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3 O REGIME JURÍDICO DO PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO EM SEU

4.1 O Banco de Experiências e a Audiência do Plano Diretor

4.1.4 Bancos de Experiências no Rio Grande do Sul

4.1.4.2 Pelotas: 13 ideias para a elaboração do Plano Diretor (2001-2005)

O Município de Pelotas, segundo o Censo Demográfico IBGE 2000, possuía 323.158 habitantes e, ainda, é integrante de Região Metropolitana e Aglomerações Urbanas, justificando sua obrigatoriedade na construção do PDP, dos termos do CE/2001.

Do Banco de Experiências retira-se que o PD de Pelotas (Lei Municipal 2.565) instituído em 1980 e ligado aos “interesses dominantes”, já havia perdido sua efetividade por fatores de incompatibilidade com a realidade urbana. As inovações que ocorreram, inicialmente com a reorganização da Secretaria de Planejamento em 2001, foram fundadas pelos princípios: (i) planejamento sustentável (social, ambiental e econômica) no desenvolvimento e gestão territorial e; (ii) planejamento democrático e participativo, associado com a Agenda 21429.

Ainda, de aspecto do contexto socioespacial, a informação é de que a cidade tem uma cultura política setorizada, isto é, diversos segmentos da sociedade são organizados pela defesa de seus interesses próprios:

[...] entidades civis, sindicatos, organizações não governamentais, associações de bairro, universidades, associações de profissionais, entre outros. Estas organizações expressam e reivindicam interesses diversos, por vezes contraditórios na disputa do espaço urbano, e determinando conflitos de natureza socioambiental [sic], econômico e cultural na apropriação das terras urbanas e rurais. O direito à moradia e adequada estruturação urbana pelas populações de menor renda, a preservação ambiental e o patrimônio cultural são pautas permanente na demanda pública430.

A sociedade de maneira organizada já havia se conscientizado de certos problemas de cunho ambiental, social e econômico, fator que facilita a aproximação da população nos debates públicos, mas que também tende a gerar conflitos de interesses.

A Experiência relatada começou em 2001, como a coordenação da Secretaria Municipal de Planejamento Urbana (SEURB), que definiu as estratégias e a metodologia para a inserção da população na construção do PD:

428 Todos os dados utilizados para este item foram retirados da ficha padrão do Banco de Experiências do

Muncípio de Pelotas. BRASIL. Ministério das Cidades. Banco de Experiências de Planos Diretores Participativos. Pelotas. Pactuação de 13 ideias-força para a elaboração dos conteúdos do plano diretor. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNPU/ExperienciasEstados/Pelotas_Pactu acaoRS.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2014.

429 BRASIL, Pelotas (2014). 430 Ibid.

A prefeitura firmou parceria com a fundação Centro de Estudos e Projetos do Ambiente – CEPA, com sede em La Plata e representação em Porto Alegre-RS.[...] foram estabelecidos [...] alguns requisitos para o desenvolvimento dos trabalhos, entre eles: a constituição de uma equipe de trabalho multidisciplinar formada pelas duas instituições - Prefeitura/Cepa com a responsabilidade de orientar, desenvolver e agilizar o andamento dos trabalhos; a implementação das instâncias internas e externas para articulação institucional constituindo um grupo de trabalho ampliado de acompanhamento e interação com a equipe permanente, a organização da

participação comunitária nos debates do plano diretor através de seminários e fóruns; e a preparação do 1º Congresso da Cidade, instância determinada para

debater e aprovar as estratégias gerais definidas nas etapas e instâncias anteriores. A finalização desta etapa do processo se daria no Congresso da Cidade devendo este se constituir no marco da participação social no planejamento e gestão territorial de Pelotas. (sem grifos no original)431

Com a parceria – de setembro de 2001 a dezembro de 2002 –, ocorreu a capacitação local e coordenação de metodologia, pela CEPA, (de caráter de construção coletiva, mapeamento de conflitos e potencialidades ambientais, econômicos e sociais), para fixar a intervenção pública intervenção pública (instâncias participativas, reuniões, seminários internos e externos, etc.), com supervisão da SUERB. Formou-se a ETM (equipe de trabalho Municipal), composta por 24 profissionais da Prefeitura, com um titular e um suplente para cada secretaria432, responsáveis de programarem procedimentos para a participação popular. Cita-se, ainda, o Fórum Inter-Secretarias (instância, criada por decreto, composta pelos Secretários Municipais e pelo Prefeito), com objetivo de acompanhar todos os trabalhos realizados pela CEPA e SUERB. O Fórum Intersetorial, por sua vez, possibilitou o debate de questões de planejamento urbano com a população e diversos segmentos da sociedade organizada, com ampla divulgação.

A construção de diretrizes a serem incorporadas no projeto do PDP de Pelotas foi feita pela ETM e o Fórum Intersetorial, com a premissa, já mencionada, de sustentabilidade. Diante dos debates, cinco elementos foram identificados, por sua necessidade de inserção no PD: cultura, natureza, redes, reforma urbana e sistema de gestão. Desses pontos, grupos da ETM recolheram dados, pareces e estudos técnicos para promoção de novas consultas com a comunidade, que resultou na priorização de pontos, mesmo com conflito de interesses identificável. De todo o processo (25 reuniões, 3 fóruns Intersetorias) resultou a fixação do pacto de 13 “Ideias Forças” para o modelo de cidade de desenvolvimento de Pelotas433.

Posteriormente, realizou-se mais de 20 reuniões preliminares, com a participação do “Conselho do Plano Diretor, Conselho de Desenvolvimento Rural, Conselho de Proteção

431 Ibid.

432 BRASIL, Pelotas (2014). 433 Ibid.

Ambiental, Sindicatos, Universidades, Entidades e Associações Profissionais”, a fim que, tal pacto, restasse aprovado no Congresso da Cidade. Ocorreu, ainda, um pré-Congresso, com a presença de 133 pessoas434:

O Congresso da Cidade realizou-se em agosto de 2002, reunindo mais de 400 pessoas, 90 delegados representantes de organizações governamentais e não governamentais, representantes de 65 setores da comunidade. [...] O Fórum

Intersetorial constituiu-se na principal instância de participação social, pois

entre seus objetivos e atribuições lhe coube: - participar centralmente na construção das Idéias Força; - procurar consensuar os avanços técnicos no próprio Fórum Intersetorial e nas suas instituições; - trazer as demandas das comunidades e entidades representadas; - discutir sobre encaminhamentos necessários ao andamento dos trabalhos; - analisar os avanços nas tarefas realizadas pela Equipe de Trabalho Municipal a partir das deliberações e proposições do Fórum435.

Após período de pausa, os trabalhos foram retomados em 2005, com a leitura técnica (reuniões com os grupos técnicos e setores externos) e com a leitura comunitária, com intuito de aprofundar os esclarecimentos acerca das Ideias Força, bem como fixar proposta a serem inseridas no projeto de lei. Por fim, segundo o relatório, a leitura comunitária foi utilizada para organizar bases territoriais, a fim de facilitar um processo permanente de planejamento participativo436. O relato das experiências do banco de dados de Pelotas termina sem, no

entanto, a conclusão dos trabalhos, em razão da época que tais informações foram coletadas pelo Ministério das Cidades.

No item recomendações, alertas e aprendizados, o banco de experiências de Pelotas afirma que o trabalho em parceria com a coletividade e Secretarias Municipais, possibilitou a troca de informações necessárias, de maneira que se garantiu um canal aberto de diálogo; afirma-se, ainda, que a fase preparatória da construção do projeto de PD “foi a instância participativa mais importante”, que ocorreu mediante audiências públicas. Outro ponto a se destacar é que os “pactos” inseridos no projeto foram “construídos coletivamente, pois dispõem de claras sugestões”, de consensos.

A dificuldade de inserção dos diversos atores sociais que compõem a cidade é ponto levantado. Segundo relatório, estruturar instâncias participação é o passo inicial, mas não o suficiente para “ampliar as relações e promover maior articulação entre os diversos setores que tradicionalmente atuam isoladamente na produção do espaço”, havendo, ainda, setores que não dispõem de representação, de organizações da sociedade civil

434 Ibid. 435 Ibid.

A capacitação é um dado recorrente desse relato, com menções de que há a necessidade de aprendizados constantes, permanentes, principalmente dos setores com menor prática em mobilizações, a fim de não agravar a exclusão socioespacial já existentes. Por fim, ressalta-se que a comunicação acertou em pontos de produção e registro de materiais, mas a linguagem utilizada sem sempre foi esclarecedora ou acessível para toda a população.

De modo geral, pode-se afirmar, mediante os dados do relatório, que a experiência de 2001 a 2005 foi bastante participativa, em que pese a linguagem nem sempre ser acessível (decorrente dos termos técnicos presentes), houve abertura da administração pública para a adoção de mecanismo que facilitassem a participação popular, como por exemplo, a criação de fóruns.

Existe uma cultura forte participativa na cidade, principalmente de setores organizados, mas há cidadãos que não fazem parte de nenhum desses setores e com dificuldades de diversas ordens em se mobilizar. Nesse aspecto, entende-se que o papel da Administração Pública no envolvimento desses atores sociais, historicamente excluídos.

O PD de Pelotas foi aprovado pela Lei nº 5.502 em 11 de setembro de 2008, e prevê sistemas de gestão coletiva e democrática do planejamento urbano (arts. 20), mediante o instrumento da audiência pública (art. 13, VI, d; Art. 291)437.

4.1.4.3. Santa Maria: instâncias participativas e sua consolidação para o Plano Diretor