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Modo de produção na sociedade em rede

Em A Sociedade em Rede, Castells apresenta os aspectos fundamentais da nova economia, quais sejam: informacional, global e em rede (CASTELLS, 2005, p. 119). A nova economia estaria baseada na emergência de um novo paradigma tecnológico, qual seja, o paradigma das novas tecnologias da informação, que torna a própria informação em produto do processo produtivo. “Sendo mais preciso: os produtos das novas indústrias de tecnologia da informação são dispositivos de processamento de informações ou o próprio processamento das informações” (CASTELLS, 2005, p. 119-120). Daí surge, para o autor, uma economia em rede capaz de aplicar o seu progresso continuamente em tecnologia, conhecimentos e administração.

A partir da constatação da defasagem de tempo entre a inovação tecnológica ocorrida nos anos 1970 e o consequente aumento de produtividade que só ocorreu na década de 1990 nos EUA, Castells (2005) afirma que a inovação tecnológica não é motivada pela produtividade, mas pela lucratividade e pela valorização das ações da empresa: a “[...] lucratividade e a competitividade são os

72 Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/11/tecnologia/1439297684_116440.html>.

verdadeiros determinantes da inovação tecnológica e do crescimento da produtividade” (CASTELLS, 2005, p. 136). Para aumentar os lucros, quatro caminhos são possíveis e combináveis: redução de custos, aumento de produtividade, ampliação do mercado e aumento de giro do capital. Todavia, essas quatro possibilidades dependeriam de uma estratégia anterior de ampliação dos mercados e de luta por fatias maiores do mercado, tendo em vista os riscos que o aumento de produtividade significam para o investidor. Sendo assim, a ampliação do mercado é condição para o aumento da produtividade e propulsora do crescimento econômico (CASTELLS, 2005, p. 137). Nesse sentido, os capitalistas e as empresas aumentaram substancialmente sua lucratividade ao estenderem seu alcance global, “integrando mercados e maximizando vantagens comparativas de localização” (CASTELLS, 2005, p. 138). Da mesma maneira, o aumento da competitividade requer o fortalecimento de posição no mercado em expansão. Portanto, “[...] a via que conecta a tecnologia da informação, as mudanças organizacionais e o crescimento da produtividade passa, em grande parte, pela concorrência global” (CASTELLS, 2005, p. 140).

A indução de novos arranjos na equação entre tecnologia e produtividade contribuíram para o surgimento da nova economia global, definida da seguinte maneira: “[...] uma economia cujos componentes centrais têm a capacidade institucional, organizacional e tecnológica de trabalhar em unidade e em tempo real, ou em tempo escolhido, em escala planetária” (CASTELLS, 2005, p. 143). Isso passa pela globalização dos mercados financeiros, pela estrutura industrial em rede e por políticas governamentais de desregulamentação, privatização e liberalização do comércio de dos investimentos (CASTELLS, 2005, p. 147-188). Como bem resume Castells:

Surgiu uma economia global […] nos último anos do século XX. Resultou da reestruturação das empresas e dos mercados financeiros em consequência da crise da década de 1970. Expandiu-se utilizando novas tecnologias da informação e comunicação. Tornou-se possível e, em grande parte foi induzida, por políticas governamentais deliberadas. A economia global não foi criada pelos mercados, mas pela interação entre mercados e governos e instituições financeiras agindo em nome dos mercados (CASTELLS, 2005, p. 176).

No entanto, o surgimento do novo paradigma tecnológico é insuficiente para explicar a emergência da nova economia global. Segundo Castells, seria preciso o desenvolvimento de uma nova cultura de organização empresarial, isto é, de uma nova lógica organizacional:

Minha tese é de que o surgimento da economia informacional global se caracteriza pelo desenvolvimento de uma lógica organizacional que está relacionada com o processo atua de transformação tecnológica, mas não depende dele (CASTELLS, 2005, p. 210).

A emergência de uma nova lógica organizacional está baseada, sobretudo, na crise e consequente declínio do modelo corporativo tradicional, de integração vertical e gerenciamento funcional hierárquico do trabalho, “[...] o sistema de 'funcionários e linha' de rígida divisão técnica e social do trabalho dentro da empresa” (CASTELLS, 2005, p. 214).

A partir do declínio do modelo tradicional, Castells elenca um conjunto de mudanças ocorridas na organização da produção, do trabalho e da hierarquia empresarial (CASTELLS, 2005, p. 211-220): 1) transição da produção em massa para a produção flexível; 2) interação organizacional entre conhecimentos explícitos e conhecimentos tácitos dos funcionários como fonte de inovação; 3) flexibilidade organizacional na experiência internacional, caracterizada por conexões entre empresas pelo modelo de redes multidirecionais e/ou pelo modelo de licenciamento e

subcontratação de produção; 4) formação de alianças estratégicas específicas entre

empresas, sem excluir a concorrência fora desses acordos estratégicos; 5) mudança das burocracias verticais para o modelo horizontal de organização da empresa. Tais mudanças culminaram na empresa horizontal, uma “[...] rede dinâmica e estrategicamente planejada de unidades autoprogramadas e autocomandadas com base na descentralização, participação e coordenação” (CASTELLS, 2005, p. 223), que sucedeu o modelo corporativo tradicional e apresenta sete tendências principais, a saber:

[...] organização em torno do processo, não da tarefa; hierarquia horizontal; gerenciamento em equipe, medida do desempenho pela satisfação do cliente; recompensa com base no desempenho da equipe; maximização dos contatos com fornecedores e clientes; informação, treinamento e retreinamento de funcionários em todos os níveis (CASTELLS, 2005, p. 221).

Por fim, Castells afirma que foi mediante a interação entre a crise do modelo corporativo tradicional e o novo paradigma tecnológico que surgiu a nova forma organizacional, característica da economia global, qual seja: a empresa em

rede,

[...] aquela forma específica de empresa cujo sistema de meios é constituído pela intersecção de segmentos de sistemas autônomos de objetivos. Assim, os componentes da rede tanto são autônomos quanto dependentes em relação à rede e poder ser uma parte de outras redes e, portanto, de outros

sistemas de meios destinados a outros objetivos. Então, o desempenho de uma determinada rede dependerá de dois de seus atributos fundamentais: conectividade, ou seja, a capacidade estrutural de facilitar a comunicação sem ruídos entre seus componentes; coerência, isto é, a medida em que há interesses compartilhados entre objetivos da rede e de seus componentes (CASTELLS, 2005, p. 232).

Nesse sentido, a empresa em rede é a forma por excelência da economia informacional/global, porque é a responsável por concretizar a cultura da nova economia, transformando “[...] sinais em commodities, processando conhecimentos” (CASTELLS, 2005, p. 233).