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Metodologia de Intervenção e Investigação

No documento Relatório de Estágio: (páginas 62-70)

2. I NTERVENÇÃO EM CONTEXTO EDUCATIVO

2.1. D IMENSÃO INVESTIGATIVA

2.1.3. Metodologia de Intervenção e Investigação

No subcapítulo que se segue encontra-se a descrição e fundamentação da metodologia adotada para desenvolver o Projeto de Investigação e dar resposta à questão de investigação e seus objetivos. A metodologia apresenta-se dividida em dois tópicos: Metodologia de Intervenção e Metodologia de Investigação. Deste modo, inicialmente será exposto o enquadramento curricular dos conteúdos abordados no 3.º ano do 1.º Ciclo do Ensino Básico, os objetivos da intervenção pedagógica e o plano geral de intervenção seguido da descrição das atividades. Relativamente à metodologia de investigação serão apresentados os instrumentos de recolha de dados e as técnicas de análise e tratamento de dados aplicadas.

Metodologia de Intervenção

A temática que aborda espécies exóticas invasoras não se encontra inserida no Programa e Metas de Estudo do Meio. Contudo, tal como referido anteriormente, não se pretende inserir mais um conteúdo, mas sim potenciar a aprendizagem de conteúdos já pertencentes ao plano de estudos do 3.º ano de escolaridade, neste caso particular.

O Projeto de Investigação encontra-se introduzido no Bloco 3 – À Descoberta do Ambiente Natural, no tópico Os Seres Vivos do Ambiente Próximo. Este tópico prevê a abordagem dos seguintes conteúdos: comparar e classificar plantas segundo alguns critérios; realizar experiências e observar formas de reprodução das plantas; reconhecer a utilidade das plantas; e

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identificar alguns fatores do ambiente que condicionam a vida das plantas e dos animais.

A intervenção didática foi realizada numa turma do 3.º ano de escolaridade do 1.º CEB, inserida no programa TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), com 18 alunos, três dos quais referenciados com NEE.

Desenvolveu-se durante duas sessões com cerca de 120 minutos cada. A tabela 2 apresenta o plano geral de intervenção, onde se indicam os vários momentos da estratégia de intervenção, uma breve descrição dos mesmos, a organização da turma, o tempo despendido e a data da sua realização.

Tabela 2 – Plano geral da intervenção didática

1.ª Sessão*

Momento Breve descrição Organização da turma

48 aula. Consistiu num pequeno jogo em que se questionava aos alunos qual das

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quatro imagens apresentadas não continha uma espécie de origem portuguesa. Foi pretendido que o fizessem com base nos seus conhecimentos prévios e observação do meio que os envolve, promovendo um clima de discussão em grande grupo para que se compreendesse os motivos pelos quais indicavam uma das espécies como não sendo portuguesa. A escolha das imagens apresentadas foi feita com intencionalidade, para que criassem alguma dúvida e para que se promovesse a reflexão, não dando espaço a respostas imediatas. As quatro espécies apresentadas foram: pinheiro bravo, azinheira, palmeira-das-vassouras e azedas. Desta forma, ao colocar uma palmeira dentro das opções esta foi maioritariamente eleita como não sendo de origem portuguesa, uma vez que existe o pré-conceito de não serem comuns no nosso país. Ao colocar as azedas, muitos dos alunos referiram já ter visto esta planta e que por tal facto deveria ter origem portuguesa.

O 2.º momento – Notícias (cf. Anexo A 1.1) – teve a duração de 30 minutos e centrou-se na exploração de duas notícias, intituladas “Agricultor poderá pagar multa por limpar terreno” e “A couve-galega não gosta da nova forma de reprodução das azedas”. Ao analisar duas notícias pretendia-se dar a conhecer o contexto em que se insere a temática abordada, direcionando uma notícia para o conceito de espécies autóctones e a outra para o conceito de espécies invasoras. Como forma de consolidar a atividade desafiou-se os alunos a escrever definições para os conceitos apresentados, não pretendendo chegar a definições corretas do ponto de vista científico, mas a definições que todos os alunos compreendessem.

O 3.º momento – Site invasoras.pt – com a duração de 30 minutos, baseou-se na pesquisa e descoberta de espécies invasoras em grande grupo, inicialmente através das imagens presentes na plataforma. Pretendia-se questionar os alunos sobre as espécies que já tinham observado, elegendo algumas para descobrir mais informações fornecidas pela mesma plataforma, como a origem, as características e a distribuição no nosso País, dando a conhecer um sítio onde podem fazer pesquisa em qualquer dispositivo com acesso a Internet. O recurso a esta plataforma tem inúmeras vantagens, uma

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vez que reúne muita informação e é de fácil utilização para os alunos, possibilita a contextualização da temática e a visualização de várias características.

O 4.º momento – Experiência “Qual é a invasora?” – tem a duração de 45 minutos na primeira sessão e será concluído na segunda sessão, em 35 minutos. Centra-se na realização de uma atividade experimental com o objetivo de descobrir qual das duas espécies de sementes seria uma espécie exótica invasora, sendo dado a conhecer aos alunos as características dessa espécie. A introdução de um momento experimental nestas sessões fundamenta-se na crença de que uma boa aprendizagem exige a participação ativa dos alunos, de forma a (re)construírem o seu próprio conhecimento.

Durante muitos anos o Ensino das Ciências esteve centrado na memorização de conteúdos e na aplicação de regras de resolução de questões semelhantes às anteriormente apresentadas. Os alunos que aprendem rotineiramente têm tendência a acumular proposições isoladas na estrutura cognitiva, ficando incapazes de usar o novo conhecimento para resolver novos problemas (Mintzes, 2000). Esta metodologia de abordagem da temática centrou-se na determinação de combater estes mesmos problemas, e essencialmente para que se ensine ciências através do ensino sobre como “fazer” Ciências.

A atividade experimental foi elaborada pelos alunos recorrendo à ferramenta Carta de Planificação (cf. Anexo A 1.2), proposta por Goldsworthy e Feasey (1997). Sendo uma forma de organizar a investigação, é crucial para todo o processo uma vez que “(…) é durante a sua elaboração (…) que se poderão verificar as concepções prévias das crianças, como interpretam a questão-problema, que respostas consideram plausíveis, como é possível saber se uma previsão se confirma ou não. Conhecer a metodologia científica de abordagem duma questão significa saber como organizar procedimentos para obter a resposta, e conhecer resposta (…)” (Martins et al., 2007).

Importa referir que, antes da implementação desta atividade, a mesma foi colocada em prática pela professora estagiária, para: i) compreender todas as questões envolvidas na sua realização; ii) prever e alterar antecipadamente

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pormenores para uma melhor abordagem; e iii) conhecer o tempo necessário de intervalo entre sessões, uma vez que se pretendia analisar os resultados na segunda sessão.

O 5.º momento – Site invasoras.pt – com a duração de 30 minutos, recorreu novamente à utilização da plataforma digital, uma vez que após desvendar o nome das espécies utilizadas na atividade experimental se pesquisou sobre as características das mesmas. Pretendia-se que compreendessem que existem várias espécies de acácias, estando muitas delas referenciadas como espécies invasoras. Contudo, também se abordaram as várias características que espécies invasoras podem apresentar e ainda de que forma poderemos controlar a sua atuação, desafiando os alunos para que antecipadamente referissem formas que conhecessem.

O 6.º momento – Jogo de tabuleiro “As Invasoras” (cf. Anexo A 1.5) – com a duração de 55 minutos, centra-se na exploração de quatro cenários, com diferentes variáveis, para que os alunos compreendam a atuação de espécies invasoras. Com este jogo faz-se variar o número de sementes a germinar pela espécie invasora, a espécie invasora adquire características de eliminação de outras espécies que se encontrem ao seu redor e ainda se faz variar o número de personagens preocupadas e conhecedoras das características desta espécie e, desta forma, têm capacidade de eliminar os indivíduos da espécie invasora. Ao terminar as jogadas em cada cenário os alunos deverão contabilizar o número de indivíduos de cada espécie, para que se torne mais visível que espécie se encontra em maior número e para que se comparem resultados com outros grupos. Pretende-se ainda analisar estratégias de jogo, utilizadas pelos alunos, como o intuito de diminuir a atuação da espécie invasora.

A criação deste jogo, sendo ele mais de caráter demonstrativo, compreende-se como uma representação de uma realidade, funcionando por isso como um modelo para o estudo desta temática. Concordando com Danusso et al. (2010), o uso de modelos e o recurso a atividades de modelação são importantíssimos na produção e compreensão do

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conhecimento científico, sendo consequentemente cruciais no Ensino das Ciências. Segundo Torres e Vasconcelos (2015):

A construção de um conhecimento sólido acerca da natureza da ciência revela-se crucial na Educação em Ciências, uma vez que contribui para o desenvolvimento da literacia científica, do conhecimento científico e de diversas competências, como o espírito crítico. Da mesma forma, também os modelos científicos são considerados essenciais na Educação em Ciências, mostrando-se como uma ferramenta poderosa para envolver os estudantes a refletir sobre ciência. Os modelos científicos são, assim, essenciais para a aprendizagem da ciência, de como fazer ciência e sobre ciência. (p. 460)

Metodologia de Investigação

O Projeto de Investigação inspirou-se em características da metodologia de investigação-ação, valorizando a intervenção e investigação, partindo do estudo de um caso particular, tendo como participantes os alunos de uma turma do 3.º ano de escolaridade.

De modo a responder à questão de investigação foram utilizados os seguintes instrumentos de recolha de dados: inquérito por questionário (pré-teste e pós-(pré-teste) (cf. Anexo A 1.6), gravações de vídeo e narrações multimodais das sessões de intervenção (cf. Anexo A 1.7).

A realização de um pré-teste e de um pós-teste justifica-se pela necessidade de “medir” o conhecimento adquirido pelos participantes ao longo deste projeto, de forma a compreender se foi bem-sucedido, se os alunos aprenderam ou não, e perceber que conceitos ou competências não foram bem aprendidos e por isso requerem tempo adicional, ou necessitam de métodos alternativos (I-TECH, 2008). Quer o pré-teste como o pós-teste baseiam-se num pequeno inquérito por questionário, centrado em questões que exigem a aplicação de competências e não de demonstração de conhecimento. Para facilitar a implementação e posterior análise dos

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mesmos, os dois momentos de “medição” de conhecimentos possuem exatamente as mesmas características.

Importa referir que antes da implementação dos testes, estes foram sujeitos a testes-piloto realizados em pequenos grupos de crianças no mesmo nível de ensino, para modificar e melhorar aspetos que estivessem menos percetíveis ou que de alguma forma dificultassem a sua interpretação.

Simultaneamente, foram elaborados e reelaborados com a orientação de profissionais experientes e especialistas na área.

Ao longo das sessões foram elaboradas narrativas multimodais, partindo da gravação de vídeo dos vários momentos de intervenção, com a intenção de recolher mais dados que apoiassem a investigação. A utilização de narrativas multimodais tem sido valorizada nas últimas décadas, sendo reconhecida a importância da narrativa como metodologia de investigação e de desenvolvimento pessoal e profissional de professores. A investigação narrativa assume-se como subjetiva e tenta que o investigador compreenda a realidade falando de si próprio, valoriza e explora dimensões pessoais, como afetos, sentimentos e percursos de vida (Chamberlayne et al.,2000), permitindo aceder à complexidade das interpretações que fazem das suas ações, sucessos e insucessos, problemas e desafios (Reis, 2008). Por apresentar estas características foi eleita pela professora estagiária como uma metodologia a utilizar nesta investigação, contudo dadas as características de alguns momentos de intervenção não foi possível gravar todos os diálogos tal como pretendido.

Na tabela que se segue faz-se uma síntese das etapas de preparação e execução dos respetivos instrumentos de recolha de dados.

Tabela 3 – Síntese dos momentos de preparação e execução da metodologia de investigação

Momento Data Tempo

despendido 1. Elaboração do 1.º exemplar de fevereiro/março de 2017 2 semanas

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pré-teste

2. Aplicação do 1.º teste-piloto fevereiro/março de 2017 1 semana 3. Reajustamento do pré-teste fevereiro/março de 2017 1 semana 4. Aplicação do 2.º teste-piloto fevereiro/março de 2017 1 semana 5. Validação do pré-teste fevereiro/março de 2017 1 semana 6. Aplicação do pré-teste na

turma em estudo 29/03/2017 1 dia

7. Realização de gravações de

vídeo 15/05/2017 e 31/05/2017 2 dias

8. Aplicação do pós-teste na

turma em estudo 6/06/2017 1 dia

9. Elaboração das narrações

multimodais junho de 2017 3 semanas

10. Análise dos resultados junho/julho de 2017 3 semanas

No que diz respeito à análise e tratamento de dados, foram realizadas análises predominantemente qualitativas, tendo sido criadas categorias, por três pessoas até que estivessem todos em acordo total. A categorização foi criada consoante as respostas obtidas na aplicação dos inquéritos por questionário (pré-testes e pós-testes), para que se agrupassem as ideias dos alunos. Foi ainda calculada a frequência para cada categoria de resposta.

No documento Relatório de Estágio: (páginas 62-70)