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REFORMAS DO ESTADO E REFORMAS INSTITUCIONAIS: AS RELAÇÕES COM AS TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO

DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

Entendemos que é preciso analisar as mudanças políticas ocorridas na pós-graduação, desencadeadas pelas agências de financiamento que surgem no cenário nacional na última década do séc. XX e na primeira do século XXI, fundamental- mente, para compreender outra série de mudanças ocorridas no modo de pensar e trabalhar do professor universitário das instituições de ensino superior (IES) brasileiras, e mais ainda do chamado professor-pesquisador. As políticas de pós-graduação estão fortemente articuladas às políticas de ensino, pesquisa e extensão.

No Brasil, as reformas das instituições geralmente estão associadas diretamente às reformas do Estado. Segundo Cislaghi (2010), os primeiros marcos de uma nova legislação, que se pode apontar como início das mais recentes transformações na universidade brasileira, são: a Lei de Diretrizes e Bases, projeto elaborado pelo então senador Darcy Ribeiro, promulgada em 1996; o Plano Nacional de Educação - PNE, elaborado em 1997,

mas somente lançado em 2001, que estabelece uma série de metas para a educação brasileira; e o Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, lançado pelo governo federal em 2007, contendo um conjunto de programas, decretos, resoluções e portarias, sendo uma espécie de “plano executivo” para atingir metas do PNE (2001-2011).

No tocante a esse PNE, os programas mais relacionados ao ensino superior são: REUNI, lançado quase concomitan- temente com o PDE; o PROUNI – Programa Universidade para Todos, e o FIES – Fundo de Financiamento Estudantil, que são programas de financiamento e crédito estudantil, respectivamente; o SINAES, um sistema de avaliação para a educação superior; a UAB, programa de ensino a distância; o Plano Nacional de Assistência Estudantil; além de outros referentes à extensão e à pesquisa, por exemplo.

Em uma análise macrossocial, inclui-se, ainda, na dis- cussão das reformas implementadas, a mundialização do capital e a acentuação do capitalismo contemporâneo, com o crescimento exacerbado de empresas multinacionais de grande porte, que influenciam diretamente o modo como as reformas institucionais e as políticas públicas são conduzidas.

Com a mercantilização, a descentralização e a flexibiliza- ção, características desse novo momento econômico, nota-se que o Estado nacional perde sua hegemonia e então podemos começar a compreender de que maneira as reformas institu- cionais, por intermédio de um complexo campo jurídico, têm possibilitado ao Estado engajar também as universidades federais na nova lógica do mercado.

Caminha-se, então, em direção a uma nova universidade, com um caráter muito mais voltado à pesquisa e ao desen-

volvimento de novas tecnologias, pois além da já citada LDB, do PNE e do PDE, temos ainda os programas de incentivo a essas atividades tanto no campo industrial como dentro das próprias universidades. Como exemplo, cita-se a Lei do Bem (Lei 11.196/2005), que beneficia empresas de capital nacional e internacional que investem em tecnologia e inovação com o abatimento de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro e a Lei da Inovação Tecnológica (Lei 10.973/2004), a primeira lei brasileira que trata do relacionamento entre as universidades e as empresas.

Segundo Leda (2009), a Lei 10.973/2004 é um dos pro- dutos mais gritantes do processo de privatização interna das universidades públicas, fazendo com que isto ocorra com a legitimação do próprio poder público e, além disso, colabora para o incentivo ao desenvolvimento de um perfil empreendedor nos docentes. Assim, podemos perceber como vai ocorrendo a interação entre as universidades e o mundo corporativo, empresarial. Pode-se refletir ainda sobre o fato de que:

No seu conjunto de artigos se tem, entre outros pontos, a abertura para transferência de tecnologias das univer- sidades e centros de pesquisa às empresas, a incubação de empresas nas instituições públicas, uso comum dos recursos humanos e materiais, a participação de órgãos públicos de pesquisa nos lucros provenientes da trans- ferência de tecnologias para o setor privado. (LEDA, 2009, p. 160)

Portanto, conforme aponta Sguissardi e Silva Junior (2009), as práticas universitárias reorganizam-se conforme

a matriz teórica e ideológica da Reforma do Estado e, para compreender como tais mudanças repercutem no terreno da pós-graduação, uma importante preconização da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) a ser observada, no âmbito da edu- cação superior, é a imposição da contratação de um terço de doutores ou mestres em regime de tempo integral para as atividades acadêmicas, impulsionando assim os programas de pós-graduação em todo o país, diante da necessidade de professores com a formação exigida pela referida Lei.

Essa nova regra de contratação, segundo a CAPES, órgão responsável pelo controle, regulação e avaliação do sistema de pós-graduação no país, justifica-se na necessidade de formação de pesquisadores e da criação de um sistema de pós-gradua- ção mais produtivo e regulamentado. Assim, inicia-se também um processo de reconfiguração da pós-graduação no Brasil. Sguissardi e Silva Junior (2009) apontam três principais processos colocados no movimento de reconfiguração da pós-graduação no país: (1) o CNPq (Estado) e seus convênios, seus editais de pesquisa aplicada (que visam a produtivida- de); (2) a CAPES (Estado), que regula o sistema de programas de pós-graduação com o mesmo objetivo do CNPq (portanto, funciona articulada a ele), bem como forma um novo tipo de ser pesquisador: o que é orientado pelo produtivismo acadê- mico, ao qual nos dedicaremos adiante neste trabalho; e (3) o mercado, para o qual convergem as instâncias anteriores (CAPES E CNPq) e que acaba por também conduzir à reforma universitária.

A partir de então, mudam também muitas metas dos pro- gramas de pós-graduação e seus critérios de avaliação (estes últimos serão tratados com mais detalhes adiante neste texto).

A CARREIRA ACADÊMICA, A IDEOLOGIA DO PRODU-