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PROGNÓSTICO

No documento Santos Alberto Manuel TD 2016 (páginas 81-84)

Os factores prognósticos descritos são o estadiamento da lesão à altura do diagnóstico, o tipo de tumor e o seu grau de diferenciação, a localização do tumor e o género do doente [76].

O prognóstico segundo a localização do tumor, nomeadamente a taxa de sobrevida aos 5 anos, apresenta valores distintos, consoante a área da boca envolvida. A média global da taxa de sobrevida do cancro da boca e orofaringe é de cerca de 50% aos 5 anos [76]. A localização de melhor prognóstico é o lábio, com 90% de sobrevida aos 5 anos. Outro factor prognóstico é o género, sendo a taxa de sobrevida global mais elevada nas mulheres [76].

Mas o factor que parece condicionar, de forma mais determinante, o prognóstico é o estádio de desenvolvimento do tumor, dada pelo estadiamento TNM. Veja-se o exemplo de um tumor da língua: no estádio I (estádio precoce) apresenta uma taxa de sobrevida aos 5 anos de mais de 80 %; contudo, no estádio IV esta taxa desce para 15%, mostrando que lesões em estádios avançados, apresentam significativamente pior prognóstico [93].

Nos casos não fatais, a morbilidade do cancro oral não deve ser desprezada. Muitos doentes apresentam patologia tumoral controlada mas permanecem com sequelas físicas ou psíquicas permanentes. Nas fases mais avançadas da doença, as alterações induzidas pelo tratamento (cirurgia ablativas e/ou radioterapia) podem afectar, limitar ou comprometer significativamente funções essenciais nas quais a boca participa, tais como a mastigação, a deglutição e a fala, podendo levar à desnutrição e/ou à depressão [76]. Actualmente, uma percentagem significativa dos diagnósticos é realizada nos estádios mais avançados da doença e, nos jovens, o atraso no diagnóstico parece ser ainda mais tardio. Nos últimos 40 anos, não existiram grandes progressos neste campo, apesar dos esforços de educação das populações [94,95]. O diagnóstico mais tardio nos jovens poderá ser justificado com o facto deste segmento da população estar menos alerta para a doença, apresentar menor grau de motivação para procurar o médico ou pelo facto de o médico apresentar baixo grau de suspeição de tumor maligno oral nesta faixa etária [96].

A baixa taxa global de sobrevida aos 5 anos tem com principal explicação este atraso no diagnóstico, normalmente em consequência da falta de acesso aos cuidados de saúde. Ainda que o doente consiga ter acesso a uma consulta atempada, em cuidados de saúde primários, o clínico poderá não estar habilitado para a identificação da lesão; além disso, pode haver um atraso na chegada do doente à consulta da especialidade. À dificuldade de acesso, acresce a baixa literacia em saúde, de uma forma geral. A população parece ter pouca consciência dos factores de risco, dos sintomas e/ou sinais de alarme do cancro oral [97].

PREVENÇÃO

O diagnóstico da doença nas fases mais precoces é aceite, de forma generalizada, como a solução para o problema da morbilidade e mortalidade, associadas ao carcinoma da mucosa oral. Um rastreio que permita a identificação dos doentes e das lesões de risco e o seu acompanhamento é provavelmente, a orientação mais eficaz para tentar melhorar a taxa de sobrevida e a morbilidade associada ao cancro oral [76,98].

A prevenção primária é outra via indispensável para o combate à doença, baseando-se no princípio das doenças evitáveis pela remoção dos factores de risco e pela promoção de factores protectores. Calcula-se que cerca de 75% dos casos de cancro da boca poderiam ser evitados pela eliminação dos hábitos alcoólicos e tabágicos [99]. No entanto, calcula-se que, após a cessação dos hábitos tabágicos, será necessário aguardar pelo menos 10 anos para que o risco dos ex-fumadores se aproxime dos valores dos não-fumadores [100]. A protecção dos lábios da incidência crónica da radiação solar é um factor protector do cancro do lábio. Nos países que controlaram o consumo de noz de bétel, a incidência desta patologia registou uma descida acentuada [101].

A promoção de literacia em saúde, contemplando a educação escolar mas também a educação para a saúde da população em geral, é um factor fundamental para prevenir o aparecimento das doenças. As políticas de saúde têm que promover activamente estilos de vida saudáveis, fornecer informação sobre a patologia em causa (factores de risco, sintomas e sinais de alerta que devem motivar ida ao médico) e facilitar o acesso aos serviços de saúde. Embora estas vertentes devam ser trabalhadas em simultâneo, é de salientar o papel fulcral da informação. Um indivíduo que seja devidamente informado e educado em relação ao cancro oral nomeadamente, sobre a evicção de factores de risco, a promoção de factores protectores e de estilos de vida saudáveis e, a identificação de sintomas e de sinais de alerta que devam motivar a ida ao médico, terá o benefício pessoal dessa informação, que se poderá repercutir nos familiares próximos e nos pares, servindo ele próprio de veículo de difusão da informação.

Os rastreios são um investimento essencial. O Rastreio é importante por permitir, numa só acção, contemplar as duas vertentes de prevenção primária e de detecção precoce da doença.

Assim, um rastreio organizado, poderá não só detectar alguns casos de doença potencialmente maligna ou tumor, como permitirá difundir informação às pessoas

que participam directamente no rastreio. Esta, que por sua vez, servirá de vector para a família, amigos e colegas de trabalho, levando assim à multiplicação geométrica da informação. Associado a estas iniciativas existe, normalmente, uma cobertura jornalística dos media, que vai ser também relevante para a difusão da formação nesta área [76,102].

Este investimento na formação deverá ser também dirigido aos médicos de medicina familiar e médicos dentistas para poderem orientar, com a maior precocidade, os doentes de alto risco para uma consulta de especialidade [103].

No documento Santos Alberto Manuel TD 2016 (páginas 81-84)