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Mitos do Exercício

No documento 26 Dicas de Saude Da Medicina Oriental (páginas 86-92)

MITOS DO EXERCÍCIO

É público e notório que fazer exercícios é bom para a saúde. Na ver- dade, nosso corpo foi feito para o movimento e não para o repouso. Como diz o Taoísmo chinês, “o flexível e o móvel é vida, o rígido e o parado é morte”. Isto sintetiza brilhantemente tudo o que precisa- mos saber sobre exercício físico.

Quando falamos sobre alimentação mencionamos os dogmas que andam rondando por aí. No quesito “exercício” vemos outros dogmas problemáticos circulando sobre nossas cabeças como abutres esfo- meados. Vamos ver alguns destes espectros.

O primeiro fantasma a nos livrarmos é do pejorativo termo “seden- tário”. O que é um indivíduo sedentário? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), órgão da ONU dedicado à saúde, o se- dentário é todo indivíduo que não se exercita pelo menos 30 minutos por dia. Exercício moderado, ainda por cima. E mais: estudos de- monstram que fazer três sessões diárias de 10 minutos tem quase tantos benefícios quanto 30 minutos direto. Ora, você conhece al- guém que não se “exercite” pelo menos 10 minutos três vezes ao dia? Um executivo que caminhe 15 minutos até o restaurante para almo- çar faz 30 minutos de caminhada leve diária (ida e volta). Logo, não pode ser considerado sedentário.

Este tipo de classificação dogmática engana muito. Vi um programa jornalístico de televisão que fez a seguinte experiência: colocou um pedômetro (aparelho que marca quantos passos e qual quilometra- gem você andou) em um carteiro e outro em uma funcionária do Correio que atendia no balcão. No final do dia o carteiro tinha anda- do cerca de 10 Km e, pasme, a moça do escritório tinha andado 8 Km! Claro que a reportagem enalteceu o exercício do carteiro e dimi-

nuiu o exercício da balconista (lembra-se dos dogmas?). Mas o que nos mostra esta experiência é que a balconista, que tecnicamente po- deríamos classificar como “sedentária” segundo os padrões corri- queiros, andou 8 Km em um único dia de trabalho. Isto sem contar o senta-levanta da cadeira, carregar pacotes pesados, abaixar-se para pegar coisas no chão, etc... Será que ela precisa freqüentar uma aca- demia?

Vimos então que é muito fácil deixar a classe dos “sedentários”. Uma dona-de-casa que limpe sua residência está fazendo exercício sufici- ente. Se dividir a limpeza em três etapas intercaladas durante a se- mana fará todo o exercício que precisa. Neste momento em que es- crevo este texto minha esposa está “malhando” aqui em casa... Muito se fala sobre esportes e a saúde que eles provocam. Isto é uma meia-verdade. Esporte enquanto diversão e atividade física recrea- tiva é extremamente saudável. Quando ele fica competitivo come- çam os problemas. Competições significam treinamentos consisten- tes, com fins e metas estabelecidas, significa ficar sempre próximo aos seus limites ou ultrapassá-los e, claro, se tornar melhor do que os outros competidores. Isto é um esporte: lutar para ser o melhor. O resultado são lesões, estresse, ansiedade e frustração quando por alguma eventualidade não se alcançam as metas.

Me lembro de uma tirinha de quadrinhos de Calvin, que retrata uma criança com muita imaginação e seu amigo fictício representado por um tigre de brinquedo. Calvin estava brincando com os irrigadores do gramado, pulando, correndo, se abaixando. Seu pai passou por ali e disse algo como “continue assim e você ficará em forma”. O garoto parou imediatamente com a brincadeira porque tinha perdi- do a graça. Tinha virado treino, obrigação.

Esporte só é saudável enquanto for uma diversão e não uma obriga- ção. Colocar crianças em idade muito tenra para praticar esportes competitivos e sobrecarregá-las com atividade física é criminoso. As crianças fazem suas atividades físicas através de jogos e brincadei-

ras, naturalmente. Muitos tipos de esporte estressam a criança e aca- bam por provocar lesões, pois suas articulações não estão maduras para um esforço tão grande. Meus pais eram ambos professores de Educação Física e eu soube por eles de muitos casos de crianças lesionadas porque determinados técnicos de clubes exigiam demais delas. Tudo para vencer. Mas ganha-se o quê? Um troféu de plásti- co? Um título que na próxima competição será de outra pessoa? Outra história é que o “condicionamento cardiovascular” que os exer- cícios mais intensos proporcionam o protegerá de problemas cardía- cos. Ainda estou para ser convencido disto. Vemos mais freqüentemente do que gostaríamos atletas de vários esportes, com treinamentos sofisticados e acompanhamentos médicos precisos, te- rem problemas no coração ou simplesmente caírem duros. Também vemos cardiologistas afirmarem que é difícil fazer algum tipo de pre- visão específica sobre a possibilidade de ocorrência de problemas cardíacos. Lembre-se que a ciência trabalha com modelos estatísti- cos.

Outro dogma é o de que basta fazer muito exercício e controlar a alimentação que se emagrece automaticamente. Ora, nada nos seres humanos ocorre automaticamente. Existem muitos fatores que po- dem interferir nisto, pois como já repetimos até a exaustão, cada um de nós é um ser único. Além disto, a pessoa obesa tem inúmeros problemas emocionais que dificultam a execução dos exercícios. A sociedade é implacável com os gordos, logo é muito difícil se expor publicamente para se exercitar. Andar com malhas justas, então, nem pensar. Outro problema é que as pessoas obesas sofrem com a baixa auto-estima e de problemas emocionais como a depressão, o que faz com que larguem o exercício rapidamente no primeiro obstáculo. Este é um problema que deve ter uma solução global e não uma fórmula mágica como “menos consumo de calorias e mais queima”. Esta rela- ção pode ser importante, mas não é decisiva.

Em 2000 um grupo de estudo da Escola de Saúde Pública da Univer- sidade Johns Hopkins fez uma pesquisa com 1704 estudantes de es-

colas americanas. Um grupo de crianças fez uma dieta especial, teve mais atividade física e aulas sobre vida saudável (segundo a ótica científica moderna). O resultado, depois de três anos de estudos: nada. Elas não demonstraram menor índice de gordura corporal que o outro grupo, que viveu normalmente.

Um dos dogmas relativos à obesidade, exercícios físicos e problemas cardíacos está relacionado com as referências. Teoricamente, para muitos, uma pessoa acima do peso tem maiores possibilidades de ter problemas cardíacos. Mas a coisa não é bem assim. Estudos demons- tram que é muito difícil fechar o cerco em cima desta afirmação. Mas afinal o que é uma pessoa acima do peso? Qual o peso “certo” para cada um? Para isso muitas escalas de referência foram criadas. No meu tempo de treinamento intenso, quando fazia musculação nos anos 80, a tabelinha de ‘peso x altura’ reinava soberana. Se você tivesse uma diferença maior do que dois quilos para mais ou para menos que sua altura, você era magro demais ou gordo demais. Por exemplo, para uma pessoa com 1,80 cm seu peso adequado estaria entre 78 e 82 Kg. Era ridículo, mas na época era “cientificamente correto”.

Aí nos anos 90 passou-se a usar o Índice de Massa Corporal (IMC), que é uma fórmula cabalística onde dividimos o peso pela altura ao quadrado. Bem mais esotérico, não? Recentemente colocou-se em dúvida a precisão do método e resolveu-se... medir a barriga! Isto mesmo, agora o “científico” é calcular o IMC e checar o perímetro da cintura, pois a gordura abdominal é a mais “perigosa”. Vejam que este tipo de coisa foi proposta por cientistas e pesquisadores, por isso foi aceita como válida. Se fosse um chinês do século III a.C. que tivesse dito que os perigos da gordura podem ser relacionados com o diâmetro da cintura, seria motivo de piadas...

Bem, você deve estar pensando que estou fazendo apologia à gordu- ra, hein? Nada disto. Apenas defendo uma análise pessoal e específi- ca da pessoa, seus traços genéticos, hábitos familiares, estado emoci-

onal, estado físico e filosofia de vida. Aí podemos dizer em que pé está o estado de saúde desta pessoa e o que ela deve fazer para ficar mais saudável. Sem regras, esquemas, referências ou receitas genéri- cas.

Outro dogma interessante é o da corrida, muito divulgado nos anos 70 pelo Dr. Kenneth Cooper. Aliás, um mal-entendido comum são as pessoas que acham que “fazer cooper” é sair correndo. O método dele é sofisticado, com vários tipos de atividades. Correr, especifica- mente, é desgastante e pode ser perigoso. Para correr é preciso ter o local adequado, o calçado adequado e o piso adequado, além de tomar uma série de cuidados específicos como alongamento, hidratação, etc... Sempre é melhor caminhar.

Uma pessoa que corre nos canteiros centrais ou calçadas de grandes avenidas, muito comum nas grandes cidades, está se envenenando literalmente. A concentração de monóxido de carbono nestes locais é muito grande. Este gás, resultado da queima do combustível pelos veículos, tem grande afinidade com a hemoglobina do sangue e toma o lugar do oxigênio, envenenando as células. Como num esforço con- centrado os brônquios pulmonares estão mais dilatados, a quantida- de de monóxido de carbono absorvida é muito maior que o normal Segundo a CETESB, órgão público que monitora a poluição em São Paulo, é mais saudável correr na esteira, dentro de casa ou na acade- mia, do que ao ar livre. O interior dos prédios é menos poluído. Apenas um dado extra: um dos lugares mais poluídos de São Paulo é o Parque do Ibirapuera.

Então o que fazer? Como podemos nos movimentar de forma saudá- vel e natural e fazer o necessário para nós, como pessoas únicas, de modo integral? A medicina oriental tem as respostas, no próximo capítulo.

RESUMO

Exercícios fazem bem à saúde. (Você não sabia disto, sabia?) Para deixar de ser sedentário você precisa de 30 minutos diá- rios de atividade física leve ou moderada.

É difícil relacionar quantidade de atividade física com menos problemas cardíacos

Esportes só são saudáveis enquanto são meros divertimen- tos.

Dançar ou limpar a casa podem ter os mesmos benefícios de se malhar em academia.

Correr em grandes avenidas é danoso à saúde. Prefira correr em ambientes fechados.

Caminhar ainda é a melhor alternativa.

Referências de obesidade são apenas isto: referências. Nada de leis universais.

Perder muito peso é uma tarefa complexa e que envolve uma análise global da pessoa, corpo-mente-espírito-energia.

No documento 26 Dicas de Saude Da Medicina Oriental (páginas 86-92)