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Para fazer um estudo de caso a partir da minha questão e de meus objetivos de pesquisa, tendo como alicerce teórico os referenciais da linha de pesquisa “Práticas Sociais e Processos Educativos” já mencionados, por uma questão de coerência, tenho a necessidade de envolvimento com as pessoas envolvidas no caso pesquisado e com a experiência do processo de transformação urbana em que estão inseridas, para então tentar compreender como esta transformação pode trazer reflexos para a vida das pessoas e suas relações com o mundo.

Assim sendo, optei pela observação participante enquanto um dos procedimentos de coleta, levando em conta: os conceitos e a linha teórica do trabalho, as ferramentas que me estão disponíveis no momento, o tempo viável para uma pesquisa de mestrado, a possibilidade da coleta de dados atingir seus objetivos e a flexibilidade que este método permite, como será explicitado a seguir.

“O observador participante coleta dados através de sua participação na vida cotidiana do grupo ou organização que estuda. Ele observa as pessoas que está estudando para ver as situações com que se deparam normalmente e como se comportam diante delas. Entabula conversação com alguns ou com todos os participantes desta situação e descobre as interpretações que eles têm sobre os acontecimentos que observou.” (BECKER, 1992, p. 47)

Considero que esta compreensão, assim como a de Alda Judith Alves-Mazzotti e Fernando Gewandsznajder (1998) que segue abaixo, apresenta vários indícios de aproximação entre a observação participante e a linha teórica deste trabalho. Ambas as citações apresentam a inserção do pesquisador como partícipe da realidade estudada, o que possibilita relações horizontais com os integrantes da prática social pesquisada, algo que só se concretiza com respeito aos mesmos.

“Na observação participante, o pesquisador se torna parte da situação observada, interagindo por longos períodos com os sujeitos, buscando partilhar o seu cotidiano para sentir o que significa estar naquela situação.” (ALVES-MAZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 167)

A partir desta perspectiva de inserção direta na realidade a ser pesquisada, passo então a me preocupar com o modo de realizar efetivamente minha coleta de dados como um observador participante. São diversas as possibilidades de coleta implícitas a este tipo de metodologia, como é possível perceber na reflexão de Howard Becker :

“Erroneamente pressupomos que os observadores têm que estar estudando a mesma coisa porque supomos que apenas uma estrutura social está presente numa organização ou comunidade. Isto é verdade num certo sentido mais geral. Todas as pessoas que ocupam uma área geográfica dada ou um edifício específico que abriga uma dada organização realmente constituem uma grande estrutura social. Porém, a estrutura global contém unidades menores, e a diferença entre dois estudos de campo da mesma coisa pode residir na ênfase diferenciada dada a uma ou outra destas unidades menores.” (BECKER, 1992, p. 67)

Tendo como baliza prévia a questão de pesquisa já mencionada49, entendo que, no processo de desenvolvimento do trabalho,

as opções que vão sendo tomadas em campo devem manter coerência entre si e com os objetivos do mesmo. Muitas outras opções de pesquisa podem aparecer a partir das inserções no campo, o que ressalta a importância de se utilizar as primeiras inserções de forma mais exploratória, para refinar a estrutura da coleta de dados e evitar incompatibilidades entre o referencial teórico e o procedimento metodológico utilizado.

Nesse sentido, considero fundamental, ao pesquisador, ir aproximando-se gradativamente do campo, aberto ao que poderá encontrar, sem pré-determinar totalmente o que irá pesquisar e de que maneira deverá fazê-lo, pois, ao estruturar sua análise sem ter por base os dados de campo, estará correndo grandes riscos de forçar um enquadramento dos dados em uma estrutura de análise já definida previamente.

“A focalização do problema e a adoção de um quadro teórico a priori turvam a visão do pesquisador, levando-o a desconsiderar aspectos importantes que não encaixam na teoria e a fazer interpretações distorcidas dos fenômenos estudados.” (ALVES-

MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 148)

A primeira etapa do estudo de caso deve, portanto, ser uma aproximação ao campo, momento em que serão exploradas as possibilidades e levantadas informações importantes para, então, planejar a coleta de dados, ajustando os instrumentos às possibilidades verificadas. Essas visitas iniciais ao campo devem ser relatadas em diário de campo, e irão compor, juntamente com o referencial teórico da pesquisa, as informações que alimentam o planejamento da coleta de dados.

Para complementar as informações coletadas e diminuir os

riscos de interpretações distorcidas, considero importante, também, trabalhar com outras fontes de dados, que não apenas a observação e sua descrição em diário de campo, tais como a realização de entrevistas com as pessoas que participam do campo estudado, além da coleta e análise de documentos como fontes complementares, seguindo as possibilidades apontadas por Alda Judith Alves-Mazzotti e Fernando Gewandsznajder (1998, p. 167): “Em outras etapas, porém, o observador participante, tipicamente, combina a observação com entrevistas e análise de documentos.”

Com estes dois instrumentos, observação com descrição em diário de campo e entrevistas gravadas e transcritas, acredito conseguir atingir os objetivos da coleta de dados, reunindo informações suficientes para esta pesquisa. Considero que estes instrumentos são adequados para coletar dados bastante complexos, conforme citado abaixo:

“(...) as pessoas que um pesquisador de campo estuda (...) estão enredadas em relações sociais que são importantes para elas, no trabalho, na vida da comunidade e em qualquer outro lugar. Os eventos de que participam importam para elas. As opiniões e ações das pessoas com quem interagem têm que ser levadas em consideração, porque elas afetam estes eventos. Todas as restrições que as afetam em suas vidas comuns continuam a operar enquanto o observador observa.” (BECKER, 1992, p. 75)

A utilização de mais de um instrumento de coleta, como adotei neste trabalho, possibilita a triangulação de métodos, que é uma importante maneira de validação das informações coletadas. Outra triangulação importante é a de fontes, entrevistando pessoas em situações diversas de participação na prática social estudada.

“Quando usamos diferentes maneiras para investigar um mesmo ponto, estamos usando uma forma de triangulação. Denzin (1978) apresenta quatro tipos de triangulação: de fontes, de métodos, de investigadores e de teorias.” (ALVES-MAZZOTTI;

Estas triangulações possibilitam comparar as informações coletadas, o que viabiliza a verificação dos dados e as possíveis interpretações para incompatibilidades existentes.

Outro importante meio de checagem de dados é a apresentação, para os integrantes da pesquisa, das conclusões e interpretações alcançadas a partir dos dados coletados. Considero que, além de meio de checagem, esta é uma atitude de respeito imprescindível para uma pesquisa como esta.

“Considerando-se que a abordagem qualitativa procura captar os significados atribuídos aos eventos pelos participantes, torna-se necessário verificar se as interpretações do pesquisador fazem sentido para aqueles que forneceram os dados nos quais essas interpretações se baseiam.” (ALVES-MAZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 172)

Em síntese, até aqui apresentei, de uma maneira geral, as opções metodológicas, os instrumentos utilizados na coleta de dados e os meios de validação e checagem, de forma relacionada ao referencial teórico que baliza tais opções. Antes de apresentar a estrutura de coleta específica utilizada nesta pesquisa, considero importante caracterizar de forma preliminar o campo estudado, já que as adequações metodológicas têm relação direta com a realidade do mesmo.