• Nenhum resultado encontrado

nacionais de C,T&I: convergências e desacordos,

4.2 MAPEAMENTO DAS INICIATIVAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EXPERIENCIADAS PELO CPATSA

4.2.4 A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL RECEBIDA PELO CPATSA

4.2.4.2 A COOPERAÇÃO RECEBIDA COM PARTICIPAÇÃO DE GOVERNOS

4.2.4.2.1 Modalidades e arranjos das iniciativas

Na esfera da cooperação com participação de organizações da esfera do Estado, o CPATSA recebeu cooperação das diversas modalidades referenciadas na literatura (Gráfico 4.9).

Já a modalidade multibilateral, como é comumente denominada aquela que envolve a cooperação bilateral dirigida para programas multilaterais (Sotillo, 2011), representou apenas 3% das iniciativas. Além das modalidades bilateral, multilateral e multi-bi de cooperação, identificadas nitidamente no mapeamento, esteve presente uma zona turva entre as três modalidades de cooperação já identificadas (10%). Nessa zona, estiveram formas híbridas (o que também ocorreu na cooperação descentralizada anteriormente descrita), abrangendo iniciativas que envolvem entidades de diferentes tipos organizativos no processo cooperativo, tais como uma organização bilateral estatal estrangeira conjugada a uma universidade. Exemplos disso são o caso do INRA em parceria com a Universidade de Lisboa, em pesquisa visando à certificação dos vinhos do Vale do São Francisco, ou um organismo multilateral, associando-se a uma organização setorial/interprofissional, como foi o caso da UNESCO em parceria com a organização setorial da vinicultura, a OIV, para apoio à difusão científico- tecnológica, na promoção do Simpósio Internacional de Uva e Vinhos Tropicais realizado na cidade de Petrolina. Alguns desses exemplos triangulam três organizações (duas delas internacionais e a Embrapa), sendo, porém, apenas um dos organismos internacionais pertinente à esfera estatal ou interestatal, enquanto o outro não é oriundo da esfera de governo.

A modalidade multilateral predominou nessas iniciativas, com 41% das ocorrências. Por sua vez, as iniciativas bilaterais representaram o significativo percentual de 24% das iniciativas, seguidas daquelas em estrutura de redes interestatais (21%).

Gráfico 4.9 - Modalidades de Cooperação Recebida

Fonte: Pesquisa de campo

Na análise deste mapeamento, adota-se aqui uma tipologia construída com base na configuração organizativa dos arranjos operativos que foram utilizados para a concretização dos processos de cooperação internacional junto ao CPATSA, agrupando-se as iniciativas de acordo com a similaridade desses arranjos. Os entes de maior relevância, componentes dos arranjos focalizados, serão discutidos em maior aprofundamento em tópico posterior. Na modalidade bilateral de cooperação, entendida como aquela que é dada (ou recebida) diretamente pelos governos, como anunciado por Sotillo (2011), os arranjos operativos identificados estiveram constituídos ou com Agências oficiais de cooperação detentoras de um foco mais amplo (a exemplo do Japão com a JICA) ou, muito frequentemente, com corpos governamentais voltados para pesquisa e que atuam no desenvolvimento exclusivamente voltados para o setor agrícola/ambiental, modelo organizativo, que é expressamente anunciado como elegível pelo CAD/OCDE nas suas definições oficiais, desde que a pesquisa ou transferência tecnológica cumpra os critérios por ele definidos e esteja voltada ao atendimento de necessidades de países em desenvolvimento. Alguns exemplos de órgãos que aqui se enquadram são os casos dos EUA com o IICA, da França com o CIRAD, o INRA e o ORSTOM, além do México, com o Centro de Investigación Científica de Yucatan, ou do Neiker Tecnalia, órgão de pesquisa do governo basco na Espanha, dentre muitos outros que serão apresentados doravante. Em entrevista pessoal realizada neste estudo, o diretor regional do CIRAD, Bernard Mallet, explicou que a cooperação provida por esse órgão francês para o CPATSA é relatada oficialmente pelo país como AOD para o sistema de cooperação internacional para o desenvolvimento, complementando que, na França, há amplo sincronismo dos organismos estatais de pesquisa para o desenvolvimento com os corpos diplomáticos nacionais, os quais definem conjuntamente estratégias e ações de cooperação em C&T para o desenvolvimento, conjugadas às políticas e aos interesses nacionais.

Por seu turno, a cooperação na modalidade multilateral recebida pelo CPATSA, definida como aquela que é provida por meio de uma organização multilateral ativa no desenvolvimento, ou seja, via organismos e agências intergovernamentais, contou preponderantemente com órgãos das Nações Unidas, em especial a FAO, a AIEA, a UNESCO e o Banco Mundial, além da União Europeia e do CGIAR, este último com atuação voltada para o fomento da construção de redes entre países, no interesse do avanço da ciência em áreas específicas, tutelando iniciativas reticulares por meio dos seus centros de pesquisa (a qual será adiante aprofundada). O Gráfico 4.10 a seguir apresenta as fontes de financiamento para as atividades realizadas nos processos cooperativos recebidos pelo CPATSA com presença de governos externos, o que inclui as modalidades multilateral, bilateral e ainda

redes com participação de organizações estatais. É importante notar que o gráfico exibe o quantitativo de iniciativas nas quais a referida fonte de financiamento esteve presente como provedora de recurso financeiro (muitas vezes, em conjugação com outros cooperantes), não se realizando aqui um comparativo com base no volume financeiro dos recursos alocados nesses processos de cooperação, vista a já esclarecida impossibilidade da análise, neste estudo, dos instrumentos celebrados entre os cooperantes.

Por sua vez, as fontes bilaterais com presença de governo forneceram recursos em 21% das iniciativas de cooperação recebida pelo CPATSA, com algumas distinções, que serão discutidas adiante. Por seu turno, as redes participaram com recursos financeiros em 11% das iniciativas de cooperação recebida e também, muitas vezes, foram responsáveis por prover recursos técnicos qualificados que participavam das atividades científicas e de transferência tecnológica, o que se deu com o CYTED e o CGIAR, este atuando em diversos projetos por meio dos seus centros ICARDA e IWMI, adiante detalhados, além de rede constituída pela União Europeia com diversos Centros Estatais de Pesquisa e mais seis países recipiendários, dentre eles o Brasil. Já na modalidade multilateral, a pesquisa mostrou que a cooperação dos órgãos multilaterais participantes se deu preponderantemente pelo provimento de recursos financeiros, com reduzida participação técnica nos processos.

Gráfico 4.10 - Fontes de Financiamentos

Fonte: Pesquisa de campo

As fontes multilaterais foram preponderantes, financiando quase 70% das iniciativas mapeadas, indo na direção do que vem sendo apontado na literatura como modalidade menos sujeita a influências políticas, mais responsiva às necessidades do desenvolvimento do recipiendário e mais confiável em prover fluxos preditíveis de ajuda, além de ser menos tendente a condicionalidades.

Gráfico 4.11 - Cooperantes Multilaterais

Fonte: Pesquisa de campo

Quase 40% das iniciativas com financiamento multilateral contaram com recursos do Banco Mundial (37%), seguidas da União Europeia (21%), tendo ainda a FAO e a AIEA evidenciado uma participação expressiva, ambas com 16% de representatividade nas iniciativas financiadas pelo multilateralismo (Gráfico 4.11).

No caso dos órgãos franceses em geral, esses assumiam os custos dos seus pesquisadores no Semiárido, muitas vezes, por muitos anos, visto o caráter estruturante dos projetos em que atuaram. Um exemplo é a iniciativa de construção de territórios de identidades, inicialmente com o CIRAD e a FAO (esta se retirando a seguir do projeto), a qual perdurou por quase uma década, iniciando-se em 2002. Desde o final da década de 1970, e, sobretudo de 1980, adentrando a década de 1990, o ORSTOM44 atuou em projetos ainda mais longos junto ao CPATSA, os quais duravam uma década ou mais. Entretanto, conforme entrevistados, não necessariamente esses organismos governamentais de pesquisa financiavam integralmente todos os custos pertinentes às atividades científicas desenvolvidas nos processos de cooperação, prospectando-se e recorrendo-se muitas vezes também a outras fontes internacionais, além da contrapartida da Embrapa Semiárido.

Por sua vez, a JICA foi o único órgão identificado, com status de agência estatal de cooperação internacional, que atuou de forma pró-ativa em iniciativas de cooperação em C&T, não apenas de caráter pontual. Isto porque foi também identificada no mapeamento uma iniciativa de cooperação do USDA, a qual entretanto, limitou-se ao intercâmbio pontual de germoplasma. No caso da JICA, tratou-se de uma iniciativa de cooperação concretizada em um projeto de pesquisa/transferência tecnológica (T.T) com duração de dois anos, além de uma ação de T.T, por meio de capacitação, no Japão, de um pesquisador do CPATSA. Em ambos os casos, ela proveu recursos tecnológicos e financeiros integrais para o desenvolvimento das atividades, estes, porém, não tendo representado uma soma vultosa. O Quadro 4.6 a seguir exibe a consolidação das iniciativas de cooperação internacional com participação de organizações governamentais ou intergovernamentais nas suas diversas modalidades, incluindo formas híbridas onde cooperam organizações de estruturas distintas.

44 A cooperação do ORSTOM no Semiárido apenas alcançou o ano de 1990, início do período para o qual se volta esta pesquisa. Não obstante, a intensidade desta cooperação perdurou por várias décadas no Semiárido atuando em projetos estruturantes de envergadura e relevância para este centro de pesquisa, o que justificou a sua presença neste trabalho.

Gráfico 4.12 - Órgãos Estatais de Pesquisa

Fonte: Pesquisa de Campo

Na cooperação com órgãos bilaterais estatais de pesquisa, quase como regra geral, eles foram responsáveis por prover recursos técnicos qualificados, além de eventualmente parte dos custos da atividade científica. O CIRAD participou do financiamento de 33% das iniciativas bilaterais de cooperação.

Quadro 4.6 – Consolidação da Cooperação governamental / intergovernamental recebida: Modalidades, Países, Organizações, Temáticas e Projetos

Mod País Financiador/

Cooperante Tipologia Temática Projeto/Programa

Tecnologias Sociais/Metodologias para aplicação em meio real Núcleos piloto de informação e gestão tecnológica no Território do Sisal

ORSTOM Centro Est.de Pesquisa Estudos e levantamentos de recursos naturais

Mapeamento de rec.naturais e estudos de solos, com Zoneamento Agroecológico do nordeste; ações nas áreas de Edafologia, Geomorfologia, Botânica e Socioeconomia

INRA Pesq.p/AgriculturaCentro Estatal de Recursos Genéticos Estudo de Genética de Populações/mapeamento de pragas (Apoio Financ.CNPq)

Transferência de Tecnologias mediante capacitação de pesquisador no Japão

Incentivo à produção/melhoramento genético de cabras leiteiras (Sta.MaBoa Vista)

EUA USDA Organismo Estatal de Agricultura Recursos Genéticos Recebimento de germoplasma de acerola para montagem de banco de germoplasma U.K KEW Centro Est. de Pesquisa Mudança Climática Pesquisa voltada para estresse de sementes a mudanças climáticas

União Europeia

União econômica e política de países

Fitotecnia e Melhoramento

Vegetal Jatropp - Pesquisa para melhoramento da Jatropha curcas (produção de bio-diesel)

Melhoria do desempenho do macho estéril da mosca de fruta via uso de óleo de raiz de gengibre como estimulante para acasalamento

Análise de Especiação Ecológica entre populações de Anastrepha Fraterculus do Brasil mediante parâmetros comportamentais e demográficos

Análise do feronômio da Anastrepha Fraterculus do Brasil FIDA Fundo da ONU

p/Desenv.Agríc

Desenv.Territorial /

Agricultura Familiar Desenvolvimento Comunitário da Bacia do Rio Gavião

Agroecologia PROBIO II - Sistema sustentável para pequenos produtores: a)flora ornamental, forrageira

e medicinal; b) fruteiras; c)plantas medicinais e ornamentais; d) abelhas nativas; e) microorganismos).

Recursos Genéticos Espécies Ameaçadas de Extinção e Invasoras

Tecnologias Sociais de

Convivência com a seca Apoio a Comunidades Rurais com TT (cisternas e barragens na Paraíba).

Melhoria de eficiência de Sistemas de Produção

PROBIO I - Incremento da produtividade por meio da biodiversidade voltado para Polinizadores-maracujá e manga

Tecnlogias Sociais de

Convivência com a seca Programa de avaliação de um milhão de cisternas rurais

Apoio à organização dos agricultores e aos sistemas de produção em Acauã, com promoção de fórum e planejamento de ações para o desenvolvimento territorial Tecnologias para semiárido/ Enfoque Desenvimento Territorial (Serra de Dois Irmãos) ICARDA /

CGIAR

Centro de pesquisa para áreas secas

Zoootecnia e produção animal

Sistemas produtivos de caprinos e ovinos em área semiárida (Financiamento Banco Mundial)

IWMI e ICARDA /

CGIAR

Centro de pesquisa em gestão hídrica + Centro de pesquisa para áreas secas

Estudos e levantamentos de recursos naturais/

hidrológicos

Challenge on Water and Food Program (Participante: Univ.da Califórnia / EUA)

Fitotecnia e Melhoramento Vegetal

GuavaMap - Recursos genéticos e melhoramento vegetal da goiaba (Cooperantes Científicos: Max Planck, CIRAD, NEIKER)

Estudos Sócio-

Econômicos/Rec.naturais Programa Land Use Policy Integrated Sustainable in Developing Countries (LUPIS)

Banco

Mundial Inst.Fin.Sistema ONU

Fitotecnia e Melhoramento

Vegetal BioFort - fortificação nutricional alimentar (cofinanciamento Fund.Bill e M.Gates)

CYTED

Programa ibero- americano de coop.em

C&T

Recursos Genéticos Desenvolvimento de Ingredientes bioativos a partir de frutas tropicais nativas e exóticas

da Ibero-América INRA + Univ.de Lisboa Centro Estatal de Pesquisa + Universidade Pesquisa e T.T em vitivinicultura

Pesquisa de variedades e ângulos de sistemas de produção para dossiê para certificação dos vinhos do Vale do São Francisco (participação Univ.de Lisboa)

União Europeia + Univ.Bolonha + SOBER OIG + Universidade + Org.Setorial Agroecologia

Diversificação da Atividade Agrícola do VSF com uso dos produtos do Vale. (Particip.Univ.de Bolonha e SOBER - Itália)

Chair UNESCO Agência especializada da ONU (Cátedra) Pesquisa e T.T em vitivinicultura

Realização no Vale do São Francisco do 2o Simpósio Internacional de Uva e Vinhos

Tropicais (co-financiamento da OIV)

CIRAD + FAO Centro de Pesquisa para Desenvolvimento da Agricultura + Agência da ONU Desenvolvimento Territorial / Agricultura Familiar

Construção de Território Identidades no semiárido (participação da FAO) Desenvolvimento Territorial / Agricultura Familiar Centro Estatal de Pesquisa para Desenvolvimento da Agricultura Bila teral Híbrida Mul tilate ral União Europeia Banco Mundial Inst.Financeira do Sistema ONU União econômica e política CIRAD Mul ti-Bi França Jap

ão JICA Agência Estatal de

Cooperação Red e Agência especializada da ONU Tecnologias brandas de combate a pragas e doenças/Rec.genéticos FAO Agência da ONU voltada para agricultura

e alimento Desenvolvimento Territorial / Agricultura Familiar Zootecnia e Melhoramento Animal AIEA