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CAPÍTULO III – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

2. NATUREZA DO ESTUDO

Para proceder à análise da realidade dentro dos pressupostos antes descritos, centraremos este estudo num caso específico de uma escola urbana do ensino secundário sobre a qual pretendemos desenvolver uma abordagem o mais aprofundada possível, com a intenção de compreender e interpretar a problemática apresentada, para a qual iremos utilizar uma metodologia de índole qualitativa.

Na senda de Yin, consideramos que um projeto de pesquisa “constitui a lógica que une os dados a serem coligidos (e as conclusões a serem tiradas) às questões iniciais de um estudo. Cada estudo empírico possui um projeto de pesquisa implícito, se não explícito” (2003, p.39). A sequência lógica entre as questões de pesquisa, os dados a recolher, a análise dos dados relevantes até ao conjunto de respostas (conclusões), faz parte das etapas fundamentais em qualquer projeto de pesquisa (ibid, p.41).

A escolha da metodologia qualitativa para a abordagem empírica nesta investigação tem a ver com o problema e com as interações e perceções que pretendemos identificar e analisar para a compreensão da realidade, entendida como um conjunto de significados construídos através das interações regulares dos atores que partilham experiências e passados comuns, mas em que o consenso pode não existir (Bogdan & Biklen, 1994, p.55-56). Por outro lado, as questões a investigar foram formuladas com o “objetivo de investigar os fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto natural” (ibid, p.16), sem contudo, esquecer a ideia de que nos contextos sociais o acesso à informação é marcado pela interação e pela subjetividade dos participantes.

Com efeito, dada a natureza do tema, julgamos que uma metodologia de tipo qualitativo, em que os dados recolhidos sejam predominantemente “ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas”, constituir-se-á como a forma mais adequada para permitir a “compreensão dos comportamentos a partir da perspetiva dos sujeitos da investigação” (ibid., p.16).

Para estes autores, a investigação, ao ser caraterizada como qualitativa, obedece, se não a todos, pelo menos a alguns, dos pressupostos seguintes: a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal que recolhe diretamente os dados; a investigação qualitativa é descritiva, considerando que os dados recolhidos e os resultados da

2. Natureza do estudo

128 Do Projeto Educativo da Escola ao Projeto de Intervenção do Diretor: (Inter)dependências.

investigação têm, normalmente, a forma de palavras ou imagens; ao investigador qualitativo interessa mais o processo que o produto; os dados são analisados de forma indutiva, ou seja, o investigador organiza os dados num processo de baixo para cima, recolhendo as questões mais importantes “num processo de análise […] como um funíl”; os investigadores preocupam-se com o significado e a perspetiva dos participantes (Bogdan & Biklen, 1994, p.47-51).

Como referem Quivy e Campenhoudt, “para levar a bom termo o trabalho de observação é preciso poder responder às três seguintes perguntas: observar o quê? em quem? como?” (2013, p.155).

Com a pesquisa empírica, procuramos compreender e desocultar uma parte das lógicas organizacionais que se desenvolvem no atual enquadramento político, social e normativo, nomeadamente, as relacionadas com o PEE e a sua relação com o PI do diretor, as atinentes aos processos que envolveram a eleição do diretor e/ou a sua recondução e as relacionadas com as opções que presidiram à elaboração do PI e as estratégias que foram eleitas para lhes dar resposta.

Seguindo os mesmos autores, considera-se essencial “circunscrever o campo das análises empíricas no espaço geográfico e social e no tempo” (2013, p.157). O estudo circunscrever-se-á à observação de uma escola secundária, situada na zona norte, durante o ano letivo 2015-2016. Por outro lado, o foco de análise situar-se-á no diretor e nos elementos do conselho geral, como elementos fundamentais no desenvolvimento organizacional e na aplicação das grandes linhas de atuação consagradas. Para obter informação mais precisa sobre o PEE, poderemos recorrer a elementos do conselho pedagógico, considerando que é este órgão o responsável pela sua elaboração. A nossa atenção incidirá, também, na análise dos documentos que temos vindo a referir, o projeto educativo da escola e o projeto de intervenção do diretor e, eventualmente, noutros documentos, nomeadamente, o regulamento interno, a carta de missão do diretor, legislação e atas do conselho geral que se considerem importantes e necessárias à investigação.

Não podemos, ainda, deixar de referir que só utilizando uma investigação qualitativa poderemos observar eventuais aspetos relacionados com o nosso problema que, eventualmente, não tenhamos previsto e nos surjam durante o percurso. Como nos dizem Bogdan e Biklen acerca deste tipo de investigação, “Os planos evoluem à medida que se familiarizam com o ambiente, pessoas e outras fontes de dados” (1994, p.83), daí decorrendo que por vezes é preciso ajustar percursos e/ou delinear novas ações.

Uma questão subjacente à abordagem qualitativa prende-se com o facto de os investigadores em educação, questionarem, de forma constante, os sujeitos da investigação, com o propósito de

Do Projeto Educativo da Escola ao Projeto de Intervenção do Diretor: (Inter)dependências 129 entender a sua realidade, a forma como estes interpretam as suas experiências e, igualmente, o modo como estruturam o mundo social em que vivem, refletindo-se, assim, numa espécie de diálogo entre o investigador e os sujeitos do estudo (Bogdan & Biklen, 1994, p.51).

Na perspetiva de Maroy,

Este trabalho indutivo, o vaivém constante entre as hipóteses de partida, a recolha e o tratamento dos dados são particularmente importantes quando se encara a análise qualitativa numa lógica exploratória, como um meio de descoberta e de construção de um esquema teórico de inteligibilidade, e não tanto numa óptica de verificação ou de teste de uma teoria ou de hipóteses preexistentes (1995, p. 117).

Assim, não obstante os limites temporais para a realização deste projeto, vamos recorrer a uma metodologia qualitativa, mais especificamente ao estudo de um caso, para estudarmos a particularidade e complexidade do caso específico desta escola (Stake, 2007, p.18).

Uma outra questão que se levanta prende-se com a generalização dos resultados da investigação qualitativa. Serão estes generalizáveis? Quando falamos em generalização, estamos a referir-nos ao facto de os resultados de um estudo serem aplicáveis a locais e sujeitos diferentes. Ora, de acordo com Bogdan e Biklen, nem todos os investigadores encaram a generalização da mesma forma, sendo que alguns não pensam a questão da generalização em termos convencionais, mas interessam-se, sim, por estabelecer afirmações universais relativas a processos sociais gerais, enquanto outros podem pensar esta questão encarando que o seu trabalho pressupõe documentar de forma aprofundada um determinado contexto ou grupo de sujeitos, e que cabe a outros analisarem de que modo isso se poderá articular com o quadro geral (1994, p.65-67).

Quando estes autores nos alertam para o risco da subjetividade do investigador ao interrogarem- se sobre se “será que o observador se limita a registar aquilo que pretende ver e não o que de facto se passa?” (Bogdan & Biklen, 1994, p.67), remetem-nos para a possibilidade de os dados, em algumas situações, serem processados pelo investigador antes de serem transcritos para o papel e para os riscos da falta de objetividade em tais circunstâncias.

Neste enquadramento, a investigação qualitativa, aplicada em várias disciplinas, adquiriu longa tradição e incentiva cada investigador a desenvolver, em função do seu objetivo de investigação e dos pressupostos teóricos, o seu próprio método de trabalho de campo, na observância dos princípios e sugestões que os diversos autores teorizam.