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CAPÍTULO IV – Fósseis de referência como Património Paleontológico de excepção

IV. 3 – O que sabemos dos fósseis tipo

Do cruzamento entre as listagens de fósseis tipo que nos foram comunicadas, informações colhidas durante as entrevistas e a pesquisa na bibliografia de artigos científicos da especialidade, obtiveram-se 400 fósseis tipo que estão albergados em coleções portuguesas e que se sumarizam na Tabela 4.

Tabela 4: Relação de espécimes tipo por instituição com coleção paleontológica.

Espécies tipo por instituição com coleção paleontológica Saldo

Museu Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra 1

Museu Nacional de História Natural e da Ciência 18

Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto 38

Museu Décio Thadeu (IST) 2

Museu Geológico (LNEG) 272

Departamento de Ciências da Terra da FCT-UNL 40

Museu de Geologia Fernando Real (UTAD) 7

Coleção da Universidade de Évora 3

Museu da Lourinhã 12

Museu Municipal de Loulé 1

Sociedade de História Natural – Associação Leonel Trindade 3

Centro de Interpretação Geológica de Canelas 2

Museu de História Natural de Sintra 65

1

Total 400

Das trinta instituições estudadas neste trabalho, treze possuiam espécimes tipo, com o Museu Geológico do LNEG a destacar-se claramente com 68% dos espécimes tipo em Portugal. O Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto e o Departamento de Ciências da Terra da FCT-UNL possuem cerca de 10% cada um, sendo seguidos pelo Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, com 4,5%, e pelo Museu da Lourinhã, com 3%.

Por outro lado, desassete das instituições estudadas neste trabalho não possuem espécimes tipo, nomeadamente:

Museu do Instituto Superior de Engenharia do Porto, antigo Museu Parada Leitão Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Centro de Ciência Viva de Estremoz

Coleções da Câmara Municipal de Valongo Museu Municipal de Porto de Mós

Museu Mineiro de São Pedro da Cova

Núcleo Museológico de São Caetano do Centro Português de Geo-História e Pré-História Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aires

Museu da Pedra do Município de Cantanhede Museu Municipal do Cadaval

Casa-Museu de Fósseis de Sicó

Centro de Interpretação Científico e Ambiental das Grutas da Moeda Museu da Comunidade Concelhia da Batalha

Museu do Cimento da Fábrica Maceira-Liz

Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, antigo Museu de Évora Museu de Leiria66

Museu de Peniche

É importante frizar que uma instituição com coleções de paleontologia não necessita obrigatóriamente de possuir fósseis descritores de organismos.

Da análise destes resultados apurou-se que Portugal tem, pelo menos, 400 espécies que foram descritas apartir de fósseis portugueses, sendo parte delas espécies ainda só descritas para o território nacional. Na realidade este número de 400 espécies será necessáriamente maior, já referimos a sub representação de fósseis de plantas e microrganismos nas listagens apresentadas. A informação deficitária pode ser devida a diferentes fatores, alguns também já

66 Apesar do Museu de Leiria e a região de Leiria terem uma riqueza excepcional de fósseis, muitos deles

holótipos, provindos da mina da Guimarota, o Museu de Leiria possui apenas as suas réplicas, estando os originais no Museu Geológico do Laboratório Nacional de Energia e Geologia em Lisboa.

mencionados, como o desinteresse no espécime por ter deixado de ser considerado uma espécie válida, transferência de coleções em que a informação associada aos fósseis não é transmitida na integra, destruição do material, seja ele o fóssil em si ou os arquivos, como no caso de incêndios, deficiente informação na inventariação dos fósseis, desaparecimento do exemplar, etc. A todos estes fatores está associado uma gestão da coleção com recursos humanos pouco especializados. Frequentemente os curadores, ou conservadores, não são paleontólogos ou formação equivalente, os mesmos raramente tem formação na gestão de coleções e, apesar de toda a boa vontade e empenhamento em ter a coleção em condições, o tempo que têm para se dedicar à gestão da coleção é residual e está fora das funções principais para as quais são contradados.

A listagem destes espécimes encontra-se em apêndices, nomeadamente a Lista taxonómica dos fósseis tipo do MHNC-UP (Apêndice 3), Lista dos fósseis tipo do Museu da Lourinhã (Apêndice 4),

Tendo abordado no presente capítulo alguns dos objetos que constituem o património paleontológico de excepção, espécimes fósseis que se justificam pela sua descrição como novas espécies para a ciência e para o mundo, nos próximos capítulos abordar-se-ão dois casos de estudo onde se trabalhou, no primeiro, a gestão da coleção paleontológica como forma de reconhecimento do património museológico do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto e, no segundo, a exposição do património paleontológico do Museu da Lourinhã num novo espaço expositivo do Parque dos Dinossauros da Lourinhã.

Os dois casos de estudo na tese vão centrar-se não tanto na discussão teórica de conceitos, mas debruçar-se mais sobre aplicações práticas. O conhecimento completo e aprofundado de uma coleção é o que permite reconhecer e compreender todo o interesse científico do património paleontológico que se tem pela frente. Será em função disso que podemos proceder à excisão do fóssil correto para uma exposição e para a construção do respetivo discurso expositivo. O primeiro caso de estudo vai discutir as especificidades e as dificuldades colocadas ao conhecimento completo de uma coleção, no caso específico da coleção do MHNC-UP. O segundo caso de estudo vai discutir igualmente as especificidades e as dificuldades, mas desta feita, da montagem de uma exposição, neste caso concreto, da exposição de dinossauros do Museu da Lourinhã no Parque dos Dinossauros da Lourinhã.

Em 2016, dois projetos envolvendo duas novas exposições de dinossauros foram anunciados: o do "pátio dos dinossauros" no átrio do edifício da reitoria da Universidade do

Porto no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, e a exposição de fósseis do Museu da Lourinhã no Parque dos Dinossauros da Lourinhã. Ambas as exposições tiveram a aprovação de fundos comunitários com a exposição do Porto a ter 1,9 milhões de euros e a da Lourinhã 2,1 milhões de euros. Esta aprovação de fundos permitiu que o autor desta tese, que havia realizado o trabalho de inventariação do MHNC-UP (Caso de estudo 1) transitasse, em 2017, para o PDL (Caso de estudo 2).