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Análise dos juízes sobre os instrumentos de medida e registro

5. Materiais e procedimentos de treino

ƒ Selecione o máximo de materiais e procedimentos possíveis, antes do início do programa, para que possam ser levantadas e avaliadas as habilidades necessárias dos participantes para a utilização destes;

ƒ Utilize materiais e procedimentos variados e diversificados para o treino de cada componente;

ƒ Incorpore e faça adaptações de materiais e procedimentos com base na avaliação de sua efetividade, compreensão por parte dos participantes e viabilidade de utilização; ƒ Dedique o tempo que for necessário à explicação das atividades e vivências a serem realizadas, desmembrando as mesmas em unidades menores e em sessões diferentes se for o caso;

ƒ Crie materiais detalhados de registro das sessões, contendo informações principalmente sobre: a freqüência dos participantes, os objetivos supostamente atingidos, desempenho do pesquisador, dificuldades vivenciadas e estratégias para solucioná-las e sugestões para a próxima sessão.

ƒ Avalie continuamente a efetividade desses materiais.

Tanto os desafios vivenciados quanto as etapas e decisões importantes em pesquisa- intervenção conduzidas, possibilitaram o crescimento da pesquisadora quanto à flexibilidade e a criatividade para solucionar problemas que ocorrem no decorrer de uma pesquisa e que são tão comuns também na atividade prática. Acredita-se que a exibição desses obstáculos ainda possa constituir em um rico material para muitos profissionais da área que algumas vezes não acreditam ser possível realizar trabalhos baseados em estudos científicos diante dos problemas que enfrentam em seu dia a dia profissional.

Acredita-se que este estudo, ao mesmo tempo em que buscou elaborar instrumentos e adaptar procedimentos, aponta a necessidade de maior investimento dos estudiosos da área na construção e aperfeiçoamento de recursos de avaliação do repertório social- comunicativo de deficientes mentais, bem como de programas de intervenção para essa clientela.

Com relação à validade social do programa de intervenção, cabem aqui algumas considerações, tomando como base os relatos dos familiares e as observações feitas durante e após o programa de intervenção. O impacto do treinamento na vida dos participantes da pesquisa foi mais amplo do que os objetivos delineados, contribuindo para diferentes aspectos relacionados à melhora na qualidade de vida destes. Para uma população que, em sua maioria, vivencia uma monótona rotina cotidiana, um dos resultados relatado pelos familiares foi o envolvimento dos participantes em outras atividades que implicavam em fazer escolhas, expressar opinião e participar de atividades novas. Um exemplo é o caso relatado pela irmã de Marta, após o término do programa. Segundo a irmã, quando saiam juntas e paravam para comer algo, ela sempre escolhia o

que ia comer e automaticamente também o que Marta comeria. Em um passeio feito após o término do programa, em uma ocasião como a descrita, a irmã foi escolher os lanches como de costume, porém Marta reivindicou escolher o dela (como fazia nas atividades práticas do programa) e somente então sua irmã percebeu que não lhe dava oportunidade de escolha. Outro relato dos familiares de três participantes (Marta, Denis e Diana) foi que eles resolveram fazer um curso do qual tomaram conhecimento e que não era vinculado à escola que freqüentavam, demonstrando também iniciativa e escolha. Marta e Denis participaram de um curso de culinária e Diana de um curso de dança. A mãe de Diana relatou, ainda, que ela estava mais curiosa quando estavam assistindo televisão, e que, quando não entendia algo, perguntava aos familiares o que era.

Tais relatos juntamente com os resultados apresentados até aqui, indicam os importantes ganhos dos participantes com o programa de intervenção desenvolvido. Diante disso, e dos discretos resultados geralmente observados nos trabalhos com deficientes mentais, especialmente adultos, considera-se que a implementação de programas de intervenção desse tipo apresente uma relação custo-benefício bastante positiva, na medida em que os resultados extensivos obtidos superam o investimento em materiais e infra- estrutura, principalmente para a realização das atividades práticas.

Considera-se que o presente estudo apresenta dois diferenciais relacionados a vertentes pesquisa científica e prática clínica. O primeiro relaciona-se ao perfil multimodal do programa de intervenção desenvolvido, desde a utilização de diferentes instrumento de medida (avaliadores e contextos), como da utilização de diferenciados procedimentos e estratégias de intervenção, o que se relaciona diretamente com a segunda vertente: a parceria entre a Fonoaudiologia e a Psicologia. Acredita-se que este estudo constitui com isso a exploração de pesquisa e de trocas importantes para o fonoaudiólogo no campo teórico-prático das Habilidades Sociais, bem como para o psicólogo em parceria com a Fonoaudiologia.

Nesse sentido, defende-se que o papel do fonoaudiólogo, nesse campo das Habilidades Sociais, pode ampliar seu campo de atuação e pesquisa para oferta de atendimentos cada vez mais diversificados e ajustados às necessidades e características da clientela.

Tendo em vista a formação atual do fonoaudiólogo e a estreita relação da Fonoaudiologia com o campo teórico-prático das Habilidades Sociais, considera-se ainda, de suma importância a inserção de conhecimento e práticas sobre habilidades sociais no

curso de formação em Fonoaudiologia, tanto para o atendimento da clientela da Educação Especial como a população como um todo. Dentre as habilidades importantes para o fonoaudiólogo, especificamente na área da Educação Especial, pode-se citar várias daquelas referidas e detalhadas por Del Prette e Del Prette (2001): habilidades sociais de

comunicação (ex.: pedir e dar feedback, gratificar e elogiar), habilidades sociais empáticas

(ex.: validar o sentimento do outro, reduzir tensão, gerar disposição de partilhar dificuldades ou êxitos), habilidades sociais assertivas de enfrentamento: direitos e

cidadania (ex.: manifestar opinião, desculpar-se e admitir falhas), habilidades sociais educativas (ex.: criatividade para conceber condições variadas de interações educativas,

flexibilidade para mudar o curso da própria ação em função do desempenho do educando, observação, análise e discriminação dos progressos obtidos, encorajamento das tentativas de solução de problemas e a apresentação de novos desafios). Considerando o desenvolvimento de um programa de intervenção como o apresentado neste estudo, quer seja para a população especial ou não, além das habilidades sociais já descritas seria importante ainda ao fonoaudiólogo o desenvolvimento de habilidades sociais de trabalho, tais como: coordenar grupo, resolver problemas, tomar decisões e mediar conflitos.