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CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO E TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DO ESTUDO

1.1 A motivação para o estudo

A epígrafe que inicia este capítulo, revela e justifica a motivação para esta pesquisa, que teve origem em nossa trajetória acadêmica e na experiência adquirida ao longo de uma década dedicada à gestão na extensão universitária na Universidade do Estado de Santa Catarina, de onde reiteramos Goldenberg (2004), quando observa que a,

“[...] totalidade de qualquer objeto de estudo é uma construção do pesquisador, definida em termos do que lhe parece mais útil para responder ao seu problema de pesquisa. É irreal supor que se pode ver, descrever e descobrir a relevância teórica de tudo. Na verdade, o pesquisador acaba se concentrando em alguns problemas específicos que lhe parecem de maior importância” (Goldenberg, 2004, p.51).

Assim, motivados também pelas observações de Paulo Freire (1996) na defesa da ideia da extensão universitária como um ato educativo, pois possibilita estender os conhecimentos no sentido de transformar o mundo em que as pessoas estão, e ainda, que a extensão é transformar, é modificar a cultura, por isso, um ato político, que carece de políticas que a fortaleçam, definimos o objeto de estudo para essa investigação.

No entanto, ao iniciar a trajetória investigativa nos deparamos com os contornos da universidade pública no Brasil. “A Universidade no século XXI” (Sousa Santos, 2010), uma instituição que se depara com três crises: a crise da hegemonia; crise de legitimidade e a crise institucional. Esse contexto, nos mostra respectivamente, que a universidade do século XXI, deixa de ser a única instituição a dominar o ensino superior e a produção de pesquisa. Deixa de ser uma instituição de consenso diante a hierarquia dos “saberes especializados” e “as exigências sociais e políticas da democratização da universidade e reinvindicação da igualdade de oportunidades para os filhos das classes populares”

(Sousa Santos, 2010, p. 10). E por fim, a crise institucional que se antagoniza entre “critérios de eficácia e de produtividade de natureza empresarial ou de responsabilidade social” (Ibidem, p. 10).

Encontramos em Sousa Santos (2010) princípios básicos que permitem à universidade pública responder criativa e eficazmente aos desafios encontrados no século XXI. Dentre estes princípios, a retomada da legitimidade da universidade pública, com cinco áreas de ação de domínio para este desafio: acesso; extensão; pesquisa-ação; ecologia de saberes; universidade e escola pública. O nosso destaque neste momento é para a extensão, por ser considerada a área com um significado muito especial, “atribuindo às universidades uma participação ativa na construção da coesão social, no aprofundamento da democracia, na luta contra a exclusão social e a degradação ambiental, na defesa da diversidade cultural” (Sousa Santos, 2010, p.73).

Deste modo, traçamos uma trajetória onde percorremos espaços que compreendem uma análise documental e de empiria. Assim, destacamos no campo político documentos, como a Política de Extensão do Ministério da Educação (MEC) que evidenciam no Brasil um novo formato da extensão universitária, a ser regido por uma política que busca suprir algumas demandas reprimidas na sociedade brasileira (BRASIL, 2011). Foram criados programas de incentivo e fomento nos quais se investiram recursos de maneira significativa, a exemplo do Proext, criado em 2003, proporcionando um importante aumento aos recursos financeiros disponibilizados para programas e projetos de extensão, saindo de 6 milhões de reais em 2008, para 70 milhões em 2011 (Maciel, 2010).

Essa situação sinaliza a valorização que vem sendo dada à extensão universitária no Brasil, representando um marco na política de fomento a atividades extensionistas nas universidades públicas brasileiras. No entanto, mesmo com a diretriz da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, já preconizado na Carta Magna Brasileira de 1988, muito pouco ou quase nada se tem produzido acerca da curricularização da extensão universitária no Brasil.

Assim, envolvido com as atividades extensionistas desde graduando1 e na condição de docente da UDESC a partir de 2001, venho participando ativamente de todo o processo de construção e valorização da extensão universitária no âmbito nacional.

Destaco que minha trajetória como docente extensionista oportunizou assumir a Coordenação de Extensão da UDESC, na gestão 2008/2012, sendo reconduzido para a gestão 2012/2016. No período da primeira gestão, tive a oportunidade de perceber a complexidade que envolve a gestão das

1 Ingressei em 1989 no curso de Licenciatura Plena em Educação Física pela UDESC, durante o qual participei como bolsista de projetos de extensão na área de Educação Física envolvendo crianças, adolescentes e idosos residentes em bairros periféricos (Morro do Mocotó, Estreito, Saco dos Limões, Vila Aparecida).

2 A gestão 2008/2012 foi composta pelo reitor Prof. Dr. Sebastião o Iberes Lopes Melo; vice-reitor Prof. Dr. Antônio Heronaldo de Sousa; Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Comunidade da UDESC Prof. Dr. Paulino de Jesus Francisco Cardoso; Pró-Reitor de Planejamento Prof. Me. Marcos Tomasi (UDESC, 2008; 2012; 2016).

ações de extensão de uma IES pública, salientando a participação junto ao Comitê de Extensão, envolvendo as unidades educativas da UDESC; a representação em fóruns e conselhos para fomento de atividades de extensão; o gerenciamento do Sistema de Informação e Gestão de Projetos do MEC; a participação como editor da revista de extensão online “UDESC em Ação”; a adequação da Política de Extensão da UDESC3; a implantação do Sistema de Consultoria ad hoc nos Editais UDESC; e a criação do Núcleo Extensionista Rondon4/UDESC (NER/UDESC).

Contribuíram, assim, para estas motivações o meu envolvimento com estas atividades, e o advento do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014 – 2024, Lei nº 13.005 de 25 junho de 2014, que em sua meta 12.7, responsabiliza as IES a assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinência social.

Neste sentido, somos mobilizados à implementação desse processo de desenvolvimento e incentivo da extensão universitária considerando as áreas definidas pela Política Nacional de Extensão.

Diante do grande desafio para o decênio 2014 - 2024, defendemos que a extensão nas reformas universitárias deverá se apresentar com um novo papel, sendo contemplada também nos currículos dos cursos de graduação, podendo se estabelecer como uma opção de enfrentamento dos problemas do capitalismo global, atuando na construção da democracia, contra a exclusão social, na defesa do meio ambiente e a favor da diversidade e pluralidade cultural.

Diante deste cenário, define-se o tema de investigação, qual seja: a extensão universitária no que refere a sua curricularização, considerando-a importante ponto de sustentação da diretriz universitária,

“[...]indispensável na formação do estudante, na qualificação do professor e no intercâmbio com a sociedade” (ForProex, 2012, p. 05). Para tratarmos do contexto que envolve esta pesquisa, transitamos pela extensão universitária, políticas educacionais e currículo.

Ao tratarmos da curricularização da extensão universitária, corroboramos com Tomaz Tadeu da Silva, quando observa que uma teoria do currículo “começaria por supor que existe, ‘lá fora’, esperando para ser descoberta, descrita e explicada, uma coisa chamada ‘currículo’. O currículo seria um objeto que precederia a teoria, a qual entraria em cena para descobri-lo, descrevê-lo, explicá-lo”

(Silva, 2000, p.11).

3 Ver Resolução nº 007/2011 – Conselho Universitário (CONSUNI), que dispõe e dá outras providências sobre a Política de Extensão da UDESC (Anexo 01).

4 Esta atividade de Extensão iniciou-se na década de 60, idealizada pelo Professor Wilson Choeri, da antiga Universidade Estadual da Guanabara, hoje UERJ. Em 1967, trinta universitários da UEG, UFF e PUC/RJ acompanhados pelo professor, Omir Fontoura, seguiram para Rondônia, dando início ao Projeto Rondon, nome dado em homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Tinha como lema “Integrar para não Entregar”, a fim de ocupar espaços da região norte do País para coibir a entrada estrangeira não desejada, propondo ações para o desenvolvimento local. Ainda hoje há participação discente, com o fim de sensibilizar e formar pesquisadores cidadãos. Este protagonismo permite ao discente sair dos “muros da Universidade” fazendo com que a extensão atinja seu potencial de formação para a cidadania. Ver Portaria nº 1192/2010 – que dispõe e dá outras providências sobre a criação do NER/UDESC (Anexo 02).

Diante do que afirma Silva (2000), podemos afirmar que esta proposta foi se constituindo com inquietações e questionamentos advindos dos aspectos que destacamos da minha experiência extensionista como já mencionado, ou seja, com esse currículo que precede a teoria, mas advindo da inserção deste pesquisador junto a extensão universitária, até chegarmos à problemática da pesquisa em questão. Deste modo, a pergunta principal, circunscreveu-se à seguinte interrogação: como as IES públicas no Brasil, têm se organizado para cumprir com o que preconiza o Plano Nacional de Educação (PNE), para o decênio 2014-2024, ou seja, a curricularização da extensão universitária?

Esta temática tem nos inquietado antes mesmo da aprovação do documento final do PNE. Isso, por concordarmos com Goldenberg (2004) e Triviños (1987) quando, respectivamente, observam que a escolha do objeto a ser estudado não surge espontaneamente, mas é sobretudo, fruto da inserção do pesquisador na sociedade5 e que “o foco de pesquisa (...) deve surgir da prática cotidiana que o pesquisador realiza como profissional” (p.93). Deste modo, a problemática da pesquisa foi-se desenhando a partir de vivências e imersões nas atividades da extensão universitária, que foram gerando inquietações.

Esperamos, assim, que esta pesquisa tenha apontado possibilidades para o cumprimento da Meta 12, Estratégia 12.7 do Plano Nacional de Educação, contribuindo com as instituições e práticas pedagógicos que incluam a extensão universitária com diretriz para tais práticas, possibilitando também uma universidade mais aberta, onde a flexibilização curricular venha contemplar a curricularização da extensão universitária.