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2.2 O estresse e seu contexto geral

2.2.8 Modelos teóricos explicativos do estresse ocupacional

O modelo desenvolvido por Couto (1987) considera que “o stress tem origem na relação desproporcional entre as exigências psíquicas do ambiente em que a pessoa vive e a sua estrutura psíquica”. As organizações e seus ambientes de trabalho, em especial, têm proporcionado fontes estressoras consideráveis.

A primeira variável apontada por Couto (1987) refere-se aos agentes ligados ao contexto das pessoas. Aspectos como responsabilidade não compatível com a autoridade, relacionamentos interpessoais degradáveis, chefia apática em relação aos interesses das pessoas, insegurança e medo provocam tensão constante.

A segunda variável é direcionada aos agentes ligados ao trabalho em si, considerando: a falta de subsídios para as decisões, capacidade aquém da responsabilidade exigida, sobrecarga de trabalho, prazos limitados e críticos, deficiências de outras áreas de trabalho interferindo no andamento dos processos informações insuficientes. Por fim, o autor descreve a terceira variável, vulnerabilidade, que está relacionada no indivíduo em si (COUTO, 1987).

Couto (1987) desenvolveu o modelo explicando e relacionando o estresse, conforme apresentado na FIG. 1. De acordo com o modelo, o estresse ocorre quando há sobreposição de agentes estressante na vulnerabilidade do individuo ou a sobreposição do contexto na vulnerabilidade dos indivíduos. Para Couto (1987), quando há sobreposição dos agentes estressantes no trabalho e os indivíduos se encontram vulneráveis, o estresse se manifesta no plano ocupacional. Mas há momentos em que a vulnerabilidade não está diretamente ligada ao trabalho. Nessa

situação, o estresse surge mesmo assim em decorrência de instabilidades relacionadas a outros contextos que são relacionadas ao trabalho.

Figura 1 - Modelo básico de origem do estresse

Fonte: Couto (1987, p.35).

Ainda de acordo com Couto (1987), o comportamento do indivíduo diante de estressores encontrados no ambiente do trabalho depende da vulnerabilidade da estrutura psíquica do indivíduo, podendo causar, ou não, o estresse ocupacional.

Outro modelo apresentado foi o desenvolvido por Cooper, Sloan, Williams (1988), denominado “Modelo dinâmico do estresse ocupacional”, representado por meio da FIG. 2, onde estão explicitadas as fontes de estresse, sintomas e doenças que podem ser desenvolvidas no indivíduo.

Figura 2 - Modelo dinâmico de estresse ocupacional

Fonte: Cooper; Sloan; Williams, (1988, p. 95).

O modelo aponta que as fontes de estresse estão ligadas a: fatores intrínsecos ao trabalho, função da organização, relacionamento interpessoal, desenvolvimento de carreira, clima e estrutura organizacional e interface/ casa e trabalho. Estas variáveis, dependendo do comportamento do indivíduo, podem projetar sintomas de estresse que impactam o indivíduo e a organização e como consequência podem provocar doenças nos indivíduos e alterações na organização. O estresse organizacional provoca nocividades físicas e mentais em função do experimento de características vistas pelo indivíduo como negativas em seu ambiente de trabalho. Sua intensidade está alinhada à ação e à reação que o individuo estará manifestando diante da fonte estressora percebida (COOPER, SLOAN, WILLIAMS,1988).

No modelo teórico proposto por Karasek et al. (2000), denominado “Modelo demanda-controle”, dois aspectos estão relacionados para o surgimento do estresse ocupacional: as demandas requeridas pelo trabalho ao trabalhador; e o controle que o trabalhador tem decorre das demandas.

Fontes de stress Fatores Intrínsecos ao trabalho Papel da organização Relacionamento interpessoal Desenvolvimento na carreira Clima e estrutura organizacional Interface casa/trabalho Sintomas do stress Individuais:  Aumento de pressão arterial  Dores/ombros- coluna  Depressão  Aumento do consumo de álcool  Irritabilidade acentuada. Organizacionais:  Aumento de absenteísmo  Turnover acentuado  Dificuldade nas relações

industriais.  Qualidade deficiente. Doenças  Infarto do miocárdio.  Esgotamento mental.  Greves  Acidentes frequentes e graves.  Apatia  Indiferença. I N D V í D U O

As demandas são as pressões de ordem psicológicas, quanto a: alta exigência de tempo, nível de concentração requerida, velocidade e necessidade de se esperar por atividades realizadas por outros indivíduos. O controle está relacionado à capacidade do trabalhador na decisão de como executar o trabalho e à utilização de suas habilidades intelectuais. No modelo de Karasek, existem experiências no trabalho, combinadas em alto e baixo nível de demanda psicológica, demandas do trabalho e controle, trabalho com alta tensão, trabalho com baixa tensão, trabalho ativo e trabalho passivo (KARASEK et al., 2000).

Figura 3 - Modelo demanda-controle de Karasek

Fonte: KARASEK et al.(2000, p. 12)

Na visão de Karasek (1988), o desiquilíbrio na existência de demandas psicológicas com baixo controle do processo de trabalho desencadeia manifestações de estresse que, por sua vez, poderão comprometer a saúde dos indivíduos, como o adoecimento físico e mental. Desse modo, situações que apresentam baixas demandas e baixo controle também podem provocar desinteresses e perda de habilidades do profissional (ZILLE, 2005).

Se a situação encontrada for inversa, ocorrendo alta demanda e alto controle, os indivíduos experimentam o processo de trabalho de forma positiva. A situação ideal é quando existem baixas demandas e alto controle, promovendo, assim, desgaste menor e baixo danos à saúde (KARASEK, 1988).

O Modelo Teórico de Explicação do Estresse Ocupacional em Gerentes, construído e validado por Zille (2005), serviu de referência para analisar o estresse em gestores, objeto deste estudo. De acordo com Zille (2005), seu modelo está estruturado em cinco construtos de primeira ordem: fontes de tensão no trabalho (FTT), explicado por meio de 3 construtos de segunda ordem e 23 indicadores; fontes de tensão do indivíduo (FTI), explicado por 4 construtos de segunda ordem e 14 indicadores; mecanismos de regulação (MECREGUL); explicado por construtos de segunda ordem; sintomas de estresse (SINTOMAS),explicado em seus respectivos indicadores; e impactos no trabalho (IMPACTOS), explicado diretamente pelos seus indicadores (ZILLE, 2005).

Os construtos de segunda ordem que explicam as “Fontes de tensão no trabalho” (FTT) são: processos de trabalho, relações de trabalho, insegurança nas relações de trabalho e convivência com indivíduos de personalidade difícil. Os construtos de segunda ordem que explicam as “Fontes de tensão do indivíduo” (FTI) são: responsabilidades acima dos limites, estilo e qualidade de vida, aspectos específicos do trabalho e desmotivação. Os construtos de segunda ordem que explicam o “Mecanismo de regulação” (MECREGUL) são: interação e prazos, descanso regular, experiência no trabalho e atividade física. Os construtos de segunda ordem que explicam os “Sintomas de estresse” (SINTOMAS) são: hiperexcitabilidade e senso de humor, sintomas psíquicos, sintomas do sistema nervoso simpático e gástrico, sintomas de aumento do tônus, tontura/vertigem, falta/excesso de apetite e relaxamento. No caso de “Impactos no traballho” (IMPACTOS), os construtos são explicados de forma direta, por meio de seus respectivos indicadores, que são: dificuldade de lembrar fatos recentes relacionados ao trabalho que anteriormente eram lembrados com naturalidade, dificuldade de concentração no trabalho, desgaste nos relacionamentos interpessoais no trabalho e fora dele, perda do controle em relação aos eventos da vida, como trabalho, família e contexto social,

redução na eficiência no trabalho, dificuldades em relação à tomada de decisões e fuga das responsabilidades do trabalho (ZILLE, 2005).

Figura 4 - Modelo teórico que explica o estresse ocupacional em gerentes

Fonte: Zille, (2005, p.191

O MTGE é adaptado à realidade brasileira. A base de dados para seu desenvolvimento e validação foi obtida com a participação de 550 indivíduos ocupantes de funções gerenciais em níveis de alta gerência, gerência intermediária e supervisão operacional, com apuração em 15 organizações brasileiras , com atuação de setores diversos da economia (ZILLE, 2005).

Como decorrência do modelo teórico de referência foram definidas duas hipóteses, apresentadas por meio do modelo hipotético, constante das FIGS. 5 e 6.

Figura 5 - Hipótese 1

Figura 6 - Hipótese 2

Dessa forma, tem-se como Hipótese 1, desta pesquisa: os indivíduos que apresentam menores níveis de mecanismos de regulação e maiores níveis de fontes de tensão no trabalho, tensão do indivíduo e tensão específica do trabalho do gestor apresentam, em média, maiores escores de estresse ocupacional.

Como Hipótese 2, tem-se: os indivíduos que apresentam maiores níveis de estresse têm, em média, maiores escores de indicadores de impacto no trabalho.

Estresse ocupacional Indicadores de impacto no trabalho Fontes de Tensão no trabalho

Fontes de Tensão do indivíduo

Fontes de Tensão específica do trabalho do gestor

Mecanismo de regulação