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CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO E TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DO ESTUDO

1.2 Natureza da investigação

A investigação científica tem sido para a humanidade, um espaço de muitas e importantes conquistas em diferentes áreas do conhecimento, ao proporcionar novos conhecimentos, e diferentes possibilidades de desfrutar desse conhecimento produzido historicamente. Lakatos e Marconi (1983), afirma que o conhecimento científico depende de investigação metódica, uma vez que é planejado. De acordo com Lakatos e Marconi (1983, p. 33), “o cientista não age ao acaso: ele planeja seu trabalho, sabe o que procura e como deve proceder para encontrar o que almeja”, sublinhando que “baseia-se em conhecimentos anteriores, particularmente em hipóteses já confirmadas, em leis e princípios já estabelecidos” (Lakatos e Marconi, 1983, p.33), obedecendo a um método preestabelecido, que vai determinar o processo de investigação, a aplicação de normas e técnicas.

5Professor Universitário, extensionista e Coordenador de Extensão da instituição, na Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Comunidade, de 2008 até a

Nesse sentido, optamos pela pesquisa exploratória de cunho qualitativo, que surge a partir das críticas ao positivismo, investindo contra o mecanicismo e o reducionismo do espectro positivista sobre o mundo (Coutinho, 2018). Nesse contexto, Coutinho observa que não é fácil definir a pesquisa qualitativa, pois, não admite uma única interpretação. Esse tipo de pesquisa está vinculada com “à necessidade de observar os sujeitos, não em situações isoladas, artificiais, senão na perspectiva de um contexto social, colocando ênfase na ideia dos significados latentes do comportamento do homem”

(Triviños 1992, p.122). Lüdke e André (1986), ao referirem-se à pesquisa qualitativa, observam que nesse tipo de trabalho o pesquisador mantém um contato direto com a situação e o fenômeno que está em estudo.

Portando, nossa opção foi pelo viés que defende uma pesquisa “de” e “para” seres humanos, ou seja, de pessoas que não são passivas, mas que interpretam o mundo em que vivem cotidianamente. “Esse ponto de vista encaminha os estudos que têm como objeto os seres humanos aos métodos do tipo qualitativo. Os estudiosos que se dedicam a esse tipo de pesquisa afirmam que o homem (sic) é diferente dos objetos, por isso seu estudo necessita de uma metodologia que considere essas diferenças” (Guerra, 2014, p.10).

A pesquisa qualitativa, considera as possibilidades de abrangência, amplitude e dinamismo frente à temática proposta. Concordamos com Bogdan e Biklen (1994) quando afirmam que, “os investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que lhes permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista do informador. O processo de condução de investigação qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por aqueles de uma forma neutra (Bogdan & Biklen, 1994, p.51).

Ainda Goldenberg (1997, p.34) observa que “[...] os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria”.

Sendo assim, entendemos que a abordagem qualitativa, considerando as observações anteriores, é a mais adequada para a pesquisa que realizamos, ponderando que “a pesquisa qualitativa é utilizada quando se busca compreender o significado que os acontecimentos e interações têm para os indivíduos, em situações particulares” (Silva, Gobbi & Simão, 2005, p.71). Denzin e Lincoln (1994) defendem que a investigação qualitativa é um campo de investigação de pleno direito.

Aires (2011) destaca que esse campo atravessa cinco momentos históricos que coexistem nas investigações qualitativas na atualidade: “[...] o período tradicional (1900-1950), a idade moderna ou idade de ouro (1950-1970), os géneros difusos (1970-1986), a crise de representação (1986-1990) e o pós-modernismo e a actualidade (1990-1999) (p. 09).

período tradicional,

paradigma positivista. “Neste período, os investigadores qualitativos escrevem relatos “objectivos” das experiências de terreno que reflectem as influências do paradigma positivista na ciência” (Aires, 2011, p. 09). O período moderno ou idade de ouro estabelece-se a partir dos fundamentos do período clássico. Aqui o realismo social e o naturalismo são ainda valorizados. Estende-se até os anos 1970, ainda muito presente nos trabalhos atuais, percebe-se influência dos métodos estatísticos no tratamento de dados, e o investigador busca base para os seus argumentos na retórica positivista e pós-posititivista.

Entre os anos 1970 a1986, temos os géneros difusos (“blurred genres”), onde as ciências humanas passam a desempenhar “um papel central na teoria crítica e interpretativa. Este período está ligado a uma grande variedade de perspectivas de interpretação como a hermenêutica, o estruturalismo, a semiótica, a fenomenologia, os estudos culturais e o feminismo” (Aires, 2011, p.10).

O autor observa que nesse período,

“a investigação qualitativa aplicada começa a conquistar um espaço específico no contexto científico; as investigações vão centrar-se na teoria enraizada (grounded theory), no estudo de caso, nos métodos de pesquisa históricos e biográficos, na acção etnográfica e clínica; as técnicas de recolha e análise empírica de materiais predominantemente aplicadas são as entrevistas qualitativas (abertas ou semi-estruturadas), a observação, a experiência pessoal e os documentários; os computadores começam a ser utilizados na análise de conteúdo das narrativas” (Aires, 2011, p.10).

O último período coincide com o momento atual, e configura-se “pelas duas crises anteriormente referidas. As teorias são entendidas em termos narrativos como histórias de campo (Van Maanen, 1988) e as preocupações acerca da representação do “outro” mantêm-se” (Aires, 2011, p.12). Rompe-se com o paradigma de investigador distante “[...] e a investigação centra-Rompe-se mais na acção, na linha do criticismo e da crítica social” (Aires, 2011, p.12). O autor destaca que “esta nova sensibilidade” vai questionar todos os paradigmas anteriores, onde, “[...] nenhum método ou teoria tem o direito universal de reivindicar para si próprio uma autoridade única no conhecimento” (Aires, 2011, p. 13), não havendo assim, posição privilegiada para nenhum discurso. Estas fases, na percepção de Aires (2011), não estão ultrapassadas, enquadram-se em epistemologias de estudos atuais.

Percebemos na pesquisa qualitativa a possibilidade de contato com o universo dos significados, crenças, percepções, sentimentos, valores, opiniões e atitudes dos sujeitos sociais, permitindo assim,

Construção da Teoria

Busca de padrões

Formar categorias de

Levantamento de

compreender um nível de realidade que não pode ser quantificado (Minayo, 2010). Diante destas constatações, passamos a descrever a trajetória metodológica deste estudo, desde a sua fase inicial, ou seja, o que nos motivou para tal.

Porém, antes, retomamos o significado de metodologia. Methodos (método) vem do grego, composta por meta, ou seja, através de, por meio, e hodos, que remete a via, caminho. Metodologia = methodos + logos, que também tem origem no grego, e inicialmente significava palavra escrita ou falada. A partir dos filósofos gregos, “logos” passa a ter um significado mais amplo, passando a ser um conceito filosófico, e traduzido como razão. Assim, podemos afirmar que a metodologia, é indispensável para a arranjo do percurso, por meio do qual, podemos alcançar os objetivos planejados em nossa proposta de investigação. Em síntese, metodologia é o estudo da organização, dos caminhos a serem percorridos, para a realização de uma investigação. Etimologicamente, dizemos que é o estudo dos caminhos, dos instrumentos utilizados para fazer uma pesquisa científica.

Figura 1 Ilustração da Metodologia de cariz qualitativo:

Fonte: O desenrolar de uma investigação qualitativa (adaptação de Coutinho 2018, p. 29)

Na investigação qualitativa, a riqueza da diversidade individual é aceita, em detrimento da uniformização dos comportamentos.

“O interesse está mais no conteúdo do que no procedimento, razão pela qual a metodologia é determinada pela problemática em estudo, em que a generalização é substituída pela particularização, a relação causal e linear pela relação contextual e complexa, os resultados inquestionáveis pelos resultados questionáveis, a observação sistemática pela observação experimental ou participante. A questionabilidade dos resultados impõe-se porque mais do que o

Investigador recolhe

estudo de grandes amostras interessa o estudo de casos, de sujeitos que agem em situações, pois os significados que compartilham são significados-em-ação” (Pacheco, 1993, p.28).