• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Mediante a aplicação dos procedimentos técnicos de aplicação de questionários aos usuários, entrevista e registros visuais fotográficos, comumente adotados em pesquisas de APO, foi possível o conhecimento físico e social da região, o tratamento dado pelo poder público que representa o GDF no local, o comportamento dos usuários no sentido de como se apropriam dos espaços e como se adaptam.

No presente trabalho foi constatado que esses métodos configuram em instrumentos eficazes e passíveis de análises quantitativas e qualitativas, considerando que foram coletados dados representativos do ambiente urbano, que demonstraram a quantidade e qualidade de ocupação dos lotes urbanos, de licenciamento para construções expedidas, de estabelecimentos comerciais, de serviços públicos e infra-estrutura básica implantados.

Foi possível o apontamento de problemas e recomendações, considerando as necessidades apontadas a partir da opinião dos usuários e dos dirigentes do poder público local, no que diz respeito aos aspectos físicos e funcionais, de conforto, acessibilidade e segurança do ambiente.

No estudo realizado por Vasconcellos (2007), que também consistiu numa análise do espaço urbano do Setor Sudoeste, no Distrito Federal, numa visão de pós-ocupação, também foi constatado que o desempenho da forma urbana deve considerar principalmente a relação com as necessidades físico-funcionais da população, com vistas ao seu bem estar.

Em outro estudo, mais amplo, efetuado por Romero e Vianna (2002), que também aplicou os conceitos e procedimentos metodológicos de avaliação pós- ocupação, no Conjunto Habitacional Jardim São Luis, situado na região sudoeste do município de São Paulo, foi feita uma avaliação do conjunto e suas

circunvizinhanças, além dos aspectos relacionados à infra-estrutura urbana, aos serviços, aos equipamentos comunitários e áreas livres do conjunto, possibilitando um diagnóstico, recomendações e diretrizes para melhoria dos aspectos funcionais, construtivos, de conforto ambiental, dos aspectos econômicos.

Também no trabalho apresentado por Lima et al (2006), que aplicou a APO como instrumento de avaliação no estudo da Creche Institucional Dr. Paulo Niemeyer, no Rio de Janeiro, foram apontados os problemas e recomendações, e foi constatado que a área objeto do estudo atende ao programa arquitetônico básico proposto, porém sendo necessárias adaptações no espaço para desempenhar a proposta pedagógica pretendida.

No caso da Avaliação de Habitabilidade da Estação Antártica Comandante Ferraz (base pertencente ao Brasil), apresentado por Alvarez et al (2005), foi adotado a metodologia de APO do ambiente construído, com o objetivo de diagnosticar sua adequação às atividades de pesquisa e permanência dos usuários, a partir da visão de três instâncias: do gerente, do técnico e do usuário. Os resultados coletados e analisados revelaram a APO como um importante instrumento de avaliação e manutenção das instalações da Estação Antártica e foram utilizados na elaboração do Plano Diretor da Estação e no direcionamento das ações de manutenção.

Após a aplicação das técnicas de APO, obteve-se um diagnóstico do espaço urbano, viabilizando recomendações para a continuidade da estruturação urbana de forma sustentável.

A partir das pesquisas efetuadas, foi possível conhecer os aspectos históricos da cidade, um dos objetivos do estudo, visando identificar “como”, “quando” e “por que” se formou o padrão de ocupação do espaço urbano de Águas Claras:

1) Verificou-se que a conformação do espaço urbano da cidade de Águas Claras é decorrente de um processo de ocupação iniciado na década de 1980, inicialmente de forma irregular (Vila Areal), e posteriormente regularizada no final daquela década.

2) Na década de 1990 a cidade Águas Claras foi projetada (1991) efetivando assim parte de um projeto para organização do espaço no Distrito Federal, que previa o direcionamento do crescimento de Brasília ao longo do eixo Taguatinga - Gama, culminando com a autorização da implementação do Bairro de Águas Claras (1992) como parte integrante da Região Administrativa III – Taguatinga.

3) Somente mais de uma década depois, em 2003, a cidade de Águas Claras foi desmembrada e elevada à categoria de Região Administrativa – RA XX – Águas Claras.

4) No início da década de 2000, foi intensificado o processo de ocupação do seu espaço urbano, inicialmente com a formação de cooperativas, as quais na maioria não conseguiram viabilizar seus projetos de forma independente, por falta de recursos financeiros, optando por entregar as obras às construtoras.

5) A partir daí, esse modelo foi absorvido e houve a entrada maciça das construtoras e incorporadoras na cidade, as quais continuam investindo em empreendimentos imobiliários na localidade na última década.

Outro objetivo do trabalho foi o conhecimento do processo de urbanização da cidade de Águas Claras, viabilizado por meio da aplicação das técnicas de APO, resultando nos seguintes dados:

 A segregação socioespacial foi demonstrada de forma mais incisiva devido às características de polarização entre o local de trabalho e a moradia, principalmente a dependência de acesso diário ao Plano Piloto onde estão concentrados a grande maioria dos empregos de servidores públicos e privados;

 A verticalização é dominante na estruturação das habitações coletivas;  Os efeitos da urbanização dispersa são observados na medida em que são constatados os reflexos negativos do uso do transporte individual e a

inexistência de serviços públicos satisfatórios, e em contrapartida os reflexos positivos da busca por moradia de qualidade e preço compatível com a renda dos moradores, ao optar por viver na cidade de Águas Claras;

 O aquecimento do mercado imobiliário com a existência de inúmeras incorporadoras e imobiliárias atuando no local, enfatizando a “ótima localização”, a “qualidade de vida urbana” e a “facilidade de pagamento”, inclusive com interferências das instituições financeiras no processo de oportunizar a aquisição de imóveis no local;

 A especulação imobiliária da região, com o crescente aumento do preço do m² do espaço urbano, atualmente estabelecido em R$ 2.700,00 (Dois mil e setecentos reais), conforme informações fornecidas na entrevista realizada com a gerência da Administração Regional de Águas Claras;

 A mobilidade residencial caracterizada por migrações intrametropolitanas, em virtude da oportunidade de aquisição ou locação de imóvel de qualidade e com preço acessível;

 A mobilidade pendular associada à dependência da população de deslocamentos diários pelas demandas de trabalho, principalmente para o plano piloto, além das necessidades de deslocamentos em busca de serviços públicos de saúde e educação, supridos também por Taguatinga.

Atualmente 60% dos lotes constantes do projeto original da cidade de Águas Claras estão ocupados, construídos ou em fase de construção, restando ainda 40% de lotes vazios.

A cidade conta atualmente com uma população de 80 (oitenta) mil habitantes, conforme dados da Administração Regional de Águas Claras e a tendência é a continuação do aumento de forma acelerada, a exemplo do que vem ocorrendo nos últimos anos.

Observou-se que diversas obras públicas foram executadas, priorizando demandas de infra-estrutura básica – água, energia, rede de esgotos e drenagem pluvial, além de melhoria do sistema viário, com a construção de viadutos, pavimentação asfáltica de avenidas e ruas, construção de calçadas e meio-fio, e implantação de sinalização. Foram executadas algumas obras de paisagismo, construção de postos policiais, de uma biblioteca pública, um teatro e dois prédios públicos.

Verificou-se que inúmeras obras públicas estão previstas para execução em curto prazo, conforme citado no Capítulo 4, item 4.2, relativo aos Resultados das Entrevistas, as quais estão relacionadas com a melhoria da mobilidade intra-urbana e paisagismo, contudo com a tendência de crescimento da população, urge um planejamento urbano eficiente para ações em médio e longo prazo, objetivando suportar a demanda de infra-estrutura e serviços públicos.

Relativamente à situação dos usuários na cidade e a sua satisfação, constatada nas informações coletadas no questionário, os resultados demonstraram que:

 A maioria da população pesquisada estabeleceu-se na cidade entre os anos de 2000 a 2005, porém continua crescente o processo de migração, caracterizado principalmente por migrações intrametropolitanas;

 A principal motivação apresentada para a mudança para Águas Claras foi a possibilidade de aquisição ou mesmo locação de imóvel com qualidade e valor compatível com a renda;

 A grande maioria encontra-se satisfeito com a cidade e que a infra- estrutura urbana (subsistemas viário, de drenagem pluvial, abastecimento de água e de energia, esgotamento sanitário e comunicações) existente atende às suas necessidades;

 Com referência aos serviços públicos (educação, saúde, segurança pública) a opinião da maioria é de que não atende às suas necessidades, excetuando-se o serviço de coleta de lixo, que foi considerado adequado;  Ao comércio local foi atribuído que atende parcialmente as necessidades da população;

Quanto aos aspectos que poderiam interferir na qualidade de vida da população, também constatados nas informações coletadas no questionário, o estudo demonstrou:

 A utilização de automóveis e do metrô como meios de transporte para acesso principalmente em dias úteis, a outras regiões do Distrito Federal, contudo não sendo o trânsito apontado como o fator principal de insatisfação dos usuários;

 A não interferência da quantidade de moradores das quadras;

 A satisfação parcial com a quantidade de estacionamentos residenciais e comerciais;

 A apreciação dos atributos de beleza e agradabilidade da cidade;

 O Parque Ecológico de Águas Claras atua como um elemento de extrema importância para a população, na medida em que podem desfrutar de um ambiente propício às práticas esportivas e contato com a natureza;  A insatisfação com a condição permanente de obras privadas e públicas, principalmente devido à poeira recorrente.

Considerando as premissas para APO propostas por Ornstein (1992), Ministério das Cidades (2004) e ainda Kalil (2004), este estudo adotou um modelo

próprio para demonstração dos dados, adaptado das propostas desses autores, conforme Figura 73, apresentada a seguir:

Demonstração dos Dados – APO - Águas Claras

EIXO VARIÁVEIS PONTOS OBSERVADOS

Processo de

urbanização

Conformação do

espaço urbano  Aquecimento do mercado imobiliário – empregos e renda; Mobilidade residencial – migrações intrametropolitanas;

 60% lotes ocupados;

 Em 2009: 80 mil habitantes.;

 Planejamento urbano de curto prazo - obras para 2009.;

 Especulação imobiliária – m² R$2.700,00;  Mobilidade pendular – dependência de

deslocamentos diários;

 Segregação socioespacial – polarização entre local de trabalho e moradia;

 Verticalização excessiva – aumento do nº. de moradores em cada prédio;

 40% dos lotes vazios - futuras construções;  Tendência de aumento da população de forma

acelerada.;

 Ausência de planejamento de médio e longo prazo. Infra- estrutura básica Abastecimento de água, energia, drenagem pluvial, esgotamento sanitário, coleta de lixo.

 Priorização da Administração local na implantação de infra-estrutura básica.

Vias Circulares  Sistema viário: obras contínuas - pavimentação asfáltica, construção de calçadas e meio-fio,  Implantação de sinalização e construção de

viadutos;

 Ausência de pavimentação asfáltica, calçadas e meio-fio em várias ruas.

Mobilidade

urbana Acessibilidade mobilidade e  Priorização da Administração local na melhoria do sistema viário - implantação de sinalização e construção de viadutos;

 Construção do Complexo Viário Israel Pinheiro;  Definição de mão-única nas duas principais

avenidas;

 Necessidade de acesso diário ao Plano Piloto e outras regiões administrativas;

 Não adequação dos espaços públicos para portadores de necessidades especiais;

 Ausência de placas de orientação para veículos e pedestres;

 Ausência de obra viária na EPTG para viabilizar o acesso à cidade, com segurança.

Estacionamentos

comerciais  Quantidade reduzida;  Uso do transporte individual – aumento do trânsito.

Qualidade

Ambiental Áreas verdes e áreas de lazer  Extensas áreas verdes - Parque local e praças públicas (paisagismo). Controle

urbanístico Uso e ocupação de acordo com a legislação

urbanística

 Dependem de licenciamento prévio e o controle é executado pela Administração Regional;  Construções de prédios com gabarito superior

ao planejamento, chegando a 28 andares. Acesso a serviços públicos Educação, saúde, segurança, cultura, esporte, lazer.

 Existência de dois postos policiais; uma biblioteca pública, um teatro, três salas de cinemas, shopping Center;

 Inexistência de serviços públicos (educação e saúde).

Satisfação do morador

Moradia  Moradia de qualidade e preço acessível (compatível com a renda);

 A quantidade de moradores das quadras não interfere na vida dos usuários.

Infra-estrutura básica e Serviços urbanos

 Infra-estrutura básica existente atende às suas necessidades;

 Os serviços públicos (educação, saúde, segurança) não atendem às suas necessidades. Obras públicas e

privadas  Insatisfação dos moradores com a condição permanente de obras públicas e privadas, principalmente devido à poeira existente.

Estacionamentos  Satisfação parcial com a quantidade de estacionamentos residenciais e comerciais. Comércio  Atende parcialmente as necessidades da

Qualidade de vida  Grande satisfação em residir na cidade;

 Apreciação dos atributos de beleza e agradabilidade da cidade pelos moradores;  O Parque Ecológico de Águas Claras foi

apontado como o mais adequado espaço de lazer;

 Utilização de metrô e automóveis para mobilidade ( o trânsito não foi apontado como fator de insatisfação dos usuários).

Figura 73 – Demonstração dos dados - APO - Águas Claras

É importante mencionar que foi apresentado recentemente pelo GDF, um projeto para organização do trânsito, que inclui a principal via de acesso à cidade de Águas Claras - a EPTG, cujas obras já foram autorizadas.

Conforme ressaltado pelo GDF, em reportagem publicada no Jornal da Comunidade de maio/2009, a EPTG é considerada a mais movimentada via do DF e foi montado um esquema para que a obra não prejudique muito o fluxo de veículos que circulam no local. A previsão é de que a nova EPTG fique pronta em um ano e faça parte das comemorações dos 50 anos de Brasília. De acordo com o governador do DF: “É claro que durante um ano de obras, vai incomodar os motoristas. Mas o fundamental é que depois de concluída vai mudar totalmente o perfil da principal artéria do sistema viário de Brasília.”

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Diante do resgate dos aspectos históricos, urbanísticos, ambientais e sociais, à luz dos conceitos discutidos no primeiro capítulo e das análises dos resultados obtidos no trabalho de campo, notadamente por meio da aplicação da metodologia de Avaliação Pós-Ocupação (APO), construiu-se uma visão do espaço urbano de Águas Claras.

Procurou-se a análise e compreensão dos elementos naturais e humanos, articulando os processos físicos e sociais, atentando para as necessidades de funcionalidade, conforto, estética, acessibilidade e segurança dos moradores.

A proposta do estudo era confirmar ou refutar a hipótese definida no estudo: “A configuração urbanística instalada compromete o uso e a qualidade de vida da população”. Para tanto, partiu-se da seguinte questão: “A conformação do espaço urbano de Águas Claras vem ocorrendo de forma desestruturada e produzindo significativos impactos socioambientais para a população?”

Respondendo a questão levantada inicialmente, concluiu-se que a conformação do espaço urbano de Águas Claras não vem ocorrendo de forma desestruturada, considerando, dentre outros aspectos:

 A ocupação do espaço urbano sempre ocorre concomitante ao aparelhamento do sistema urbano, na medida em que surgem as necessidades de infra-estrutura e serviços públicos em consonância com o ambiente construído e com a mobilidade residencial;

 Vêm sendo priorizada a implantação de infra-estrutura urbana;

 O sistema viário tem sido permanente readequado às funcionalidades requeridas na cidade;

 As construções dependem de licenciamento prévio e o controle é executado pela Administração Regional, inclusive quanto ao atendimento das normas atuais de uso e gabarito.

Ressalvam-se como pontos negativos na estruturação da cidade:

 A ausência de serviços públicos na cidade, notadamente educação e saúde;

 Adequação dos espaços públicos à acessibilidade de portadores de necessidades especiais;

 Implantação de placas de orientação para veículos e pedestres;

 Implantação de obra viária na EPTG que viabilize o acesso à entrada principal da cidade, além de mitigar os riscos de acidentes.

Cabe ressaltar que para a continuidade da estruturação do espaço urbano de Águas Claras, com êxito e de forma sustentável, é fundamental:

 O comprometimento da Administração Regional de Águas Claras, na implantação de obras públicas necessárias à população e na busca constante de um ambiente equilibrado, o qual depende de planejamento, controle e fiscalização das intervenções humanas públicas e privadas;

 A atuação pró-ativa dos moradores no sentido de exigir a aprovação e cumprimento de legislação urbanística, alertar as autoridades quanto às interferências danosas à ocupação do espaço urbano, enfim envolver-se e apontar falhas e acertos percebidos nos espaços;

 A aprovação de legislação urbanística específica para a região, em substituição à situação atual na qual prevalece a utilização do PDL de Taguatinga;

 Fomentar ações individuais e coletivas que privilegiem sempre os aspectos de qualidade de vida da população, tanto materiais quanto imateriais.

Considerando a transformação da cidade no espaço e no tempo decorrente do processo de urbanização, vale ressaltar a importância de futuros pontos de pesquisa na localidade de Águas Claras, principalmente após a conclusão das obras viárias em curso na principal via de acesso da cidade, a EPTG.

Espera-se com esta pesquisa, contribuir, para uma maior interação entre administradores e usuários, a partir da compreensão das expectativas e necessidades das pessoas que utilizam o espaço urbano, orientando dessa maneira os planejamentos urbanos.

Além disso, espera-se também ampliar a discussão sobre a aplicação da metodologia de APO em cenários semelhantes, e a percepção de possíveis aperfeiçoamentos do método para a utilização em avaliação de ambientes construídos desse porte.