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eus mestres, quer dizer, meus instrutores nas coisas da vida, foram meu pai e Cedaior. Cedaior conheci quando cheguei, depois da Primeira Guerra Mundial, ao Hemisfério Sul. Suas ideias de uma Nova Era, com uma humanidade mais consciente, me deslumbraram após tudo a que tinha assistido na guerra, criando a esperança de um mundo melhor com uma vida consciente. Eu tinha 22 a 23 anos de idade. Deixei tudo, casei moça, filha de pastor protestante, alemã, com um sábio de 53 anos, francês, filósofo, violinista, astrólogo, entregando-me de corpo e alma a esse ideal, dois meses depois de eu ter chegado na nova terra.

É apenas para dar mais força quando falo sobre o que ele ensinava que eu o chamo de “meu mestre”. Não para endeusar ou elevá-lo, mas sim para relatar experiências de maior vivência em que ele me orientava. Ele me dizia: “nunca me chame de mestre e se alguém te chama ou se chama de mestre, foge dele!”

A uma viúva que me perguntou “meu marido, lá em cima, é mestre?” respondi: ele se encontra diante de outro mestre e nós sempre somos aprendizes.

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Quando eu fazia uma pergunta a Cedaior, ele nunca me respondia

por uma ideia própria, por um dogma. Ele sempre formulava outra pergunta para me fazer refl etir, estudar e procurar, até que me conscientizava. Por exemplo: eu não consigo entender a vida! Onde está a justiça divina? Resposta: “olhe as leis matemáticas do universo. Será que tu podes observar este maravilhoso relógio sem admirar a existência e suprema inteligência do relojoeiro?”

Quando eu perguntei “que religião queres que eu dê aos nossos fi lhos?”, ele respondeu: “a uma criança somente podes fazer acreditar o que ela vê e conhece. O Pai que tudo lhe dá e, como Moisés a um povo de pastores do campo, somente se pode explicar grandes conhecimentos de cosmogonia e criação do mundo em sete dias (fases evolutivas) através do Pai que tudo criou. Mas haverá o dia em que teu fi lho não acreditará mais na forma que Moisés deu à humanidade na sua infância e te responderá: eu acredito somente na minha consciência! E virá o dia em que ele não vai querer mais dar nome ao que sente e sabe como existente, porque dar nome é blasfemar, limitar o que é infi nito, ilimitado, e silenciará diante do que venera!”

Ainda em 1925, logo depois que nos casamos, seguimos para Catalão em Goiás, onde formaríamos uma comunidade com um núcleo de pessoas que tinham se transferido da Suíça para a América do Sul, convictos de que aqui seria o berçário do novo mundo. Lá ouvi falar em Krishnamurti, o jovem que seria o novo Messias, o salvador do mundo, segundo a opinião da Teosofi a. Eu fi quei desesperada. Onde me meti! Na boca do anticristo! Porque Jesus diz que no “Fim do Tempo” levantar-se-ão falsos profetas. Eu chorava, queria voltar, desesperada por ter tomado o caminho errado. Cedaior procurava me

acalmar dizendo: “ele não deu ainda a sua mensagem. Espere. Quando ele der essa mensagem, tu saberás se podes aceitar ou não.” Pouco tempo depois ocorreu o congresso da ordem da Estrela do Oriente, em Haia, quando então o jovem que tinham educado para ser o salvador do mundo, subiu ao púlpito e declarou: eu dissolvo esta ordem. Eu não sou mestre de ninguém. Vocês não precisam de mestres porque cada um tem o seu mestre interno e não precisam de muletas! Eu não me lembro mais do texto exato de sua mensagem, mas eu sinto ainda hoje o alívio e a alegria que me inundou naquele momento. Ele deu a mensagem certa!

Cada um tem o seu mestre interno. Teu mestre é meu mestre, nossos mestres são a consciência, a luz divina que brilha em todos os seres, em toda a Criação e que mais cedo ou mais tarde se manifesta. A consciência da existência divina que nos dá, em todas as formas da Criação, os poderes e as forças! O Pai que tudo nos dá!

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ivendo em contato com os filósofos e pesquisadores, na busca de encontrar uma forma de educação, orientação e autoconhecimento para uma humanidade com uma vida mais feliz, dediquei-me ao estudo da Astrologia, porque ela nos revelava as condições básicas de cada indivíduo, qual o seu direito de ser conforme as condições de seu nascimento. Não estudei Astrologia para prever e predizer o futuro, mas para compreender as diversas manifestações da vida.

Por consequência de uma enchente, perdemos toda a valiosa biblioteca de Cedaior e somente ficamos com três livros: uma bíblia, um livro de efemérides de Flambart – de 1800 a 1930, indicando a posição do sol e da Lua de 10 em 10 dias – e um compêndio sobre criação de abelhas. A fé, a ciência e o trabalho da natureza! Não me baseei em estudos e interpretações do passado. Somente calculei e observei a vida ao meu redor. Cada acontecimento foi pesquisado e analisado. Sim, eu tinha a sabedoria ao meu lado que somente me respondia por meio de outras perguntas, que me obrigava a pesquisar mais. Cedaior me dizia: “eu não quero que tu analises os efeitos de uma causa. Eu quero que tu encontres a causa!”

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Hoje eu reconheço que a perda da biblioteca foi um bem para

mim. Mais tarde, quando encontrava livros de Astrologia, estes me entristeciam. Cheguei também à compreensão de porque as interpretações são tão diferentes. Minha convicção era que tudo parte do princípio único da perfeição, que deve estar presente em toda variação da forma. Se o Criador é perfeito, criação e criatura devem ser perfeitas. Assim como uma máquina produz obra imperfeita, a máquina ou a inteligência do inventor dessa máquina falhou, assim não podemos separar a criatura da perfeição do Criador. Mas o homem observou as estrelas, comparando-as com fenômenos de vida na Terra e criou seus deuses bons e maus. Depois declarou: Não. Deus é um só, perfeito, e criou o homem à sua semelhança: a natureza é que causa os erros. Mais tarde disse: Deus criou a natureza, o homem não presta. Para, por fi m, afi rmar: o homem é a natureza. Deus não existe.

No documento O QUE O CÉU E OS HOMENS ME ENSINARAM (páginas 30-35)

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