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4.3. Os casos analisados: Matão, São Carlos e Rio Claro

4.3.3. Rio Claro

O município de Rio Claro tem uma população estimada de 196.733 habitantes

(SEADE, 2010), predominantemente urbana representada por 98,03%. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município é 0, 825 e a renda per capta ultrapassa três salários mínimos, superando junto com São Carlos a média estadual.

A região de Rio Claro registrou seus primeiros indícios de povoamento no século XVIII, quando tropeiros paravam para descansar às margens do Córrego da Servidão, em busca do ouro nas minas de Cuiabá. No início do século XIX, foram instaladas fazendas na região voltadas para a produção de açúcar e café, as quais contribuíram para o início do povoamento na região. Outro fator que impulsionou o desenvolvimento dessa região foi a instalação do ramal férreo Campinas-Rio Claro, da Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais, por onde era transportado o café até o Porto de Santos. Mais tarde, já no final do século, foram instaladas oficinas da Cia. Paulista que ampliaram as atividades industriais e o comércio da região145.

Rio Claro, como a maioria dos municípios do interior paulista, tem sua

trajetória política marcada pelo elitismo político146. A história política do município, segundo a atual vice-prefeita Olga Salomão, foi marcada pelo predomínio de grupos políticos de direita e de centro-direita, os quais estão vinculados a dois grupos econômicos extremamente articulados na cidade que representam os ramos da especulação imobiliária e da mineração (argila). Nesse sentido, o poder político do município sempre esteve nas mãos de uma pequena elite econômica local e a maior parte da população nunca teve acesso aos canais de participação política direta.

145 Fundação SEADE. Informações Municipais.

Em 1996, uma coligação partidária formada por partidos predominantemente de centro-esquerda (PV, PT, PMDB, PC do B, PPS, PDT e PSC), com uma chapa composta por um candidato do PV a prefeito e um do PT a vice-prefeito se elegeu com 40,42% dos votos válidos, iniciando uma ruptura com as oligarquias políticas dominantes. Em 2000, esse grupo político emergente se reelegeu, numa disputa mais acirrada, por uma diferença de 8,66%. Entretanto, em 2004, numa eleição que ficou “conhecida no município de Rio Claro como a 'eleição da cesta básica' porque muitos moradores carentes da periferia trocaram seus votos por uma cesta básica oferecida por alguns candidatos” (PIZZIRANI, 2006, p. 24), o PT lançou o seu candidato à prefeitura147 e acabou perdendo para o PFL, o qual recebeu 51,49% dos votos válidos. Em 2008, outra aliança política é construída (PMDB, PT, PSDC e PC do B), mais ideologicamente programática, a qual teve uma chapa composta por um candidato do PMDB para prefeito e um do PT para vice-prefeito, vencendo a disputa com o DEM por uma vantagem significativa, 53,98% dos votos válidos148.

O OP149 foi introduzido em Rio Claro em 1998, no segundo ano do primeiro mandato desse grupo político emergente, liderado até então pelo PV e PT. No primeiro ano de governo, foi realizada apenas uma consulta junto à população através de visitas aos bairros de toda a cidade, tendo em vista um maior contato com a população, e suas respectivas necessidades. Esse processo participativo foi interrompido em 2004, quando esse grupo político não se reelegeu, voltando a acontecer a partir de 2008 sob uma nova perspectiva.

Segundo Pizzirani (2006), o nível de envolvimento da população com o OP, durante esse período (1998-2004), não foi substantivo na medida em que o respectivo processo participativo era totalmente organizado e comandado pelo governo local. A população não incorporou essa prática de tal forma que o prefeito subseqüente a essa gestão extinguiu totalmente o OP, não realizando nem mesmo as obras decididas pela população durante o OP 2004/2005, as quais já estavam incorporadas na LOA (Lei Orçamentária Anual) e os cidadãos rio-clarenses, por sua vez, não se mobilizaram em relação a essa situação.

A autora destaca entre os principais problemas que o OP de Rio Claro

147 Como “cabeça de chapa”, conforme o jargão políticos da região.

148 As informações sobre os resultados eleitorais, do município de Rio Claro, estão sistematizadas no ANEXO F. 149 Para um aprofundamento sobre a metodologia empregada no OP de Rio Claro passo a passo ver Pizzirani

enfrentou desde sua implementação, primeiramente, a corrupção em administrações anteriores, a qual comprometeu o orçamento municipal que ficou engessado para o pagamento de amortização de dívidas do passado, prejudicando os futuros investimentos municipais e, em segundo lugar, a resistência dos funcionários públicos, especialmente, os técnicos do governo, os quais, em sua maioria, não participaram ativamente desse processo. A autora também coloca que não houve integração entre o OP e o planejamento da cidade, o qual estava apoiado em outras diretrizes por meio do Plano Diretor, do PPA e do próprio Programa de Governo elaborado no período eleitoral. Isso significa que apenas uma pequena parcela dos futuros investimentos da cidade era decidida via OP, isto é, dos 7,47% do orçamento municipal destinados aos futuros investimentos, apenas 1,27% era disponibilizado à decisão popular (cerca de dois milhões de Reais). Além disso, muitas das obras escolhidas não foram realizadas devido à falta de recursos e às manobras políticas, especialmente no período eleitoral.

Em 2008, após um período de hiato, o OP é retomado, sob o comando da então vice-prefeita do PT, Olga Salomão, num formato inovador. Diferentemente do desenho original do OP150, o processo participativo de Rio Claro passou a ser mais dinâmico por meio de um desenho mais interativo onde a população participa através de grupos, discutindo não somente novos investimentos em infra-estrutura, mas também futuros projetos em diversos setores. Desse modo, nas assembléias regionais, além da usual prestação de contas, a prefeitura faz quatro perguntas a população: 1ª) O que tem de bom onde você mora? 2ª) O que tem que não é bom? 3ª) Como cada um de vocês, como cidadão, pode ajudar a melhorar o que está bom e o que não está bom, e a última, 4ª) Como a Prefeitura pode contribuir com isso?