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METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO (APO)

Considerando a opção pela aplicação da metodologia de Avaliação Pós- Ocupação (APO) como um dos procedimentos metodológicos a ser utilizado nesse estudo, além da pesquisa bibliográfica e levantamento de dados de fontes secundárias e de órgãos do governo, é fundamental explicitar as suas bases teóricas e conceituais.

De acordo com Ornstein e Bruna (2004), a APO teve origem conceitual e teórica na Europa e nos EUA, na década de 1960, com os estudos realizados no campo da psicologia ambiental. Aplicada sistematicamente em outros países, a APO busca estabelecer recomendações que minimizem ou corrijam problemas detectados no ambiente construído submetido à avaliação, bem como utilizar os resultados da avaliação na otimização do desenvolvimento de projetos futuros.

No Brasil, teve início na década de 1970, em pesquisa sobre conjuntos habitacionais do estado de São Paulo, consolidou-se a partir de meados da década de 1980 como atividades de ensino e pesquisa na Universidade de São Paulo e difundiu-se a partir da década de 1990 com a formação de pós-graduandos na área e com os núcleos de pesquisa afins.

Segundo Ornstein (1992) esta metodologia pretende a partir da avaliação de fatores técnicos, funcionais, econômicos, estéticos e comportamentais do ambiente em uso, e tendo em vista a opinião dos usuários, diagnosticar aspectos positivos e negativos, e definir recomendações para minimizar ou corrigir problemas detectados no ambiente construído. Pretende também utilizar os resultados dessas avaliações para realimentar o ciclo do processo de produção e uso de ambientes semelhantes, buscando otimizar o desenvolvimento de futuros projetos.

Ressalta-se também a conceituação de Avaliação Pós-Ocupação apresentada em documento elaborado pelo Instituto de Estudos Especiais da PUCSP – IEE, contratado pela Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, em 2004:

São avaliações ex-post, pois revelam os resultados imediatos das ações e o grau de satisfação da população beneficiada. As avaliações de pós- ocupação podem ser definidas como avaliações de resultados e de primeiros impactos. Esse tipo de avaliação não se confunde com medições de encerramento de obras e é fundamental considerar o nível de satisfação da população beneficiária. Na pós-ocupação é essencial verificar se o projeto deu certo, se foi adequado ou não adequado para aquela população e situação urbana.

Nesse documento, estão explicitadas as diferenças entre as avaliações da política, do programa/projeto e da pós-ocupação, objetivando clarificar a construção do processo avaliativo da pós-ocupação, e não confundi-lo com outros tipos de avaliação na concepção e desenho da gestão pública, conforme demonstrado na Figura 4 a seguir:

Figura 4 – Tipos de Avaliações de Projetos Habitacionais Fonte: Ministério das Cidades, 2004

Assim, percebe-se que nas avaliações pós-ocupação não está se avaliando o programa no seu todo, nem a gestão local que o implementou. Mediante a visibilidade dos resultados, impactos e da manifestação de satisfação ou não da população, pode-se subsidiar a implementação de mecanismos para a política, o programa e a gestão local, obtendo-se efetividade nos resultados obtidos.

A formulação da APO deve ser prévia e cuidadosamente formulada, constituindo-se de um planejamento da pesquisa, levantamento adequado dos dados e posteriormente avaliação dos resultados obtidos.

Ornstein (1992) sugere na APO de ambientes construídos, a adoção do fluxograma de atividades, dividido em etapas de coleta ou levantamento de dados, diagnóstico, recomendações para o ambiente e finalmente insumos para novos projetos, conforme modelo demonstrado na Figura 5 a seguir, adaptado de Ornstein (1992):

Figura 5 – Fluxograma na Avaliação Pós-Ocupação:

Na visão de Ornstein (1992), a APO poderá estar voltada tanto para a pesquisa quanto para a consultoria sobre os temas que seguem, dentre outros:

 Acessibilidade a deficientes físicos, crianças e idosos;  Conservação de energia;

 Segurança contra fogo, roubo e acidentes pessoais;  Sinalização e comunicação visual;

 Informatização de ambientes;  Edifício inteligente;

 Aspectos ergonômicos;

 Melhoria e reparos de aspectos técnicos, funcionais e comportamentais;  Fluxo de circulação em ambientes complexos de grande porte (hospitais,

aeroportos, rodoviárias, etc.);

 Aspectos comportamentais específicos, como privacidade, controle de dispersão ou atração de pessoas, vandalismo, criminalidade, etc.;

 Aspectos culturais, e antropológicos;

 Reformas e alterações de áreas comerciais;  Revitalização/renovação de áreas urbanas;

 Diretrizes e recomendações para ambientes construídos de interesse social, tais como habitações, escolas e postos de saúde;

 Manuais de projetos, construções, operação e manutenção de ambientes construídos;

 Organização da transferência de mobiliário, equipamentos e usuários de um dado ambiente complexo (antigo), para um novo, como hospitais;  Projetos e execução de obras significativas para a cidade, como áreas

comerciais e de lazer;

 Intensificação da participação dos usuários no gerenciamento e controle de qualidade de ambientes construídos;

 Análise de planos diretores urbanos;

 Macro e micro estudos do impacto ambiental de empreendimentos urbanos.

A APO é aplicada por meio de sistemática de multimétodos, levando-se em conta, além do parecer de especialistas/avaliadores, o nível de satisfação dos usuários, mensurado por meio de uma ampla variedade de procedimentos, podendo-se citar:

 Vistorias técnicas e medições;

 Registros visuais descritivos (fotos e vídeos);

 Observações de atividades, por escrito ou desenhadas de atividades dos usuários;

 Elaboração de mapas comportamentais;  Entrevistas;

 Questionários com resposta múltipla-escolha, escala de valores e respostas abertas;

 Desenhos representativos da percepção.

A utilização de métodos e técnicas combinados possibilita o confronto comparativo com aqueles de aferição de opiniões, de necessidades, de comportamentos e de percepção dos usuários dos ambientes.

Na abordagem apresentada por Ornstein e Bruna (2004), a APO tem sido aplicada ao controle da qualidade do ambiente urbano, que pressupõe o controle de alterações resultantes das atividades humanas que, conforme o art.1º da Resolução nº. 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), afetem:

 A saúde, a segurança e o bem-estar da população;  As atividades sociais e econômicas;

 A biota;

 As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;  A qualidade dos recursos ambientais.

Sob a perspectiva de Ornstein e Bruna (2004), essas atividades estão relacionadas ao comportamento dos usuários dos ambientes construídos que podem estar alterando o meio construído ou suas qualidades físicas, químicas e biológicas.

Importante destacar que na fase de discussões dos resultados, os dados são analisados e interpretados por meio de uma Matriz Avaliativa, desenhada conforme as peculiaridades do estudo, contendo os eixos e as dimensões ou variáveis abordadas. A Figura 6, a seguir, demonstra o esquema proposto no estudo do Ministério das Cidades (2004):

Figura 6 – Esquema de Matriz Avaliativa Fonte: Ministério das Cidades, 2004

Para a aplicação da Matriz Avaliativa é importante a compreensão do significado de cada terminologia utilizada. Os três eixos – Moradia e Inserção Urbana, Inclusão Social e Satisfação do Morador partem de um conceito amplo sobre “moradia digna”10.

10

Entende-se por moradia digna aquela que oferece segurança na posse e dispõe de padrão adequado de habitabilidade e de infra-estrutura básica, bem como acesso aos serviços sociais e ao transporte coletivo. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004).

A Figura 7, a seguir, apresenta o significado de cada terminologia utilizada:

Figura 7 – Significado dos eixos da Matriz Avaliativa Fonte: Ministério das Cidades, 2004

Nesse contexto, Ornstein (1992) apresenta uma proposta diferenciada para uma matriz avaliativa, mais simples, que a autora denomina de “Matriz de Tabulação de Dados”. Trata-se de uma planilha que agrupa os dados tabulados e as análises básicas dos procedimentos metodológicos adotados, como questionário, entrevistas, etc.

Numa outra abordagem, Kalil (2004) apresenta em um estudo de APO, resultados descritivos, provenientes das observações efetuadas, dos documentos analisados, dos depoimentos dos moradores e líderes da comunidade, mediante a análise dos indicadores que enfocaram a pesquisa, demonstrando um quadro com os aspectos organizacionais positivos, negativos e recomendações.

No direcionamento proposto pela metodologia APO, além de possibilitar intervenções que afetem as efetivas necessidades dos usuários, conforme citado anteriormente, percebe-se o seu alcance na responsabilidade sobre o meio ambiente natural e construído, e conseqüentemente na sustentabilidade ambiental.

Nessa vertente, os procedimentos utilizados na aplicação da APO tem evoluído e se tornado mais abrangentes, considerando além dos processos de produção, uso, operação, manutenção e gerenciamento de ambientes construídos, as questões ambientais, conforme legislações específicas aprovadas nas últimas décadas, notadamente a avaliação do impacto ambiental e seu respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente, de acordo com Resolução do CONAMA 001/1986.

Por fim, convém destacar que a APO considera fundamental a participação dos usuários dos ambientes urbanos construídos nas pesquisas relacionadas aos conceitos de sustentabilidade, eco-arquitetura, conforto ambiental e qualidade de vida urbana, atuando como beneficiários e também como agentes do processo de avaliação ou de monitoramento do espaço urbano.

Cap. 2 – CONFIGURAÇÃO URBANA DE ÁGUAS CLARAS

A apresentação da configuração urbana da cidade de Águas Claras consistiu na abordagem dos seguintes aspectos: desenvolvimento urbano do Distrito Federal, as regiões administrativas do Distrito Federal e a cidade de Águas Claras, enfatizando os fatos históricos, o seu Plano de Ocupação e o paradoxo entre o planejado e o executado.