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Neste trabalho, quando me refiro à metodologia, estou pensando nas maneiras e técnicas pelas quais conseguirei realizar determinada empreitada, neste caso, a pesquisa. Entendo, como Maria Cecília de Souza Minayo (2000) que metodologia

“(...) inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo do pesquisador.

Enquanto abrangência de concepções teóricas de abordagem, a ciência e a metodologia caminham juntas, intrincavelmente engajadas. Por sua vez, o conjunto de técnicas constitui um instrumental secundário em relação à teoria, mas importante enquanto cuidado metódico de trabalho. Elas encaminham para a prática as questões formuladas abstratamente.” (MINAYO, 2000,

p. 22)

A referência central para as escolhas sobre os procedimentos que seguem vem das intenções que levaram este trabalho a existir, de forma a guardar coerência entre o que é pensado e o que é realizado (FREIRE, 1992). Na busca dessa coerência, entendo que para pesquisar transformações urbanas em áreas ocupadas por população de baixa renda, refletindo sobre processos de construção de autonomia das pessoas envolvidas, devo partir da premissa do respeito para com elas e do reconhecimento de sua autonomia para “conduzir sua própria vida”.

Assim, minha inserção como pesquisador em uma dada realidade deve manter estrita coerência com o que penso e procuro entender. Segundo as discussões da linha de pesquisa “Práticas Sociais e Processos Educativos”, da qual faço parte, esta coerência é que deve conduzir as ações do pesquisador no campo, de forma a fortalecer vínculos de respeito e honestidade entre os envolvidos na pesquisa. Essa

é uma diretriz da linha de pesquisa, baseada nas principais referências teóricas da mesma: Paulo Freire, Enrique Dussel e Ernani Maria Fiori.

Embora não tenha encontrado, em nenhum dos textos que li destes autores, referências diretas sobre metodologias de pesquisas acadêmicas, acredito que tais autores contribuem diretamente para minhas escolhas metodológicas, já que encontro neles subsídios para pensar as abordagens desta pesquisa, e, mais especificamente, a maneira como ela é realizada. Os pressupostos de transformação da realidade social e de libertação das condições de opressão do ser humano, que considero presentes nos textos que li dos três autores48 e que, de certa

forma, articulam sua produção, também pretendo que estejam presentes aqui. Esta é, portanto, uma contribuição teórica fundamental para minhas escolhas metodológicas, já que, com estes pressupostos, mantendo aquela coerência anteriormente mencionada, minhas ações de pesquisa não podem procurar outro fim.

Tais pressupostos balizam as escolhas nos diversos níveis deste trabalho, envolvendo as opções sobre o campo da pesquisa em si, sobre como interagir nele e ainda sobre como lidar com os dados levantados nesta interação. Em especial, considero que Paulo Freire (1987), principalmente na sua “Pedagogia do Oprimido”, contribui diretamente para a concepção desta metodologia, tanto no Capítulo 1 (“Justificativa da pedagogia do oprimido, A contradição opressores- oprimidos. Sua Superação”), quanto no Capítulo 3 (“A dialogicidade, essência da educação como prática da liberdade”).

Sobre a escolha de pressupostos teóricos para o desenvolvimento de pesquisas, Howard Becker (1992) diz:

“Um problema sério que se coloca para qualquer investigador sociológico que deseja estudar um grupo ou comunidade é a escolha de uma estruturação teórica que oriente sua abordagem. Uma organização ou grupo pode ser visto de muitas maneiras diferentes; nenhuma delas é a certa, mas nenhuma é errada, elas são simplesmente alternativas e talvez complementares.”

(BECKER, 1992, p. 40)

Como primeira definição, com relação à discussão mais ampliada de metodologia, acredito que a opção mais adequada para este trabalho - em função do próprio objeto em si, da questão de pesquisa que me propus a responder e dos objetivos do mesmo - é por uma análise qualitativa. Para este estudo, interessa não a quantidade de determinadas ocorrências, mas sim as ocorrências em si e a maneira como se dão. Assim, os dados com que pretendo trabalhar têm uma natureza mais qualitativa do que quantitativa.

Refletindo sobre os cientistas sociais que estudam metodologias de pesquisas nas áreas das ciências humanas, Howard Becker (1992) aponta:

“(...) pode-se discernir facilmente um padrão comum: uma preocupação com métodos quantitativos, com a concepção a priori da pesquisa, com técnicas que minimizem as chances de obter conclusões não confiáveis devido à variabilidade incontrolada de nossos procedimentos. Seria excessivamente extremo dizer que os metodólogos gostariam de transformar a pesquisa sociológica em algo que uma máquina pudesse fazer? Acho que não, pois os procedimentos que eles recomendam têm todos em comum a redução da área em que o julgamento humano pode operar, substituindo este julgamento pela aplicação inflexível de alguma regra de procedimento.” (BECKER, 1992, p. 19)

Acredito que o comportamento “mecanizado”, criticado acima, não viabilizaria uma coleta de dados satisfatória para esta pesquisa, porque, para atingir seus objetivos, faz-se necessário uma grande aproximação ao campo, desenvolvendo uma coleta que possibilite lidar com as intersubjetividades das pessoas envolvidas no caso pesquisado, o que demanda uma postura mais flexível e adaptável às necessidades de coleta, como é possível verificar neste trecho em que Alda Judith Alves-Mazzotti e Fernando Gewandsznajder (1998) falam da diversidade das pesquisas qualitativas:

“(...) as investigações qualitativas, por sua diversidade e flexibilidade, não admitem regras precisas, aplicáveis a uma ampla gama de casos. Além disso, as pesquisas qualitativas diferem bastante quanto ao grau de estruturação prévia, isto é, quanto aos aspectos que podem ser definidos já no projeto.”

(ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 147)

A opção por desenvolver uma pesquisa qualitativa, no presente trabalho, vem acompanhada da opção por pesquisar um caso específico. Estas opções colaboram para a construção do desenho da pesquisa, que pretende discutir questões gerais a partir de uma avaliação específica dos dados coletados no campo. O estudo de caso é um instrumento de pesquisa muito adequado para este trabalho, já que parte de informações coletadas em uma dada realidade, dando maior validade e profundidade para as informações da pesquisa.