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5 MOVIMENTO PASSE LIVRE E O ATIVISMO EM REDE

5.4 Os protestos na internet

Cobertas pela mídia tradicional de formas distintas, foi na mídia digital e com a utilização dos dispositivos móveis como celulares, smarthpones e da comunicação mediada por computador nas redes socais digitais ou de relacionamento que os protestos se propagaram de forma viralizada. Pela própria instantaneidade que lhe é característica, os atos eram divulgados e ganhavam rapidamente as redes, páginas e timelines do Movimento e dos usuários que o seguem.

Diversas empresas especializadas em monitoramento on-line relataram o fenômeno. Embora os números sejam divergentes, o que pode ser justificado pela metodologia de coleta,

ilustram o alcance das manifestações. Para se ter uma ideia, só nas manifestações que ocorreram no dia 17, em diversas capitais do país geraram cerca de 550 mil posts52 nas redes

sociais, segundo levantamento da agência digital Today53. O Twitter foi a rede social mais

usada nessas manifestações, registrando 88% das publicações, algo em torno de 484. Já o Facebook teve 10% de participação com 60 mil postagens sobre os protestos enquanto o Google+ e blogs foram responsáveis pelos 2% restantes. As hashtags54 mais usadas foram

#vemprarua, #ogiganteacordou, #protestosp, #mudabrasil e #semviolência. Às 20h houve o pico de mensagens, com mais de 87 mil postagens - 15% das publicações do dia. Estima-se que a mensagens tenham chegado a mais de 79 milhões de pessoas. 276 mil teriam confirmado a participação do protesto do dia 17 pelas redes sociais e grande parte comentou sobre o mesmo assunto nas mesmas, segundo informa o levantamento on-line da Scup55, uma

ferramenta paga de monitoramento, gestão e análise de mídias sociais. A Scup contabilizou mais de 236 mil publicações postadas nas redes sociais no período e entre os termos mais citados estão 'Protesto', 'O gigante acordou', 'Vem pra rua' e 'Acorda, Brasil'. As redes sociais também exerceram um papel fundamental na organização dos manifestantes e dos atos.56 Tais levantamentos dessas empresas especializadas foram divulgados na internet e alguns foram transformados em infográficos com números, que em alguns casos, apesar de divergentes, dão dimensão dessa projeção que os eventos ganharam.

O levantamento “Dados da Primavera Brasileira”, publicado pela Infobase Interativa (IInterativa)57, outra empresa de monitoramento, trouxe os seguintes dados:

Até o dia 17 de junho, data do ápice do movimento, 548.944 publicações foram registradas nas redes sociais, de acordo com levantamento feito pela agência Today. O Twitter foi o canal responsável pela maior parte das manifestações, com 88% do total (483.839 publicações relativas ao tema).

52 Post, termo que se refere a publicação ou postagem, ou seja, entradas de texto em ordem cronológica em sites

e redes sociais na internet.

53 Disponível em http://olhardigital.uol.com.br/noticia/protestos-geram-cerca-de-550-mil-posts-nas-redes-

sociais,-segundo-pesquisa/35347. Acesso em 30 de junho de 2013.

54 Hashtags são espécies de palavras-chaves de determinado assunto dentro da rede. Elas são precedidas pelo

símbolo # e são indexáveis pelos mecanismos de buscas. Segundo Espírito Santo (2014, p. 32), as hashtags viram hiperlinks nas redes sociais, para apontar os assuntos dos quais se está falando. Ao adicionar o # a alguma palavra e publicá-la, o usuário permite que quem esteja lendo e clicar nela veja todas as outras pessoas que também publicaram tal palavra desta mesma maneira. Por meio deste recurso, também, é possível contabilizar a quantidade de menções feitas a determinado assunto, e assim ter uma noção mais palpável da relevância da discussão nas redes sociais.

55 Para o site do produto, acesse: http://scup.com/pt/produto/

56 Disponível em http://canaltech.com.br/noticia/redes-sociais/Nas-redes-sociais-79-milhoes-de-pessoas-

comentam-os-protestos-pelo-pais/#ixzz2mcIIGr1e. Acesso em 30 de junho de 2013.

57Disponível em http://www.iinterativa.com.br/infografico-dados-da-primavera-

Durante o dia, a participação nas redes sociais teve um crescimento constante a partir do início oficial das manifestações, às cinco da tarde. Neste horário, ocorreram 35.668 menções, desta forma distribuídas: 51.218 às seis da tarde, 54.058 às sete da noite e 87.795 às oito da noite, momento de pico, concentrando 15% dos comentários do dia.

No Facebook, a sexta manifestação pela redução da tarifa do transporte público em São Paulo contou com pouco mais de 118 mil pessoas confirmadas até as nove e meia da manhã. (Fonte: http://www.iinterativa.com.br/infografico-dados-da-primavera-

brasileira/#CSUJIvMEvJPEsyOF.99)

O blog “A viagem de Odiseo”, especializado em tendências de marketing e comunicação 2.0, uso das mídias sociais, criação de aplicativos, inteligência coletiva, crowdsourcing e sustentabilidade, em parceria com a empresa de monitoramento ICustomer, realizou um monitoramento de 01 a 19 de junho de 201358 e estima que os protestos tenham

atingido 219 mil menções em redes sociais, impactando em 200 milhões de usuários da rede. Pesquisadores acadêmicos especializados em análises das redes sociais também publicaram seus apontamentos frutos de mapeamentos feitos a partir das publicações nas redes sociais digitais, sobretudo no Twitter, que permite a captura de dados por softwares especializados em análises de maneira mais fácil. Algumas dessas abordagens foram feitas por Raquel Recuero e publicadas em seu blog. De acordo com Recuero59, além desses softwares, o Twitter ainda permite a utilização de outras ferramentas e os trendtopics60,

tópicos mais acessados em determinado momento. Contudo, ressalta a importância de ter em mente as limitações do TOS (Terms of Service) do Twitter que impedem que você tenha acesso a tweets do passado, ou que tenha acesso a datasets da ferramenta (ou que os publique). Portanto, é necessário que se esteja coletando informações relativas a um evento enquanto ele acontece. Outras redes sociais como, por exemplo, Orkut, Google+ e Facebook exigem como estratégia a criação de um aplicativo para a pesquisa por serem muito fechadas para crawlers61, software que visita websites e armazena dados obtidos, reduzindo o trabalho do pesquisador, conforme definição de Recuero (2009, p. 189), proibidos pelo TOS porque

58 Disponível em http://www.aviagemdeodiseo.com/blogbr/2013/06/infografico-movimento-passe-livre-nas-

redes-sociais/.

59 In RECUERO, Raquel. Mapeando Redes Sociais na Internet: Softwares. Disponível em:

<http://www.raquelrecuero.com/arquivos/mapeando_redes_sociais_na_internet_softwares.html>. Acesso em 14 mar. 2014.

60 No Twitter, quando uma palavra, um nome ou um assunto é mencionado com muita frequência em um curto

período de tempo, ele se transforma em um Trending Topic (sigla TT), ou seja, uma representação dos fatos que ganharam maior repercussão no dia, na semana, ou no mês. Fonte: http://www.trendingtopics.com.br/

61 Crawlers ou web crawlers podem ser traduzidos para o português como rastreadores web. Eles são programas

de computador que navegam pela World Wide Web metódica e automatizadamente em busca de termos. Como sinônimos também é comum encontrar na literatura os termos indexadores automáticos, bots, web spiders, Web robot, ou Web scutter.

ferem o anonimato dos usuários e têm poucas informações públicas. Outra alternativa é a realização da coleta de dados de forma qualitativa.

Raquel Recuero, Fábio Malini e Marco Toledo Bastos coletaram materiais sobre as postagens no Twitter durante os protestos. Um resumo foi escrito por Recuero e postado em seu blog em 16 de junho:

Ao que parece, a escalada dos protestos deve-se simplesmente à violenta repressão, narrada ao vivo nas e pelas redes sociais dos manifestantes em São Paulo e ontem, no Rio de Janeiro. Os inúmeros relatos, vídeos, fotografias e mensagens acabaram sendo a faísca que faltava para criar uma mobilização de grandes proporções. O que eu vou tentar fazer aqui é mostrar algumas evidências disso. A rede de pessoas falando/preparando os protestos, o número de hashtags utilizadas, os públicos que passaram a mobilizar-se na mídia social agora são muito mais heterogêneos. Há várias causas e não apenas uma. Há vários motivos. Mas o vilão é um só: o Estado. (RECUERO, Raquel. A escalada dos protestos no Brasil. Disponível em: <http://www.raquelrecuero.com/arquivos/2013/06/ars-a-escalada-dos- protestos-no-brasil.html> ou http://dmlcentral.net/blog/raquel-recuero/role- social-media-citizen-media-latest-anti-government-unrest-brazil. Acesso em 14 mar. 2014)

Análises também foram desenvolvidas pelo Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic62), da Universidade Federal do Espírito Santo. Ao longo dos protestos, os

pesquisadores desenvolveram análises de hastags e dados coletados de redes sociais através de metodologias próprias e de softwares desenvolvidos nas próprias instâncias de pesquisa com o financiamento de agências de fomento. Num dos estudos, especificamente, as atenções foram voltadas para as imagens publicadas em redes. Uma delas usou como método de coleta a extração manual das imagens do Facebook e Instagram dos protestos no Espírito Santo. De cada site de relacionamento foram extraídas cerca de 500 imagens (fotografias, montagens, cartazes, ilustrações e convocações). Tais imagens, com a utilização de programa de computador específico, geraram mosaicos que permitem visualizações e inferências sobre os protestos.