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4 AMBIGÜIDADE NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE GRUPOS NA SOCIEDADE

6.2 BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA INCUBADORA IES

6.2.2 Metodologia de organização interna

A partir dos textos teóricos publicados pela Incubadora, verifica-se que o modelo de gestão adotado é o de “co-gestão”, quecompreende dois objetivos: por um lado, desenvolver e respeitar a autonomia individual, e por outro, desenvolver e respeitar a construção coletiva de um projeto pautado pelos objetivos comuns do grupo.

Em um dos trabalhos apresentados pela Incubadora, está definido o modelo de gestão como co-gestão, no limite entre a heterogestão e a autogestão, pois está entre o modelo heterogestionário da Universidade e o modelo autogestionário dos grupos incubados. A estratégia metodológica implementada foi a de valorizar e preservar as decisões dos membros das equipes, estimulando os princípios autogestionários, mas ao mesmo tempo considerando as orientações estatutárias e dos regimentos da universidade. Na maioria dos textos da Incubadora se verifica a referência ao modelo de organização interna como de co-gestão. Em um relatório publicado em 2008 a coordenação da Incubadora descreveu o modelo interno de organização da Incubadora como sendo autogestionário, mas não descreveu como a autogestão aconteceria já que formalmente desde a criação da Incubadora existia uma hierarquia interna na tomada de decisões, definido pelo papel de um coordenador, um vice-coordenador e das equipes organizadas por professores responsáveis e pela equipe de formação constituída por estudantes e técnicos. Segundo uma das entrevistadas houve um momento, entre 2006 e 2007 no qual a hierarquia interna não era tão evidente e havia maior colaboração entre os integrantes das equipes.

A proposta metodológica da Incubadora definiu o processo de incubagem como uma construção participativa dos integrantes que fazem parte do sistema de formação em Economia Solidária, Cooperativismo e Associativismo. Dentre as atividades desenvolvidas pela Incubadora estão a realização de reuniões teórico-práticas, a elaboração de relatórios individuais e das atividades e a avaliação do processo para os planejamentos semanais nos grupos incubados, bem como o histórico do processo de incubagem e o acompanhamento.

Segundo os relatos nas entrevistas com alguns membros da equipe da Incubadora, nem sempre essas reuniões aconteciam, pois os horários dos integrantes da equipe muitas vezes eram incompatíveis, os alunos têm períodos de provas e alguns grupos exigiam um dispêndio de tempo maior dos integrantes da equipe, pois funcionavam longe da Incubadora, em outras cidades. Dois técnicos entrevistados relataram que existiram momentos em que era preciso tomar uma decisão e não conseguiam se reunir para discutir as ações que acabavam sendo decididas conforme o “bom-senso” da equipe responsável ou do técnico da Incubadora, respaldado pela coordenação. Para um dos técnicos, partia-se do princípio de que os membros da Incubadora possuíam conhecimentos e formação para tomarem decisões acerca da condução do trabalho com o grupo, pois alguns trabalhavam na Incubadora há mais de três anos. Um dos responsáveis pela coordenação do grupo acreditava que seria preciso maior iniciativa de alguns profissionais que atuavam há mais tempo na Incubadora. Por outro lado, nas entrevistas alguns integrantes da equipe disseram que não se sentiam seguros para tomarem as decisões sozinhos, visto que acarretariam em conseqüências para os grupos. Os acadêmicos e os técnicos relatam que tinham dúvidas acerca do encaminhamento dos trabalhos e das decisões do grupo incubado. Estas questões permaneceram não sendo discutidas e, segundo os relatos, muitas vezes surgiram dúvidas tanto em relação à Economia Solidária, quanto a aspectos técnicos e a necessidade de debater temas metodológicos e polêmicos para a equipe no processo de incubagem.

A autonomia proposta pela Incubadora visava dinamizar as ações do grupo em direção a uma tomada de decisão a partir da reflexão individual de seus membros e de um processo coletivo de construção teórico-prática coletiva para desenvolver as práticas democráticas no compartilhamento de reflexões para a tomada de decisão em grupo. Estas duas dinâmicas são complementares e não excludentes, mas podem se apresentar na dinâmica grupal como conflitantes e até mesmo como paradoxais, dependendo dos conflitos internos do grupo e suas questões indefinidas. Pode-se considerar a partir dos relatos que este processo exigiu que o grupo tivesse tolerância ao conflito e promovesse, constantemente, o debate internamente.

Nos relatos dos componentes da equipe foi explicitado um conflito entre membros que defendiam uma atuação mais técnica da Incubadora e outros que enfatizavam aspectos mais políticos, principalmente em relação à autogestão e à reflexão sobre a missão da Incubadora em relação à proposta da Economia Solidária. Conforme os depoimentos, quando a Incubadora decidia atuar mais na busca de inserção econômica percebia-se uma maior ausência de discussões teóricas e metodológicas apoiadas na autogestão e nos pressupostos da Economia Solidária, relatando que embora estas discussões acontecessem esporadicamente, faltava uma maior interação na equipe. Segundo os relatos os momentos de maior reflexão foram quando a Incubadora acompanhava um número menor de grupos ou seus integrantes na sua maioria valorizavam e refletiam sobre os aspectos políticos da Economia Solidária, o mesmo acontecia quando havia a promoção de relações mais democráticas internamente na organização da Incubadora, com uma maior conscientização dos processos políticos e sociais dos grupos, da equipe e da sociedade. Nos relatos, os membros da equipe avaliam que esta oscilação e

diferenças de discursos, de valores e de práticas podem ter diferentes impactos na forma como são conduzidos os processos de formação e assessoramento aos grupos.

A proposta da Economia Solidária está fundamentada no pressuposto de que tanto os cooperativados quanto os formadores construam relações baseadas na autogestão interna no grupo, na construção de espaços para o debate e na busca, tanto quanto possível, de superar as relações hierarquizadas de saber, as imposições de decisões comandadas por uma autoridade e o direcionamento unilateral das ações do grupo. Este é um desafio constante na Incubadora e que apareceu nas entrevistas como conflitos e polêmicas internas no projeto.