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nacionais de C,T&I: convergências e desacordos,

4.2 MAPEAMENTO DAS INICIATIVAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EXPERIENCIADAS PELO CPATSA

4.2.4 A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL RECEBIDA PELO CPATSA

4.2.4.2 A COOPERAÇÃO RECEBIDA COM PARTICIPAÇÃO DE GOVERNOS

4.3.4.2.3 Organizações internacionais participantes

O mapeamento das 79 iniciativas centralizadas de cooperação internacional (aqui considerando ambos os eixos de recebimento e oferta), com participação de órgãos governamentais ou intergovernamentais, das quais participou o CPATSA no período analisado, evidenciou uma ampla gama de organizações internacionais presentes no período analisado, havendo distintos tipos e configurações destas em meio aos 101 diferentes órgãos identificados. No eixo da cooperação recebida estiveram presentes organizações intergovernamentais (OIGs) multilaterais do Sistema ONU e outras não pertinentes a esse Sistema, bem como agências estatais de cooperação, órgãos estatais de pesquisa e, ainda, organizações de pesquisa com estrutura reticular, a principal delas sendo o Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), grupo consultivo, que compõe um

sistema de consórcio, categorizado como multilateral pelo CAD/OCDE e expressamente por esse considerado como elegível para AOD (conforme publicado no seu site45). No rol das organizações multilaterais pertinentes ao Sistema ONU, destacaram-se a FAO, a UNESCO e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e, do sistema europeu, a União Europeia, que atuou em algumas iniciativas. No plano bilateral, estiveram presentes a agência japonesa de cooperação JICA e a organização norte-americana USDA, além dos órgãos estatais franceses de pesquisa, o CIRAD, INRA e IRD, os quais atuam como instrumentos diplomáticos do governo francês, como indicado em entrevista pelo seu diretor regional Bernard Mallet, já citado anteriormente.

Em acréscimo a esses órgãos, estiveram presentes em várias iniciativas junto a cooperantes bilaterais e multilaterais, organizações interprofissionais de setores específicos do agronegócio, organizações da sociedade civil organizada e sem fins lucrativos, a exemplo de fundações, ONGs e OSCIPs e também universidades. Constatou-se, nessas organizações, uma diversidade de enfoques temáticos, de áreas geográficas prioritárias, bem como de países de origem. Aqui se incluem organizações europeias (França, Espanha, Portugal, Alemanha, Itália, Holanda, Inglaterra e Suíça), asiáticas (Nepal, Etiópia e Japão), norte-americanas (EUA) e uma instituição acadêmica da Austrália, além de organizações da América Latina (Argentina e Colômbia) e América Central (México e Costa Rica). O Gráfico 4.13 apresenta a representatividade das diferentes tipologias das organizações internacionais presentes nas iniciativas de cooperação internacional recebida pelo CPATSA com participação de governos.

Gráfico 4.13 – Tipologia das organizações internacionais da cooperação centralizada

Fonte: Pesquisa de campo

45CAD/OCDE www.ocde.org. Annex 2 for 2013. Elegible Organisations. Acesso em 01 agosto 2014. Centros Independentes de Pesquisa

Organizações Interprofissionais / Setoriais Fundações e ONGDs Redes Universidades Agências Bilaterais de Cooperação Organizações Multilaterais (OIGs) Centros Estatais de Pesquisa

3% 4% 6% 9% 11% 12% 22% 30%

Na direção das estruturas em rede, o CGIAR apresentou intensa atuação, a ser detalhada em capítulo posterior, corroborando a contribuição já apontada por MACEDO (2001). É uma organização que opera mediante estruturas reticulares, representando um exemplo emblemático do novo modus operandi de se fazer ciência no mundo contemporâneo, dentro de uma plataforma aberta de ciência e inovação. Também vale registrar a presença do CYTED, rede que reúne mais de uma dezena de instituições de pesquisa de diversos países dentro da qual esteve inserido o CPATSA para algumas ações de cooperação.

Conforme já antes mencionado, houve presença preponderante (30%) de cooperação advinda de centros estatais de pesquisa. As OIGs vieram em segundo lugar neste ranking, presentes em 22% das iniciativas centralizadas mapeadas, enquanto que as agências bilaterais assumem 12% de participação, seguidas de universidades (11%) e de organizações de caráter reticular, presentes em 9% nas iniciativas mapeadas. Na sequência estão as Fundações e ONGDs, protagonizando em 6% dos processos cooperativos internacionais, além das organizações interprofissionais/setoriais (4%). Por fim, estão os centros independentes de pesquisa com apenas 3% de representatividade, o que, entretanto não indica restrita envergadura de ação desse tipo de organização, visto que o Max Planck Institute liderou o Projeto GuavaMap, que será detalhado posteriormente, considerado por diversos entrevistados como a mais significativa iniciativa de cooperação recebida pelo CPATSA nos anos 2000.

Em outro eixo de reflexão, cabe apontar os diversos arranjos organizativos cooperativos que foram evidenciados nas iniciativas mapeadas, alguns contando com financiamento multilateral, outros com financiamento bilateral ou de organizações em rede, com se vê nas iniciativas conjuntas identificadas a seguir (Quadro 4.7), as quais apresentaram um caráter híbrido, reunindo organizações de diferentes modelos estruturais. Conforme o Quadro 4.7 exibe, dentre a diversidade de arranjos cooperativos, pode-se citar a conjugação dos centros estatais de pesquisa como o Neiker Tecnalia e o Centro de Investigación Científica de Yucatan com a Universidad de los Andes e o CPATSA, além do Max Planck Institute, centro independente de pesquisa, os quais direcionaram esforços conjuntos de pesquisa para o melhoramento genético da goiaba. No exemplo em tela, uma organização alemã, independente e sem fins lucrativos, voltada para pesquisa básica em ciências naturais, une-se a três centros de pesquisa de governos (um deles do México e os demais do governo basco e do governo brasileiro, voltados para ciências agrárias), conjugando ainda uma universidade colombiana no arranjo.

Quadro 4.7 - Iniciativas Híbridas / Conjuntas de Cooperação

Fonte: Pesquisa de campo

Já a pesquisa para solução de pragas contou com um arranjo que conjugou esforços da agência internacional da ONU voltada para energia atômica (AIEA), com dois tipos distintos de organizações brasileiras: a OSCIP baiana denominada Moscamed, implantada na cidade de Juazeiro, e algumas universidades. A Moscamed produz insetos, que são empregados no manejo integrado da moscas-das-frutas, responsável por um dos maiores prejuízos causados à fruticultura mundial, atuando também na capacitação, treinamento e disseminação de informação técnico-científica. Outro arranjo distinto de cooperação deflagrado no mapeamento é aquele no qual o CPATSA atuou junto à União Europeia, à Universidade de Bolonha (Itália) e à SOBER, Associação de produtores da Itália, além de dois órgãos brasileiros, a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE) e a Confederação Nacional da Indústria. Já na pesquisa para desenvolver o processo de certificação dos vinhos do Vale do São Francisco, o CPATSA contou com a Universidade de Lisboa e o instituto francês de pesquisa em agricultura, o INRA.

No rol dos programas internacionais de pesquisa de ampla envergadura e de interesse global, que contaram com a participação de pesquisadores do CPATSA, é mister sublinhar a presença de importantes iniciativas estruturadas sob uma configuração reticular. Trata-se dos programas internacionais que serão detalhados adiante, o Generation Challenge Program e o Land Use Policy Integrated Sustainable in developing countries (LUPIS), além do Programa

Organização Origem

Max Planck Society Alemanha

Neiker Tecnalia País Basco

Universidad de Los Andes Colômbia

Centro de Investigación Científica de Yucatan México

CGIAR /ICARDA Multilateral/rede

Diaconia Brasil

Projeto Dom Helder Câmara Brasil

CIRAD França

INRA França

Universidade de Lisboa Portugal

INRA França

AIEA Multilateral

Universidades brasileiras Brasil

Moscamed Brasil USDA EUA AIEA Multilateral Panamá Argentina Peru

Commission of the European Communities Europa

Universidade de Bolonha Itália

FIEPE Brasil

Conf. Nacional da Indústria (CNI) Brasil 7

Pesquisa e Transf.Téc. voltada para diversificação da atividade agrícola com produtos locais do Vale do São

Francisco (agricultura orgânica)

3 Estudos de recursos naturais e

mapeamento de solos 4

Pesquisa para solução de pragas 5

Pesquisa para viabilizar certificação de vinhos do Vale do São Francisco

Capacitação / Treinamento em Produção Integrada 2 Cooperantes e Participantes Objeto 6

Melhoramento Genético da Goiaba 1

Solução de extermínio para mosca das frutas por processo de esterilização via energia nuclear

brasileiro BioFort, que teve apoio dos programas mundiais HarvestPlus e ProSalud, e do Programa Ibero-Americano de Ciencia Y Tecnologia para el desarrollo da rede CYTED, anteriormente mencionada. Já no eixo das Agências Estatais bilaterais oficiais de cooperação, a Japanese International Cooperation Agency (JICA) foi a única presente de forma pró-ativa no mapeamento, visto que a presença da USDA, em uma iniciativa identificada no estudo, situou-se no prisma de cooperação de caráter passivo, mediante a doação de germoplasma para o banco do CPATSA. Não obstante, constatou-se outro tipo de organização do âmbito bilateral fortemente atuante junto ao CPATSA, que foram os órgãos franceses estatais de pesquisa, citando-se o CIRAD, o IRD (anteriormente denominado ORSTOM) e o INRA. Esses órgãos, devido ao seu enfoque específico de pesquisa na área da agricultura, foram alocados na categoria de Institutos Estatais de Pesquisa. Apesar da similaridade do enfoque dessas três organizações apontadas, voltadas para a pesquisa na área da agricultura, essas possuem distinções entre si, as quais são a seguir especificadas:

i) O CIRAD é uma empresa estatal de pesquisa voltada para a agricultura francesa, ligada ao Ministério de Relações Externas, bem como ao Ministério de Agricultura, atuando também com apoio a países em desenvolvimento por meio de ações de mais longo prazo, incluindo a possibilidade de expatriação ou de permanência dos seus pesquisadores nos PED no longo prazo. Possui um quadro de 800 pesquisadores, dos quais 50% lotados nos países do Sul;

ii) O IRD é uma empresa estatal de pesquisa de mais amplo escopo, ligada ao Ministério de Ensino Superior e de Pesquisa e ao Ministério de Assuntos Estrangeiros, e focaliza vários setores: saúde, ambiente, biologia e, em pequena parcela, o setor agronômico; iii) O INRA é uma empresa estatal de pesquisa voltada para a agricultura francesa, ligada

diretamente ao Ministério de Pesquisa e ao Ministério de Agricultura (diferindo aqui do CIRAD), que atua também com apoio a países em desenvolvimento; esse apoio se dá, porém, por meio de ações de curto/médio prazo, sobretudo consultivas, o que não inclui a possibilidade de expatriação ou de permanência dos seus pesquisadores nos PED no longo prazo.

Os Quadros de 4.8 a 4.10 trazem de forma desagregada as organizações internacionais cooperantes nos processos centralizados de cooperação junto ao CPATSA agrupadas por categoria, focalizando: i) Organizações multilaterais intergovernamentais (OIGs); ii) Organizações da esfera de governos, atuantes fora da área de pesquisa; e iii) Centros estatais de pesquisa. Outros tipos de organizações não situadas no âmbito governamental também

atuaram nesses processos, a exemplo de Centros independentes de pesquisa, Associações interprofissionais / setoriais e universidades estrangeiras, os quais já foram descritos e nominados no tópico precedente deste capítulo. Já as organizações reticulares terão sua breve caracterização46 trazida no próximo tópico, o qual indicará o enfoque central e principais especificidades daquelas organizações em rede atuantes nos processos de cooperação internacional mapeados. Como o Quadro 4.8 apresenta, sete OIGs estiveram presentes nos processos mapeados de cooperação internacional junto ao CPATSA, a maior parte delas já de amplo conhecimento público, pertinentes ao Sistema ONU, quais sejam, FAO, UNESCO, Banco Mundial, Global Environment Fund (GEF) e o Programa PNUD, além da AIEA, Agência Internacional de Energia Nuclear também presente e pertencente ao Sistema, tendo, cada vez mais, um papel de extrema relevância no quadro das Nações Unidas.

Quadro 4.8 - Organizações intergovernamentais (OIGs)

Fonte: Pesquisa de campo.

Já na tipologia dos centros estatais de pesquisa, o mapeamento revelou a presença de uma diversidade deles, como mostra o Quadro 4.10. O Kew é um órgão público inglês executivo e independente, patrocinado pela Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação (Defra), voltado para promover a conservação vegetal de plantas em todo o mundo. O segundo jardim botânico situado em West Sussex abriga o banco de sementes Kew Millenium Seed Bank cujo objetivo é salvar plantas em volta do mundo, com foco naquelas de maior risco e mais utilidade para o futuro.

46Informações sumarizadas a partir dos sites institucionais das organizações. 1. Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) 2. Food and Agriculture Organization (FAO)

3. United Nations Educational Scientific and Cultural Organization (UNESCO) 4. Commission of the European Communities

5. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP / PNUD) 6. World Bank

7. Global Environment Facilities (GEF)

Quadro 4.9 - Organizações Públicas Estatais

Fonte: Pesquisa de campo

1. Ministério da Agricultura do Governo Holandês 2. United States Department of Agriculture (USDA) 3. Ministry of Economic Affairs of the Netherlands

Quadro 4.10. - Centros Estatais de Pesquisa

Fonte: Pesquisa de campo da autora.

Frente à gama de tipos organizacionais e arranjos cooperativos presentes nas iniciativas mapeadas de caráter centralizado, não se pode deixar de retomar aqui uma reflexão concernente à dinâmica da qual se reveste a cooperação no eixo de C&T, sobretudo vistas as especificidades locais e territoriais do contexto para o qual (e onde) se constrói o conhecimento no âmbito da agricultura. Tal característica responde pela conjugação crescente, em âmbito mundial, de esforços e pela profusão de iniciativas conjuntas para realização de pesquisas colaborativas em modelos diversos, que agrupam instituições de diferentes tipos e países, o que é apontado na literatura e aqui corroborado pela realidade trazida no mapeamento. No caso do Brasil, isso pode ser justificado por dois fatores: i) o avançado conhecimento científico-tecnológico de um país não lhe garante o acesso a determinados recursos naturais específicos, que são insumos preciosos para o desenvolvimento de pesquisas, que possibilitem avanços científicos na área agrícola, insumos esses que muitas vezes se encontram em abundância em países em estágio inferior de desenvolvimento; e ii) países emergentes já vêm exibindo avanços no conhecimento científico em algumas áreas específicas, a exemplo do Brasil na área agrícola, o que vem atraindo países de nível mais avançado de desenvolvimento científico-tecnológico para realização de pesquisas conjuntas.