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III. PROBLEMAS DE ESTUDO

1.1. Metodologia geral

Após entrega do Projecto de dissertação da presente tese de mestrado (Janeiro de 2011) e respectiva aceitação por parte do Conselho Científico do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica de Lisboa em Fevereiro de 2011, foram contactadas as seis Unidades e Equipas de Cuidados Paliativos da zona da Grande Lisboa previstas no Projecto.

A investigação foi submetida a autorização das respectivas administrações e coordenadores de Unidades e equipas de Cuidados Paliativos e aceite em três casos :

 Equipa de Cuidados Continuados do Centro de Saúde de Odivelas

 Unidade de Cuidados Paliativos S. Bento de Menni, IHSCJ, Casa de Saúde da Idanha

 Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar de Lisboa Zona Central (CHLC)

A População em estudo corresponde a mulheres de terceira idade, viúvas e a amostra desejada, (método de Amostragem Não probabilística – de conveniência/ intencional) foi selecionada por ter experimentado o fenómeno em si, por poderem reportar na primeira pessoa a vivência de luto conjugal pelo marido que faleceu no âmbito de cuidados paliativos. A selecção foi restringida a residências na zona da Grande Lisboa.

Considerando os critérios definidos para a amostra desejada para o estudo, foram selecionados pelos responsáveis (coordenadores e psicólogos das unidades) os casos por eles acompanhados, que os cumpriam e foram contactadas as mulheres idosas viúvas para apresentação da investigação e convite a participar.

Sendo aceite pelas idosas, foi-me facultado o respectivo contacto telefónico para poder novamente proceder a apresentação da investigação e confirmar novamente o interesse e vontade genuína na participação no estudo.

Nesse contacto, eram também confirmados os critérios de: - Idade da idosa (superior a 65 anos)

- Morte do conjugue (ocorrido entre 6 meses e 1 ano e meio) - Vida conjugal de mais de 25 anos.

- Pensamento e discurso orientados, sem diagnóstico de demência (As questões cognitivas, assim como a literacia e capacidade de comunicação na população seleccionada, foram antecipadas como potenciais limitações do estudo).

Mediante a aceitação e disponibilidade, foram agendadas as entrevistas, a decorrer no domicílio da idosa em dia e hora por ela designados.

As entrevistas decorreram de Julho de 2011 a Janeiro de 2012, período de tempo condicionado pela disponibilidade laboral da investigadora, disponibilidades dos responsáveis das instituições e equipas e das próprias pessoas entrevistadas. Por outro lado, também foram realizadas pausas propositadas nos contactos dado que era necessário avaliar o estado de saturação de dados das entrevistas (momento em que parece as essências que surgem se repetem e não encontro mais aspectos que aparentem ser novos ou distintos no fenómeno) que iam sendo realizadas e analisadas.

No total, das três Unidades/ equipas que aceitaram a investigação junto das mulheres cujos conjugues tinham falecido acompanhados pelas suas equipas, foram conseguidas 11 aceitações por parte das mulheres idosas sendo 2 destas entrevistas excluídas (uma das entrevistadas, por erro de registo, não cumpria o critério de idade mínima de 65 anos e no outro caso, o conteúdo da entrevista, mesmo que reconduzida em nada coincidia com o tema do luto pelo marido).

Participaram assim, 9 mulheres idosas, com idade superior a 65 anos e cujo marido (com vida conjugal de há mais de 25 anos) tivesse sido acompanhado em unidades de cuidados paliativos da zona da Grande Lisboa (tendo falecido no período anterior de 6 meses a 1 ano e meio). Todas as mulheres entrevistadas estavam orientadas e sem diagnóstico de demência, estavam colaborantes com a entrevista e aceitaram participar na investigação, manifestando essa vontade no consentimento informado assinado (Apêndice 1).

Por uma questão de confidencialidade e sigilo os nomes das entrevistadas são sempre ocultados e substituídos por N seguido do número da entrevista que lhe corresponde (por ordem de data de realização), havendo assim entrevistas numeradas de

N1 a N9. Os nomes dos familiares e instituições/ equipas a que se refiram também são ocultados, limitando-me a usar uma inicial.

A apresentação detalhada de cada um dos casos é apresentada no Guião da entrevista / Ficha síntese (Apêndice 2 a 11), junto com a respectiva análise de entrevista. Apenas para caracterização geral da amostra é apresentado o seguinte quadro resumo:

Quadro 3 – Resumo de Caracterização da Amostra (Fonte: Elaboração própria):

N Idade (anos) Tempo de luto Anos de casamento (anos)

N1 71 1 ano e meio 53 N2 73 1 ano 53 N3 68 1 ano e 4 meses 52 N4 66 1 ano e 5 meses 40 N5 80 9 meses 60 N6 72 1 ano e 1 mês 50 N7 77 11 meses 52 N8 67 7 meses 49 N9 65 1 ano e 3 meses 47

No dia agendado para entrevista (e confirmado de novo telefonicamente no dia anterior), dirigia-me ao domicílio da idosa a entrevistar e após (re)apresentação pessoal, tal como apresentado no Guião geral de cada uma das entrevistas (Apêndice 2), foi cumprido o seguinte procedimento:

 Legitimação, como os objectivos específicos de:

- Relembrar qual o trabalho de investigação que conduziu ao pedido de entrevista: “O luto da mulher de terceira idade: a vivência de quem ficou viúva”;

- Pedir de novo o contributo à idosa que experienciou o “fenómeno” de viuvez, pós morte do marido que foi acompanhado em cuidados paliativos;

- Apresentar o documento de consentimento informado (Apêndice 1), procedendo à sua assinatura como forma de expressar a sua concordância em participar, assim como a concordância em proceder à gravação da entrevista

 Recolha de dados, com preenchimento da ficha síntese que acompanha o Guião (Apêndice 2)

- Reunir os dados biográficos

- Confirmar o cumprimento dos pré-requisitos de amostra

 Tendo concordado com a gravação da entrevista, pedia a sua concordância para iniciar e era colocada a questão de investigação:

“ Por favor, descreva a situação de luto pela morte do seu marido que está a passar ou passou. Partilhe todos os pensamentos, todas as percepções e todos os sentimentos de que se possa lembrar desde que ficou viúva até agora, até que não tenha mais nada a dizer sobre a situação”.

A entrevista (aberta) era conduzida de forma empática (Bermejo, 2011) apenas com recurso a clarificações e reformulações até que a idosa manifestasse querer interromper a sua partilha. Foi permitida a expressão emocional e assegurado o bem-estar no momento final de despedida. Foi deixada indicação de que se necessitasse de algum apoio deveria contactar com o serviço de cuidados paliativos que a referenciou e facultei o meu contacto pessoal para o caso de necessitarem.

Em relação aos procedimentos de análise, logo inicialmente cada uma das entrevistas foi ouvida variadas vezes e transcrita para word (office) nos dias seguintes para retenção de informação relativa a linguagem não-verbal presente ou outros aspectos implícitos que surgiram no contacto estabelecido.

Seguiram os seguintes passos de análise fenomenológica (descritiva) para cada uma (Deschamps, 1993, cit. Streubert & Carpenter, 1999; Giorgi & Sousa, 2010; Loureiro, 2002; 2006; Queiroz et al., 2007):

 Análise 1: Fazer leituras superficiais/ flutuantes da entrevista transcrita de forma a estabelecer um sentido de todo para familiarização com o fenómeno.

Relembro que nesta fase há um esforço pessoal de “esvaziar a mente”, ou seja de suspensão dos pré-conceitos e conhecimentos prévios. Também não foi realizada a Revisão Bibliográfica, como forma de não enviesar os fenómenos descritos pelas entrevistadas na primeira pessoa;

 Análise 2: Dividir a entrevista em Unidades de significado, com metodologia de Análise de conteúdo (Bardin, 2009), conservando a linguagem original dos participantes. Nos Apêndices 3 a 11, esta análise corresponde ao conteúdo transcrito que está sombreado.

 Análise 3: As Unidades de significado são transformadas ou traduzidas para expressões/ conceitos de carácter psicológico (mas não por teorias). Há uma tradução das unidades de cada entrevista para unidades sem carácter pessoal. No Apêndice 3 a 11, esta análise corresponde aos tópicos colocados na coluna do lado direito de cada entrevista transcrita (previamente sombreada, na coluna do lado esquerdo) e depois recuperados no resumo de “temas” no fim de cada uma;

 Análise 4: São determinadas as “essências” ou “invariantes” das entrevistas, ou seja, o que se repete, converge e é caracterizador deste fenómeno/ vivência em estudo. Trata-se dos Resultados apresentados na secção seguinte sob forma de Quadro 4 e de tópicos (explorados na discussão que acompanha os resultados). Neste momento foi feita a validação com a co-orientadora

 Análise 5: Esta fase, de Diálogo com a Literatura, corresponde ao momento em que é feita a Revisão Bibliográfica e reflexão da experiência anterior da investigadora, se contrasta com as “essências” do fenómeno encontradas, e se determina o que se trouxe de novo ao conhecimento actual. Esta análise encontra-se na seguinte secção de Resultados/ Discussão.