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Não-discriminação e igualdade no trabalho Objetivo

Políticas

99. É preciso enfatizar a necessidade de que o crescimento se sustente e de

4.1.2. Respeito efetivo aos princípios e direitos

4.1.2.4. Não-discriminação e igualdade no trabalho Objetivo

Eliminar progressivamente os mecanismos de discriminação existen- tes no mercado de trabalho.

Meta

Reduzir em 50% os índices de segregação e as desigualdades de ren- dimento por gênero e origem étnico-racial (com relação aos níveis atuais) em um prazo de 10 anos.

Justificativa

130. A eliminação da discriminação no trabalho é essencial para a consecução

de um crescimento mais eficiente e eqüitativo, e um requisito para o aprofunda- mento da democracia. A discriminação no trabalho implica um tratamento dife- rente, baseado em características pessoais como sexo, cor, etnia ou classe social, irrelevantes para a função a ser desempenhada e que produzem desvantagens nas condições de trabalho, promoção, formação profissional, remuneração ou demis- são. A discriminação pode ser exercida de diferentes formas. Seja por meio de condutas que excluem abertamente os membros pertencentes a determinados gru- pos sociais seja mediante mecanismos mais sutis e indiretos, aparentemente im- parciais, que redundam em desvantagens para um grande número de integrantes de um determinado coletivo. Os preconceitos e estereótipos sobre papéis, aspirações e capacidades de homens e mulheres e a desigual valorização das tarefas desem- penhadas pelas mulheres estão na base da discriminação de gênero e impedem a sociedade de contar com o potencial máximo de seus recursos. Por isso, junto com as Convenções 100 e 111 da OIT, outras duas convenções – Convenção sobre trabalhadores com responsabilidades familiares, 1981 (núm. 156) e a Convenção sobre proteção à maternidade, 2000 (núm. 183) - são cruciais para alcançar a igual- dade de gênero.

 PROLOGO

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131. A região da América Latina e Caribe caracteriza-se não só por sua diver- sidade étnico-racial, mas por uma distribuição desigual de oportunidades e rique- za. A população indígena e afrodescendente é, na maioria dos países da região, a mais pobre, a que tem menos escolaridade e a que está mais concentrada em em- pregos precários e mal remunerados, como conseqüência das condições de margi- nalidade, exclusão social e discriminação que a afetam. No interior desses grupos,

as mulheres enfrentam condições ainda piores que os homens41. Segundo Bello

e Rangel (2002), estima-se que hoje a população indígena representa entre 8% e 15% da população total da região; devem-se agregar a isso grandes contingentes de indígenas que migraram para as cidades, que já não falam sua língua originária

e abandonaram grande parte de seus costumes.42 Por outro lado, cerca de um terço

da população da América Latina e Caribe é composta de afrodescendentes. Nesse caso, é a cor da pele que se erige, em muitas ocasiões, como argumento para a exclusão e o racismo que se gera e se perpetua, por meio de mecanismos culturais e preconceitos que estigmatizam os afrodescendentes como pessoas inferiores, ex- cluindo-os da educação e dos melhores trabalhos, gerando um círculo vicioso de

pobreza e subordinação.43

Políticas

132. Dentro desse quadro, se reconhece que os direitos dos povos indígenas

a seus territórios ancestrais e ao exercício de cidadania, assim como seus direitos fundamentais no trabalho, têm sido insuficientemente reconhecidos e respeitados. Daí a necessidade de eliminar os mecanismos de discriminação que ainda persis- tem e se manifestam, entre outros espaços, no mercado de trabalho. Três esferas de atividade devem ser enfatizadas nesse sentido: aprofundar o conhecimento da magnitude e dimensão do problema da discriminação étnico-racial no mercado de trabalho; avançar no cumprimento efetivo das convenções da OIT pertinentes; reduzir as barreiras existentes para a incorporação dos povos indígenas e afrodes- cendentes ao mercado de trabalho em condições de igualdade. Entre os âmbitos de ação mais relevantes, destacam-se: a necessidade de criar ou fortalecer instituições nacionais orientadas à promoção da igualdade étnico-racial; assegurar o acesso e a permanência eqüitativos desses grupos a uma educação formal pertinente à diver- sidade étnico-racial; possibilitar seu acesso às novas tecnologias de comunicação e aos mercados financeiros; e incrementar sua participação e representação política para garantir os direitos territoriais e de posse de terras.

133. Em resumo, a eliminação progressiva da discriminação no trabalho re-

quer, pelo menos, as seguintes medidas de política, resumidas no quadro 4.3:

134. Exemplo de política que enfrenta tanto a discriminação de gênero como

a de raça é a que vem sendo implementada pelo Brasil por meio da Comissão Tripartite de Igualdade de Oportunidades e de Tratamento de Gênero e Raça no Trabalho. A comissão foi criada em 20 de agosto de 2004 e tem como antecedentes as experiências das Comissões Tripartites para a Igualdade de Gênero nos países do MERCOSUL, com a novidade de abordar conjuntamente as dimensões de gê- nero e raça. A comissão tem caráter consultivo, e seus objetivos são a promoção de políticas públicas para a igualdade de oportunidades e de tratamento e a luta contra todas as formas de discriminação de gênero e raça no trabalho. Ela tem mandato para:

_________________

41 O conceito de grupo étnico refere-se a uma população que compartilha língua, território e uma tradição que se expressa em uma visão de mundo particular. Na América Latina, o conceito é utilizado para caracterizar os descendentes dos povos que habitavam a região antes da chegada dos europeus no século XV.

42 Essa média regional oculta uma grande diversidade; em países como Bolívia, Guatemala e Peru estima-se que mais da metade da população seja indígena. Os mesmos autores assinalam que “a ‘categoria índio’ é um reflexo extremo da situação de dominação cultural a que esteve submetido um determinado grupo humano. Tal categoria conjuga simultaneamente aspectos biológicos (raciais e racistas) e culturais. Ser índio reflete uma condição de subordinação e negação de um grupo humano diante de outro que se autoconstrói e se arvora de superior” (Ver; BELLO, Alvaro; RANGEL, Marta. La equidad y la exclusión de los pueblos indígenas y afro-descendentes en America Latina y el Caribe. Revista de la CEPAL, Santiago de Chile, num. 76, 2002, p. 40).

43 Em diversos países, como Brasil, Colômbia e Venezuela, a população afrodescendente representa metade ou mais de seus habitantes.

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• Discutir e apresentar propostas de políticas públicas de igualdade de opor-

tunidades e tratamento e combater todas as formas de discriminação no trabalho com base no gênero e na raça.

• Promover a integração da perspectiva de gênero e raça no planejamento,

implementação, monitoramento e avaliação das atividades do Ministério do Traba- lho e Emprego.

• Apoiar e promover iniciativas do Parlamento referentes a esses temas.

• Apoiar e promover a adoção de iniciativas por parte das instituições, in-

cluindo a sociedade civil.

• Promover e disseminar a legislação relevante sobre esses temas.

Os membros da comissão são: pelo governo, o Ministério do Trabalho (presidente), Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, Secretaria Especial de Políticas para as Mu- lheres e Secretaria Especial de Direitos Humanos; pelos trabalhadores, represen- tantes das seis maiores centrais sindicais (CUT, Força Sindical, CGT, CGTB, SDS e CAT) e do INSPIR (Instituto Sindical Interamericano para a Igualdade Racial); pelos empregadores, representantes das cinco confederações de empregadores: in- dústria, agricultura, comércio, transporte e sistema financeiro.

Gerar estatísticas e estudos para dar visibilidade e monitorar a evolução das distintas manifestações da discriminação no traba- lho e prover ferramentas aos grupos discriminados.

Elaborar instrumentos de mensuração a serem incluídos nos censos nacionais e pesquisas domiciliares e de estabelecimentos, que permitam disponibilizar informação confiável sobre a magni- tude da população indígena e afrodescendente nas Américas e sobre suas condições socioeconômicas e de trabalho.

Formular indicadores de igualdade de gênero e étnico-racial no trabalho que permitam medir seus efeitos mútuos e os avanços e retrocessos no tema.

Rever a cultura laboral para identificar e impedir as práticas discri- minatórias.

Realizar campanhas de sensibilização para a promoção da igual- dade de gênero e étnico-racial dirigidas a atores-chave.

Criar e/ou fortalecer as instituições orientadas para o combate da discriminação, incluindo os serviços de inspeção do trabalho. Constituir um Observatório Regional para monitorar os avanços ou retrocessos do combate à discriminação de gênero e étnico-ra- cial, bem como o debate das políticas públicas relativas ao tema. Incorporar a perspectiva da igualdade de gênero e étnico-racial nas instituições e políticas do mercado de trabalho.

Promover programas de emprego focalizados em áreas de con- centração indígena ou afro-descendente.

Formular e promover políticas ativas de emprego que levem em conta a realidade socioeconômica e cultural dos grupos em questão, garantindo o acesso desses grupos às políticas ativas de mercado de trabalho em igualdade de condições.

Estímular políticas antidiscriminação e de ação afirmativa no âm- bito do trabalho e no acesso a recursos produtivos.

Promover a incorporação de cláusulas contra a discriminação e de promoção da igualdade de oportunidades na negociação coletiva.

Quadro 4.3. Medidas de política para a eliminação progressiva da discriminação no trabalho

Objetivos Políticas

Aprofundar o conhecimento da magnitude e dimensão do problema da discrimina- ção no mercado de trabalho

Avançar no cumprimento efetivo das Convenções núm. 100 e 111 da OIT

Reduzir as barreiras existen- tes para a incorporação das mulheres, dos povos indíge- nas e dos afrodescendentes, e outros grupos discrimina- dos no mercado de trabalho em condições de igualdade

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4.1.3. Maior eficiência e cobertura da proteção social