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TRAJETÓRIA E PERFIL DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL AO LONGO DO TEMPO

nacionais de C,T&I: convergências e desacordos,

4.2 MAPEAMENTO DAS INICIATIVAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EXPERIENCIADAS PELO CPATSA

4.2.2 TRAJETÓRIA E PERFIL DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL AO LONGO DO TEMPO

Os dados mostram que houve uma ampla oscilação da presença de relações internacionais de cooperação no CPATSA tecidas junto ao eixo de Estados, quer sejam de ordem multilateral ou bilateral, ou, ainda, com redes que transitam também nesta esfera, considerando-se todo o período da sua existência. Nas décadas de 1970 e 1980, ainda que este recorte temporal não tenha sido foco do estudo realizado, as entrevistas de vários pesquisadores41 (relação nominal no Apêndice A), com mais tempo de atividade nesse centro de pesquisa, revelaram a presença de um esforço intenso da cooperação internacional no sentido de estruturar e consolidar essa unidade, bem como para apoiar o desenvolvimento de algumas linhas de pesquisa. Além disso, a Embrapa, como um todo, promoveu, nesse período, fortes incentivos para doutoramento de pesquisadores no estrangeiro, o que veio a produzir vínculos com esses países, que, posteriormente, frutificaram novos trabalhos na instituição, em regime de cooperação. Após o período inicial, seguiu-se uma redução do dinamismo dessas conexões junto à cooperação internacional, devido à saída de muitos desses doutores capacitados no exterior, e a cooperação sofre um processo de encolhimento. Posteriormente, vem a ocorrer uma retomada do ímpeto da cooperação preliminar existente no órgão, o que se deu tanto com a criação dos Laboratórios da Embrapa no Exterior (Labex), quanto com alguns trabalhos que vieram a ser desenvolvidos em decorrência dos vínculos criados pelos pesquisadores doutorados no estrangeiro.

A partir da segunda metade da década de 1990, inicia-se um processo de mudança nítida, tanto na intensidade quanto no perfil da cooperação recebida pela Embrapa ao longo das décadas. Visto o estágio do Brasil à época anterior a esse período, o CPATSA participava de grandes projetos internacionais fincados em uma cooperação Norte-Sul de caráter robusto, estruturante e longo, na perspectiva temporal dos projetos, quando os técnicos estrangeiros vinham atuar no semiárido sob o rótulo de consultores. Aqui permaneciam por vários anos radicados no território, chegando mesmo a constituir família e vincular-se definitivamente ao país. Posteriormente, o que persiste ainda hoje, a cooperação recebida assume um caráter mais simétrico, de reduzido escopo e estreito horizonte de tempo de ação, dois anos, em média. Os especialistas estrangeiros, que aqui são recebidos, passam a ser enviados como pesquisadores,

41 Iedo Bezerra Sá, Pedro Gama da Silva, Aderaldo de Souza Silva, Jose Barbosa dos Anjos e Natoniel Franklin de Melo.

não mais como consultores, como outrora. Assim, o diálogo da Embrapa com seus cooperantes, dado que o Brasil tornou-se um player mundial e um dos principais atores na produção de alimentos e da bioenergia, passa a ser mais horizontalizado no contexto geral, não obstante, em algumas áreas, a instituição ainda se encontrar frágil, como é o caso das áreas de mudanças climáticas e de agricultura de precisão (aquela que leva em conta a variabilidade espacial e temporal dos fatores de produção, para o gerenciamento dos sistemas de produção). Neste contexto, na segunda década deste novo século, a cooperação internacional parece estar ganhando novo ímpeto no CPATSA, porém, agora, na direção de uma forma ativa desse centro no eixo da oferta de cooperação junto a países em desenvolvimento.

Ainda sob uma perspectiva temporal, analisando-se agora quantitativamente a frequência de novas iniciativas de cooperação recebida pela Embrapa Semiárido, considerando tanto o eixo doador quanto receptor com presença de Estado, com base nos processos iniciados a cada ano no órgão, obtém-se um reflexo do quadro que já se vem conformando no âmbito mundial nas últimas décadas da cooperação internacional para o desenvolvimento. Nessa conjuntura, o CPATSA modifica o perfil de significativo recipiendário, que vinha exibindo desde o momento da sua criação na década de 1970, e passa a ter expressão como doador no cenário da cooperação internacional no setor da agricultura. Como evidenciado no Gráfico 4.5, o órgão sofreu nítidas flutuações da cooperação recebida da esfera estatal a partir do final da década de 1990, vindo a sofrer queda acentuada desta cooperação multilateral e bilateral recebida desde o final da primeira década do século em curso, quadro que se mantém ainda hoje.

Em direção contrária, a partir do início deste século, a Embrapa Semiárido veio ampliando de forma acentuada sua participação como doadora de cooperação nesse Sistema, atuando, sobretudo, por meio de programas construídos junto à diplomacia brasileira, sob orquestração da ABC, como é o caso das Plataformas África-Brasil e América Latina e Caribe-Brasil. Um ponto ainda a notar é que, até o final dos anos 1990, como o Gráfico 4.5 em foco exibe, evidencia-se um quantitativo muito limitado de iniciativas recebidas de cooperação internacional, o que sugere uma falsa imagem de que a cooperação internacional, neste período, não atuava junto ao CPATSA. O que, de fato, a análise qualitativa revelou é que a cooperação era bastante ativa neste período, especialmente com organismos franceses, como já indicado em tópicos precedentes, além do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Porém, diferentemente do que veio a ocorrer posteriormente, quantitativamente falando, havia poucos processos em curso, mas esses tinham caráter

estruturante e suas ações se delongavam por extenso horizonte de tempo, muitos já iniciados desde a década de 1980 e que se mantiveram na década subsequente. A mudança da trajetória da cooperação internacional experienciada pelo CPATSA a partir do final dos anos 1990 foi tamanha, que levou a cooperação ofertada pelo órgão a superar a quantidade de iniciativas de cooperação recebida com participação de governos no período analisado, havendo 46 iniciativas de oferta, no cômputo de 79 iniciativas centralizadas mapeadas junto aos entrevistados (58% destas).

A mudança profunda dessa trajetória pode ser explicada por três fatores: i) pela melhora do Brasil nos seus índices socioeconômicos e a proeminência da sua imagem no cenário internacional, ao que ele deve a saída do seu nome da lista elaborada pelo CAD/OCDE dos países prioritários para cooperação, adentrando no rol daqueles de elevada renda média; ii) pela política brasileira de cooperação internacional adotada no início do século, que passa a imprimir forte ênfase na cooperação Sul-Sul como instrumento da sua política externa, e iii) pela tendência global da valorização e reconhecimento da cooperação Sul-Sul, considerando-se os resultados não exitosos da cooperação Norte-Sul até então, e preconizando-se que a simetria entre protagonistas acarretaria uma probabilidade acirradamente mais acentuada de bons resultados da cooperação.

Como anteriormente já discutido no segundo capítulo do arcabouço teórico, a tendência crescente da valorização e adoção da cooperação Sul-Sul decorre das questões já levantadas desde o Consenso de Monterrey e nas muitas Conferências realizadas na sequência a este encontro (Kraychete, 2012). Nesses eventos, discutiu-se o quesito da eficiência e eficácia do modelo Norte-Sul, visto o persistente quadro de pobreza extrema e desigualdade,

Gráfico 4.5 - Trajetória do CPATSA na Cooperação Internacional (1990-2014)

(Qtde. de iniciativas)

Fonte: Pesquisa de campo

Total: 79 iniciativas com presença governamental (eixos do recebimento e da oferta)

0 5 10 15 20 25

Cooperação Recebida com presença de Estado Cooperação Ofertada com Presença de Estado

que perdura em muitas regiões do mundo, muitas delas tendo sido recipiendárias de intensa atuação da cooperação internacional, como é o caso de diversos países da África. Não se pode ainda deixar de ver que, não obstante as diretrizes oficiais da cooperação brasileira Sul-Sul definam a não existência de condicionalidades ou interesses nas relações de cooperação voltadas para países do sul com menor índice de desenvolvimento, a entrada de empresas privadas brasileiras em países com menor índice de desenvolvimento, como no continente africano, por exemplo, muitas vezes, tem seu caminho pavimentado nas relações diplomáticas tecidas no âmbito da cooperação entre estes governos.

Outro aspecto de mudança do perfil da trajetória de cooperação recebida pelo CPATSA ao longo do tempo, consoante depoimentos colhidos na pesquisa, diz respeito ao seu modo de implementação: da ampla formalização adotada inicialmente na operacionalização dos projetos, a exemplo do Projeto de Apoio ao Pequeno Produtor (PAP) conduzido pelo CIRAD, passa a existir uma maior flexibilização nas regras, as quais vêm a possibilitar uma atuação, de certa forma, moldável, favorecendo uma melhor adequação ao contexto. Além disso, verifica-se também a existência de nítidas diferenças na engenharia financeira e político-institucional dos projetos dessa cooperação.