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VIII. Introdução

3. Metodologia

A investigação e a produção de conhecimento científico são essenciais para a construção e desenvolvimento das profissões. Este não é um tema da contemporaneidade no Serviço Social, pois remonta aos finais do século XIX (altura em que o Serviço Social se estava a organizar enquanto profissão) (Mouro, 2004).

O Serviço Social é, segundo a Federação Internacional de Assistentes Sociais (2014), “uma profissão baseada na prática e uma disciplina académica” (Federação Internacional de Assistentes Sociais, 2014). Desta forma, torna-se relevante continuar a promover e a desenvolver a investigação no Serviço Social, pois é imprescindível para o reconhecimento da profissão e para a produção de conhecimento (Branco, 2008).

Relativamente ao presente estudo, é de enorme relevância a investigação, na medida em que existe pouco material teórico acerca do acompanhamento social em contexto de habitação social. A compreensão e análise dos fatores críticos de sucesso do acompanhamento social em contexto de habitação social consiste num contributo para a reflexão acerca da prática profissional e poderá abrir caminho para a investigação e produção de conhecimento acerca deste tema.

O objeto de estudo da presente investigação são os fatores críticos de sucesso do acompanhamento social em contexto de habitação social.

O objetivo geral consistia em compreender e analisar os fatores críticos de sucesso do processo de acompanhamento social em contexto de habitação social.

Como objetivos específicos definiram-se os seguintes: i) perceber quais os fatores críticos de sucesso experienciados por utentes e profissionais; ii) entender quais os resultados dos fatores críticos de sucesso no processo de acompanhamento social.

Optou-se pelo método de investigação qualitativo. A pertinência da investigação qualitativa consiste particularmente no estudo das relações sociais. As características dos métodos qualitativos consistem em analisar o comportamento humano, utilizando a observação naturalista; são subjetivos e estão perto dos dados (perspetiva de dentro - “insider”); são exploratórios, descritivos e indutivos; assumem uma realidade dinâmica; são holísticos e não generalizáveis (Serapioni, 2000). Assim, o presente estudo apresenta- se de forma exploratória, tentando compreender os fatores críticos de sucesso no terreno, junto das famílias e dos profissionais.

A investigação qualitativa tem as suas raízes na antropologia e na sociologia norte- americana e caracteriza-se por: ser realizada em cenários naturais; o investigador é o

instrumento para recolha dos dados; o foco da pesquisa está nas perceções e experiências dos participantes; ter atenção aos detalhes; utilização do conhecimento intuitivo (Creswell, 2007). Na pesquisa qualitativa, o investigador entra no mundo dos participantes e, através da interação, procura perspetivas e significados (Creswell, 2007). Relativamente ao paradigma, adotou-se o construtivista. O paradigma da presente investigação é construtivista, na medida em que se apoia numa perspetiva qualitativa de recolha e análise de dados, na qual a investigação tem como objetivo conhecer uma situação num contexto específico (Coutinho, 2011). Neste caso, é o contexto de habitação social, mais concretamente, no Espaço Mais Perto do Zambujal e nas áreas de intervenção do mesmo. O paradigma construtivista consiste numa forma de conhecer o mundo a partir do ponto de vista daqueles que nele vivem (Craveiro, 2007) e a realidade é uma construção intersubjetiva de significados desenvolvidos socialmente e experiencialmente (Patacho, 2013).

Sendo a pesquisa qualitativa caracterizada pela sua subjetividade e tendo uma perspetiva “insider”, considera-se que existe uma abordagem compreensiva. A abordagem compreensiva comporta sempre momentos de compreensão intuitiva, a partir de um esforço de empatia e de significações (Cidreira, 2014). O contacto direto com as pessoas (famílias e profissionais), através das entrevistas e da observação direta, permite a criação de uma relação e a existência de uma compreensão intuitiva. Desta forma, é possível recolher dados, não só objetivos e diretos, transmitidos pela pessoa, mas também recolher dados da linguagem não-verbal e atribuir significados a palavras e gestos.

A estratégia de investigação adotada foi o método indutivo. Os dados recolhidos não têm como função a verificação de hipótese. As teorias são construídas através da recolha dos dados, partindo de um quadro teórico de base. Para Freixo (2009) “o método indutivo defende que na investigação se deve começar por uma observação para que, no final de um processo, se possa elaborar uma teoria [...] o raciocínio indutivo faz-se do particular para o geral” (Freixo, 2009: 95-96).

Segundo Godoy (1995), existem três tipos de pesquisa qualitativa: pesquisa documental, etnografia e estudo de caso (Godoy, 1995). No presente estudo adotou-se o procedimento do estudo de caso, que consiste numa análise profunda e intensiva, que tem como objetivo obter um exame detalhado de um ambiente, indivíduo ou situação (Godoy, 1995). O estudo de caso prevê o aprofundamento intensivo de conhecimento relativamente a determinado contexto, que neste caso consiste no acompanhamento social realizado pelo Espaço Mais Perto do Zambujal. O campo empírico do presente estudo de

caso é o território de intervenção do Espaço Mais Perto do Zambujal, que se situa no Bairro Social Brejos A, na freguesia de São Domingos de Rana, no concelho de Cascais.

Figura 2 – Bairro Brejos A

Fotografia: Catarina Loureiro, 2018

Figura 3 - Espaço Mais Perto do Zambujal

Fotografia: Catarina Loureiro, 2018

A escolha do referido campo empírico deveu-se ao facto de já existirem ligações anteriores e privilegiadas com a Câmara Municipal de Cascais. Dos seis Espaços Mais Perto foi selecionado o Espaço Mais Perto do Zambujal por ser o mais próximo da área de residência, sendo a seleção do local por conveniência.

Os Espaços Mais Perto são gabinetes de proximidade, que surgiram após o Programa Especial de Realojamento, para dar apoio e suporte às pessoas realojadas.

Atualmente, os gabinetes mantêm-se para dar resposta às novas problemáticas e necessidades, não só dos habitantes dos bairros sociais, mas de todos os munícipes.

São seis os Espaços Mais Perto existentes no Concelho de Cascais: Torre, Galiza, Adroana, Cruz Vermelha, Matos Cheirinhos e Zambujal. Cada um tem a sua área de intervenção, pelo que o Espaço Mais Perto do Zambujal intervém nas localidades de São Domingos de Rana, Matarraque, Zambujal e Tires. Contudo, os Espaços podem atender munícipes de qualquer área do concelho. Os bairros sociais que se encontram no território deste Espaço são: Brejos A, Brejos D, Brejos F, Matarraque, Zambujal, Mata da Torre e Cabeço de Mouro.

Figura 4 - Território de intervenção do Espaço Mais Perto do Zambujal

Fonte: Câmara Municipal de Cascais, 2018

Quando se está perante um estudo caso, a investigação não se baseia numa amostra. Desta forma, o grupo de pessoas junto do qual foram recolhidos os dados do presente estudo foi constituído pelos técnicos do Espaço Mais Perto do Zambujal e pelas famílias que são acompanhadas por esses técnicos.

Ø Profissionais (T – técnicos)

Técnicos do Espaço Mais Perto do Zambujal

Antigos Atuais 1 Assistente Social (T1) 1 Psicóloga Clínica (T2) 1 Assistente Social (T4) 1 Psicopedagoga Clínica (T3) 1 Assistente Social (T5)

Os três “técnicos atuas” são a equipa técnica do Espaço Mais Perto do Zambujal. Dos “técnicos antigos”, T4 trabalhou recentemente no Espaço Mais Perto do Zambujal e T1 trabalhou na equipa do PER e esteve presente na criação do Espaço Mais Perto do Zambujal. Ø Utentes (F – Famílias)3 Acompanhados desde o Programa Especial de Realojamento Acompanhados há menos de 1 ano 1 pessoa isolada F1 F6 1 família monoparental F2 F7

1 família nuclear sem

filhos F3 F8

1 família nuclear com 1

ou 2 filhos F4 F9

1 família nuclear com

mais de 2 filhos F5 F10

3 Todos os agregados selecionados residem em habitação social e são acompanhados pela equipa do Espaço Mais Perto do Zambujal.

O critério selecionado relativamente ao tipo de família (pessoa isolada, família monoparental, família nuclear sem filhos, família nuclear com 1 ou 2 filhos e família nuclear com mais de 2 filhos) permitem a existência de uma maior heterogeneidade no grupo. Relativamente ao critério do tempo de acompanhamento (desde o PER e há menos de um ano) pretende também criar heterogeneidade no grupo e verificar a existência (ou não) de fatores críticos de sucesso diferentes entre pessoas que são acompanhadas há alguns anos e pessoas que são acompanhadas há pouco tempo.

Estava previsto a recolha de dados junto de cinco técnicos e dez famílias. Contudo, devido a circunstâncias exteriores ao investigador, não foi possível recolher dados de todo o grupo idealizado. Relativamente aos técnicos, não foi possível entrevistar T4, pois encontra-se atualmente num projeto bastante exigente, tendo pouca disponibilidade para participar. T5 encontrava-se no final da gravidez, ficando de baixa antes do início da recolha dos dados.

Não foi possível recolher dados relativos a três agregados familiares (F3, F8 e F9), pois as técnicas do gabinete não encontraram famílias que se enquadrassem nos parâmetros solicitados (1 família nuclear sem filhos acompanhada desde o Programa Especial de Realojamento; 1 família nuclear sem filhos acompanhada há menos de 1 ano; 1 família nuclear com 1 ou 2 filhos acompanhada há menos de 1 ano). Existem poucas (ou são mesmo inexistentes) famílias nucleares sem filhos acompanhadas no Espaço Mais Perto do Zambujal, pois quem se encontra numa situação mais vulnerável, de um modo geral, são pessoas isoladas, famílias monoparentais ou famílias com filhos. As famílias acompanhadas há menos de um ano têm algumas especificidades, na medida em que foram realojadas recentemente pela Câmara Municipal de Cascais. Isto pressupõe uma avaliação, através de uma ficha de casos graves, com vários parâmetros, sendo que não existe um número elevado de famílias nucleares sem filhos ou com um filho a serem realojadas.

Ø Profissionais (T – técnicos)

Técnicos do Espaço Mais Perto do Zambujal

Antigos Atuais 1 Assistente Social (T1) 1 Psicóloga Clínica (T2) 1 Psicopedagoga Clínica (T3) Ø Utentes (F – Famílias)4 Acompanhados desde o Programa Especial de Realojamento Acompanhados há menos de 2 anos 1 pessoa isolada F1 F6 1 família monoparental F2 F7

1 família nuclear sem

filhos --- ---

1 família nuclear com 1

ou 2 filhos F4 ---

1 família nuclear com

mais de 2 filhos F5 F10

A escolha do ponto de referência PER deveu-se ao facto de o Espaço Mais Perto do Zambujal ter surgido com o programa, ou seja, existem agregados acompanhados desde esse momento. A opção pelos agregados acompanhados há menos de um ano prendia-se com o contraponto de serem acompanhados há pouco tempo e selecionou-se o ponto de referência de um ano. Contudo, foi complicado encontrar agregados familiares acompanhados há menos de um ano com as restantes características predefinidas, pelo que se optou por serem agregados acompanhados há menos de dois anos.

4 Todos os agregados selecionados residem em habitação social e são acompanhados pela equipa do Espaço Mais Perto do Zambujal.

Relativamente às técnicas de recolha de dados optou-se pelas seguintes: observação direta, análise documental e entrevista individual semiestruturada5. A

observação direta exige um contato face a face entre o investigador e o seu objeto de estudo e exige que o investigador utilize os seus cinco sentidos para examinar uma realidade (Lima, 2008), visto que coloca o investigador dentro do cenário, de forma a que este tenha atenção aos detalhes e que possa compreender a complexidade dos ambientes. A análise documental, segundo Richardson et al. (1999, as cited in Junior, Medeiros & Augusta, 2017) tem como finalidade estudar documentos e analisar o conteúdo expresso nos documentos, com o intuito de compreender circunstâncias sociais (Junior, Medeiros & Augusta, 2017). No caso dos processos das famílias, torna-se de extrema importância a análise dos mesmos, pois é uma oportunidade para compreender o histórico da família (diagnóstico, intervenção, diligências, registos, relatórios), essencial para contextualizar o acompanhamento social realizado pelos técnicos.

Ribeiro (2008, as cited in Júnior & Júnior, 2011) afirma que a entrevista é a técnica mais pertinente quando o investigador pretende obter informações a respeito do seu objeto, permitindo analisar também atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento (Júnior & Júnior, 2011). A entrevista apresenta inúmeras vantagens, em relação ao questionário, visto que possibilita a obtenção de uma informação mais rica, dados de natureza complexa e afetiva, assim como outras informações sobre os comportamentos e as opiniões, não exigindo um informante alfabetizado. Permite também verificar as reações da pessoa e o esclarecimento de eventuais dúvidas (Gil, 1999). É importante mencionar que a entrevista semi-diretiva permite flexibilidade, uma vez que não é totalmente aberta, nem totalmente fechada. Neste tipo de entrevista, “o investigador dispõe de uma série de perguntas-guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte do entrevistado, mas não colocará necessariamente todas as perguntas na ordem em que as anotou e sob a formulação prevista” (Quivy, 2008: 192). Para o presente estudo foram realizadas entrevistas semi- diretivas a técnicos e utentes do Espaço Mais Perto do Zambujal, com o objetivo de identificar quais os fatores críticos de sucesso do acompanhamento social em contexto de habitação social.

Os instrumentos utilizados na presente investigação foram a grelha de observação6, a grelha de análise processual7 e o guião de entrevista8. Optou-se por estes

três instrumentos para a recolha de dados, pois o primeiro permitiu observar a interação e a relação entre técnico e utente; o segundo forneceu informações acerca do percurso do agregado familiar desde o início do acompanhamento até aos dias de hoje; o terceiro deu a hipótese de colocar questões aos utentes e profissionais, de modo a explorar o tema de uma forma semi-diretiva.

Mais uma vez não foi possível realizar a observação direta às sete famílias. Das sete, foi possível realizar observação direta a três famílias, que se deslocaram ao Espaço Mais Perto do Zambujal ou que as técnicas convocaram para estarem presentes em atendimento. As restantes quatro não tiveram disponibilidade para se deslocarem ao Espaço (por estarem doentes ou a trabalhar) ou porque as técnicas não tinham qualquer assunto para tratar com os utentes nem estes com as técnicas, pelo que não fazia sentido deslocarem-se ao Espaço para um atendimento “forçado” e sem naturalidade. Efetuou-se análise processual e entrevistas aos sete agregados familiares. Relativamente aos técnicos, foram os três entrevistados.

A observação, a análise processual e algumas entrevistas realizaram-se no Espaço Mais Perto do Zambujal. Duas entrevistas realizaram-se em casa das famílias, pois estas não tinham condições para se deslocarem ou possibilidade de se ausentarem do seu domicílio.

Antes de fazer a análise do conteúdo, foi necessário tratar os dados, preparado o material para que possa ser analisado. O tratamento dos dados da observação direta e da análise documental consistiu numa análise qualitativa, com a elaboração de um documento descritivo em Word. O tratamento dos dados das entrevistas começa pela transcrição dos materiais gravados para um documento Word, seguindo-se a utilização do programa MAXQDA (versão 2018.1), para a organização e codificação da informação recolhida através de categorias e subcategorias (análise de tipo categorial). Estas foram criadas aquando da elaboração dos guiões de entrevista.

As questões éticas estiveram presentes em todas as fases da investigação: a autorização dos responsáveis dos serviços; a garantia de sigilo e confidencialidade; e o consentimento informado9. 6 Anexo A. 7 Anexo B. 8 Anexo C. 9 Anexo D.