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O artesanato em rede: entre métodos e máquinas

“Procurei cercar-me de todo o ambiente relevante - social e intelectual - que julguei pudesse levar-me a pensar dentro das linhas de meu trabalho. É esse o sentido de minhas observações acima, sobre a fusão da minha vida pessoal e intelectual.”

(C. Wright Mills)

Digitar. Clicar. Buscar. A cada palavra digitada, um clique e um resultado de busca diferente. No Google dos cearenses; ou na Google dos paulistas. A palavra, a vocal, pouco será relevante aqui. O que importa é a lógica aplicada na rede. A cada página ranqueada nas primeiras páginas dos buscadores da internet (dita “relevante”) sabemos menos sobre a organização matemática dos números invisíveis; e lemos mais as informações que vemos - expressas e visualizadas pelo hipertexto. Em um simples ato de digitar, clicamos e buscamos a dicotomia do hipertexto de Pierre Levy, mesmo pouco sabendo sobre teorias; mesmo sem sabê-las, querendo apenas encontrá-las para encontrar a mim.

Se para mim a palavra e o texto são mais confortáveis, para o outro temos

o inverso: a lógica e os números invisíveis a mim. Decerto, o que vejo não é o mesmo que os programadores leem e fazem. Por comum, temos a ciências por fazer. Em comum, a satisfação da necessidade, obrigação, ou não. Mas comum. Encontramos no emaranhado e confuso sistemas de lógica algorítmica — que organiza as informações em rede — o fruto de nossas rotineiras pesquisas online, o conforto para nossa necessidade imediata, sanada de forma clean e organizada pelos profissionais de web design.

A esquizofrenia de entender o invisível também se aplica à engenharia dos novos viadutos de Fortaleza22, que de nada sei tecnicamente, mas que vejo como tendo ares de uma “Fortaleza moderna”, ou pelo menos padronizada, ao estilo urbano das megalópoles23. O conhecimento proveniente das máquinas ajuda os engenheiros calculistas. Quem nos ajudará na nossa sociologia?

Apenas máquinas para condensar, organizar e buscar os mais de 1 bilhão de sites24 que atingimos até setembro de 2014. Enquanto você lê esta dissertação, certamente esse número já tem batido novo recorde. Exponencialmente.

Assim, busquemos um termo, uma teoria. Se não encontramos, variemos a lógica textual, não numérica. As máquinas, os servidores e os “infoproletariados”25 programadores do Google nos ajudarão nesta busca. Números nunca foram o meu forte, mas estes permeiam o conhecimento de umas das disciplinas correlativas ao informacionalismo que aqui propomos estudar; teorizados e praticados pelos Sistemas de Informações do mais acessado buscador da internet. Análises quantitativas também ajudaram na consolidação do pensamento sociológicos, já expressos e tanto analisados nas obras de Weber e Durkheim (CASTILLO, 2009). Proferidos em Casttels e Cardoso, como consolidamos no capítulo 2.

Se números tornam nossa pesquisa relevante aos olhos dos quantitativistas, tomemo-los como continuação de nossa análise. Tomemos também os dados das redes contidos nas máquinas dos servidores do Google e armazenados desde 2004, a fim de nos aproximarmos desta visão. Aqui constará um protervo esboço do que foi postulado por Michel Callon (professor de Sociologia na École des

Mines de Paris e pesquisador no Center for the Sociology of Innovation) e do filósofo

22 Apenas na gestão do Prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, foram entregues mais de 20 obras. 23 David Harvey (2001, 2013) e Bruno Latour (2011) ajudam-nos a questionar os padrões que a

engenharia profere às políticas urbanas, que não é centro de nossa análise.

24 Fonte: http://www.internetlivestats.com/total-number-of-websites/ Acessado em 09/11/14.

e sociólogo francês Mandacaru Latour, percussores da Teoria Ator-Rede26. Pretendemos praticar a teoria e apresentar a evolução de busca da palavras-chave “start-up”, cerne do nosso objeto de pesquisa, global regionalmente, segundo o interesse da pesquisa.27

Antes de apresentarmos nossos gráficos e análise, retomemos o pensamento de Callon e Latour. Na introdução de seu livro sobre a cartografia das dinâmicas científicas (CALLON; LAW; RIP, 1986), Michel Callon convida-nos a ampliar o alcance de nossas análises, combinando a observação etnográfica com o estudo quantitativo dos registros deixados pela atividade científica.

Embora a ciência não pode ser reduzida aos textos, estes não deixam de constituir uma fonte principal de dados para qualquer estudo da forma como mundos são criados e transformados em laboratório. Em vez de seguir os atores, nós podemos, por esse motivo, seguir os textos (CALLON, 1986, p. 11).

Nesta abordagem quantitativa, iremos contrastar os dados de buscas dos usuários que utilizam-se do Google, como fonte de busca de informações. Pretendemos dar as ferramentas possíveis de análise a alguns dos problemas que cunhamos no capítulo 1. À prova, nossa hipótese:

a) “Não podemos ficar fora da cena empreendedora global”. Este movimento, aqui no Brasil, se dá mais por um modismo e uma nova saída dos jovens ao mercado de trabalho, que ano a ano parece saturado e encontra na iniciativa empreendedora o “local de trabalho ideal”28.

b) “Se lá deu certo, aqui também vai dar”. Estas seriam moldadas no “Start!” americano de fazer negócio?

26 A teoria ator-rede teve início na vertente dos estudos da Sociologia da Ciência e Tecnologia,

detalhada na obra Ciência em Ação. Sintetizando a teoria de Bruno Latour e Michel Callon, Law (2011) lembra-nos que os autores argumentam que o conhecimento é um produto social, ao invés de ser algo gerado através da operacionalização de um privilegiado método científico. Latour e Callon, juntamente com outros sociólogos, entendem que o "conhecimento" (generalizado a partir do conhecimento de agentes, instituições sociais, máquinas e organizações) pode ser visto como um produto ou um efeito de uma rede de materiais heterogéneos.

27 Utilizamos a ferramenta gratuita disponibilizada pelo Google antes chamada Google Insight, agora

Google Trends. Explicaremos esta ferramenta em um dos anexos desta dissertação.

Não serão os números ou análise dos dados que nos ajudarão a pôr em prova nossa outra vertente hipotética que questiona o desenvolvimento prometido por estas novas empresas de arranque. Priorizamos o detalhamento da pesquisa qualitativa, mas não descartamos os recortes quantitativos. Segundo Boaventura de Sousa Santos29, estas nomenclaturas30 são como “[...] uma reinvenção do capital”, mas poderão nos munir de atalhos para as searas analíticas. De fato concordamos com Castillo e Antunes, que veem nos programadores proletários da informação. No entanto, nos utilizaremos das previsões dos sistemas analíticos quantitativos que observamos para esboçar o mapa de tendências e interesse nos termos relativos ao nosso tema. “Up”? Crescimento e tendência até que ponto? Até quando?

Utilizamos a ferramenta Google Trends para pesquisar o nível de interesse do internauta na busca da palavra-chave “start-up”. Gráficos e números aqui apresentados não terão sentido sem nossa análise. Conectemo-nos a estas palavras- chaves.

Conforme vemos na Figura 10, entre janeiro de 2004 e junho de 2007 os usuários brasileiros ainda não tinham interesse relevante na busca pelo termo “start-

up”. Temos como parâmetro os 100% registrados na Califórnia em janeiro de 2004.

Observamos uma tendência de alta em São Paulo no interesse de busca da palavra- chave “start-up” a partir de 2007, em contraponto à registrada no Ceará, apenas em 2011 computada por este sistema de busca. O que vale ressaltar é a curva descendente contínua nos estados americanos comparados aos Brasileiros até 2010; e o emparelhamento do Ceará e São Paulo no interesse por este tema a partir de 2013.

29 Informação verbal.

Fonte: Google Trends. Elaborada pelo autor.

2 INOVAÇÃO EM REDE: O EMPREENDEDORISMO NA ERA DA INFORMAÇÃO

O principal eixo teórico desta dissertação é o conceito informacional do sociólogo Manuel Castells. Pelo tema “start-up” ser praticamente inexistemente na literatura sociológica, no cinceito do capitalismo informacional veremos similar revinvenção do capitalismo informacional de nosso objeto de pesquisa. Assim, apoiando nossas hipóteses em teorias, utilizamos Max Weber para entender as motivações empreendedoras de nossas agentes, em especial no que diz respeito à força de automotivação. Além disso, versaremos sobre o carisma e a liderança em Weber. Estas serão encontradas no subcapítulo 2.1, como também as nuances do empresariado brasileiro à luz de Fernando Henrique Cardoso. No tópico seguinte, vemos em Joseph Scumpeter a lógica das meras mercadorias produzidas por estes agentes de mudança, ao diferenciar inovação de invenção, além do fetichismo por trás destas, ancorados nas teorias de Karl Marx. Desvendamos as questões econômicas, de empregabilidade e de inovação nas teorias desenvolvimentistas do filósofo Richard Florida, pai do termo “economia criativa”, a qual identificamos e constrastamos com o saber do sociólogo Boaventura de Sousa Santos (subcapítulo 2.3). Apresentamos a tese central de Manuel Castells no subcapítulo 2.4, apronfudado no subcapítulo 3.2. Versamos um pouco sobre as motivações de consumo na última seção deste capítulo.