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CAPÍTULO III – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

3. MÉTODOS E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO

3.3. O inquérito por entrevista

A entrevista é uma das técnicas mais utilizadas em investigação social (Quivy & Campenhoudt, 2013, p.192) e que para Bogdan e Biklen, “é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (1994, p.134).

No entanto, pôr-se-á sempre a seguinte questão: será esta técnica a apropriada ao objeto de investigação? Como nos alerta Ferreira, as entrevistas “não permitem o acesso direto a domínios de práticas, experiências e/ou interações”, mas tais domínios podem, através delas, “ser reconstituídos enquanto constitutivos das subjetividades dos seus participantes”, permitindo obter das narrativas os pontos de vista e a simbologia de determinadas práticas (2014, p.168).

A entrevista é descrita por Quivy e Campenhoudt como:

uma verdadeira troca, durante a qual o interlocutor do investigador exprime as suas percepções de um acontecimento ou de uma situação, as suas interpretações ou as suas experiências, ao passo que, através das suas perguntas abertas e das suas reacções, o investigador facilita essa expressão, evita que ela se afaste dos objectivos da investigação e permite que o interlocutor aceda a um grau máximo de autenticidade e de profundidade (2013, p.192),

ao passo que Bogdan e Biklen, numa formulação semelhante, utilizam a expressão “conversa intencional, geralmente entre duas pessoas” (1994, p.134).

Neste estudo, iremos utilizar a entrevista semiestruturada que,

não é nem inteiramente aberta, nem encaminhada por grande número de perguntas precisas. Geralmente, o investigador dispõe de uma série de perguntas guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte do entrevistado. Mas não colocará necessariamente todas as perguntas na ordem em que as anotou e sob a formulação prevista (Quivy & Campenhoudt, 2013, p.192),

sendo que, esta técnica, será aplicada ao diretor, a membros do conselho geral e a um elemento do conselho pedagógico envolvido na elaboração do projeto educativo da escola.

3. Métodos e técnicas de investigação

136 Do Projeto Educativo da Escola ao Projeto de Intervenção do Diretor: (Inter)dependências.

No entanto, a entrevista, nas palavras de Ferreira, não é atualmente

concebida como uma técnica neutra, estandardizada e impessoal de recolha de informação, mas como resultado de uma com-posição (social e discursiva) a duas (por vezes mais) vozes, em diálogo recíproco a partir das posições que ambos os interlocutores ocupam na situação específica de entrevista (de interrogador e de respondente), dando lugar a um campo de possibilidades de improvisação substancialmente alargado quer nas questões levantadas, quer nas respostas dadas” (2014, p.170).

Este tipo de inquérito por entrevista, além de se caraterizar por haver “um contacto direto entre o investigador e os seus interlocutores” permite ao investigador retirar “informações e elementosde reflexão muito ricos e matizados”. Outro aspeto positivo desta técnica é permitir que o entrevistado exprima “as suas preocupações de um acontecimento ou de uma situação, as suas interpretações ou as suas experiências”(Quivy & Campenhoudt, 2013, pp.191-192).

Parece-nos, portanto, que esta técnica se ajusta particularmente bem ao objeto de estudo da nossa investigação. Quivy e Campenhoudt consideram mesmo que esta técnica é especialmente adequada quando se pretende efetuar “A reconstituição de um processo de ação, de experiências ou de acontecimentos do passado” bem como, nos contextos em que

A análise do sentido que os actores dão às suas práticas e aos acontecimentos com os quais se vêem confrontados: os seus sistemas de valores, as suas referências normativas, as suas interpretações de situações conflituosas ou não, as leituras que fazem das próprias experiências, etc. (2013, p.193),

exatamente um dos aspetos centrais da nossa investigação.

No sentido de enfatizar o valor desta nossa escolha poderemos referir ainda a opinião de Bogdan e Biklen que consideram que “As boas entrevistas produzem uma riqueza de dados, recheados de palavras que revelam as perspectivas dos respondentes. As transcrições estão repletas de detalhes e de exemplos” (1994, p.136), o que nos leva a atribuir, nesta investigação, às entrevistas, um peso significativo para compreender os indivíduos inseridos no seu mundo e a forma como o interpretam.

O tipo de entrevista pelo qual optámos foi o tipo semidiretivo ou semiestruturado, não só por ser o mais mobilizado nos trabalhos de campo em ciências sociais pelos investigadores, como também porque, devido à sua estrutura, as questões abertas dão “lugar a um campo de possibilidades de improvisação substancialmente alargado, quer nas questões levantadas, quer nas respostas dadas”, o que permite ao entrevistador recolher mais informações e encaminhar a entrevista para os objetivos definidos (Ferreira, 2014, p.171).

Do Projeto Educativo da Escola ao Projeto de Intervenção do Diretor: (Inter)dependências 137 Na entrevista semidiretiva, como já foi referido, “o investigador dispõe de uma série de perguntas guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte do entrevistado”. Assim, estas entrevistas não obedecem a uma ordem pela qual as questões são colocadas, tendo o entrevistado total liberdade para responder: o investigador tem o papel de reencaminhar a entrevista para os objetivos fixados cada vez que o entrevistado deles se afastar e o de colocar as perguntas às quais o entrevistado não chega por si próprio no momento mais apropriado e de forma tão natural quanto possível (Quivy & Campenhoudt, 2013, p.192-193).

Como diz Ferreira, a posição do entrevistador não é impessoal e a entrevista deve ser orientada do modo menos impositivo possível, devendo a sua com-posição ser dialógica, aberta à improvisação preparada, para que o exercício resulte na satisfação dos objetivos previamente preparados pelo entrevistador e façam sentido a argumentação e os pontos de vista do entrevistado (2014, p.171).

No entanto, as entrevistas estão sujeitas a constrangimentos que só na situação social do seu desenvolvimento podem ser identificados. Há sempre fatores perturbadores na interação social pelo que a subjetividade dos envolvidos, a suas expectativas e os resultados esperados poderão influenciar a prevista neutralidade dos dados obtidos. Assim, os dados obtidos nas entrevistas “não podem ser reconhecidos no estatuto epistemológico de mero dado informativo, mas de dado discursivo que informa e é informado por pontos de vista”. Mais do que recolher informação sobre factos e rememorações reflexivas, a entrevista permite-nos obter a narração comentada, a sua interpretação e as suas representações sociais dadas pelo entrevistado (ibid., p.175-176).

Na perspetiva do mesmo autor,

os resultados das entrevistas são, portanto, dados discursivos que não refletem objetivamente uma realidade, mas que resultam de uma com-posição discursiva e intersubjetiva, muitas vezes improvisada por parte de ambos os intervenientes no decorrer da situação” (ibid., p.176-177).

À semelhança do que ocorre com outras técnicas de investigação, a aplicação das entrevistas como estratégia de recolha de informação apresenta alguns pontos fortes, que a tornam particularmente eficiente tendo em conta o objeto de estudo, desde que seja prestado o cuidado devido, no que se refere às suas limitações.

Como principais pontos fortes, Quivy e Campenhoudt apontam “o grau de profundidade dos elementos de análise recolhidos” e a “flexibilidade e a fraca directividade do dispositivo que permite recolher os testemunhos e as interpretações dos interlocutores, respeitando os próprios quadros de referência – a sua linguagem e as suas categorias mentais” (2013, p.194).

3. Métodos e técnicas de investigação

138 Do Projeto Educativo da Escola ao Projeto de Intervenção do Diretor: (Inter)dependências.

Como limitações, os mesmos autores referem o facto de alguns investigadores se poderem sentir intimidados pela significativa falta de atributos diretivos da técnica, bem como os problemas causados pela assunção de uma “completa espontaneidade do entrevistado e numa total neutralidade do investigador” (ibid.).

Os dados colhidos através das entrevistas serão confrontados com os dados recolhidos na análise documental e o seu conteúdo sujeito a uma análise qualitativa nos termos que Bardin (2009) defende.