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nacionais de C,T&I: convergências e desacordos,

4.2 MAPEAMENTO DAS INICIATIVAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EXPERIENCIADAS PELO CPATSA

4.2.1. PANORAMA DAS EXPERIÊNCIAS

Como já discutido no arcabouço teórico, a literatura aponta a vastidão do campo da cooperação científico-tecnológica, incluindo cooperação técnica, o que leva à existência de modelos e lógicas distintos sob os quais ela pode ser desenvolvida, o que se constata claramente com os dados obtidos nesta pesquisa. Essas diferentes lógicas são responsáveis pela definição de todas as características e especificidades dos processos envolvidos nas iniciativas cooperativas, o que inclui desde a construção das agendas, a definição dos tipos possíveis de fomento, as dinâmicas e modus operandi a serem adotados pelos cooperantes, tanto doadores quanto recipiendários, além dos agentes e atores que estarão ativos no decorrer do horizonte temporal de desenvolvimento da cooperação. As duas lógicas centrais dessa cooperação dão origem a duas macro-categorias, propostas por Sebastián e Benavides (2007), quais sejam: a cooperação C&T stricto sensu e a cooperação C&T para o desenvolvimento, denominada por alguns de AOD-CT (Quinones e Tezanos, 2011; Quinones, 2013; Farley, 2007).

O primeiro tipo segue uma lógica descentralizada, sem passar pela esfera do Estado, possuindo um significativo grau de simetria e identificação de objetivos compartilhados entre os partícipes, o que produz uma ampla autonomia dos doadores e recipiendários no processo. Nesse rol, estão principalmente as pesquisas conjuntas, alianças e consórcios tecnológicos, redes descentralizadas de inovação, composição de infraestrutura conjunta para pesquisas e mobilidade de pesquisadores dos países envolvidos. Já a AOD-CT se desenvolve mediante uma lógica bastante complexa, fincada nos interesses dos Estados contemporâneos, dentro das modalidades multilateral, bilateral, multibilateral e redes com participação de organizações da esfera do Estado. Nessas iniciativas, pode ocorrer transferência de tecnologia e realização de pesquisas conjuntas ou não, estas sempre dirigidas para problemas críticos do desenvolvimento. Pode, ainda, haver provimento de assessoria e assistência técnica, além de formação de pesquisadores e apoio financeiro para P&D e para infraestruturas e instituições de pesquisa. A abordagem da cooperação recebida pelo CPATSA nesse trabalho açambarcará ambas as macrocategorias aqui divisadas, não obstante, dará ênfase ao aprofundamento da

cooperação cuja lógica perpassa a esfera estatal, visto o interesse da pesquisa em promover discussões de ordem político-estratégica, além daquelas do âmbito técnico e da gestão, em consonância com os objetivos definidos preliminarmente para este estudo doutoral.

Na direção da amostra (Gráfico 4.1), a pesquisa, na sua etapa exploratória, foi aplicada junto a 80 pesquisadores (relação nominal no Apêndice A.1). O Gráfico 4.2 exibe a representatividade dos entrevistados que vivenciaram experiências de cooperação internacional em C&T, considerando tanto a categoria stricto sensu como aquela da cooperação C&T para o desenvolvimento (46%), na denominação de Sebastián e Benavides (2007), ou de AOD-CT, na designação de autores como Quinones (2013) e Quinones e Tezanos (2011). Esses pesquisadores (seleção nominal no Apêndice A.2) prosseguiram sua participação na etapa subsequente da pesquisa, onde se buscou aprofundar o entendimento dessas iniciativas.

Conforme o gráfico acima apresenta, o percentual de 46%, ou seja, 38 pesquisadores que experienciaram processos cooperativos internacionais, corrobora preliminarmente a tendência revelada na literatura do modo cada vez mais internacionalizado da construção de conhecimento no eixo da ciência e tecnologia, e evidencia um índice de internacionalização do CPATSA, que começa a ter significância. Entretanto, sendo a agricultura uma área estratégica de caráter global, sobretudo diante dos desafios ambientais e da sobrevivência alimentar em escala mundial, a ciência carrega consigo, hoje, a imperatividade de construção conjunta de soluções de ordem planetária para questões que afetam os povos, o que faz meritória a reflexão quanto ao índice de 53% dos pesquisadores do quadro do órgão em tela não terem experienciado ainda projetos de pesquisa no contexto da cooperação interestatal, o que aponta para a existência de um longo caminho a ser percorrido para uma ampliação do índice de internacionalização desse centro e potencialização das suas ações a partir de

Gráfico 4.1 - Amostra da Pesquisa

Fonte: Pesquisa de campo

Universo: 82 Pesquisadores Ativos

Gráfico 4.2 - Perfil de Respondentes

Fonte: Pesquisa de campo

conexões externas profícuas, sobretudo com apoio do sistema oficial de cooperação para o desenvolvimento.

Conforme mostra o gráfico anterior, a oferta de cooperação pelo CPATSA, transitando, portanto, na esfera estatal, respondeu por 46% das iniciativas de cooperação internacional em C&T existentes no período analisado, sobrepujando as iniciativas de cooperação recebida pelo órgão (30%) de governos ou intergovernamental, tendo sido dirigida a países em desenvolvimento na África, América Latina e Caribe.

As iniciativas que tiveram caráter horizontal se deram na modalidade bilateral e ocorreram entre o Brasil e países com alguma proximidade da condição científico-tecnológica e interesse comum diante de uma temática. Estiveram voltadas para intercâmbios de material genético, e foram realizadas com a Venezuela e a África do Sul, com este último envolvendo também pesquisa conjunta para melhoramento vegetal da goiabeira devido à bacteriose nematoide naquele país. Situação similar ocorreu com a pesquisa voltada para analisar o impacto das mudanças climáticas sobre doenças e pragas em cultivos de importância para agroindústrias da Argentina e Brasil. Dela participaram o CPATSA e sua congênere, o INTA (Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina).

A etapa exploratória da pesquisa apontou a ocorrência de 100 iniciativas internacionais de cooperação em C&T (incluindo assistência técnica) no período analisado. Essa cifra envolveu tanto os eixos do recebimento quanto da oferta de cooperação pelo CPATSA a países de menor índice de desenvolvimento científico-tecnológico, além de três ocorrências de cooperação horizontal (Gráfico 4.3).

Gráfico 4.3 - A Cooperação do CPATSA no período

de de 1990 a 2015.

Fonte: Pesquisa de campo

As iniciativas na vertente do recebimento ocorreram nas modalidades multilateral, bilateral, ou em redes interestatais de C&T. Por seu turno, as ocorrências descentralizadas de cooperação recebida ocorreram preponderantemente com parcerias com instituições acadêmicas estrangeiras. Das 21 citadas, 17 estiveram situadas no âmbito exclusivamente acadêmico. Desse número, 12 foram pertinentes ao âmbito de programas doutorais e pós- doutorais, e as demais ocorreram por meio de arranjos híbridos, conjugando organizações de diferentes modelos organizativos, a exemplo de universidades, organizações da sociedade civil, ONGIs e organizações setoriais (setores da vitivinicultura ou da produção de manga para exportação).

Por sua vez, as 30 iniciativas de cooperação recebidas de organizações do eixo estatal, providas por países em maior estágio de desenvolvimento científico-tecnológico, incluem tanto aquelas elegíveis à categoria de Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD-CT), dentro das especificidades e critérios definidos pelo CAD/OCDE, quanto outras iniciativas não elegíveis para AOD, de acordo com esses mesmos critérios. É importante destacar que a classificação adotada neste trabalho para os diferentes tipos de cooperação, identificadas no mapeamento, embasou-se nos conceitos oficiais que são adotados pelo CAD/OCDE e divulgados oficialmente no seu site e em documentos oficiais desta organização. A cooperação interestatal aqui referida é vista como aquela que transita entre organismos multilaterais e a Embrapa, ou entre esta e organismos bilaterais pertencentes à esfera do Estado. Esse tipo de cooperação, na maioria dos processos, mostra-se elegível para AOD visto que se encaixa na definição do CAD/OCDE (ver capítulo 2), tanto no que tange ao escopo dessa cooperação, como às organizações internacionais doadoras participantes das iniciativas.

Gráfico 4.4 - Categorias da Cooperação

Recebida pelo CPATSA

Fonte: Pesquisa de campo

Base: 51 iniciativas de cooperação (eixo do recebimento)

Focalizando apenas a vertente do recebimento da cooperação, alvo desta pesquisa, ela pode ser vista distribuída em duas categorias (Gráfico 4.4): i) iniciativas com participação estatal, que transitam pela vias diplomáticas dos países envolvidos, respondendo por quase 60% desta vertente (30 ocorrências); e ii) e iniciativas descentralizadas responsáveis por 42% do total do recebimento (21 ocorrências) nas quais inexiste participação de organização puramente estatal.

É importante notar que não obstante a existência do elevando número das 79 iniciativas apontadas com participação de governos (30 no eixo do recebimento, 46 no eixo da oferta e três iniciativas de caráter horizontal), apenas nove se encontravam registradas no sistema informatizado de acordos internacionais de cooperação da Embrapa (SAIC). Ademais, tais registros feitos de natureza bastante sucinta, forneciam apenas parcas informações relativas aos números dos acordos celebrados, explicitando apenas nome das partes, objeto e número do contrato, e, em apenas três, estavam registrados os recursos envolvidos. Cabe lembrar que tampouco foi possível obter junto à Embrapa os instrumentos celebrados entre essa empresa e os organismos cooperantes, conforme já detalhado anteriormente no capítulo introdutório, no tópico referente à metodologia.

Três fatores mostraram-se subjacentes à inexistência de registro oficial eletrônico local de 70 das iniciativas centralizadas mapeadas (ou seja, 89% do total das 79 apontadas acima): i) grande parte dessas adveio de acordos diplomáticos realizados no nível do Ministério de Relações Exteriores (MRE) por meio de sua Agência Brasileira de Cooperação (ABC) ou foram capitaneadas por outros órgãos públicos37; ii) parte dessas iniciativas se deu por meio de contatos e relacionamentos travados diretamente entre pesquisadores do CPATSA com organizações ou centros estrangeiros de pesquisa, muitos sem qualquer formalização via convênio ou acordo; e iii) evidência de fragilidade nos registros do órgão, no que se refere a dados e informações de caráter político-administrativo das iniciativas internacionais onde atuaram os pesquisadores da sua unidade em foco, ainda que essas tenham decorrido de formalizações prévias oriundas de convênios ou acordos celebrados por outros órgãos ou esferas de poder.

Por fim, um ponto a salientar nessa abordagem empírica preliminar de caráter panorâmico é a ampla gama de distintos tipos de organizações estrangeiras, que se mostraram presentes nos processos de cooperação internacional com protagonismo do CPATSA. Do lado doador nos processos de cooperação, além das agências bilaterais de cooperação internacional, das multilaterais doadoras e dos organismos estatais de pesquisa, elegíveis para serem contabilizados como AOD38, coadjuvaram em vários desses processos, fundações, como a Bill and Melinda Gates Foundation, associações setoriais / interprofissionais, como as francesas da região de Champagne e de Bordeaux, respectivamente Conseil Interprofessionnel

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Os órgãos mais ativos nesta demanda foram o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), com presença ainda do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), além de governos estaduais (Paraíba e Bahia). Mostrou-se intensa a demanda oriunda de universidades federais e estaduais, cabendo ainda mencionar iniciativa oriunda da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE).

du Vin de Champagne (CIVC), Comité Interprofessionnel du Vin de Bordeaux (CIVB), além da Organização Internacional do Vinho (OIV) e da organização ligada ao setor de produção da manga, a National Mango Board que cooperou com pesquisas na área da pós-colheita de frutos. Além disso, a Associação Espanhola de Normalização (AENOR) financiou integralmente a vinda de técnicos espanhóis para darem apoio na implantação do Sistema de Produção Integrada de Frutas (PIF) junto a empresas da fruticultura no Vale do São Francisco, já no despontar do novo século. Na esfera nacional, foram identificadas organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs), a exemplo da Moscamed39 Brasil e da Diaconia40, de fundações como a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), autarquias, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e outras instituições públicas como a Organização de Desenvolvimento Regional (Codevasf), a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), acrescendo-se ainda o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

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Organização social reconhecida pelo MAPA voltada para a produção de insetos empregados no manejo integrado de moscas-das-frutas (como a espécie Ceratitis capitata, que é responsável pelos maiores danos causados a fruticultura mundial), e na capacitação, treinamento e disseminação de informação técnico-científica. Fonte: <www.moscamed.org.br>. Acesso em 04 setembro 2014.

40 Organização social de serviço, sem fins lucrativos e de inspiração cristã, com ação institucional dirigida para quatro territórios: Pajeú, Oeste Potiguar e regiões metropolitanas de Recife e Fortaleza. Sua atuação está voltada para: fortalecimento de grupos sociais e empoderamento de pessoas; processos de mobilização de comunidades para a efetivação de políticas públicas que visem à transformação da sociedade; desenvolvimento de tecnologias de convivência com o Semiárido; e para processos metodológicos, participativos e mobilizadores. Fonte: <www.diaconia.org.br>. Acesso em 01 setembro 2014.

4.2.2 TRAJETÓRIA E PERFIL DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL AO LONGO DO