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4.3. Os casos analisados: Matão, São Carlos e Rio Claro

4.3.1. Matão

O município de Matão tem uma população aproximada de 79.579 habitantes (SEADE, 2010), onde 97,97% vivem na área urbana do município. A cidade tem uma atividade econômica variada, baseada tanto no comércio e serviços quanto nas indústrias. É um dos maiores centros de produção e exportação de suco de laranja concentrado do mundo, além de possuir destacado parque metalúrgico, indústrias alimentícias e de confecção esportiva (ANTONIOSI, 2005).

A história da cidade se assemelha à trajetória dos demais municípios do interior do estado de São Paulo, que se desenvolveram após o estabelecimento das primeiras fazendas

de café na região, no final do século XIX. O município começou a se formar ao redor de uma pequena capela que reunia os colonos da região que cultivavam suas terras, onde aos poucos foram aparecendo casas de comércio, indústrias, além da chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Araraquarense que impulsionaram o desenvolvimento da região131.

A história política do município é marcada pela hegemonia de uma oligarquia local que teve início em 1969 com o MDB e permaneceu até 1996, totalizando 28 anos do então PMDB no poder executivo matonense. O precursor desse grupo político, o Laertão (Laert José Tarallo Mendes), um dos fundadores do PMDB no município, foi a grande liderança política da época132, o qual também rompeu com uma hegemonia política de 21 anos do PSP. Após sua morte, quem assumiu essa liderança foi Jayme Gimenez, advogado e professor aposentado da rede estadual de ensino, o qual desempenhou grande liderança política da cidade, elegendo-se deputado estadual em 1990 e se reelegendo em 1994.

Em 1996, um novo cenário político foi definido, quando o PT venceu as eleições municipais com uma diferença de apenas 123 votos, rompendo com o ciclo político do PMDB de quase 30 anos133. Segundo o atual Secretário do Bem Estar Social, Ademir de Souza, essa vitória não foi resultado apenas de uma alteração no comportamento eleitoral, em virtude da necessidade de mudança proveniente da insatisfação político-econômica, mas devido ao próprio desgaste do PMDB em comandar por tanto tempo um grupo político na cidade, o qual acabou rachando na época com o PSDB. Ou seja, houve um rompimento entre membros do PMDB que eram do grupo, os quais saíram e formaram o PSDB na cidade, tal como ocorreu no cenário nacional.

131 Fundação SEADE, Informações Municipais.

132 Laert José Tarallo Mendes foi prefeito entre 1969 e 1972, depois assumiu Celso de Barros Ferche que

governou até 1977, quando o “Laertão” voltou e faleceu em 1981, assumindo nessa ocasião o vice-prefeito João Féchio que terminou o mandato. Em seguida assumiu Jayme Gimenez, 1983-1988, depois voltou João Féchio até 1992 e o irmão do Jayme, Luís Tadeu Gimenez fechou o ciclo Pmdbista em 1996.

133 Segue anexo a Cronologia das Eleições Municipais de Matão (majoritária e proporcional) desde 1996 até os

O primeiro prefeito de Motuca134 era um cara de Matão, chamava Rui Fernando

Pinoti, como ele era da usina, ele era o gerente geral da usina, os caras bancaram ele lá na cidade, e na emancipação de Motuca, ele virou Prefeito. Ele renuncia como Prefeito no meio do primeiro mandato de prefeito de Motuca e vem disputar a eleição em Matão. Então sai um candidato do PT, um candidato do PSDB e um candidato do PMDB. Então tem três candidatos, tem um racha, nesse racha, o Adauto ganha a eleição por 123 votos (SOUZA, Ademir. Entrevista. 2009).

Dessa forma, Adauto Aparecido Scardoelli, candidato do PT, pedagogo e matemático, assumia pela primeira vez a administração da cidade em 1997, com o desafio de administrar as dívidas deixadas por administrações anteriores, conhecer a máquina administrativa, captar recursos, melhorar e ampliar a prestação de serviços da cidade, intensificar a participação efetiva da população e instituir um novo modelo de gestão e desenvolvimento para a cidade. Além das pressões dos meios de comunicação, dos grupos partidários contrários (majoritários no Legislativo) e a expectativa de mudança gerada em toda a população (ANTONIOSI, 2005). A administração assumiu um compromisso de instituir ampla transparência em suas ações. Com esse objetivo, implantou o OP, o qual além de estreitar os laços com a população contribuiu também como instrumento de planejamento e gestão dos recursos públicos, com base nas prioridades da população. Além disso, implantaram um programa de reforma administrativa com o objetivo de reduzir despesas através da informatização do atendimento, da centralização de todas as Secretarias e Departamentos em um único prédio da Prefeitura e da redução do número de funcionários comissionados, conhecidos como cargos de confiança.

No Programa Orçamento Participativo, pioneiro, em Matão, a cidade foi dividida em treze regiões. Anualmente a administração se reunia com a população de cada uma delas para definir as prioridades a ser realizadas naquele local, de acordo com o orçamento e os recursos estabelecidos para cada área social. Antoniosi (2005, p.95) assinala algumas dificuldades relativas a gestão do OP como a falta de entusiasmo e a dificuldade de compreensão dos objetivos do processo participativo por parte da população acostumada com um modelo tradicional de gestão. Além da escassez de recursos que impedia esse mecanismo participativo de garantir o atendimento das reivindicações selecionadas. Segundo o autor (2005, p. 96), o governo petista priorizou a melhoria da qualidade de vida da população mais

carente mesmo com todas as dificuldades apontadas, implementando importantes programas sociais tais como o Programa de Renda Mínima, o Programa de Saúde da Família, o Programa Prefeitura nos Bairros, além das obras de infra-estrutura e de prestação de serviços para a comunidade.

A eleição de 2000 foi marcada pela junção das forças políticas que tinham rachado em 1996, as quais se uniram para derrotar o atual prefeito petista candidato a reeleição. O PMDB e o PSDB juntos deixaram as divergências políticas de lado, formaram uma ampla coligação com outros partidos que também eram contra o governo e relançaram um candidato de grande prestígio na cidade, Jayme Gimenez, o qual já não era mais deputado porque não se reelegeu em 1998. Nesse ambiente, o candidato petista Adauto perdeu para o tradicional candidato do PMDB por uma grande vantagem, 62,53% e 37,47%, respectivamente.

Contudo, o governo do PMDB realizou efetivamente poucas obras de infra- estrutura, não ampliou significativamente os programas sociais implementados pelo PT e quase duplicou o número de cargos comissionados135, os quais foram entregues a partidos políticos pertencentes à coligação eleitoral. No ano de 2003, o então prefeito rompeu com o PMDB e filiou-se ao PSDB. Nas eleições de 2004, diferentemente de 2000 onde o pleito ficou polarizado entre dois blocos políticos, quatro coligações disputaram os votos do eleitorado matonense. O PT optou por destacar o fácil acesso e a boa relação com o governo federal na campanha, também governado pelo PT, o que facilitaria a obtenção de recursos, além de não poupar críticas ao PMDB e se comprometer a dar continuidade aos programas participativos e sociais. O PT retomou o governo municipal novamente em 2005, numa disputa acirrada com o PMDB, com uma diferença de 2,79% de votos válidos.

O segundo mandato petista (2005-2008) se distinguiu do primeiro em vários aspectos. Em primeiro lugar, as relações entre os Poderes Executivo e Legislativo melhoraram com a construção de uma maioria parlamentar. Em segundo lugar, a situação econômica do município mudou bastante, em 1997 o orçamento municipal girava em torno de

135 Segundo informações da Prefeitura Municipal de Matão, o PT mantinha 80 cargos de confiança na gestão

29 milhões e atualmente chega a 110 milhões136. Em terceiro lugar, podemos citar a parceria com o governo federal, a qual rendeu quase 20 milhões em investimentos para o município137. Finalmente, o governo não deu continuidade à proposta de OP iniciada na primeira gestão. Segundo o próprio governo, o OP não foi implementado porque existia um compromisso na campanha de cumprir as obras elencadas no primeiro mandato, as quais foram realizadas em sua totalidade ao longo do segundo mandato. Além disso, a participação popular foi incorporada em outros fóruns, segundo a administração petista, como por exemplo o Conselho da Cidade, que segundo a administração atual, quase substitui o OP, com representantes de todas as organizações da sociedade civil. Nesse sentido, o governo petista se estabilizou no município após vencer as eleições de 2008, com uma aprovação de 65,21% dos votos válidos.