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As Missões da União Africana e a obrigação de proteger a população civil – o contributo para

Subcapítulo I – Os conflitos armados em África e outras situações de tensão interna

2. A União Africana como ator na resolução dos conflitos armados no continente – o caso da

2.2. As Missões da União Africana e a obrigação de proteger a população civil – o contributo para

A proteção das populações civis, não foi uma preocupação imediata para missões da União Africana. A primeira missão organizada pela União Africana para responder a uma situação de grande instabilidade, no caso a uma guerra civil, foi a AMIB, Missão da União Africana para o Burundi, em 2003. O mandato da AMIB não contemplava a proteção de civis338.

336 Status of Mission Agreement (SOMA) between the Transitional Federal Government of the Somali Republic and The African Union on The African Union Mission in Somalia (AMISOM), Addis Ababa, p. 5, disponível em http://amisom- au.org/status-of-mission-agreement-soma/ [05/09/2014].

337 O que posteriormente foi reafirmado pela Resolução 2073, de 7 de novembro de 2012, do Conselho de Segurança da ONU. Nesta resolução, o Conselho de Segurança estende o mandato da AMISOM até 7 de março de 2013, durante o qual a AMISOM “shall be authorised to take all necessary measures, in compliance with applicable international humanitarian and human rights law, and in full respect of the sovereignty, territorial integrity, political independence and unity of Somalia”, para cumprir as obrigações elencadas na resolução. Cf. S/RES/2073, de 7 de novembro de 2012.

338 A AMIB tinha um mandato para: “act as liaison between the parties; monitor and verify the implementation of the

ceasefire agreement; facilitate the activities of the Joint Ceasefire Commission (JCC) and the Technical Committees responsible for the establishment of a new National Defence Force and Police Force; facilitate safe passage for the

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Em 2005, foi mobilizada para a região do Darfur, no Sudão, a AMIS, Missão da União Africana para o Sudão. Esta missão, face à situação particularmente difícil que enfrentavam as populações civis, contemplava a proteção de refugiados e pessoas deslocadas339.

No caso da AMISOM, a missão para a Somália, esta também não está mandatada, diretamente, para a proteção das populações civis340. No entanto, esta missão tem contribuído muito positivamente para a proteção das populações civis, como de resto tem sido saudado pelo Conselho de Segurança da ONU. Assim, a Resolução 2010, de 30 de setembro de 2011, na qual o Conselho de Segurança das Nações Unidas estende a missão africana até 31 de outubro de 2012, o Conselho:

Condemns all attacks against civilians in Somalia, calls for the immediate cessation of all acts of violence, including sexual and gender based violence, or abuses committed against civilians, including women and children, and humanitarian personnel in violation of international humanitarian law and human rights law and stresses the responsibility of all parties in Somalia to comply with their obligations to protect the civilian population from the effects of hostilities, in particular by avoiding any indiscriminate attacks or excessive use of force341 Saúda ainda os esforços da missão na redução das baixas civis decorrentes das operações militares:

Welcomes the progress made by AMISOM in reducing civilian casualties during its operations, urges AMISOM to continue to undertake its efforts to prevent civilian casualties and to develop an effective approach to the protection of civilians as requested by the African Union Peace and Security Council342

parties (during planned movement to the designed assembly areas); secure identified assembly and disengagement areas; facilitate and provide technical assistance to disarmament, demobilization and reintegration (DDR) processes; facilitate the delivery of humanitarian assistance; co-ordinate mission activities with the United Nations’ presence in Burundi; and provide VIP protection for designated returning leaders.” (Henry Boshoff, Dara Francis, “The AU Mission in Burundi. Technical and Operational Dimensions”, African Security Review, volume 12, n.º 3, 2003, http://www.issafrica.org/pubs/ASR/12No3/AWBoshoff.pdf [03/09/2014]).

339 Cf. Henry Boshoff, “The African Union Mission in Sudan. Technical and operational dimensions”, African Security Review, volume 14, n.º 3, 2005, http://www.issafrica.org/pubs/ASR/14No3/AWBoshoff.pdf [03/09/2014]. 340 “AMISOM Mandate”, African Union Mission for Somalia, disponível em http://amisom-au.org/amisom-mandate/ [06/09/2014].

341 S/RES/2010, de 30 de setembro de 2011. 342 S/RES/2010, cit.

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Em sentido semelhante, a Resolução 2093 (2013), de 6 de março de 2013, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, encoraja a missão de paz para adotar medidas de proteção e civis:

Encourages AMISOM to develop further an effective approach to the protection of civilians, as requested by the AU Peace and Security Council343

Não há contudo uma referência específica aos jornalistas nos mandatos das missões de paz. Eles são protegidos na medida em que são civis e, encaixam no que devem ser os esforços da AMISOM de proteção das populações civis na Somália. Mas há autores que defendem a inclusão de uma referência específica à proteção dos jornalistas nos mandatos das missões desta natureza. Nicholas Tsagourias defende a este propósito, que “[c]ombating the culture of impunity for crimes committed against journalists should also become part of the mandate of peacekeeping operations involved in post-conflict reconstruction”344. Atendendo que o Conselho de Segurança reconheceu e saudou o impacto positivo da AMISOM na redução de baixas civis durante a sua operação, bem como o seu papel fundamental na proteção das populações civis, parece-nos que a inclusão da proteção dos jornalistas nos mandatos das missões de paz pode efetivamente contribuir para um ambiente menos hostil para estes profissionais. Esta inclusão, reitere-se, será distinta da restante população civil, ou seja, sendo certo que os jornalistas são civis, a referência especial a este grupo justifica-se pelo reconhecimento de uma maior vulnerabilidade destes em relação aos restantes civis.

A AMISOM, em especial, tem condenado a violência contra jornalistas e instigado as autoridades somali para que investiguem tais crimes. Num Press Release emitido a 29 de fevereiro de 2012, pelo centro de informação da AMISOM, o representante especial do Presidente da Comissão da União Africana, o Embaixador Boubacar Gaoussou Diarra, condena a morte do jornalista Abukar Hasan. O Press Release cita as palavras do Embaixador “At this time when Somalia, thanks to the efforts of the international community is trying to lay the critical foundations of a stabile and democratic state, the assassination of journalist who represent the voices of the people [….], is and remains an intolerable crime”345.

343 S/RES/2093, de 6 de março de 2013.

344 Nicholas Tsagourias, “Violence Against Journalists and Crimes Against Humanity”, cit., p.21.

345 “AU Special Representative for Somalia condemns killings of a journalist and innocent Civilians”, Press Release da Unidade de Informação da AMISOM, 29 de fevereiro de 2012, disponível em http://amisom-au.org/2012/02/au- special-representative-for-somalia-condemns-killings-of-a-journalist-and-innocent-civilians/ [06/09/2014] [interpolação nossa].

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O Representante da União Africana relembrou posteriormente, aquando da eleição do novo governo da República Federal da Somália, a necessidade de uma maior proteção dos jornalistas no país, assim como um maior esforço na investigação dos crimes cometidos contra jornalistas, esforço esse em que a AMISOM estava disponível para auxiliar as autoridades somalis. Nesse sentido, foi afirmado que “the Somali government and police must urgently institute credible investigations into these killings and ensure that the perpetrators of these atrocious acts are brought to justice”. [Boubacar Diarra] said adding that African Union Mission in Somalia was ready and willing to help with any investigations”346.

Subcapítulo II – Contribuição das decisões internacionais em matéria de proteção