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1.1 PROCESSO DE ESTRUTURAÇÃO URBANA

1.1.2 Urbanização

1.1.2.5 Segregação espacial

O significado de segregação espacial pode ser visto como uma conseqüência da distribuição da moradia no espaço urbano.

A segregação espacial é um processo que adquire características específicas a cada conjuntura da dinâmica social e que subentende as desigualdades e os conflitos de interesses que determinam a produção do espaço (CASTELS, 1983 e LOJKINE, 1981 apud CAIADO, 2004).

Na visão de Villaça (2001) apud Mancini (2008), essa segregação refere-se ao processo em que diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões, não impedindo, contudo o crescimento de outras classes no mesmo espaço.

Percebe-se que a distância espacial pode causar a forte dependência das áreas dotadas de serviços públicos e privadas, bem como detentoras das oportunidades de trabalho.

Quanto à segregação socioespacial no aglomerado urbano do Distrito Federal, Guia (2006) aponta três cenários distintos interligados:

1) Área Central – com ampla maioria dos empregos formais, baixa densidade demográfica e elevada rotatividade populacional;

2) Área Intermediária – com média concentração de empregos, alta densidade demográfica e elevada rotatividade populacional;

3) Área Periférica – com baixa concentração de empregos em franco processo de expansão territorial e demográfica e elevada absorção de migrantes intrametropolitanos.

Esse processo de segregação intensificado pela crescente urbanização implica na expansão da mobilidade espacial, tanto residencial quanto pendular.

1.1.2.6 Mobilidade residencial

Segundo Caiado (2004), os estudos sobre mobilidade residencial têm sido apresentados em diversos trabalhos, a partir de diferentes abordagens.

Em linhas gerais, as principais contribuições citadas por Caiado (2004) sobre a questão, estão apresentadas de forma sintética na Figura 1, a seguir:

AUTOR ABORDAGEM

TURNER (1968) Associação à mobilidade social, em que cada segmento da população corresponderia uma determinada localização espacial, sendo que os migrantes tenderiam a se localizar inicialmente nas áreas centrais da cidade e posteriormente, com a sua inserção no mercado de trabalho, se mudariam para as periferias conforme sua capacidade de pagar pela moradia.

VILLAÇA (2001) A disputa pela localização é uma disputa pela otimização (não necessariamente pela minimização) dos gastos de tempo e energia.

WOLPERT (1965)

e SIMMNONS

(1970)

Eixo central é o ajuste dos indivíduos a determinada localização, segundo seus desejos, buscando sua melhor utilidade locacional, considerando atributos de localização, perfil social, fase do ciclo vital, condições de acesso à renda e condições de ocupação da moradia.

ABRAMO e

FARIA (1998)

Associam às decisões de mobilidade residencial à atuação do mercado imobiliário formal e informal e a algumas características sociodemográficas, isto é, condições familiares individuais e estruturais.

CONWAY e

BROWN (1980)

Partem de um modelo itinerário intra-urbano que atenderia três prioridades: acessibilidade5, segurança do titulo de

propriedade garantindo a estabilidade e amenidades sociais, como localizar-se próximos a amigos e parentes.

VILAÇA (1991) A classe dominante comanda a apropriação do espaço urbano, obtendo vantagens com melhores condições de deslocamentos.

Figura 1 – Síntese dos principais estudos sobre mobilidade residencial

5 A acessibilidade consiste em proporcionar a possibilidade de se entrar em determinado local ou

veículo, se deslocar pela cidade e garantir a mobilidade das pessoas com deficiência pela cidade, através da utilização dos vários meios existentes de transporte, por todos os espaços públicos, de maneira independente. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2009)

1.1.2.7 Mobilidade Pendular

Conforme Caiado (2004), a mobilidade pendular consiste nos deslocamentos populacionais diários, com diferentes motivações, tais como atendimento às demandas por trabalho, educação, consumo, serviços sociais e mesmo por atividades de lazer.

Esse fenômeno é percebido nas movimentações diárias das pessoas que deixam as cidades vizinhas localizadas no entorno imediato do Distrito Federal ou mesmo as regiões administrativas localizadas, em direção ao Plano Piloto ou outras regiões onde estão concentrados os empregos.

Paviani (1996) destaca que a organização do espaço urbano do Distrito Federal processou-se sob o formato de assentamentos esparsos, distantes entre si e do Plano Piloto de Brasília. Em razão desse padrão estabelecido, definiu-se Brasília como “metrópole polinucleada”.

1.1.3 Infra-estrutura urbana

Conforme estudos de Zmitrowicz e De Angelis Neto (1997), a infra-estrutura urbana constitui-se de um conjunto de sistemas técnicos de equipamentos e serviços necessários ao desenvolvimento das funções urbanas, relacionadas aos aspectos sociais, econômicos e institucionais.

Essas funções visam promover condições de moradia, trabalho, lazer e segurança, além de propiciar os meios necessários para o desenvolvimento de atividades de produção, comercialização de bens e serviços, e político- administrativas.

Zmitrowicz e De Angelis Neto (1997) atestam que o sistema de infra-estrutura urbana é composto de subsistemas técnicos setoriais que refletem como funcionará

a cidade, contudo alertam que eles devem sempre ser analisados em conjunto haja vista estarem associados às questões habitacionais e de meio ambiente. São eles: a) Subsistema Viário – deve ser adequado às condições topográficas, delinear deslocamentos fáceis e rápidos e propiciar a implantação de outros serviços de infra-estrutura necessários. É composto de uma ou mais vias de circulação, de acordo com o espaço urbano e complementado pelo sistema de drenagem pluvial que assegura o seu uso;

b) Subsistema de Drenagem Pluvial – tem como função promover o adequado escoamento das águas das chuvas, assegurando o trânsito público e as edificações. Constituiu-se das ruas pavimentadas, incluindo guias e sarjetas, e redes de tubulações e suas captações;

c) Subsistema de Abastecimento de Água – objetiva o provimento de água sanitariamente pura para todos os usos, observando-se qualidade e quantidade. Compõem-se da captação, adução6, recalque7, tratamento e distribuição de água.

d) Subsistema de Esgotos Sanitários - visa promover o imediato afastamento e destino à água utilizada, deteriorada e contaminada. Compreende: a rede de canalizações e órgãos acessórios, órgãos complementares e dispositivos de tratamento de esgotos;

e) Subsistema Energético – a energia elétrica destina-se à iluminação de locais e movimentação de motores, e a energia do gás à produção de calor (cozinhar, esquentar água, aquecer ambientes). Para a energia elétrica é necessário processos de fornecimento, geração, transmissão e distribuição. A distribuição da energia a gás é feita por meio do gás combustível;

6

Processo constituído pelo conjunto de peças especiais e obras de arte destinadas a ligar as fontes de água bruta (mananciais) às estações de tratamento e redes de distribuição (ZMITROWICZ e DE ANGELIS NETO, 1997).

7

Sistema constituído por um motor, uma bomba hidráulica e seus acessórios, utilizado quando o local da captação da água está em nível inferior (PUPPI, 1981 apud ZMITROWICZ e DE ANGELIS NETO, 1997).

f) Subsistema de Comunicações - compreende a rede telefônica e a rede de televisão a cabo. As conexões são feitas por condutores metálicos e mais recentemente por fibras óticas, cabos terrestres ou submarinos e satélites.

1.1.4 Impactos socioambientais

O crescimento acelerado da ocupação urbana pode resultar em problemas sociais, econômicos e ambientais.

Na visão de Guerra e Cunha (2006) os impactos ambientais promovidos pelas aglomerações urbanas são, simultaneamente, produto e processo de transformações da natureza e da sociedade. Afirmam ainda que os impactos ambientais alteram as estruturas de classes sociais e transformam o espaço.

Sendo assim, afirmam:

No estágio de avanço da ocupação do mundo, torna-se cada vez mais difícil separar impacto biofísico de impacto social. Na produção dos impactos ambientais, as condições ecológicas alteram as condições culturais, sociais e históricas, e são por elas transformadas. (GUERRA & CUNHA, 2006, P. 25).

Assim, os estudos de impactos ambientais não devem se limitar a associar o crescimento urbano ou características demográficas as alterações ecológicas, mas também a compreender a cidade, as formas de produção, as dinâmicas de infra- estrutura urbana e serviços públicos, e ainda a organização social do espaço urbano.

Desse contexto, percebe-se a visão da extensão dos impactos decorrentes da urbanização como parâmetro que agrega os fatores sociais e ambientais.

A ocupação intensiva do solo representa uma transformação na paisagem natural que gera impactos na infra-estrutura urbana - abastecimento de água e

energia, absorção dos resíduos sólidos, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e comunicações e conseqüentemente na vida da sociedade, podendo ainda afetar as condições climáticas, principalmente aumento da temperatura e alterações de precipitação pluvial, os solos, os recursos hídricos e a cobertura vegetal, que por sua vez contribuiu para a retenção, estabilização dos solos e prevenção das erosões.

Com relação aos impactos socioambientais decorrentes do processo de urbanização, Mancini (2008) destaca o surgimento de uma “urbanização sem desenvolvimento”, que propicia o aumento da informalidade na ocupação do solo e nas relações de trabalho, transformações socioeconômicas na sociedade, intensificação dos problemas de transportes e comunicações, induzindo a busca constante de conforto, tranqüilidade e qualidade de vida, que para muitos já não existem.

Segundo Entrena (2004, apud MANCINI, 2008) os efeitos negativos do processo acelerado de urbanização podem acarretar conflitos de uso e ocupação do solo, transformações nocivas à paisagem natural, necessidade crescente de dotação de serviços públicos apropriados, dificuldades de gestão territorial, aumento dos custos da infra-estrutura, além de afetar os aspectos de mobilidade e transporte.

1.1.5 Sustentabilidade Urbana

A partir do relatório Nosso Futuro Comum8 e do documento Agenda 219 foram estabelecidas as premissas para o conceito de sustentabilidade, resultando em tratados e convenções assinados em eventos internacionais.

8

Relatório produzido em 1987 pela Comissão Mundial sobre o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), chefiada pela primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland que apresentou o conceito de desenvolvimento sustentável como “um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação de desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas”. (CMMAD, 1991 apud DIAS, 2006, p.31).

9 Documento resultante da Conferência das nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CNUMAD) que se constitui em um programa internacional que estabelece parâmetros para que se obtenha o desenvolvimento sustentável nas suas vertentes econômicas, social e ambiental. (CNUMAD, 1992 apud DIAS, 2006, p. 34).

A aplicação do conceito de sustentabilidade ao ambiente urbano contemplou os estudos de Maglio (2005), sendo os principais enfoques teóricos apresentado na Figura 2, a seguir:

AUTOR ENFOQUE TEÓRICO

Moreira, 1997 É o resultado da profunda transformação do ambiente para adequá-lo às necessidades da aglomeração e para transformá-lo no habitat da população e das atividades humanas aglomeradas.

Axelrad, 1999 É vista pela capacidade das políticas urbanas adaptarem-se à oferta de serviços urbanos, à quantidade e qualidade das demandas sociais, buscando o equilíbrio entre as necessidades e os meios de satisfazê-las.

Moura Costa, 2000 O espaço é freqüentemente ignorado nas noções de sustentabilidade, permanecendo subestimada a dimensão espacial/urbana nas análises.

Harvey, 1996 Não somente o processo ecológico deve ser incorporado na vida social, mas também os fluxos de moeda e mercadorias, e as ações transformadoras dos seres humanos, como por exemplo, a construção de sistemas urbanos.

Figura 2 – Síntese sobre sustentabilidade alinhada ao ambiente urbano

Conforme Axelrad (1999, apud MAGLIO, 2005), há três articulações lógicas nas formas distintas de representação das cidades, baseadas nos conceitos de racionalidade ecoenergética, modelo de metabolismo urbano e espaço da qualidade de vida.

No modelo de racionalidade ecoenergética, a cidade é vista como uma matriz composta por um vetor de consumo de espaço, energia, matérias-primas e produção de rejeitos, cabendo ao planejamento urbano definir como minimizar a degradação energética.

No modelo do metabolismo urbano, a cidade é composta por movimentos interativos de circulação, troca e transformação de recursos em trânsito, realçando a incapacidade de adaptação das estruturas urbanas às condições materiais requeridas.

E no modelo da cidade como espaço da qualidade de vida, a sustentabilidade é baseada na universalização de direitos à saúde, à educação e às condições sanitárias e ambientais adequadas, expressas em políticas urbanas que reflitam a cidadania das populações.

Em suma, o autor conclui que para a construção efetiva da sustentabilidade urbana deve incorporar a dimensão espacial/urbana e a dimensão política e econômica do espaço urbano em sua complexidade social e histórica.