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O mundo e as novas tecnologias

5 QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: OS NOVOS MÉTODOS

5.1 O mundo e as novas tecnologias

5 QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: OS NOVOS MÉTODOS DE

tecnologias disruptivas se vincula ao conceito dilema do inovador, ambos pensados por Christensen, professor de Harvard. Segundo ele, a tecnologia é disruptiva

quando ela se distingue da forma mais comum e usual de tecnologia, chamada de ‘tecnologia de sustentação’ (Sustaining Techology), que consiste no desenvolvimento e aprimoramento de uma tecnologia já existente, de um grande nicho de mercado. A tecnologia será considerada disruptivas quando ela desenvolver uma nova forma de solucionar uma demanda do mercado. Em geral, ela visa a um pequeno nicho, que acabará se expandindo, seja tornando-se o inovador hegemônico num grande nicho já existente, para o qual a tecnologia não foi pensada a priori, seja expandindo um mercado que era pequeno a princípio. O dilema da inovação é um dilema dos grandes atores do mercado, que geralmente são dominados por eles próprios, mas são obrigados a canibalizar o mercado dominado, ou a canibalizar a tecnologia que garante a eles a hegemonia de mercado. Dessa forma, a inovação acaba eclodindo mais em start up, que não tem esse dilema estratégico a solver.149

A humanidade, por meio da ciência, está em constante busca por novas descobertas que satisfaçam necessidades pessoais, criem melhores condições de vida, tragam benefícios.

Similarmente acontece com as evoluções tecnológicas. Entretanto, a rapidez dessas mudanças trouxe consequências, uma vez que a sociedade teve que se adequar às novidades ao mesmo tempo em que se deparava com incessantes alterações – movimento que, em muitos casos, ocorreu sem sucesso.

5.2 “Desta vez será diferente”

A expressão que dá título a esta seção, “Desta vez será diferente”, é utilizada em vários aspectos da vida cotidiana: em relacionamentos, em segundas chances, em novas tentativas científicas, por exemplo. Essa é também a expressão utilizada por Schwab, como premissa de sua obra. Segundo a autora, a tecnologia e a digitalização revolucionarão tudo, fazendo com que a antiga expressão “desta vez será diferente” se torne verdadeira. Conforme suas palavras, “[...] as principais inovações tecnológicas estão à beira de alimentar uma

149 CHAVES JR. José Eduardo Resende. O direito do trabalho pós-material: o trabalho da “multidão” produtora.

In: PAES LEME, Ana Carolina Reis; RODRIGUES, Bruno Alves; CHAVES JR. José Eduardo Resende (coord.). Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano: a intermediação de mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos e sociais. São Paulo: LTr, 2017, p. 101-117, p. 101.

gigantesca mudança história em todo o mundo – inevitavelmente”150. Na visão dela, porém, as mudanças das tecnologias disruptivas nunca foram tão rápidas: se nomes como Airbnb, Uber, Alibaba eram até pouco tempo atrás desconhecidos, hoje em dia são muito familiares na vida da maioria das pessoas.

A evolução dessa economia de mercado foi tão abrupta e marcante que, em 1990, as maiores empresas de Detroit tinham uma capitalização de mercado combinada de US$ 36 bilhões, com US$ 250 bilhões de faturamento e 1,2 milhão de empregados. Já em 2014, as três maiores empresas do Vale do Silício tinham uma capitalização de mercado de 1,09 trilhão, com a mesma receita, mas com cerca de 10 vezes menos empregados (137 mil)151. Percebe-se, assim, que, pela evolução da tecnologia, de fato dessa vez seria diferente.

Todavia, não seria para o trabalhador.

Em tempos passados, admitia-se que as novas tecnologias poderiam incentivar melhores condições de trabalho, menos extenuantes, com redução de acidentes, aprimoramento dos trabalhadores e criação de novas profissões. O que se viu, no entanto, foi automação e desemprego152. As novas tecnologias passaram a exigir dos trabalhadores melhor qualificação para os novos empregos que, apesar de trazerem a promessa de salários maiores, têm como grande obstáculo o acesso a essa qualificação. Afinal, as indústrias passaram a ser assimiladas por tecnologias computacionais que, antes mesmo de serem apreendidas, já eram substituídas por outras mais modernas e vantajosas. Nesse cenário, “a indústria emergente transformada pela tecnologia já não mais oferece os empregos necessários à ocupação da mão de obra disponível”153. Por conta disso, as novas tecnologias têm o condão não só de desqualificar a mão de obra humana até então existente (que passa a precisar se adequar e se reinventar constantemente), mas também de ocupar o lugar de pessoas na realização dos mesmos trabalhos, substituindo o labor humano. Nas palavras de Vasconcelos, Valentin e

150 SCHWAB, Claus. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2019. E-book.

151 MANYKA; CHUI, 2014 apud SCHWAB, Claus. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2019.

E-book.

152 VASCONCELOS, Antônio Gomes de; VALENTINI, Rômulo Soares; NUNES, Talita Camila Gonçalves Nunes. Tecnologia da Informação e seus impactos nas relações capital-trabalho. In: PAES LEME, Ana Carolina Reis; RODRIGUES, Bruno Alves; CHAVES JR. José Eduardo Resende (coord.). Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano: a intermediação de mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos e sociais. São Paulo: LTr, 2017, p. 89-100.

153 VASCONCELOS, Antônio Gomes de; VALENTINI, Rômulo Soares; NUNES, Talita Camila Gonçalves Nunes. Tecnologia da Informação e seus impactos nas relações capital-trabalho. In: PAES LEME, Ana Carolina Reis; RODRIGUES, Bruno Alves; CHAVES JR. José Eduardo Resende (coord.). Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano: a intermediação de mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos e sociais. São Paulo: LTr, 2017, p. 89-100, p.91.

Nunes, isso seria “resultado do fato de que muito ou quase tudo daquilo que é feito por mão de obra humana pode ser ‘apreendido’ por um logaritmo de uma máquina inteligente”154.

E por que desta vez seria diferente? O que se esperava das novas tecnologias, tal como melhores condições de trabalho, progresso, maior desenvolvimento tecnológico industrial, acabou não se verificando, eis que a tecnologia substituiu, em muitos casos, o lugar do trabalhador, pelo menos nos centros de produção de bens e serviços. A consequência direta disso foi o trabalho passar a ser realizado cada vez mais distante do centro econômico, do polo industrial, do centro comercial, distanciando o trabalhador do estabelecimento empresarial, do empregador, do patrão, do chefe, do superior hierárquico imediato. Como resultado, o próprio Direito começou a não perceber mais o trabalhador como um trabalhador subordinado.

Assim, não estando mais a serviço no ambiente empresarial, o trabalhador passa a realizar o seu mister em sua própria residência, arcando, a partir daí, com os custos para empreender o trabalho, tais como aquisição de equipamentos, riscos ergonômicos, custos com internet – dividindo, assim, com o empregador os custos do empreendimento, em uma autonomia e liberdade apenas aparentes. Assim “‘dá-se a liberdade’, para controlá-la ainda mais”155, na medida em que as tecnologias mostram, cada vez mais, possuir controle eficaz de contato entre as pessoas, propiciando que o empregador saiba, a todo tempo e modo, onde e o que o empregado está fazendo durante o período de trabalho.

Nesse contexto, é relevante entender de que modo a tecnologia da informação afetou os meios de produção a partir da Quarta Revolução Industrial. Conforme explicado por Vasconcelos, Valentin e Nunes156, a tecnologia da informação teve quatro períodos distintos:

o período do processamento de dados (1960); do sistema de informações (1970); da inovação

154 VASCONCELOS, Antônio Gomes de; VALENTINI, Rômulo Soares; NUNES, Talita Camila Gonçalves Nunes. Tecnologia da Informação e seus impactos nas relações capital-trabalho. In: PAES LEME, Ana Carolina Reis; RODRIGUES, Bruno Alves; CHAVES JR. José Eduardo Resende (coord.). Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano: a intermediação de mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos e sociais. São Paulo: LTr, 2017, p. 89-100, p. 89.

155 VASCONCELOS, Antônio Gomes de; VALENTINI, Rômulo Soares; NUNES, Talita Camila Gonçalves Nunes. Tecnologia da Informação e seus impactos nas relações capital-trabalho. In: PAES LEME, Ana Carolina Reis; RODRIGUES, Bruno Alves; CHAVES JR. José Eduardo Resende (coord.). Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano: a intermediação de mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos e sociais. São Paulo: LTr, 2017, p. 89-100.

156 VASCONCELOS, Antônio Gomes de; VALENTINI, Rômulo Soares; NUNES, Talita Camila Gonçalves Nunes. Tecnologia da Informação e seus impactos nas relações capital-trabalho. In: PAES LEME, Ana Carolina Reis; RODRIGUES, Bruno Alves; CHAVES JR. José Eduardo Resende (coord.). Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano: a intermediação de mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos e sociais. São Paulo: LTr, 2017, p. 89-100.

e vantagem competitiva (1980) e da integração e reestruturação do negócio (1990). Já para Zuboff, “a informática possui duas facetas – a automação e a informatização”157.

Assim, em resposta à expressão que deu abertura a esta seção, pode-se concluir que, de fato, dessa vez (com as tecnologias disruptivas) foi diferente, mas não exatamente como se esperava. Não se alcançou o padrão de qualidade tão almejado pela humanidade, com a abertura do mercado de trabalho para todos, com postos de trabalho excedentes, melhores condições de vida e uma sociedade mais justa, ligada pelo mundo globalizado. Pelo contrário, a tecnologia substituiu o homem, postos de trabalho foram extintos, desigualdades aumentaram (sobretudo em países com menor desenvolvimento tecnológico e menor acesso à educação) e o sonho de dias melhores recaíram apenas nas mãos de poucos – como os empresários do Vale do Silício.