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Meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental

No documento Dano moral ambiental coletivo (páginas 52-55)

3.1 A PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE

3.1.3 Meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental

Os direitos fundamentais são calcados na concepção de assegurar a todos uma existência digna, razão pela qual são indispensáveis à pessoa humana. Na sistemática adotada pelo texto constitucional, a expressão “direito fundamental” é gênero da qual são espécies os direitos individuais, os direitos coletivos, sociais, nacionais e políticos (PINHO, 2006, p. 66).

A relação entre o direito fundamental e o meio ambiente ecologicamente equilibrado surgiu como princípio supraestatal contido na Declaração do Meio Ambiente, fruto da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de 1972, o qual reconhecia ter o homem o “direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequada em um meio, cuja qualidade lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, e tem a solene obrigação de proteger e melhorar esse meio para as gerações presentes e futuras” (NAÇÕES UNIDAS, 1995, p. 168 apud LEITE, 2003, p. 86).

Ao considerar a atenção internacional destinada à proteção do bem ambiental, esclarece Leite (2003, p. 86) que esse princípio reconheceu o direito do homem a um bem

jurídico fundamental, qual seja, o meio ambiente ecologicamente equilibrado e a qualidade de vida. Além disso, firmou a necessidade de preservá-lo tanto para as presentes gerações quanto para as futuras.

O direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foi reafirmado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, pela Carta da Terra de 1997 e, ainda, foi destaque nas Constituições de Portugal (1976) e da Espanha (1978). (MILARÉ, 2011, p. 1.065).

Como resultado das mudanças ocorridas nas últimas décadas em relação à proteção do meio ambiente, o constituinte brasileiro dedicou um capítulo inteiro à matéria, o qual, a propósito, é um dos mais importantes e avançados da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, pois lhe concedeu status constitucional, passando o meio ambiente a ser considerado como um bem jurídico per se.

O legislador reconheceu, com o artigo 225 da Constituição de 1988, um meio ambiente sadio como forma de extensão do direito à vida, “quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência” (MILARÉ, 2011, p. 1.065).

Nesse aspecto, “indiretamente, ou de forma derivada, esse direito está protegido por outros valores ambientais como o direito à vida, à saúde, à informação, à propriedade que respeite a sua função social, apenas para citar alguns deles” (BENJAMIN, 2005, p. 379 apud BETIOL, 2010, p. 27).

Portanto, em que pese não esteja previsto no rol dos direitos fundamentais da Constituição Federal, o próprio § 2°, do artigo 5°, da Constituição Federal de 1988, determina que “[...] os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte” (BRASIL, 1988).

Esta constatação parte da ideia de que, no Brasil, não há uma identificação taxativa dos direitos da personalidade. Pelo contrário, o ordenamento jurídico permite uma ampla conceituação desses direitos, que são reconhecidos a partir do princípio constitucional da dignidade, de uma cláusula geral de tutela da pessoa humana (artigo 3o, inciso III, da

Constituição Federal). São, portanto, as situações existenciais, compreendidas no âmbito do amplo conjunto de direitos ligados à dignidade humana – direito geral da personalidade –, que conduzirão à construção e identificação dos direitos específicos da personalidade (LEITE; MOREIRA; ACHKAR, 2015, p. 16-17).

humana, como corolário da dignidade da pessoa humana, que depende de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Em consequência disso, tem-se este último como um direito fundamental.

Neste sentido complementa Moraes (2012, p. 880): “a Constituição Federal de 1988 consagrou como obrigação do Poder Público a defesa, preservação e garantia de efetividade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”.

Elucida Lenza (2012, p. 587) que o Supremo Tribunal Federal já se manifestou pela não limitação dos direitos e deveres individuais e coletivos contidos, de forma expressa, no artigo 5o, da Constituição Federal de 1988, conforme preceitua o § 2o, do referido artigo da Lei

Maior, ao determinar que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte” (BRASIL, 1988).

O direito ao meio ambiente equilibrado caracteriza-se, na sua essência, por pertencer à categoria dos chamados direitos difusos, os quais são, na lição de Mirra (2004, p. 57):

[...] direitos supra-individuais que pertencem a um número indeterminado e praticamente indeterminável de pessoas, as quais não têm entre si nenhuma relação definida e que se encontram em uma mesma situação muitas vezes até acidentalmente. O objeto do direito ou interesse é, no caso, indivisível, sendo que a sua proteção beneficia a todos os indivíduos da sociedade e a sua agressão prejudica igualmente todos os seus titulares indistintamente.

Como esclarecido anteriormente, está-se diante de um patrimônio coletivo, tal como bem de uso comum de toda a coletividade. No entendimento de Milaré (2005, p. 159 apud BETIOL, 2010, p. 29), inclusive, ostentando de status de cláusula pétrea, nos termos do artigo 60, § 5o, inciso IV da Carta Magna.

O autor reforça que

o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é pressuposto lógico e inafastável da realização do direito a ‘sadia qualidade de vida’ [...]. Por isso, pode ser exercido por todos, seja coletivamente (interesse difuso), seja pela pessoa humana individualmente considerada (direito subjetivo personalíssimo) (MILARÉ, 2011, p. 129, grifo do autor).

Dessa forma, aquele que viola tal normativa, viola, por conseguinte, os direitos subjetivos dos sujeitos. Insta esclarecer que o mesmo “é direito subjetivo de ordem material e alcança a seara dos direitos fundamentais. O equilíbrio ambiental é crucial para que as

personalidades possam ter o curso normal de desenvolvimento”. (SILVA, 2002, p. 254-269 apud MILARÉ, 2011, p. 129).

No documento Dano moral ambiental coletivo (páginas 52-55)