• Nenhum resultado encontrado

REPARAÇÃO DO DANO MORAL AMBIENTAL

No documento Dano moral ambiental coletivo (páginas 83-86)

Inicialmente, cumpre esclarecer, de uma forma geral, as modalidades de reparação do dano ambiental. No direito brasileiro, o legislador, através dos artigos 4o, inciso VII e 14, §

1o, ambos da Lei n. 6.938, de 1981, e o artigo 225, § 3o, da Constituição Federal, estabeleceu

ao degradador a obrigação de restaurar e/ou indenizar os prejuízos ambientais. A opção do legislador indica que, em primeiro plano, deve-se tentar a recomposição do bem ambiental e,

quando essa for inviável, será caso de aplicação de indenização ou compensação (MACHADO, 2010, p. 373).

A recuperação do dano, como a primeira medida a ser buscada, vem expressa, por exemplo, no § 2o do artigo 225 do texto constitucional. Trata tal hipótese específica da obrigação

daquele que explora atividades de mineração a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo Poder Público (BRASIL, 1988).

Outrossim, a Lei n. 6.938/81, em seu artigo 4o, inciso VI, prevê como um dos

objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente a preservação e a recuperação (BRASIL, 1981).

Concretamente, há duas formas de ressarcimento ou recomposição do dano ambiental patrimonial no ordenamento brasileiro, quais sejam, a reparação ou restauração natural, que consiste no retorno ao estado anterior à lesão; e a indenização pecuniária, que funciona como uma forma de compensação ecológica (LEITE, 2003, p. 210).

Acrescenta-se que “a ideia de compensação implica, pois, numa certa equivalência, dentro do possível, entre o que se perde com a degradação do ambiente e o que se obtém a título de reposição da qualidade ambiental” (MIRRA, 2004, p. 309). Em suma, a compensação ecológica caracteriza-se pela substituição do bem ambiental lesado por outro funcionalmente equivalente ou pela aplicação de punição monetária com esse mesmo fim.

Por sua vez, a adequada reparação natural do dano ambiental adquire-se com a “recuperação da capacidade funcional ecológica e da capacidade de aproveitamento humano do bem natural determinada pelo sistema jurídico, o que pressupõe a recuperação do estado de

equilíbrio dinâmico do sistema ecológico afetado, isto é, da sua capacidade de autorregeneração

e de autorregulação” (SEDIM, 2002, p. 51, grifo do autor apud MILARÉ, 2011, p. 1126). Esta é obtida mediante um projeto de recuperação ambiental, aprovado pelos órgãos ambientais competentes.

Dito isso, verifica-se que a forma de recuperação aplicável ao dano moral ambiental é a indenização pecuniária e, embora existam dificuldades para sua valorização, isso não pode ser razão para não se indenizar, uma vez configurada a lesão imaterial decorrente do dano ambiente.

No ordenamento jurídico brasileiro, o critério para mensurar a indenização é pautado pelo Código Civil, mais especificamente, nos artigos 944, 945 e seguintes.

O artigo 944 estabelece que a indenização deve ser medida pela extensão do dano e, havendo excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, o juiz poderá reduzir, equitativamente, o valor a ser indenizado. Por seu turno, o artigo 945 prevê a possibilidade do

magistrado levar em conta a gravidade da culpa do autor do dano no momento da fixação do valor da indenização (BRASIL, 2002).

Sobre a indenização do dano ambiental moral coletivo, Mirra (2004, p. 355, grifo do autor) esclarece que

a operação a ser levada a efeito pelo magistrado no cálculo da reparação pecuniária não pode deixar de considerar a importância reconhecida, na escala de valores da sociedade, ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como direito fundamental (art. 225, caput, da CF2), cuja preservação é indispensável à vida e à dignidade das pessoas. Consequentemente, qualquer que seja o método ou procedimento empregado, a indenização deverá abranger não apenas o valor de mercado ou de exploração comercial dos bens ou recursos degradados, como, ainda, o valor da perda da qualidade ambiental resultante do simples fato da degradação, o valor das perdas ambientais do interregno entre a produção do dano e a restauração da qualidade ambiental afetada, o valor das perdas decorrentes de eventual irreversibilidade da degradação e, também, conforme o caso, o acréscimo de soma em dinheiro a título de ‘valor de desestímulo’, a fim de dissuadir o responsável da prática de novos atentados.

Do mesmo entendimento compartilha Bittar Filho (1994, p. 59, grifo do autor apud SILVA, 2006, p. 232):

Em havendo condenação em dinheiro, deve-se aplicar a técnica do valor do desestímulo a fim de que se evitem novas violações aos valores coletivos, [...]. O montante da indenização deve ter dupla função: compensatória para a coletividade e punitiva para o ofensor; para tanto, há que se obedecer, na fixação do quantum

debeatur, a determinados critérios elencados pela doutrina (para o dano individual),

como a gravidade da lesão, a situação econômica do agente e as circunstâncias de fato. Paccagnella (1999, p. 49 apud STEIGLEDER, 2004, p. 262-263) acrescenta, como critério também a ser observado, a intensidade da responsabilidade pela ação ou omissão, adaptando, nesse caso, ao critério legal da responsabilidade objetiva. Analisando, dessa forma, a intensidade do proveito com a degradação ambiental, bem como o tempo de duração da conduta causadora do dano.

Não se pode olvidar a intensidade do risco criado e a gravidade do dano, além de levar em consideração o tempo durante o qual a degradação persistirá e se o dano é reversível ou não (PACCGNELLA, 1999, p. 49 apud STEIGLEDER, 2004, p. 262-263), além das consequências patrimoniais decorrentes do dano e a possibilidade de restauração ou recomposição ao estado anterior, bem como a condição política e social da comunidade, população, grupo, classe ou indivíduos ofendidos.

2 Constituição Federal.

Percebe-se, assim, que o valor da indenização será variável de acordo com as circunstâncias do caso concreto, isso porque as lesões de ordem moral, ao contrário daquelas de natureza material, possuem uma abrangência ampla, podendo lesar interesses estritamente subjetivos e da coletividade.

Stiglitz (1996, p. 69 apud STEIGLEDER, 2004, p. 166) adverte, todavia, “que a indenização do dano moral coletivo deve ser acolhida com critérios da razoabilidade e prudência, na medida em que os fatos tenham produzido verdadeiros sofrimentos, incômodos ou alterações ponderáveis de ordem extrapatrimonial, [...]”

Esclarece-se que, havendo dano ao meio ambiente, a indenização será em benefício da coletividade, pois “reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados”, conforme dispõe o artigo 13 da Lei n. 7.347/85 (BRASIL, 1985).

Com a denominação de Fundo de Defesa de Direitos Difusos, este está regulamentado pelo Decreto n. 1.306, de 9 de novembro de 1994, e tem “por finalidade a reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico, paisagístico, por infração à ordem econômica e a outros interesses difusos e coletivos” (BRASIL, 1994).

Portanto, as condenações judiciais pela configuração do dano moral coletivo por danos causados ao meio ambiente, ou mesmo pela multa cominada pelo não cumprimento por obrigações de fazer ou não fazer, o valor indenizatório será destinado ao Fundo de Direitos Difusos, o qual é gerido por um Conselho Federal.

No documento Dano moral ambiental coletivo (páginas 83-86)