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Mapa 1 – Mapa Político da Índia

2 GRANDE ESTRATÉGIA E ASCENSÃO DE GRANDES POTÊNCIAS:

2.4 PODER MILITAR: ASSEGURANDO A DISSUASÃO

As pressões geopolíticas exercem forte influência sobre a iniciativa dos Estados em emularem o poder militar de outras potências. Dentre as interações que compõem o Sistema Internacional, nenhuma é mais importante do que o fenômeno da Guerra. Embora esteja presente de maneira mais sutil e menos fungível em relação à influência econômica ou política, o poder militar é o único meio de garantir fisicamente a proteção do Estado contra ameaças estrangeiras. Além disso, é o poder militar que garante, em última instância, o cumprimento dos fluxos comerciais e dos acordos diplomáticos (ART, 2004). O poder militar também pode ser usado para a proteção de aliados ou para compelir adversários (DANILOVIC, 2002).

Conforme ampliam a base de recursos disponíveis na sociedade, os Estados periféricos encaram um novo desafio: garantir a modernização militar e a recuperação da distância em relação às Grandes Potências. Neste sentido, a função teleológica da modernização militar é

adquirir capacidade de dissuasão26. Discutimos dois fatores relevantes para a construção de

poder militar e capacidades dissuasórias: a) emulação militar;

26

O conceito de dissuasão é entendido como a capacidade em infligir temor a um potencial adversário de que uma agressão será resistida e respondida à altura, causando sérios danos retaliatórios. A dissuasão é considerada efetiva quando impede ataques de outros Estados.

b) evolução do poder dissuasório.

O primeiro tópico diz respeito à construção de forças armadas modernas, levando em consideração os constrangimentos ou incentivos externos e domésticos. O segundo analisa as mudanças em tecnologia militar e no papel da dissuasão desde a retaliação nuclear até a digitalização da Guerra.

2.4.1 Emulação militar

Como observamos anteriormente, o dilema de segurança para a periferia emergiu por meio de uma dinâmica diferente, onde a legitimidade era reconhecida externamente, mas não no plano doméstico. Para a maioria destes países, o padrão de aquisições militares e mesmo de doutrina das Forças Armadas foi fortemente influenciado por três fatores:

a) dependência econômica externa, a qual leva a regimes fracos onde a população é mais uma ameaça, do que um recurso;

b) dependência de assistência militar externa, a qual incentiva as elites a adotarem uma definição de segurança similar a dos seus “patrões”;

c) dependência da cultura militar estrangeira, a qual molda as ideias das elites sobre o que constitui um exército “moderno” (BARNETT; WENDT, 1993, p. 322). Devido a esta condição de dependência geopolítica, muitos países periféricos adotaram exércitos reduzidos e tecnologicamente modernos. Este perfil de força drenava suas economias escassas em oferta de capital e produzia dependência externa. Do outro lado do espectro, alguns países adotaram exércitos de massas (China maoísta, Irã e Vietnã), que eventualmente venceram ou dissuadiram Estados mais poderosos (BARNETT; WENDT, 1993, p. 322).

Numa via intermediária, grandes países da periferia (Brasil, China e Índia), adotaram modelos híbridos entre a adoção de equipamentos modernos e a manutenção de grandes contingentes de tropas. Estes três países escaparam à dependência econômica e política sob potências externas justamente porque adotavam um modelo de endogeneização industrial e tecnológica da produção militar. Isto só foi possível por suas características diferenciadas em relação aos demais países periféricos: um Estado moderno funcional (coeso ou fragmentado), grandes populações, planejamento econômico, diversificação do parque industrial, promoção das indústrias de defesa e investimento em P&D.

Do ponto de vista da cultura estratégica, Brasil, China e Índia possuem trajetórias diferentes, mas que refletem alguns pontos em comum. Seus vastos territórios e populações são parte importante do poder dissuasório, pois dificultam a invasão e a ocupação por eventuais adversários. Por outro lado, é difícil manter o controle central e a estabilidade política de regiões distantes e diversas. Dada a condição periférica e a extensão territorial, todos os três países citados adotaram uma cultura estratégica defensiva, baseada na defesa da soberania e na primazia do poder terrestre (VALLADÃO, 2012, p. 93).

O Exército se tornou a arma mais forte, subordinando as demais armas (Força Aérea e Marinha). Suas missões também incluem uma vasta gama de deveres domésticos, desde operações de polícia e repressão de insurgências, até tarefas de construção do Estado, como obras de infraestrutura e prestação de serviços sociais. Por conta disso, as aquisições militares geralmente estiveram restritas a capacidades defensivas. As marinhas se desenvolveram muito pouco e estiveram atreladas à defesa costeira. As capacidades de guerra aérea se desenvolveram com base em helicópteros, aeronaves táticas, mísseis superfície-ar e canhões antiaéreos. Suas demandas eram ajustadas conforme o cenário de ameaças externas. A China teve de se preocupar com ofensivas das duas superpotências; a Índia preparou-se para guerras de fronteira com China e Paquistão; e o Brasil priorizou as missões domésticas de controle do espaço aéreo (VALLADÃO, 2012 , p. 94).

Os países periféricos buscaram diferentes estratégias de aquisições em defesa no período da Guerra Fria. Alguns barganharam alianças com as duas superpotências, beneficiando-se da transferência de armamentos na lógica da competição bipolar. Outros adotaram uma política mais autônoma, recorrendo ao desenvolvimento endógeno de alguns equipamentos e a transferências tecnológicas pontuais (SCHULTE, 2012; SCHMIDT, 2013).

No período pós-Guerra Fria, a queda dos orçamentos em defesa nos países desenvolvidos gerou uma necessidade de reorganização do setor, que perdeu em escala produtiva. A base industrial de defesa (BID) nos países da OTAN passou a se concentrar na manutenção da superioridade tecnológica por meio da inovação. Muitas empresas buscaram novos compradores para seus produtos menos sofisticados, diminuindo seus constrangimentos orçamentários. As empresas tradicionais de defesa foram obrigadas a buscar novos parceiros e, muitas vezes, transferir a produção sob licença para países menos desenvolvidos. Em suma, a oferta de tecnologia militar aumentou bastante em relação ao período da Guerra Fria (INBAR; ZILBERFARB, 1998; SCHMIDT, 2013).

No entanto, o principal desenvolvimento foi o avanço da participação da produção civil nas empresas militares e a entrada de empresas civis na produção de tecnologias de uso dual (civil-militar). Assim, houve a diluição dos custos produtivos entre os gastos com defesa e os ganhos comerciais associados. Alguns exemplos são equipamentos de informação e comunicação, eletrônica digital, aeronáutica, satélites, entre outros (SCHMIDT, 2013). Isto abriu oportunidades aos grandes países da periferia, que puderam justificar o investimento no setor de defesa pelos spill overs gerados para o restante da economia.

Richard Samuels (1994) analisa o caso do Japão para demonstrar a importância da relação entre as economias civil e militar. Mesmo fazendo poucos investimentos diretos no setor de defesa, o Japão se tornou um dos maiores inovadores e produtores de tecnologias de uso dual. O uso estratégico da tecnologia acaba determinando os rumos da industrialização de um país. No caso japonês, Samuels conclui que o planejamento governamental aumentou as capacidades tecnológicas de duas formas complementares: estimulando a difusão de tecnologia entre as aplicações civis e militares; e incorporando a produção militar na economia civil.

Dentre os países fora do núcleo ocidental, quatro grandes países enxergam a indústria de defesa como parte relevante de sua estratégia de desenvolvimento: Brasil, China, Índia e Rússia. Historicamente, os russos possuem a base industrial de defesa mais diversificada e intensiva em tecnologia, sendo líderes no setor aeroespacial. A China, devido à base industrial extensa e dinâmica, tem modernizado rapidamente a sua BID. A endogeneização tecnológica chinesa tem sido feita basicamente pela engenharia reversa dos equipamentos russos. Por isso, a China está passando de cliente a competidor da Rússia no mercado global de armas. A Índia tem se esforçado para endogeneizar as tecnologias militares, mas ainda depende de fornecedores externos. Os indianos são tradicionais clientes russos, mas têm se voltado para novos parceiros, destacando-se os Estados Unidos e Israel. A BID do Brasil ainda está em processo de amadurecimento (SCHULTE, 2012, p. 523).

2.4.2 A evolução da dissuasão: das armas nucleares à digitalização

A questão do poder militar tem recebido cada vez mais contribuições do campo de Estudos Estratégicos, que envolve questões relacionadas à preparação e à condução da Guerra, frequentemente utilizando a teoria da guerra de Clausewitz como ponto de partida. A abordagem dos Estudos Estratégicos sofreu com períodos altos e baixos dentro da academia,

sendo muitas vezes negligenciada pelo campo de Relações Internacionais e pelos próprios estrategistas militares, que passaram a adotar modelos mais técnicos e afastados da política (PROENÇA JÚNIOR; DUARTE, 2007).

A utilização dos Estudos Estratégicos diminui o risco de uma análise superficial sobre capacidades militares, que leve em conta apenas o volume de gastos militares e a quantidade e qualidade dos armamentos à disposição de um país. Além disso, a Guerra sempre será uma extensão da atividade política, estando sujeita internamente aos interesses, percepções e opiniões do Estado e da sociedade; e sujeita externamente aos constrangimentos e realinhamentos da política internacional. Por estes motivos e pelo resgate da observação do fenômeno da Guerra, esta abordagem será utilizada no estudo atual.

Desde o término da II Guerra Mundial, EUA e URSS dominaram as inovações, a difusão de tecnologia militar e os regimes de controle de armas. Os dois países, apesar de estarem em conflito ideológico e principalmente por influência política, criaram uma ordem internacional que variava entre a diarquia e a oligarquia. O sistema da Guerra Fria consistiu em duas zonas de influência bem delimitadas na Europa e relativamente disputadas no Terceiro Mundo (WALLERSTEIN, 2010). Enquanto isso, as principais potências nucleares avançaram na construção de regimes para impedir que os demais países tivessem acesso a este tipo de tecnologia para uso militar. O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), assinado em 1968, foi um marco para os regimes internacionais de controle de armas. Em suma, a não proliferação serviu como instrumento para a manutenção do status quo.

Durante a Guerra Fria, o instrumento da dissuasão e a própria distribuição de poder no Sistema Internacional foram determinados pela posse de armamentos termonucleares e pela capacidade de segundo ataque (ou retaliação) nuclear. Atualmente, esta capacidade é garantida pela chamada tríade nuclear: mísseis balísticos intercontinentais, submarinos nucleares e bombardeiros estratégicos. A lógica da oligarquia militar permanece, embora tenha havido uma redução de assimetrias entre as principais potências (WALTZ, 2004; CEPIK; AVILA; MARTINS, 2009, p. 50). Somente China, Estados Unidos e Rússia possuem a tríade nuclear, enquanto a Índia aproxima-se cada vez mais desta condição (LELE; BHARDWAJ, 2013).

O equilíbrio estratégico nuclear apenas comprova que uma Grande Potência seria capaz de promover danos catastróficos ao inimigo. No entanto, é possível que a dissuasão nuclear incida apenas sobre os cálculos em um primeiro ataque nuclear, mas não sobre as chances de guerra convencional (JERVIS, 2004). Se preferirmos adotar a visão de Kenneth

Waltz (2004), a posse de armas nucleares diminui as chances de guerra central, mas não torna a guerra impossível, nem obriga os países a uma troca de golpes nucleares em caso de guerra. O próprio caso da Guerra de Kargil (1999) entre Índia e Paquistão é um exemplo prático de guerra não nuclearizada entre dois Estados com capacidades nucleares.

Portanto, é necessário considerar a hipótese de guerra convencional no Século XXI a partir do fenômeno da digitalização. Nas últimas décadas, avanços tecnológicos alteraram a constituição do equilíbrio militar global (MARTINS, 2008). A digitalização criou um hiato entre países que possuem a capacidade de travar um combate em condições informatizadas e aqueles que não a possuem. Isto ficou claro a partir da Guerra do Golfo (1990-1991), onde os EUA testaram e revelaram a eficiência de seus sistemas modernos de Comando e Controle (C2), cuja evolução levou ao novo conceito de Comando, Controle, Comunicações, Computadores, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (C4ISR).

O chamado Comando do Espaço27 é fruto, atualmente, de três características centrais:

a) Satélites de Comunicação - para comando, controle e distribuição de dados às redes componentes;

b) Satélites de Posicionamento - para orientação e navegação de unidades terrestres, marítimas ou aéreas e principalmente para guiagem de armas;

c) ISR (Inteligência, Vigilância e Reconhecimento) - produz consciência de situação para gerenciamento de batalha em tempo real (RIBEIRO, 2015b, p. 71).

Em suma, além das capacidades nucleares, é essencial a uma Grande Potência que ela obtenha Comando do Espaço, do contrário estará vulnerável a outra potência que possua melhor consciência de situação, maior precisão de ataque e melhor organização e comunicação.

A digitalização alterou profundamente os processos produtivos (Terceira Revolução Industrial) proporcionando novos desafios para a condução da guerra, principalmente para o gerenciamento de batalha por meio do Comando do Espaço. Segundo Érico Duarte (2011, p. 73), a tradução da digitalização para as forças armadas é a “capacitação, por meio de computadores e redes, de todos os armamentos e soldados, de modo que todos saibam o que todos estão fazendo”. O domínio do espaço de batalha seria condição importante para detectar mais rapidamente as ameaças e responder “com o mínimo de contato com forças oponentes e o máximo de precisão e eficiência”.

27 Comando do Espaço é a capacidade de garantir o acesso e uso do espaço sideral, para fins civis ou militares, de forma autônoma (CEPIK, 2013).

Do ponto de vista da produção e da logística, a digitalização reduz a quantidade de carga embarcada e aumenta a letalidade e o rendimento dos armamentos. Ou seja, diminuem os custos da cadeia de suprimentos e de sustentação das operações militares. Por outro lado, o custo unitário dos equipamentos aumentou, o que mantém a exigência da produção em escala. Cabe notar que não há como prever a duração ou a escala de qualquer conflito armado, mesmo que se tenha uma estimativa inicial. Deste modo, mantém-se a importância das taxas de atrito e do lastro econômico produtivo para o esforço de guerra (MARTINS, 2008; SCHULTE, 2012).

O interesse pelo papel transformador da tecnologia na esfera militar deu origem, no campo dos Estudos Estratégicos, à literatura sobre Revoluções nos Assuntos Militares (RMA). Krepinevich (1994) propôs uma formulação teórica contendo quatro elementos para a RMA: mudança tecnológica, desenvolvimento de sistemas, inovação operacional e adaptação organizacional. Ou seja, a nova tecnologia somente é materializada quanto for incorporada à doutrina militar através de inovações organizacionais e operacionais.

Deste modo, cabe ressaltar que o simples emprego de equipamentos tecnologicamente avançados não garante sucesso operacional. Stephen Biddle (2006) argumenta que a mudança tecnológica implica em diferentes resultados conforme o seu uso. Quando mal utilizada, a tecnologia pode diminuir a capacidade combatente. Deste modo, a forma de emprego da força também é central para o sucesso na guerra moderna (DUARTE, 2011).

Obviamente, os Estados Unidos são referência no processo de inovação e de reorganização militar a partir da introdução de novas tecnologias. No entanto, Duarte (2011) alerta que não é possível tomar o exemplo como uma regra a ser seguida. O perfil específico de força dos EUA (profissional, reduzido e expedicionário) refere-se aos objetivos estratégicos particulares deste país. Além disso, a condução da reorganização militar nos Estados Unidos (veículos não tripulados, armas cibernéticas e espaciais, priorização de forças especiais, entre outros) ainda é contestada no plano doméstico (SILVA; LIEBERT; WILSON, 2014; O’HANLON, 2015).

Diante destas críticas, é necessário refletir sobre a inovação tecnológica na Guerra sob o viés dos Estudos Estratégicos. Em outras palavras, é necessário que o perfil de força e as condições de uso da força (doutrina militar) adotados por um país atendam a seus objetivos político-estratégicos. Por isso, deve-se levar em consideração também os processos humanos e sociais, o oponente a ser enfrentado, o ambiente geopolítico, as motivações do conflito, o caráter defensivo ou ofensivo da guerra e das operações, entre outros (POSEN, 2004). Aqui,

portanto, é estabelecida a relação entre tecnologia, poder militar e a Grande Estratégia, intermediada pela doutrina militar.

Nas últimas décadas, devido à incontestável superioridade tecnológica e militar, os EUA possuem o chamado Comando dos Comuns (Comando do Ar, do Mar e do Espaço) (POSEN, 2003). Este comando possibilita aos estadunidenses manter sua soberania intocada por outras potências, uma hegemonia regional incontestável e a capacidade de projeção de força para qualquer parte do mundo. A tarefa atual dos Estados Unidos seria conter a busca por hegemonia regional de potências em outras regiões (MEARSHEIMER, 2001). Partindo deste ponto, restaria às outras Grandes Potências buscar a inviolabilidade de seus territórios e gradualmente construir meios redundantes de dissuasão, criando “zonas contestadas” onde a vitória americana seria incerta e custosa.

Um exemplo é o emprego das estratégias assimétricas de Anti-Acesso e Negação de Área (Anti-access/Area Denial - A2/AD). Anti-Acesso implica o uso de medidas assimétricas e de interdição para evitar a entrada do adversário no teatro de operações. Negação de área significa limitar a liberdade de ação de um invasor em uma área específica (BRITES; MARTINS; SILVA, 2013, p. 5). Em terra, as operações são realizadas por artilharia, foguetes e mísseis de curto/médio alcance. No mar, são empregados mísseis antinavio (cruzadores ou balísticos) e submarinos com torpedos e mísseis cruzadores. Próximo à costa, são empregados: minas marítimas, submarinos de baixa autonomia e mais ruidosos, pequenos navios torpedeiros e lanchas de ataque rápido. No caso do poder aéreo, importam os aviões caça, bombardeiros e helicópteros com mísseis antinavio e antissubmarino (KREPINEVICH, 2010, p. 10).

Percebendo a superioridade militar e tecnológica estadunidense, a China passou a empregar o uso do poder de fogo massivo e da dispersão de suas plataformas de combate nos teatros de guerra. Conforme aponta Hughes (2010), quando um dos lados possui precisão inferior, este pode compensar com maior poder de fogo (mais disparos); e com um número maior de plataformas, ou seja, mais unidades disparando simultaneamente e mais alvos a serem descobertos e neutralizados pelo inimigo. Devido ao aumento da letalidade dos armamentos com a digitalização, é possível causar danos profundos a grandes plataformas com poucos acertos.

No caso do poder aéreo, aviões caça de quarta geração com equipamentos de comando e controle modernos podem ser fortes competidores aos novos caças de quinta geração, ainda em desenvolvimento. Destaca-se a utilização da tecnologia de mísseis Ar-Ar Além do

Alcance Visual (Beyond Visual Range) e, para operações aeroterrestres, os vários tipos de munição guiada de precisão. Não podemos esquecer também a importância dissuasória dos modernos sistemas antiaéreos de Mísseis Superfície-Ar (SAM), como os russos S-300 e S- 400.

A tecnologia Stealth empregada inicialmente pelos caças estadunidenses representa certa vantagem, mas sua superioridade não é incontestável. Cabe questionar se o custo- benefício de aviões caça de quinta geração compensa o uso da massa em caças de quarta geração modernizados (os chamados 4.5 e 4.5+), que geralmente tem custo de produção muito inferior. Além disso, o ramo de aviação de combate exemplifica a tese de Gilpin (1981, p. 177-179) sobre a rápida difusão de tecnologia e o desenvolvimento desigual e combinado. Estes dois elementos fizeram com que a China pudesse desenvolver um avião caça de quinta geração (Chengdu J-20) ao mesmo tempo em que EUA e Rússia/Índia testam as suas versões (F-35 Lightning II e Sukhoi PAK FA, respectivamente).

A principal implicação política das estratégias de A2/AD é o aumento gradual do perímetro defensivo de um país, da capacidade de projeção de força e consequentemente da influência regional. Isto suscita estratégias de acomodação (ou bandwagoning) dos vizinhos menores, formando áreas de influência. Por outro lado, as demais Potências Regionais podem buscar alianças externas e outras formas de balanceamento.

Esta dinâmica vai ao encontro do debate de Mearsheimer (2001) sobre hegemonia regional: o objetivo de toda Grande Potência é ser o hegêmona de sua região (diluindo quaisquer ameaças imediatas) e impedir que outras potências desfrutem da mesma condição. A região da Grande Potência, neste caso, se torna uma zona estável e hierarquicamente ordenada pelo hegêmona, que pode voltar suas preocupações para assuntos de segurança extra-regionais.

Portanto, embora a hegemonia regional não seja uma condição sine qua non para o status de Grande Potência, fica claro que um país deste calibre deve ao menos apresentar-se como provedor de segurança e/ou procurar uma estratégia de dominância em sua região geopolítica. Esta estratégia, obviamente, pode ser gerida através de coerção, consentimento e da mistura de ambos.

2.5 A ORDEM HEGEMÔNICA DOS ESTADOS UNIDOS E A ASCENSÃO DE