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«Não devemos fazer a abordagem da arte em termos de raciocínio e de

entendimento, mas através da alma, através da experiência.»

Kandinsky

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«Como professor critico, sou um “aventureiro” responsável, predisposto à mudança, à aceitação do diferente. Nada do que experimentei em minha actividade docente deve necessariamente repetir-se.»

FREIRE, Paulo (1996). pp.55. Pedagogia do Oprimido, São Paulo: Paz e Terra.

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Dando continuidade a essa trama de relações e processos de aprendizagem do Desenho, trataremos agora, mais especificamente, de “dar a palavra” aos professores pela experiência das práticas pedagógicas desenvolvidas ao longo da sua trajectória profissional. Não foi nosso propósito desenvolver este projecto de uma forma fechada, pelo que o recurso a outros professores foi uma constante ao longo de todo o processo. Assim, a abordagem metodológica que conduziu esta pesquisa esteve baseada num estudo qualitativo e considerou-se, para a recolha de dados, optar pela observação directa (em aulas assistidas) e a aplicação de um questionário estruturado com questões abertas e que facultasse os mesmos pontos de referência a todos os professores implicados no ensino da disciplina de Desenho. Pelo seu carácter dialógico e de proximidade, propunha-se que respondessem (em tom de conversa informal) a vários aspectos considerados pertinentes para o estudo do tema, tendo em consideração o guião previamente estabelecido. O questionário da entrevista foi elaborado a partir das preocupações e interrogações iniciais desta reflexão, quer dos aspectos teóricos assinalados pela literatura consultada em que, neste caso,

“pretendia apreender procedimentos de

estruturação das práticas quotidianas dos docentes, o que joga muito com a forma

como se é, como se existe no campo profissional (...)”

(Terrasêca, 1996). Problematizar a prática, descrevê-la, discuti-la é o objectivo desta pesquisa. Para tal, trataremos de contextualizá-la, descrevendo a forma como está organizada para, posteriormente, tentar compreender como se estrutura/constitui a prática dos professores de Desenho.

contextos e exemplos em que os docentes realizam os seus projectos e experiências pedagógicas, que combinam, permanentemente, conhecimentos (conteúdos) com procedimentos de carácter prático, num processo de contextualização que remete para uma dimensão artística. Entendemos que a (ampla) prática pedagógica dos professores de Desenho contribui enormemente para se poder discutir acerca da pluralidade de temas e abordagens das actuais dinâmicas da escola: pontos de vista e metodologias de análise, perspectivas pedagógicas e estratégicas de acção, projectos educativos e artísticos, quer em diversas instituições, quer em museus e espaços públicos e, também, o carácter emergente da arte em geral, aprofundando, deste modo, as relações com o campo disciplinar do Desenho. No fundo, são testemunhos de um

fazer

aliado à reflexão, a um olhar crítico, a uma experiência artístico-pedagógica e de vida.

As realidades e experiências pedagógicas vividas por estes professores, que

desenham

as suas trajectórias à medida dos contextos com que se deparam, dos problemas com que se confrontam e da reflexão que vão construindo; sobretudo sugerem-nos os seus modelos de actuação - metodologias experimentais e de análise ao processo de aprendizagem do Desenho. Pelas suas vivências pessoais e profissionais, estes professores criam um cenário pedagógico próprio, uma identidade docente que formam a partir da reflexão que realizam sobre o seu percurso em confronto com a realidade do ensino do Desenho em que se integram. Porém, e não raras vezes, há docentes que estabelecem “rotinas” que podem ser influenciadas pela organização escolar ou pela reflexão que estes professores fazem a partir das suas aulas, com ou sem auxílio de condições ou teorias. Note-se que alguns professores, geralmente aqueles com maior tempo de docência, fazem a sua planificação e preparam as suas aulas baseando-se nos modelos dos anos anteriores, ou seja, na experiência vivida, conseguida, conquistada pelo próprio, enquanto que outros, com menos tempo de docência, organizam a sua prática a partir da reflexão, tendo como base as suas aulas e estudos que vêm desenvolvendo. Deste modo, entendemos que uns e outros, a partir das suas práticas, estão envolvidos pela reflexão de diferentes formas. Não obstante as grelhas preferencialmente utilizadas por cada um dos docentes, de acordo com a sua maior ou menor experiência, importa ser um praticante/profissional reflexivo que se empenhe com eficácia na transmissão dos conhecimentos e competências e na formação geral e no bem-estar dos alunos.

Quando nos referimos às vivências pessoais e profissionais ou reunimos um conjunto de narrativas e testemunhos, na primeira pessoa, sobre projectos e práticas pedagógicas de professores de Desenho, conseguimos compreender a necessidade que todos sentem do

saber

, para a construção do

saber-fazer

. Na realidade, o pensar e o fazer caminham juntos e é impossível separá-los. As experiências dos outros são pontos de partida para novas experiências. O espírito

criativo só é possível, conhecendo e dominando experiências e áreas vastas. Nada surge do nada, existe sempre algo por detrás que, conhecido e interpretado, nos conduz a avançar um pouco mais. Obviamente que não haveria experiência se não houvesse empatia e, sobretudo, sensibilidade, criatividade e pertinência das experiências referidas. A experiência ocupa, assim, um lugar central desta reflexão. Através dela a escola torna-se um organismo vivo, uma organização social, permanentemente (re)construída por estes seus intervenientes.

Para compreender como se organizam todos estes aspectos de carácter prático-pedagógico, analisaremos agora algumas questões críticas, testemunhadas em questionário pelos professores, a partir do próprio espaço de aprendizagem.

Pelas técnicas ou métodos de recolha de dados utilizados e aplicados, foi obtido um leque de informação, tratado de acordo com o próprio faseamento do estudo, evidenciado no desenho metodológico. Neste sentido, são reflectidos os dados em função da sequência coerente do processo de pesquisa. Relativamente a este instrumento de recolha e organização de dados, foi utilizada a análise de conteúdo, visto que se adequa à verificação das questões colocadas e interpretação dos resultados finais, assim como descobrir ideias e pistas de trabalho, que se constituem como hipóteses, e permite tirar “ilações válidas” para se chegar a uma particularização.

Essa interpretação tem significado face às categorias de análise do texto e, estão agrupadas a um quadro empírico ou teórico que se sustém e do qual se formulam as questões da entrevista:

i. representação acerca do objecto de estudo -

estratégias promotoras e

significativas de aprendizagem

e dos

recursos didácticos

;

ii. dos

métodos e metodologias de ensino

aplicados;