Desta forma, o item recomendação, alertas e aprendizados está voltado, principalmente, para as expectativas de participação futuras, de leitura comunitária da realidade da região metropolitana, ressaltando que nunca ocorreu nenhum fórum intermunicipal de debate acerca dos problemas urbanos de Maringá e das cidades de Sarandi e Paiçandu.

O PD de Maringá restou aprovado dois anos após os relatos apresentados acima, em 06 de outubro de 2006, Lei Complementar n. 632/2006382. Em análise ao texto de lei, há

inúmeras referências à gestão democrática (art. 11 e 12), existe previsão de conferências para avaliar o PD a cada três anos (art. 196) e audiências públicas (209 e ss.) etc.

380 BRASIL, Maringá (2014). 381 Ibid.

382 MARINGÁ. Lei Complementar n. 632, de 06 de outubro de 2006. Cria o Plano Diretor do Município de

Maringá. Disponível em: <http://www2.maringa.pr.gov.br/sistema/arquivos/geo/leis/lc_632_2006_plano_direto r_lei_consolidada.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2015.

Entretanto, ao sítio eletrônico do Ministério Público de Estado do Paraná colhe-se a notícia, datada de 12.03.2014, que mediante determinação da 2ª Vara da Fazenda Pública de Maringá a fim de contemplar a participação da população na II Conferência Pública de Avaliação do Plano Diretor, o Juiz Nicola Frascati Junior aceitou a liminar e determinou a ampla divulgação do evento, para garantir a participação. Retira-se da notícia:

A decisão foi proferida com base em ação civil pública ajuizada pela Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Maringá, com o objetivo de obter a declaração de nulidade do §2º do artigo 11 do Decreto Municipal nº 201/2014, que, no entendimento da Promotoria, violaria a Lei Municipal 8.508/2009 (Plano Diretor do Município de Maringá), por restringir a participação da comunidade. [...] o senhor prefeito municipal, a pretexto de dar cumprimento a Lei Municipal nº 8.508/2009,

restringiu a possibilidade de participação de integrantes da sociedade civil na

Conferência Pública, porquanto ao exigir que as entidades estejam legalmente constituídas impediu que os movimentos sociais e populares e algumas organizações não governamentais possam ter direito a voz [...]. (sem grifos no original)383

A ação ainda está em andamento, mas já se pode afirmar que a cultura participativa de Maringá não tem avançado qualitativamente no sentido de propiciar que os diversos setores da sociedade façam parte do processo de construção ou avaliação do PDP, nos parâmetros da gestão democrática do EC/2011. Outro ponto negativo, retira-se do banco de experiências da cidade: foi recorrente o discurso da população de não haver problemas na cidade. A exclusão socioespacial de parte da população de Maringá é um problema, conforme o próprio relatório apontou. Acredita-se que além do fortalecimento da cultura participativa, da abertura da administração pública para a gestão partilhada e comunitária, informações acerca da realidade são de extrema importância para conhecimento dos avanços e principais dos pontos a serem avançados em detrimento das exclusões de cunho social e espacial, existente em qualquer metrópole brasileira.

4.1.3. Bancos de Experiências em Santa Catarina

Assim como as fichas das cidades paranaenses, as cidades de Santa Catarina possuem características e relatos diversos. Atentam-se para o fato de que cidade de São José teve o seu

383 MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ. Assessoria de Comunicação Ministério Público do Paraná.

MARINGÁ - Justiça determina ampla participação popular em conferência para avaliação de plano diretor. 12.03.2014. Disponível em: <http://www.mppr.mp.br/modules/noticias/article.php?storyid=4338>. Acesso em: 07 jan. 2015

procedimento de participação popular questionado via processo judicial e, desta forma, há também informações referentes à decisão em si.