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5 MOVIMENTO PASSE LIVRE E O ATIVISMO EM REDE

5.2 O MPL-SP e as Redes Sociais

O MPL-SP se articula na internet e em diferentes canais de comunicação. Existem páginas alternativas como a Tarifa Zero que aglutina as causas, lutas e propostas do movimento. O MPL nacional e seus coletivos estaduais ou federados possuem página oficial. No caso do MPL-SP, o endereço eletrônico apresenta diversas seções. É bem organizado e tem um forte caráter informativo e educativo, reunindo vasto material institucional.

A vertente paulistana do movimento Passe Livre possui ainda canais nas principais redes sociais ou de relacionamento e nas mídias digitais. Elas tiveram papel decisivo durante os protestos de 2013, sendo utilizadas para convocação, na articulação dos atos de protesto e na construção das narrativas durantes os mesmos, desarticulando sobretudo o ponto de vista da mídia tradicional e hegemônica. Até hoje observa-se que há, por parte do movimento um tratamento diferenciado, estratégico e bem articulado na comunicação por meio dessas redes. Estima-se que dos 107,7 milhões de internautas, o equivalente a 80% dos internautas brasileiros (89 milhões de pessoas) esteja conectado ao Facebook, rede social digital ou de relacionamento criada em 2004 pelos universitários da universidade de Harvard, Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes. Diariamente o acesso a

essa rede chega a 59 milhões de brasileiros, segundo dados de agosto de 2014 divulgados pela própria rede social44. O Facebook atingiu em 2012, 1 bilhão de usuários ativos e, em janeiro

de 2015, anunciou que conta com 1.44 bilhão de usuários em todo o mundo45.

A página oficial do MPL-SP nessa rede foi criada em junho de 2011. A primeira postagem data do dia cinco de junho e informa que o perfil de usuário foi alterado para página depois cinco mil amigos há duas de semanas e continuavam recebendo uma medida de 15 solicitações por dia46.

Figura 1 - Número de seguidores em 16 de junho de 2013 - Reprodução da página do Facebook do MPL-SP. 47

No dia 14 de junho de 2013, ela contava com 58.350 seguidores (“curtidas”). Rapidamente, a página do movimento foi conseguindo aumentar a adesão. Até o fim dos primeiros atos de protestos de 2013 já possuía aproximadamente 295 mil “curtidas”, termo relacionado à aprovação positiva de determinada publicação ou página do Facebook e, que, ao se referir ao determinado endereço de usuário reflete basicamente o número de seguidores das páginas destinadas a grupos, organizações ou pessoas notórias.

44 Portal G1. Oito a cada dez internautas do Brasil estão no Facebook, diz rede social. 21 de agosto de 2014.

Disponível em <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/08/oito-cada-dez-internautas-do-brasil-estao-no- facebook-diz-rede-social.html> Acesso em 21 ago. 2014.

45 FOLHA ONLINE. Facebook supera estimativa de receita de analistas; usuários já são 1,4 bi. 20 jan. 2015.

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/tec/2015/01/1581963-facebook-supera-estimativa-de-receita-de- analistas-usuarios-ja-sao-14-bi.shtml>. Acesso em 11 maio 2015.

46 No Facebook, perfis se destinam a usuários individuais e podem reunir até cinco mil “amigos” enquanto as

páginas são destinadas a organizações, instituições, empresas ou personalidades públicas, tendo um número ilimitado de seguidores.

47 Disponível em: http://imguol.com/c/noticias/2013/06/14/passe-livre-sp-o-site-do-movimento-passe-livre-sp-

um-dos-organizadores-dos-protestos-na-cidade-de-sao-paulo-conta-com-eventos-e-conteudos-de-internautas- sobre-as-manifestacoes-contra-o-aumento-da-1371228679195_956x500.jpg. Acesso em 15 mai. 2015.

Figura 2 – Número de seguidores em algumas semanas de protesto em 2013 - Reprodução da página do Facebook do MPL-SP na ocasião dos protestos em junho de 2013.

Fonte: https://www.facebook.com/passelivresp

Hoje a página oficial do MPL-SP apresenta 303 mil “curtidas”48, número que, neste

contexto, indica o número de seguidores.

Figura 3 - Reprodução da página do Facebook do MPL-SP. Fonte: https://www.facebook.com/passelivresp. Acesso em 12 mai. 2015

O coletivo também utiliza o microblog Twitter no qual “@mpl_sp” a conta criada em janeiro de 2010, tem atualmente 3.034 seguidores49. Durante os protestos de 2013, a rede

social digital teve papel significativo ao indicar em tempo real as ações, fatos e as temáticas que envolviam as manifestações como se observa a seguir.

48 Dados até 12 de maio de 2015.

Figura 4 - Reprodução da página do MPL-SP no Twitter - @mpl_sp. Disponível em <https://twitter.com/mpl_sp>. Acesso em 12 mai. 2015.

Segundo pesquisa do Datafolha, divulgada em 19 de junho de 201350 e realizada com 766 pessoas, dos 65 mil presentes na manifestação de segunda-feira, 17 de junho, no Largo da Batata, em São Paulo, 93% soube do ato através dos das redes sociais. O Facebook foi utilizado por 81% como principal fonte de informação sobre os protestos. Os dados apontam o perfil dos manifestantes: eram homens (63%), de até 25 anos (53%) e com nível superior de ensino, completo ou incompleto (77%); 56% mencionaram a posição contrária ao aumento da passagem; 40% disse estar ali para protestar contra a corrupção; 31%, contra a repressão/violência policial e 27% por um transporte de melhor qualidade.

O alcance, a participação das pessoas conectadas às redes e aos protestos pode ser observada pela equipe Grunz51, um grupo de monitoramento da Internet: mais de 3 milhões de

pessoas confirmaram presença nos eventos pelo Facebook entre 17 e 30 de junho em 611 cidades – 538 cidades brasileiras, das quais 26 capitais, e 73 cidades de 27 países do exterior.

As redes foram mais que canais de comunicação e informativos do movimento, enquanto instituições permitiram que as vozes dos cidadãos também se propagassem e, sobretudo, apresentar uma leitura alternativa à da mídia tradicional sobre os eventos de junho pela redução da tarifa. Dadas as proporções que os protestos atingiram, observou-se durante junho de 2013 que tanto a mídia tradicional como as chamadas mídias digitais foram responsáveis por projetar os levantes de junho. A mídia tradicional que, inicialmente ignorava

50 Dados resumidos da pesquisa podem ser encontrados em:

http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2013/06/1297654-largo-da-batata-reuniu-75-mil-a-maioria- novatos-na-onda-de-protestos.shtm. A íntegra está disponível no endereço:

http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2013/06/19/contagaem-manifestacao-lgo-da-batata.pdf

51 Dados disponíveis em http://www.grunz.com.br/mapa-dos-protestos-no-brasil-pelo-mundo. Acesso em 01 ago.

ou abordava o movimento de forma negativa, precisou mudar sua postura diante dos acontecimentos, principalmente quando por meio das redes, ele ganhou projeção, como se observa no depoimento de um dos integrantes que falou como porta-voz do MPL:

[...] os próprios manifestantes noticiando, no Facebook, tirando foto, colocando vídeo no YouTube, noticiando pras pessoas, falando “tirei a foto aqui, olha a bala de borracha que eu tomei”, “olha esse cara, como é que ele tá”, “tô aqui na delegacia há ‘x’ horas” Eles têm um papel muito importante na informação, quanto mais gente falando... A gente acha que grande parte do tamanho que toma é porque a maioria das pessoas se apropriaram disso e elas se tornam sujeitos também da luta, quanto mais gente lutando melhor. O MPL não é a única organização que tá nessa luta e nem quer ser. Gente que tá lutando pelo transporte e não tá no MPL, maravilha. Gente que tá na manifestação e tá fazendo a notícia, não precisa ser uma página oficial do Facebook, do MPL, do Passe Livre São Paulo pra ter uma relevância na importância da luta, é isso. Teve uma importância muito grande em desmistificar e deslegitimar uma versão que estava sendo mantida pela mídia [...] (LUCA, 2013 apud ESPÍRITO SANTO, 2013, p. 67)

Se os tradicionais veículos de massa como a televisão tiveram até o final do século XX o papel de espetacularizar os fatos, os mesmos também contribuíram para que isso ocorresse, mas foi, sobretudo, com a propagação viral de fotos, depoimentos, curtidos, comentários, compartilhamentos e outras formas de interação que envolvem a comunicação mediada por computador que eles e suas reivindicações se popularizaram e até conseguiram a simpatia de parte da opinião pública. Milhares de comentários individuais, de apoio, complemento, indignação, repúdio eram postados o tempo todo. Protestos individuais que se amplificavam no coletivo ou grupo com o uso das mais variadas plataformas tecnológicas de conexão, aspectos que nos remetem à forma de socialidade inerente à cibercultura.