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VIII. Introdução

4. O Acompanhamento social em contexto de habitação social

4.1. A importância do acompanhamento social em contexto de habitação social

4.2.5. O trabalho em parceria e em rede

O trabalho em parceria e em rede surge como mais um fator crítico de sucesso do acompanhamento social em contexto de habitação social. Foi identificado nas entrevistas e na análise dos processos.

“A polícia de xxxxxxxx também trabalhou aqui muito em parceria comigo. Portanto elas tinham aquele botão para acionar a linha logo SOS, caso ele se aproximasse. Uma vez até aconteceu, porque ele ameaçava-as de morte.” (T3, Técnico, Espaço Mais Perto do Zambujal)

Em termos das parcerias, convém referir que, através da análise processual, foi possível constatar que existe um enorme trabalho em parceria/rede na intervenção do Espaço Mais Perto do Zambujal. Destaca-se o trabalho com os CAT’s, outros departamentos da CMC (exemplo: transportes), empresas municipais (exemplo: Cascais Envolvente), várias IPSS’s que intervêm na freguesia e no concelho (para apoio

alimentar, monetário e de bens para a casa – móveis e eletrodomésticos), SEF, CLAII, Hospitais, Centros de Saúde, escolas, comunidade (exemplo: óticas). Importa referir que sem este trabalho em parceria, não seria possível (ou seria mais difícil) responder às necessidades das pessoas.

O sucesso da intervenção no âmbito do acompanhamento social em contexto de habitação social requer um trabalho em rede e em parceria. A não existência de determinadas respostas sociais (no Estado e no terceiro setor) condiciona este trabalho, trazendo implicações para o sucesso do acompanhamento social.

“o remanescente dos 30% passa muito, passa pela pessoa como é obvio, mas passa pelas respostas” (T1, Técnico, Espaço Mais Perto do Zambujal)

“Por exemplo, a psicoterapia e a área da saúde mental é uma área que não tem resposta em Portugal ou que é muito limitada. E isso faz toda a diferença!” (T1, Técnico, Espaço Mais Perto do Zambujal)

O trabalho em rede e em parceria é cada vez mais valorizado e utilizado na área social por vários motivos: a não duplicação de respostas a famílias que são acompanhados por diferentes entidades; a complementaridade entre entidades (com diferentes respostas e de diferentes áreas) e entre técnicos (de diferentes áreas); a rentabilização de recursos.

Em síntese, os bairros sociais são lugares isolados e esquecidos, onde residem pessoas que podem encontrar-se em situação de vulnerabilidade e exclusão social. O acompanhamento social assume uma enorme importância, na medida em que o técnico é considerado um apoio, um amparo e um orientador para as famílias, para além de permitir que as pessoas tenham acesso a informação, nomeadamente acerca dos seus direitos. O acompanhamento social surge como uma ferramenta fundamental para um processo de integração, na medida em que promove a autonomização e o bem-estar das pessoas.

Foram identificados cinco fatores críticos de sucesso do acompanhamento social em contexto de habitação social: a relação como fator estruturante do processo de acompanhamento social em contexto de habitação social; a disponibilidade profissional como elemento facilitador do processo de acompanhamento social em contexto de

habitação social; o perfil das famílias; o perfil dos técnicos; o trabalho em parceria e em rede. A relação consiste num fator estruturante do processo de acompanhamento social, condicionando o sucesso da intervenção. A empatia, a confiança (mútua) e a proximidade surgem como pontos-chave na criação e manutenção da relação. A disponibilidade profissional surge como elemento facilitador do processo de acompanhamento social, pois a presença e intervenção dos técnicos em certos momentos pode ser determinante para a família. Assim, o acompanhamento social não se rege por procedimentos tipificados, ou seja, não tem tempo nem espaço específicos. A disponibilidade pressupõe a existência de investimento, empenho, persistência e resiliência por parte do técnico. O perfil das famílias e o perfil dos técnicos também condicionam o sucesso da intervenção. Cada família apresenta determinadas características, devido às experiências que vivenciou e às oportunidades que lhe surgiram, pelo que a intervenção não é igual de família para família e é necessário ter uma intervenção individualizada. Os técnicos também são diferentes, pelo que o seu perfil pode interferir com a intervenção definida e com o sucesso da mesma. Dentro do perfil dos técnicos, foram apresentados três pontos-chave: gostar do que se faz, ter sensibilidade e acreditar (nas famílias, nas suas competências e num futuro positivo). O trabalho em rede e em parceria está cada vez mais presente no trabalho social, sendo uma ferramenta essencial para um trabalho concertado e de sucesso.

Limitações do estudo

O presente estudo apresenta algumas limitações. Considera-se que uma das limitações consistiu no fato de existir pouca bibliografia acerca do objeto de estudo, o que dificultou bastante a investigação acerca do tema e a elaboração do enquadramento teórico.

Relativamente à parte prática, existiram algumas limitações, nomeadamente: · A seleção das famílias, que foi um processo complexo e demorado. Demorado, na

medida em que as técnicas não dispunham de muita disponibilidade para fazer a seleção e o primeiro contato com as famílias. Complexo, pois não foi fácil encontrar famílias que fossem de encontro aos critérios definidos, tanto que em vez de dez famílias, o estudo contou com sete famílias.

· Participação dos técnicos, que podia ter sido maior. Uma das três técnicas atuais do Espaço Mais Perto do Zambujal estava grávida e teve de ir para casa com baixa

médica, pelo que não foi possível entrevistá-la. Um técnico que trabalhou recentemente no Espaço Mais Perto do Zambujal não tinha disponibilidade para participar no estudo, visto que se encontrava num novo projeto profissional que lhe requeria muito tempo.

· Número de participantes. Um maior número de participantes permitiria uma recolha de dados mais completa e complexa. Esta questão prendeu-se com a dificuldade na seleção das famílias e com a participação dos técnicos.

· A organização e o conteúdo dos processos não foi a esperada, pelo que não foi possível retirar de todas as famílias as informações necessárias - necessidades, diligências e resultados. Nem todos os processos continham estas informações, sendo que a informação que prevalecia nos processos eram documentos pessoais e faturas.

· As entrevistas aos utentes não surtiram os resultados esperados (quantidade de informação recolhida), na medida em que nem todas as pessoas identificaram a existência do acompanhamento social, a sua importância e os fatores críticos de sucesso. Quando identificavam estas questões, existia alguma dificuldade no desenvolvimento dos temas.

A nível de dificuldades pessoais foram sentidas as seguintes:

· Face à limitação da informação recolhida (número de participantes, organização e conteúdo dos processos e resultados das entrevistas), houve uma dificuldade na análise dos dados.

· A disponibilidade da investigadora, que se encontrava a trabalhar a tempo inteiro. Esta questão colocou algumas limitações na recolha de dados, nomeadamente a dificuldade em realizar as entrevistas individuais, observação direta e análise documental no horário de funcionamento do Espaço Mais Perto do Zambujal, por ser o mesmo horário de trabalho da investigadora. Esta questão foi ultrapassada com o apoio da entidade empregadora da investigadora (que autorizou algumas ausências ao serviço para recolha de dados) e com o apoio das técnicas do Espaço Mais Perto do Zambujal (que disponibilizaram a chave do gabinete, para a realização de entrevistas individuais às famílias e análise documental ao final do dia e ao fim de semana).

Recomendação à equipa do Espaço Mais Perto do Zambujal

Como recomendação à equipa do Espaço Mais Perto do Zambujal apresenta-se a seguinte:

· Uma maior atenção à elaboração dos registos/diligências efetuadas com as famílias, de modo a que fique registado tudo o que é feito ao longo da intervenção. Isto irá facilitar numa situação de mudança de técnico e no processo de avaliação da intervenção realizada.

Perspetivas Futuras

A presente investigação aborda um tema acerca do qual existe pouca investigação, pelo que suscita algumas questões que seria interessante desenvolver futuramente, de modo a aprofundar o tema do acompanhamento social em contexto de habitação social:

· O impacto do acompanhamento social em contexto de habitação social, de modo a avaliar o impacto causado e verificar se o impacto causado vai de encontro ao que é esperado e pretendido;

· Uma comparação entre o acompanhamento social em contexto de habitação social e o acompanhamento social fora do contexto de habitação social, verificando quais as diferenças e quais as semelhanças entre os processos de acompanhamento social tendo em conta o contexto.