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Os estudos sociológicos sobre empreendorismo pós-weberiano

2.1 Empreendedorismo e o empresariado brasileiro

2.1.2 Os estudos sociológicos sobre empreendorismo pós-weberiano

Durante o período que antecedeu a segunda guerra mundial, a literatura sociológica sobre o empreendedorismo era relativamente escassa. Várias obras essenciais e relevantes ao assunto – incluindo o A Ética Protestante, de Weber, e

Teorias do Desenvolvimento Econômico, de Schumpeter (SWEDBERG, 2000 apud

RUEF; LOUNSBURY, 2007, p. 9), que nesta dissertação terá um especial destaque. À luz Weber, os estudos sociológicos contemporâneos entendem o empreendedorismo a partir de quatro perspectivas relativas aos agentes empreendedores: (a) a perspectiva conceitual, que enfatiza o “papel desempenhado pelo ambiente cultural e material ao influenciar as orientações individuais em direção ao empreendedorismo”; (b) a perspectiva comportamental, que examina a “estrutura e o processo de atividade empreendedora em um micronível”; (c) a perspectiva

para uma startup organizacional, uma indústria, uma comunidade, ou uma sociedade como um todo”; (d) a perspectiva ecológica que analisa “o impacto direto do ambiente cultural e material sobre o desenvolvimento institucional e econômico, considerado de forma independente das ações dos indivíduos empreendedores”. (RUEF; LOUNSBURY, 2007, p. 18).

Mas estes eixos conceituais vão além das ideias weberianas. Citamos na Figura 11 um rico levantamento das obras sociológicas pós-Weber – identificadas por Ruef e Lounsbury (2007, p. 9) - que nos lembram:

Além do mais, o subcampo da sociologia organizacional em si, que poderia fornecer bastante incentivo para o estudo do empreendedorismo nos anos pós-guerra, existia apenas como um vago amálgama de pensamento acerca das relações humanas e da administração cientifica (Scott, 2003). Aqueles que desejam uma introdução mais laboriosa sobre a sociologia do empreendedorismo devem buscá-la em uma fonte um tanto quanto inusitada: um livro curto de 52 páginas publicado pelo economista político austríaco Eugen Schwiedland em 1933 entitulado ‘Toward a Sociology of Entrepreneurship’ (Zur Sociologie des Unternehmertums) (Rumo à uma sociologia do empreendedorismo). A monografia de Shwiedland consistia basicamente em um tratado sobre políticas que favoreciam o suporte ao empreendedorismo sob os auspícios de uma autoridade estatal central (ver Hughes, 1934, para uma análise). A obra nunca foi traduzida e não teve impacto relevante no universo acadêmico33 (2007, p. 9).

ASQ – Administrative Science Quarterly AMJ - Academy of Management Journal AJS - American Journal of Sociology ASR - American Sociological Review BJS - British Journal of Sociology ESR - European Sociological Review

A - Palavras chaves utilizadas: “empreendimento”, “empreendedorismo” e “empreendedor” pesquisados em títulos e conteúdos de artigos.

B – Palavras-chaves utilizadas: “fundadores”, “fundação” excluído o verbo “fundar”pesquisados em títulos e conteúdos de artigos.

33 “Moreover, the subfield of organizational sociology itself, which would provide much of the impetus to the study of

entrepreneurship in the post-war years, existed only as a vague amalgam of scientific management and human relations thinking (Scott, 2003). Those desiring a dedicated introduction the sociology of entrepreneurship would need to seek it in an unlikely source: a short, 52 page book published by the Austrian political economist Eugen Schwiedland in 1933. Entitled ‘‘Toward a Sociology of Entrepreneurship’’ (Zur Sociologie des Unternehmertums), Schwiedland’s monograph was primarily a policy tract favoring organized support for entrepreneurs under the auspices of a central state authority (see Hughes, 1934, for a critique). It was never translated and had no appreciable scholarly impact” (tradução do autor).

Fonte: Ruef e Lounsbury (2007, p. 9). Tabela 2

Os autores ainda resgatam a origem francesa do termo “empreendedor” - um conceito vago e frequentemente evasivo, inerente ao universo semântico das infantes firmas informacionais e relativo aos agentes econômicos nos duradouros anos de sobrevivência do sistema capistalista – intensamente debatido na literatura americana. Empreender é administrar. É arriscar.

De acordo com Webster, a etimologia do termo está ligada ao verbo francês ‘entreprendre’ (empreender) e leva a uma definição comum em que o empreendedor é alguém que ‘organiza, administra, e assume os riscos de

uma empresa ou empreendimento’. Visto que o conceito foi gerado pelos

economistas políticos franceses Cantillon e Say, John Stuart, Mill lamentou a ausência de um termo equivalente anglo americano e ajudou a introduzir um na língua inglesa. Respeitando as origens francesas do termo, Mill (1994[1848]) e um número de economistas futuros (e.g. Knight 1921) enfatizaram que o duplo papel desempenhado na responsabilidade pelo risco e pela administração da empresa são características centrais do empreendedorismo. Não é surpresa, em vista de sua ênfase nos indivíduos racionais e que calculam riscos, que a caracterização de Mill do empreendedor não tenha alcançado muito progresso entre os sociólogos (ver Xu & Ruef (2004) para uma análise empírica) (RUEF; LOUNSBURY, 2007, p. 14, grifo nosso).

Elaboramos o Quadro 3 abaixo para explanar sobre pelo menos cinco conceitos de empreendedorismo na literatura sociológica identificados por Ruef e Lounsbury (2007). Certamente, em estudos futuros exploraremos tais conceitos. Neste capítulo oreferimos focar nos conceitos terceiro e quarto.

Quadro 3 - Conceitos da ideia de empreendedorismo na literatura sociológica Conceito 1:

Os sociólogos têm mantido uma

consistente ênfase no empreendedorismo com um processo de fundação

organizacional.

Apud CARROLL e KHESSINA, 2005.

“Numa tentativa de manter o foco nas condições do ambiente da fundação, uma grande parte desta literatura refere-se de forma meramente limitada aos indivíduos empreendedores.”

Conceito 2:

Baseia-se nos estudos de Parsons e McLelland no intuito de argumentar que o empreendedorismo poderia ser estudado através de variações regionais de valor, cultura e crescimento econômico.

Apud Hoselitz (1952, 1960); Landes, (1965[1951]); Lipset (1967) e Inkeles e Smith (1974).

“Uma literatura ainda mais antiga sobre desenvolvimento econômico. Enfatiza a cultura e a personalidade foi promovida especialmente por Leland Jenks (e.g., 1965[1950]) através de sua filiação com o Research Center on Entrepreneurial History, ou Centro de Pesquisa sobre a História do Empreendedorismo, na Universidade de Harvard, fundado por meio de uma doação da Fundação Rockefeller em 1948. Com a adição dos resultados do empreendedorismo aos níveis nacional e regional, o indivíduo

frequentemente recua para um segundo plano, talvez até mais do que, conta-se, ocorre nos processos organizacionais de fundação.”

Conceito 3:

Inventores diferem-se de inovadores na medida que manipulam as combinações ao capital seguindo os conceitos de destruição criativa.

Apud Ruef, 2002.

“A definição schumperiana tem seu foco sobre a capacidade inovadora do empreendedor.”

Conceito 4:

Liderança Carismática* e

desmembramento do termo Burocracia como estimulantes ao papel

empreendedor.

Apud Burnham (1941); Hartmann (1959); Swedberg (2005, p. 87–88).

*Adicionado à luz de nosso entendimento.

“Definição weberiana enfatiza o papel empreendedor como um contrapeso à burocracia administrativa.”

Conceito 5:

Empreendedor movido por interesses próprios.

Apud Dimaggio (1988) .

“Uma concepção sociológica final de empreendedorismo descarta tanto o individualismo metodológico do modelo de empreendedor proposto por Mill quanto sua ênfase restrita nos processos econômicos e sociais. Os empreendedores institucionais são agentes dotados de recursos e movidos por interesse próprio com a capacidade de desenvolver novas instituições sociais.”

Fonte: Adaptado pelo autor e traduzido do original em Ruef e Lounsbury (2007, p. 15-16).

A ideia central comum a estes conceitos, ainda apontado pelos autores, trata-se da ênfase nos produtos culturais do empreendedorismo, criados como novos conceitos, novos significados, novos arcabouços cognitivos, novas regras e entre outros. Reforçamos as hipóteses que levantamos onde versamos fatores de empregabilidade, culturais, econômicos, políticos e questões relativas a inovação e tecnologia consideradas como forças tensionantes das novas formas de empreendorismo das startups.

Tomados como um todo, os artigos deste volume destacam como a imaginação sociológica enfatiza a necessidade de uma perspectiva provida de vários níveis e uma profusão de nuanças sobre o empreendedorismo. Diferentemente das abordagens psicológica e econômica, a análise

sociológica sugere que o empreendedorismo não pode ser adequadamente compreendido fora de seu contexto sócio-cultural. Com

a finalidade de alcançar maior progresso por meio da criação de um arcabouço unificado para o subcampo da sociologia do empreendedorismo, acreditamos que seria útil reconhecer os alicerces weberianos presentes na maior parte da pesquisa até o presente momento e que seria também útil levar em consideração de forma declarada estes alicerces na criação de uma

ênfase teórica compartilhada. [...] Há um século atrás, Weber reconheceu

que a atividade empreendedora, executada na ausência do suporte institucional, pode acarretar sérias responsabilidades para os agentes organizacionais que surgem durante o processo. É claro que tal

empreendedorismo ilícito pode representar uma das mais profundas possibilidades de mudança institucional (2007, p. 23, grifo nosso).

Que suportes os jovens empreendedores cearenses fundadores dos novos moldes de empreender por meio destas infantes firmas carencem e dispõem? Que fatores socioculturais os levaram a arriscar em um solo nitidamente infértil à produtividade empreendedora, mas supreendente os levam a trilhar na contra-mão do ambiente organicamente ideal? Os mesmos fatores que os detentores das maiores concentrações de rendas dos senhores do capital alencarinos um dia os influenciaram? Estas perguntas, desmembradas de nossa questão central, serão reveladas por suas respostas no longo do subtópico 4.3. A aplicabilidade destes conceitos, em especial à luz de Max Weber e Joseph Schumpeter, é o que veremos a seguir. Priorizamos a nuances brasileiras tomando a literatura do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, detalhadas em seguida.