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AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO: DO TAYLO RISMO/FORDISMO À ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL

O processo de formação e consolidação do capitalismo compreendeu diversos ciclos de crescimento e crises. Na contemporaneidade vivenciou-se mudanças na economia,

em decorrência da reestruturação produtiva que acarretou impactos na subjetividade dos trabalhadores. Hoje, o mundo do trabalho possui uma configuração bem distinta daquela existente na virada do século do XIX para o século XX.

No início do século passado destacou-se a implementa- ção da eletricidade no cotidiano das cidades e nas fábricas e o surgimento do taylorismo como uma nova cultura do trabalho, em um momento que o conhecimento científico se tornou importante para o desenvolvimento da indústria dentro da atuação monopolista do capital.

O precursor do taylorismo, o engenheiro Frederick Taylor, observou que os empregadores não dominavam o conteúdo do trabalho e o tempo necessário para confecção de cada atividade. Em contrapartida, os operários detinham o co- nhecimento de uma parte importante do trabalho, assim não seria possível diminuir o tempo ocioso tão prejudicial para produtividade. Dessa forma, buscou métodos e objetivos de produção que deveriam ser uniformes, sistemáticos e prescritos pela gerência (MERLO; LAPIS, 2007).

Nessa forma de gestão, o trabalho é parcelado com vigilân- cia rígida e estrutura organizacional hierarquizada. Nota-se a cisão entre o fazer e o saber, entre o trabalho manual dos operários e o trabalho intelectual da gerência. Assim, o tay- lorismo prioriza a intensificação do trabalho por meio de sua racionalização científica (estudos dos tempos e movimentos na execução da tarefa), eliminando, dessa forma, qualquer tempo ocioso por meio de instrumentos de trabalho mais adaptados à tarefa. (CATTANI; HORZMANN, 2006). Observa- se, portanto, que a preocupação de Taylor era resolver os problemas organizacionais e não do trabalhador.

O modelo taylorista ganha maior reforço ao consolidar-se e associar-se com os métodos e com a tecnologia utilizada por Henry Ford. Este criou a esteira rolante para que as peças pas- sassem pelos trabalhadores colocados, lado a lado, na linha de montagem, unindo tarefas individuais sucessivas, fixando uma cadência regular de trabalho e reduzindo o transporte entre as operações. “Observa-se que os trabalhadores ficaram mais submetidos ao ritmo automático, à candência das máquinas, à rotina, executando, várias vezes, um mesmo movimento em uma linha de montagem” (MERLO; LAPIS, 2007, p. 67).

O fordismo consolida, portanto, o novo modelo de desen- volvimento priorizando a produção e o consumo em massa. Para tanto, era necessário expandir mercados e estabelecer um novo patamar de rendimentos. Assim, Henry Ford introduziu a recompensa de cinco dólares a cada oito horas trabalha- das com o intuito do trabalhador adquirir a experiência e a disciplina necessária à operação de linhas de montagem de alta produtividade, além de dar aos “trabalhadores renda e tempo de lazer suficientes para que consumissem os produtos produzidos em massa” (HARVEY, 1993, p. 122).

O que Henry Ford percebeu foi que, para o modelo de produção se sustentar, era necessário que houvesse uma correspondência das transformações, tanto das condições de produção, quanto das condições de reprodução de as- salariados, ou seja, a existência de uma consistência entre comportamentos individuais e os modos de regulamentação do modelo de reprodução.

Assim, o fordismo foi marcado por uma familiarização do trabalhador com o sistema de produção rotinizado com longas horas de trabalho, exigindo poucas habilidades manuais

tradicionais e concedendo controle quase inexistente ao trabalhador sobre o ritmo e a organização do processo pro- dutivo. Ocorreu a intensificação da divisão do trabalho e da parcelização das tarefas: “O trabalhador perde suas qualifi- cações, as quais são incorporadas à máquina” (CATTANNI; HOLZMANN, 2006, p. 134).

Porém, no período entre 1965-1973 fica evidente a in- capacidade do fordismo de conter a crise econômica. Ins- taura-se um período de reestruturação e intensificação do controle do trabalho, além das mudanças proporcionadas pela “mudança tecnológica, a automação, a busca de novas linhas de produção e nichos de mercado, a dispersão para zonas de mercados de controle fácil, as fusões e medidas para acelerar o tempo” (HARVEY, 1993, p.140).

Antunes (2009) ressalta que a crise do fordismo consiste na estrutura do capital, que expressa o seu aspecto destrutivo contido tanto na intensificação da lei de tendência decrescente do valor de uso das mercadorias quanto na incontrabilidade do sistema do capital.

Em decorrência de tal conjuntura, inaugura-se uma nova forma de reorganização do capital e de seu sistema ideológico e político expressa pelo Neoliberalismo, com as privatizações estatais, a desregulamentação dos direitos do trabalho e o desmonte do setor produtivo do Estado. Tais mudanças ocorridas representam a passagem para um sistema de acu- mulação novo, que se contrapunha à rigidez do fordismo, cuja principal marca é a flexibilidade.

A acumulação flexível consiste no momento de novos processos e mercados de trabalho, de produtos e padrões de consumo e, ainda, pelo surgimento de setores de serviços

financeiros e, sobretudo, pela geração de taxas de inovação comercial, tecnológica e organizacional, bem como pela ex- pansão dos setores industriais por regiões diversas em busca de novos nichos de produtividade.

A tentativa de recuperação da crise financeira ocorre por meio de uma lógica perversa, ao repercutir nas forças humanas de trabalho que se encontram em relações precárias ou estão, à margem do sistema, desempregadas (ANTUNES, 2009).

Salienta-se o papel da revolução tecnológica com a difusão da microeletrônica desenvolvendo a informática. A automa- ção e a robótica que poderiam contribuir para a diminuição da jornada de trabalho, promoveram a intensificação das horas trabalhadas.

Quanto mais aumentam a competitividade e a concorrência intercapitais, mais nefastas são suas consequências, das quais duas são particularmente graves: a destruição e/ou precarização sem paralelos em toda era moderna, da força humana que trabalha e da degradação crescente do meio- ambiente, na relação metabólica entre homem, tecnologia e natureza conduzida pela lógica societal voltada priorita- riamente para produção de mercadorias e para o processo de valorização do capital (ANTUNES, 2009, p. 36). As novas formas de organização tiveram como fonte ins- piradora o modelo japonês denominado de toyotismo, uma vez que a Toyota foi a primeira a implementar os princípios dessa forma de gestão. O toyotismo mostrou novos métodos e princípios de relações humanas e de participação no interior

das empresas, diferentes dos utilizados até o momento, como o just-in-time e total quality control (MERLO; LAPIS, 2007). O just-in-time corresponde ao ajuste da composição da oferta à composição da procura. Trata-se de “produzir as unidades necessárias, nas quantidades necessárias, no tempo necessário” (OHNO,1988, p. 156), uma vez que o sistema toyota tem obsessão por eliminar o despedício (ALVES, 2008). Já o kanban consiste na forma como o método just-in-time é utilizado, compreende um sistema de informações que controla a quantidade de produto a ser produzida, isto é, a quantidade necessária.

É dessa maneira, a partir dos anos de 1970, que o toyotismo é difundido em países diferenciados como uma proposta de solucionar os problemas enfrentados pelo capi- talismo no ocidente. Destaca-se que foi um período de mu- danças, não somente políticas e econômicas, mas também com grandes repercussões na subjetividade e nos ideais da classe trabalhadora. Para Antunes (2009), a reorganização do capitalismo busca gestar não apenas a esfera produtiva, mas também outros âmbitos da sociedade através de a um ideário fragmentador que faz apologia ao individualismo, opondo-se às formas de solidariedade e de atuação coletiva e social.

Assim, o toyotismo caracteriza-se por uma produção baseada na demanda, diferentemente da produção em série do fordismo, no trabalho em equipe e na exigência da poli- valência, estruturando, dessa maneira, o processo produ- tivo flexível, além do princípio do melhor aproveitamento do tempo - o just in time. Além disso, organiza os Círculos de Trabalho de Qualidade (CCQs) formados por grupos de

trabalhadores que são incentivados pelo capital a discutir sobre o trabalho e o desempenho, com vistas a melhorar a produtividade, apropriando-se, desse modo, da intelectua- lidade do trabalhador.

Ocorre que esse padrão produtivo organizacional e tec- nologicamente avançado se caracteriza por utilizar técnicas de gestão da força de trabalho, com o intuito de envolver os trabalhadores, exigindo um trabalhador polivalente qualifi- cado. Portanto, isso possibilita a intensificação das condições de exploração da força laboral por meio da incorporação de várias funções para um mesmo trabalhador, além de empre- gar menor número de funcionários, desenvolvendo, assim, o padrão de empresa enxuta do modelo japonês.

Verifica-se que o novo modelo de produção é o resultado de uma opção econômica e política feita pelos governos e empresas, escolhendo os menores custos no processo de transição para a nova economia informacional, principalmen- te com a utilização dos aumentos de produtividade para a lucratividade a curto prazo, que ocasiona, simultaneamente, a integração de processos de trabalhos e a desintegração da força de trabalho (CASTELLS, 2003).

Complementa Alves (2006) que a irrupção de acumulação flexível não tende a amenizar ou extinguir a luta de classes e os conflitos entre capital e trabalho no interior da produção ou mesmo na sociedade civil. Pelo contrário, o toyotismo tende a assumir novas formas sociais, se deslocando para dimensões invisíveis. É dessa forma que a sociedade vai moldando-se diante dessas transformações por meio das instituições sociais como as instituições educacionais.

por um redimensionamento para atender ao novo padrão produtivo que demanda uma nova postura dos trabalhadores mediante as modificações do mundo trabalho. Dessa maneira, para adaptar-se ao contexto das exigências profissionais mais polivalentes, é necessária uma Educação Profissional que vá além do domínio operacional e que também compreenda, de maneira global, o processo produtivo, com apreensão do saber tecnológico, da valorização da cultura do trabalho e da mobilização dos valores necessários à tomada de decisões (BATISTA, 2013).