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MUCOSA DA LARINGE

No documento Santos Alberto Manuel TD 2016 (páginas 34-36)

A mucosa da laringe foi o primeiro território estudado por endoscopia de contacto. O primeiro artigo foi publicado no Annals of Otology, Rhinology and Laryngology de St Louis U.S.A.. Tratou-se de um estudo realizado pelo Professor Mário Andrea, pelo Professor Óscar Dias e por mim em que, com base na avaliação de 68 doentes, foi apresentada a endoscopia de contacto, com os respectivos procedimentos e critérios de diagnóstico bem como, os principais padrões patológicos. Entre os quais se destacam: os tumores malignos, o papiloma e as laringites crónicas com inflamação crónica ou com hiperqueratose [3]. Foram discutidas as aplicações da técnica, as suas vantagens e as suas limitações.

Posteriormente, foi publicado na Acta Otolaryngol de Estocolmo [4] um segundo estudo em que foram estudados 92 doentes, tendo sido apresentados os padrões celulares e vasculares de diagnóstico de várias patologias bem como a descrição do padrão normal, baseado num estudo comparativo com técnicas de microscopia óptica e de microscopia electrónica de transmissão e de microscopia electrónica de varrimento. Após esta duas publicações surgiram vários outros estudos sobre o mesmo território, publicados em revistas cientificas de vários países, dos quais destacamos os que se seguem.

Um dos primeiros estudos que envolveu uma população de 18 doentes com patologia da mucosa laríngea submetidos a cirurgia, foi realizado por uma equipa chefiada por Elena Carriero [6] que concluiu existir uma boa correlação do diagnóstico da endoscopia de contacto com o diagnóstico histopatológico. Concluíram que a endoscopia de contacto poderia substituir o exame anatomopatológico em alguns casos. A maior limitação citada neste trabalho era o facto de defenderem que a técnica exigia a colaboração e a disponibilidade do anatomopatologista [6]. Estamos, no entanto, perante um objectivo completamente diferente do nosso que defende a endoscopia de contacto como uma técnica capaz de complementar a informação clínica em tempo real e de ser usada por um clínico sem dependência directa do anatomopatologista, para o diagnóstico de malignidade. Uma equipa de Split, da Croácia, chefiada por Cikojevic comparou o diagnóstico de endoscopia de contacto durante a cirurgia de tumores da laringe com o exame anátomo-patológico extemporâneo [7]. O estudo teve uma população de 142 doentes com lesões da mucosa laríngea classificadas em 3 tipos: 70 lesões benignas, 23 lesões potencialmente malignas e 49 lesões malignas. Concluíram que, na população estudada, a endoscopia de contacto mostrou-se mais eficaz do que o exame extemporâneo para identificar malignidade quando comparado com o exame de anatomia patológica da

peça e da biópsia realizada durante a cirurgia. Defenderam também a capacidade da endoscopia de contacto para avaliar as margens das lesões de uma forma mais exacta e sem a agressão tecidular da biópsia [7].

Uma equipa alemã, chefiada por Christoph Arens, associou a endoscopia de contacto à imunofluorescência e chamou-lhe compact endoscopy. Estudaram 83 doentes com patologia potencialmente maligna ou maligna da mucosa da larínge [8] que submeteram a microlaringoscopia, onde aplicaram a técnica compact endoscopy que, resulta da combinação da endoscopia de contacto com autofluorescência. A endoscopia de contacto é realizada durante o processo de autofluorescência reforçando assim a capacidade de detecção precoce de lesões malignas. Os autores defendem conseguir identificar os carcinomas e avaliar o grau de invasão tumoral, detectando a eventual existência de permeação da membrana basal. Concluíram ser possível o diagnóstico diferencial entre carcinomas in situ e carcinomas microinvasivos [8]. Os investigadores assinalam ainda a importância da técnica para melhorar a delimitação tumoral determinando in situ os seus limites microscópicos. O estudo teve como teste padrão o diagnóstico de anatomia-patológica das biópsias e das peças cirúrgicas [8].

Alguns autores utilizaram a endoscopia de contacto para estudar, especificamente, a microcirculação da mucosa laríngea [9]. Destacamos os trabalhos de Jeferson D´Avila que realizou o estudo da sua tese de Doutoramento sobre alterações vasculares nas lesões benignas da laringe, estudadas por endoscopia de contacto [10]. Este investigador brasileiro estudou e descreveu as alterações vasculares dos quistos e lesões traumáticas da corda vocal contralateral com base em observações realizadas com endoscópios rígidos e endoscopia de contacto [10].

As alterações vasculares são importantes na generalidade das doenças da laringe mas assumem maior importância clinica nos tumores malignos, devido aos fenómenos de angioneogénese que os caracterizam. Sone M et al estudaram e defenderam a capacidade da endoscopia de contacto e do laser doppler flowmetry para um melhor conhecimento morfológico e fisiopatológico destas doenças bem como para o seu diagnóstico e seguimento numa população de 24 doentes [9].

A aplicação da endoscopia de contacto na laringe não se limitou ao diagnóstico e seguimento mas também à terapêutica, como demonstra um estudo publicado por Dedivitis et al [11]. Numa população de 10 doentes com tumores glóticos submetidos a laringectomia fronto-lateral, foi testada a capacidade da endoscopia de contacto em determinar com exactidão as margens microscópicas do tumor. Estas margens foram

confirmadas posteriormente nas peças cirúrgicas com exame anátomo-patológico, tendo existido uma concordância de 100% entre a determinação das margens por endoscopia de contacto durante a cirurgia e as margens da lesão excisada, posteriormente confirmadas por histologia. Este estudo, apesar de apresentar uma população reduzida, demonstra a importância da técnica na determinação das margens microscópicas das lesões que nem sempre coincidem com as margens macroscópicas, referência clássica para a delimitação da doença durante a cirurgia e consequente margem cirúrgica de segurança. No seguimento destes doentes não ocorreu nenhuma recidiva tumoral.

No documento Santos Alberto Manuel TD 2016 (páginas 34-36)