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Coordenada de reação−

2.3.3 Modelos para os mecanismos enzim´ aticos

Mono e tri´esteres de fosfato foram usados como modelos das rea¸c˜oes catalisadas por PTPs, porque estes eram os compostos mais pr´oximos dos substratos selvagens das enzi- mas e, porque poderiam ter suas estruturas eletrˆonicas e energias determinadas com boa acur´acia. Embora os substratos enzim´aticos sejam mono´esteres, a rea¸c˜ao destas esp´ecies ´e influenciada pela transferˆencia intramolecular de H+ (§2.2 e §2.3), assim, as rea¸c˜oes

de tri´esteres s˜ao modelos para descrever a quebra e a forma¸c˜ao intr´ınsecas das liga¸c˜oes P−O e P−S, livre de efeitos de protona¸c˜ao. A alquila¸c˜ao dos oxigˆenios equatorias em tri´esteres tamb´em pode mimetizar o efeito da coordena¸c˜ao dos oxigˆenios equatorias do substrato com a cadeia lateral da ARG e com os hidrogˆenios (ligados ao nitrogˆenio) da cadeia prot´eica principal no MC das PTPs (figura 10)[51]. ´Esteres com grupos de sa´ıda aril e alquil derivados foram inclu´ıdos para modelar as rea¸c˜oes das PTPs com fosfotiro- sina e das DSPs com fosfoserina e fosfotreonina. Al´em do estudo das PTPs selvagens, que utilizam um res´ıduo CYS para ataque nucleof´ılico ao substrato (forma¸c˜ao da liga¸c˜ao P−S, §1.3), tamb´em modelamos a rea¸c˜ao catalisada pelos mutantes CYS→SER, em que o ataque nucleof´ılico envolveria uma alco´olise do ´ester de fosfato.

de fosfato aniˆonico (mono ou duplamente carregado) seja um modelo mais fiel ao estado de protona¸c˜ao e ao mecanismo de cat´alise tradicionalmente propostos para atividade das PTPs (figura 11 e §1.3), a determina¸c˜ao da estrutura eletrˆonica de derivados de fosfato di ou trianiˆonicos na fase gasosa sugere que estas esp´ecies s˜ao inst´aveis e podem sofrer autoioniza¸c˜ao eletrˆonica (p. 149)[238]. Portanto, escolhemos as rea¸c˜oes de ti´olise e alco´olise de tri e mono´esteres com carga total igual a −1, como modelos cuja estrutura eletrˆonica pode ser determinada com acur´acia na fase gasosa.

As energias de ativa¸c˜ao (∆G‡

enz) para rea¸c˜ao catalisada pelas PTPs variam entre 14

e 18 kcal/mol para os diversos membros da superfam´ılia (§1.3). O mecanismo de cat´alise ocorre em duas etapas (rea¸c˜oes 1.9 e 1.10). J´a a rea¸c˜ao em solu¸c˜ao ocorre geralmente em uma ´unica etapa de hidr´olise AnDn (§1.2.1). Portanto, n˜ao podemos analisar a enzima

em termos de sua afinidade pelo TS da rea¸c˜ao em solu¸c˜ao (§1.1)[239]. A primeira etapa na cat´alise (rea¸c˜ao 1.9) pode ser comparada `a ti´olise de mono´ester em solu¸c˜ao, mas esta rea¸c˜ao nunca foi observada (p. 30). A hidr´olise n˜ao catalisada de MeOP2− e PhOP2− (me-

tilfosfato e fenilfosfato dianiˆonicos) em solu¸c˜ao aquosa, fortemente b´asica, tem ∆G‡sol = 43 e 36 kcal/mol a 39◦C, respectivamente[1].

Nos pr´oximos par´agrafos, as contribui¸c˜oes e os processos envolvidos na primeira rea¸c˜ao catal´ıtica (1.9) ser˜ao dissecados e comparados com os perfis de energia calculados.

A repuls˜ao eletrost´atica presente na barreira de ataque do nucle´ofilo ionizado ao substrato carregado negativamente (figura 11) pode ser estimada aproximadamente, em solu¸c˜ao aquosa, em 5 kcal/mol [∆∆G‡(Q

P = 0 → QP = −1) ≈ 5 kcal/mol, onde QP ´e

a carga formal do grupo fosfato][52], a partir da diferen¸ca entre as energias de ativa¸c˜ao medidas para ataque de OH− sobre um tri´ester (neutro e c´ıclico) e sobre um di´ester

monoaniˆonico. Assumindo que a contribui¸c˜ao eletrost´atica ´e linearmente aditiva, a re- puls˜ao entre um nucle´ofilo ionizado e um substrato dianiˆonico (figura 11) contribuiria com ∆∆G‡(Q

P = 0 → QP = −2) ≈ 10 kcal/mol para altura da barreira de rea¸c˜ao

em solu¸c˜ao. As PTPs podem estabilizar esta repuls˜ao eletrost´atica gra¸cas `as cargas for- mais positivas (por exemplo, a cadeia lateral da ARG conservada) e ao potencial ele- trost´atico positivo[240] observados no s´ıtio ativo (este potencial foi calculado por m´etodos aproximados[145] e, portanto, deve ser analisado qualitativamente).

A barreira intr´ınseca para ataque de CH3S− sobre fosfatos neutros ´e representada pe-

las barreiras da primeira etapa das rea¸c˜oes A e B (com alturas respectivamente de 16.0 e 10.7 kcal/mol), porque as rea¸c˜oes de mono´esteres s˜ao influenciadas pela transferˆencia in- tramolecular de H+ (§2.3.2). Portanto, a forma¸c˜ao da liga¸c˜ao P−S no processo de cat´alise

das PTPs n˜ao necessita de estabiliza¸c˜ao, j´a que as barreiras intr´ınsecas s˜ao menores ou similares a energia de ativa¸c˜ao observada experimentalmente.

A forma¸c˜ao de um intermedi´ario fosforana ou metafosfato durante a cat´alise neces- sita de estabiliza¸c˜ao, independentemente do mecanismo adotado na enzima (An+Dn ou

Dn+An), j´a que as energias de forma¸c˜ao destas esp´ecies na ti´olise de mono´esteres varia

entre 24.4 a 31.2 kcal/mol (rea¸c˜oes E e F, figuras 21 e 22).

Se o mecanismo Dn+An ´e adotado pela PTP, a dissocia¸c˜ao do grupo de sa´ıda, cujas

barreiras s˜ao cerca de 30 kcal/mol (rea¸c˜oes E e F), necessita de estabiliza¸c˜ao, possivel- mente por uma transferˆencia de H+ proveniente de um ´acido geral da enzima. Uma

estimativa da contribui¸c˜ao da transferˆencia de H+ para estabiliza¸c˜ao do grupo de sa´ıda

n˜ao pode ser facilmente obtida a partir das barreiras das etapas dissociativas das rea¸c˜oes E e F Dn+An, j´a que a transferˆencia de H+ nestas rea¸c˜oes ´e intramolecular e a protona¸c˜ao

estabiliza o grupo de sa´ıda (metanol ou fenol), mas deve desestabilizar o metafosfato.

Se o mecanismo enzim´atico ´e associativo, a barreira para dissocia¸c˜ao do grupo de sa´ıda do intermedi´ario pentacoordenado n˜ao ser´a limitante caso o grupo esteja parcialmente protonado (segunda etapa das rea¸c˜oes E e F An+Dn) ou caso o grupo seja fen´oxido

(segunda etapa das rea¸c˜oes A e B). Se o grupo de sa´ıda for met´oxido, alguma estabiliza¸c˜ao ser´a necess´aria, provavelmente via protona¸c˜ao, j´a que a barreira para sa´ıda de met´oxido de uma fosforana ´e cerca de 20 kcal/mol (rea¸c˜ao A).

Em resumo, as rea¸c˜oes modelo de ti´olise de mono e tri´esteres de fosfato calculadas permitem-nos especular que os processos que necessitam de estabiliza¸c˜ao na primeira rea¸c˜ao (1.9) da atividade das PTPs s˜ao:

• Repuls˜ao eletrost´atica entre o nucle´ofilo ionizado e o substrato aniˆonico;

• Forma¸c˜ao do intermedi´ario de ti´olise, seja este um metafosfato ou uma fosforana; • Dissocia¸c˜ao do grupo de sa´ıda caso este seja um alquil derivado e n˜ao esteja proto-

nado.

Ao contr´ario do que ´e sugerido pelas regras emp´ıricas de posicionamento dos ligantes coordenados a uma TBP (p. 21), n˜ao existe gasto energ´etico para posicionar um grupo menos eletrof´ılico, como o tiolato, em posi¸c˜ao axial (p. 119). Portanto, as PTPs n˜ao precisam estabilizar o arranjo em linha no ataque nucleof´ılico ou na poss´ıvel forma¸c˜ao de uma fosforana.

Tamb´em podemos especular quais s˜ao as poss´ıveis causas da inatividade das PTPs mutantes CYS→SER (§1.3.3). O oxigˆenio da cadeia lateral da SER mutante pode se posicionar desfavoravelmente para o ataque nucleof´ılico sobre o substrato fosforilado, localizando-se a uma distˆancia inapropriada do f´osforo do substrato [d(PS)=2.14 ˚A no MeSP− e d(PO)=1.68 ˚A no MeOP] ou coordenando-se a outros centros, impedindo

o ataque nucleof´ılico[111]. As distˆancias da liga¸c˜ao em forma¸c˜ao no TS associativo das rea¸c˜oes de tri´esteres variam em torno de 2.8 ˚A e s˜ao quase independentes da natureza do nucle´ofilo (tabela 8), assim, a distˆancia da liga¸c˜ao P−O num poss´ıvel TS na PTP mutante seria similar a distˆancia P−S do TS na PTP selvagem. No entanto, a d(PO) num poss´ıvel TS na PTP mutante pode estar aumentada, pois a liga¸c˜ao C−O na cadeia lateral da serina ´e 0.4 ˚A mais curta do que liga¸c˜ao C−S da ciste´ına.

A maior basicidade do grupo met´oxido resulta na tor¸c˜ao dos grupos equatoriais nas rea¸c˜oes de alco´olise dos tri´esteres (vide supra) e, portanto, os mutantes CYS→SER podem ter o s´ıtio ativo, em especial os grupos coordenados ao nucle´ofilo, como a cadeia lateral da SER conservada no P-loop e os hidrogˆenios da cadeia principal do P-loop, torcidos ou mal posicionados para cat´alise[111]. A PTP foi otimizada pela evolu¸c˜ao para catalisar a ti´olise de fosfato e, portanto, os grupos catal´ıticos coordenam-se para estabiliza¸c˜ao do TS desta rea¸c˜ao e n˜ao para rea¸c˜ao de alco´olise.

Mutantes CYS→SER s˜ao usados para aprisionar o substrato natural de PTPs, j´a que a muta¸c˜ao n˜ao impede a forma¸c˜ao do MC, mas inativa a desfosforila¸c˜ao do substrato (p. 39). Uma vez que a ativa¸c˜ao da liga¸c˜ao P−O na etapa de dissocia¸c˜ao do grupo de sa´ıda ´e pouco influenciada pelo natureza do grupo nucleof´ılico (p. 102), sugerimos que a inatividade dos mutantes CYS→SER est´a relacionada `a etapa de ataque nucleof´ılico, qualquer que seja o mecanismo empregado nas PTPs.

Em raz˜ao da transferˆencia de H+ nas rea¸c˜oes de mono´esteres, a reatividade dos alquil

e arilfosfatos nas rea¸c˜oes E a H ´e semelhante. No entanto, os perfis de energia das rea¸c˜oes de tri´esteres de alquil e arilfosfatos apresentam diferen¸cas de at´e 30 kcal/mol, al´em de diferen¸cas de at´e 0.5 ˚A na distˆancia da liga¸c˜ao P−O que ´e quebrada (tabela 8). Portanto, supomos que as DSPs s˜ao capazes de catalisar rea¸c˜oes com caracter´ısticas estruturais e perfis energ´eticos razoavelmente distintos. Os mecanismos utilizados por estas enzimas para cat´alise ser˜ao apresentados no cap´ıtulo 4.