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3.2 – Museu Nacional de História Natural e da Ciência

CAPÍTULO III – Onde está o Património Paleontológico? Museus de paleontologia

III. 3.2 – Museu Nacional de História Natural e da Ciência

O Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), em Lisboa, é um dos museus que tem origem em 1768 com o Real Museu de História Natural e Jardim Botânico da Ajuda, para educação da família real, nomeadamente dos príncipes. Em 1798 é aberto ao público um dia por semana e aos estudantes curiosos de história natural (Póvoas et al., 2011). É parte destas coleções do Museu da Ajuda que é transferida, em 1836, para a Academia Real

Figura 19: Texto de parede da jazída "Arribas calcárias e pedreiras do cabo Mondego (Jurássico

das Ciências. Outra parte já havia sido remetida, em 1808, durante as invasões francesas, para o Muséum National d’Histoire Naturelle de Paris, por Geoffroy Saint‑Hilaire (1772‑1844), nomeadamente alguns exemplares das coleções naturais provenientes do Brasil (Póvoas et al., 2011).

Nos anos seguintes, a história do atual MUHNAC emaranha-se com a da Academia das Ciências de Lisboa (ACL), outra instituição cuja história do seu museu tem origem no Real Museu de História Natural e Jardim Botânico da Ajuda, com a propriedade de algumas coleções a serem reclamadas por ambas as entidades43.

Em 1837 o então conselho da Escola Politécnica pede a transferência das coleções do Museu de História Natural da Academia Real das Ciências (hoje Academia das Ciências de Lisboa) para as suas instalações, o que se concretiza em 1858, por decreto real de D. Pedro V., o qual, através do naturalista José Vicente Barbosa du Bocage (1823‑1907), manda reunir as colecções de zoologia, mineralogia e paleontologia.

««o Museu de História Natural, que foi, por decreto de 27 de Agosto de 1836, transferido para a Academia Real das Ciências de Lisboa, passa para a Escola Politécnica» e que «as colecções de zoologia e mineralogia e todos os objectos pertencentes ao mencionado Museu são incorporados nos gabinetes de zoologia e mineralogia da mesma escola » e, ainda, que «estes dois gabinetes ficam constituindo as duas secções do Museu»» (Póvoas et al., 2011, 21).

O processo de transferência das coleções acaba por ser repartido por diversas fases e deixa cicatrizes diplomáticas entre alguns dos intervenientes das referidas instituições.

Em 1911, com os ideais republicanos do novo regime político, dá-se a conversão da Escola Politécnica em Faculdade de Ciências e, em 1926, o museu ganha autonomia própria, sendo dividido em secções e os fósseis incluidos nas colecções geológicas. Durante esse tempo, as coleções foram sendo alimentadas pelos diversos docentes e investigadores afetos à Faculdade de Ciências e à Universidade de Lisboa, assim como pela aquisição de coleções de referência, num processo semelhante ao dos outros museus universitários.

43 A Academia das Ciências de Lisboa (ACL) foi outra das instituições inicialmente consideradas para esta

tese. Por diversas vezes se tentou entrar em contacto com o museu da ACL, sem nunca se obter resposta a qualquer pedido de entrevista. O espaço da ACL foi visitado, assim como o seu Museu Mayense, e não foram observados fósseis na sua exposição. Durante a pesquisa bibliográfica nunca se encontrou uma menção inequívoca da existência de fósseis de exceção que estivessem ainda na posse da ACL. Face a esta situação, esta instituição, a ACL, não foi comtemplada neste estudo.

Em 1978, ocorre um dos maiores desastres deste museu. Um incêndio deflagra no edifício da Faculdade de Ciências destruindo parte do acervo das secções de Zoologia, Antropologia, Mineralogia e Geologia, onde se incluiam também as coleções de Paleontologia (Brandão et al., 2015, Póvoas et al., 2011). O incêndio leva também ao abandono total do edifício em termos de uso regular para aulas pela Faculdade de Ciências e à criação posterior do Museu da Ciência que mais tarde é fundido com o Museu de História Natural (Lourenço, 2010). No fogo, muitos dos fósseis expostos acabam por ficar irremediavelmente perdidos, mas alguns dos fósseis que se mantinham em reserva, nos armários, tiveram melhor sorte. De madeira maciça, alguns armários, acabam por atuar como protetores térmicos dos fósseis, sendo destruídos sobretudo alguns dos que estavam armazenados em metal, cujos armários funcionaram como forno.

O Museu ainda recupera paulatinamente do incêndio, mas perdem-se informações relevantes e caracterizações das coleções (Póvoas et al., 2011) e, algumas salas, até há poucos anos, ainda revelavam cicatrizes do fogo. Sofia Pereira (2017), na sua tese de doutoramento sobre trilobites portuguesas do Ordovícico Superior, transmite bem a perda que o incêndios constituiu para os investigadores:

«Após várias reestruturações na organização das coleções paleontológicas do atual Museu Nacional de História Natural e da Ciência, estas estavam a ser transferidas para uma nova sala por grupos biológicos, quando um incêndio em março de 1978 afetou uma área significativa do Museu. O grupo das trilobites estaria em processo de transferência, motivo pelo qual muitos fósseis se encontravam ainda na sala antiga, a qual foi das mais afetadas pelo incêndio. Sem a existência de qualquer listagem no arquivo histórico desta instituição, será impossível determinar o verdadeiro valor da perda. Alguns exemplares, embora bastante deteriorados, foram guardados. Este material encontrava-se disperso em dezenas de gavetas desde o incêndio» (Pereira, 2017).

Também Bruno Pereira (2015) refere na sua tese de doutoramento a perda de exemplares de equinodermes portugueses:

«Loriol (1890-1891) refere a existência de espécimes guardados no então chamado Museu Nacional, hoje conhecido como Museu Nacional de História Natural e Ciência em Lisboa. Numa visita às coleções desse museu, foram observados menos de uma mão cheia de fósseis de equinoides, todos sem etiquetas.

Os espécimes ilustrados por Loriol nunca foram encontados. O museu sofreu um enorme incêndio em 1978, que destruiu parte das coleções de Biologia e Geologia. A extensão do material destruído no fogo é desconhecida e é assumido que o material fóssil de equinoides se tenha perdido.» (Pereira, 2015).

O MUHNAC tem sido o museu em Portugal mais dinâmico na reestruturação da sua exposição de paleontologia, com sucessivas temáticas à volta dos dinossauros e com diferentes durações de tempo. Por esse motivo há mais material descrevendo as exposições deste museu. Destaca-se a exposição do Allosaurus de Andrés com o título “Allosaurus: Um Dinossaurio, Dois Continentes”. Esta exposição anunciou-se em dezembro de 2010 como uma exposição temporária que duraria cerca de um ano e acabou por ficar até maio de 2017.

Nesse ano a exposição foi desmantelada conjuntamente com a exposição permanente de paleontologia. Porém, na antiga sala da exposição permanente foi montada uma nova exposição temporária: “Dinossauros que Viveram na Nossa Terra”. Esta coleção, da Sociedade de História Natural – Associação Leonel Trindade (SHT-ALT), sediada em Torres Vedras, já havia estado em exposição no Museu Municipal Leonel Trindade, também em Torres Vedras, entre novembro de 2012 e setembro de 2014. No MUHNAC a exposição ficou patente até novembro de 2017.

«A exposição Dinossauros que viveram na nossa terra (...) tem a seu cargo uma das maiores coleções paleontológicas de vertebrados do Jurássico Superior de Portugal, fruto de quase duas décadas de intervenções na região Oeste de Portugal. A juntar a este acervo, a SHN e a Câmara Municipal de Torres Vedras acolheram em 2008 uma importante coleção paleontológica privada, reunida por José Joaquim dos Santos e Luís Francisco, dois aficionados da Paleontologia.»

(MUHNAC)44

Atualmente, a exposição de paleontologia do MUHNAC volta a ser com fósseis próprios e é denomidada Entre Dinossaurios, com uma duração prevista de 17 de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2020.

«A partir da investigação realizada no Museu, a exposição apresenta trabalhos de escavação, de preparação laboratorial e de identificação de fósseis de

44 Museu Nacional de História Natural e da Ciência, acedido a 04/10/2018 <https://www.museus.ulisboa.pt/pt-

Allosaurus encontrados na jazida de Andrés (Pombal). Descobriremos o que nos dizem os diferentes fósseis e os sedimentos ali encontrados sobre como era o ecossistema nesse local há 150 milhões de anos.» (MUHNAC)45

A exposição conta com alguns dos fósseis da antiga exposição de dinossauros do Museu e de materal proveniente de Andrés, numa nova cenografia atrativa com uma réplica de um Allosaurus ao centro (Figura 20).

Analisando o acervo fóssil do MUHNAC, e deste, o património paleontológico com relevância científica facilmente mensurável, os espécimes tipo incluem desde crânios de cetáceos Miocénicos e crocodilos, assim como diversos grupos de invertebrados (Antunes, 1961, Callapez, 2003, Cope, 1896, Galopim de Carvalho, 1966, Gomes, 1915-1916, Kellog, 1941, Lockley & Meyer, 2000, Mocho & Póvoas, 2011a, Mocho & Póvoas, 2011b, Perna et

al., 2003, Salter, 1864, Schumacher, 1817, Silva et al., 2011, Swainson, 1840, Teixeira et al.,

1964, Vianna & Moraes, 1945), o que atesta este Museu ser um importante detentor de património paleontológico português de exceção.

45 Museu Nacional de História Natural e da Ciência, acedido a 19/04/2019 < https://www.museus.ulisboa.pt/pt-

pt/entre-dinoss%C3%A1urios>